segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Os ambientalistas têm vindo a impedir a criação de novos projectos na Europa e nos EUA.
A capacidade de refinação de petróleo em todo o mundo está perto do limite máximo e é um dos factores a pressionar em alta o preço dos combustíveis.
De acordo com o Departamento de Energia norte-americano, nos últimos vinte e cinco anos a capacidade de refinação mundial cresceu apenas 3,75 milhões de barris por dia, passando de 81,59 milhões em 1981 para os 85,34 milhões diários em 2006. No mesmo período de tempo, e de acordo com os dados mais recentes, o consumo de combustíveis aumentou 24,06 milhões de barris por dia, um crescimento bastante superior ao da capacidade de refinação de gasóleo e gasolina.
"A diferença entre a capacidade de refinação e o consumo em 2006 era apenas de 0,88 milhões de barris por dia. O risco é demasiado elevado. Qualquer acidente ou paragem para manutenção põe em risco o abastecimento do mercado", explica José Caleia Rodrigues, consultor e especialista em questões energéticas. Recentemente, os furacões que atingiram o Sul dos Estados Unidos paralisaram cerca de 20% da capacidade de refinação dos EUA. Neste momento, e devido aos estragos causados e ao corte de electricidade, cerca de 8% a 9% da capacidade das refinarias continua sem funcionar.
O estrangulamento da capacidade de refinação mundial prende-se principalmente com os constrangimentos que os ambientalistas levantam na Europa e nos Estados Unidos. As refinarias de combustíveis contribuem para o ‘smog’ e há ainda o perigo do transporte dos materiais pelos camiões. Por outro lado, nos países emergentes começam a surgir projectos de grandes refinarias. São exemplos disso o Irão, a Rússia, o Médio Oriente e a China.
"A capacidade de refinação a nível mundial vai acabar por acompanhar a procura", acredita James Williams, consultor da norte-americana WTRG Economics. O especialista acredita que "o maior problema é a falta de refinarias capazes de produzir gasóleo, que é cada vez mais procurado". Em Portugal, a Galp está agora a fazer obras na refinaria de Sines para aumentar a capacidade de produção de gasóleo. O projecto deverá estar concluído em 2011.

Diário Económico
Sofia Lobato Dias
30.Set.2008

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Preço do crude recua (Rádio Renascença, 23.Setembro.2008)

Os preços do crude estão a recuar nos mercados internacionais, a corrigir da valorização recorde de ontem registada em Nova Iorque.

Esta descida deve-se aos receios de que o plano do Governo norte-americano para ajudar as firmas financeiras não consiga evitar que a maior economia do mundo entre em recessão.Esta manhã, o barril de Brent (petróleo de referência na Europa) para entrega em Novembro era transaccionado nos mercados internacionais a descer 0,54 cêntimos para os 105,50 dólares, enquanto à mesma hora o contrato de Novembro do West Texas Intermediate (petróleo de referência nos Estados Unidos) era negociado no NYMEX de Nova Iorque a desvalorizar 11,90 dólares para os 109,02 dólares.

As cotações do ‘ouro negro’ estão hoje a recuar com a especulação de que o crescimento económico nos Estados Unidos abrande, diminuindo a procura de petróleo, depois de os mercados petrolíferos terem vivido ontem um dia de que não há registo, com os preços a dispararem à medida que se aproximava o fecho da sessão em Londres e em Nova Iorque.
A instabilidade financeira nos EUA, a valorização do euro face ao dólar e a necessidade de garantir stocks de matéria-prima para o Inverno, época em que o consumo da energia dispara, são algumas das explicações para a valorização tão acentuada e repentina do preço do crude em Nova Iorque, na opinião de José Caleia Rodrigues, especialista na análise do mercado global de petróleo.
O especialista sublinha, ainda, que este é um ano atípico, em que o ciclo das subidas está a começar tarde de mais.
“As coisas dependem muito da finança e esta situação que está a acontecer nos EUA pode ter levado a algum retardamento e agora que as compras tem que se fazer e não se podem atrasar mais (…), sobe muito o consumo”, explica José Caleia Rodrigues.
O normal seria que “o preço do petróleo tivesse começado a valorizar em Julho, o mais tardar em Agosto”,
refere o especialista na análise do mercado global de petróleo que acredita que o preço do barril de crude ultrapassará, em Outubro, os 130 dólares, numa escalada que deverá prolongar-se até Novembro.

Rádio Renascença
23-09-2008 12:08

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Shell suspende entregas de petróleo (TSF, 08.09.20)

A Shell suspendeu este sábado as entregas de petróleo, ao declarar o estado de “força maior" no terminal de Bonny, devido aos recentes ataques às infra-estruturas da empresa por um grupo armado. A Nigéria é o terceiro maior fornecedor português.
A petrolífera Shell suspendeu este sábado as entregas, ao declarar o estado de “força maior" no terminal de Bonny, no sul da Nigéria, devido aos recentes ataques às infra-estruturas da empresa por um grupo armado.
A cláusula "força maior" permite à empresa suspender as obrigações contratuais, como as entregas de petróleo e de gás, devido a movimentos imprevistos, sem ser penalizada. Na última semana, o Movimento para a Emancipação do Delta do Níger, principal grupo armado do sul da Nigéria, reivindicou seis ataques contra a Shell, depois de ter anunciado uma "guerra do petróleo". No entanto, a petrolífera apenas reconheceu dois atentados.
Em declarações à TSF, Caleia Rodrigues, especialista em geopolítica do petróleo, explicou que, se a suspensão das entregas se prolongar por muito tempo, pode provocar consequências graves, principalmente nos países que não tem reservas estratégicas de petróleo.
Apesar dos Estados Unidos e da Europa Ocidental terem «reservas estratégicas de petróleo, que dão para 90 a 100 dias», os asiáticos não dispõem de nenhuma, «tendo de ir ao mercado», sendo que as «coisas podem ficar feias», porque «há escassez e os grandes produtores não são capazes de aumentar a produção», explicou.
Caleia Rodrigues explicou que Portugal também pode fazer uso das reservas estratégicas, que dão para 90 a 100 dias de consumo, como forma de resistir a uma paralisação da produção na Nigéria, o nono fornecedor de petróleo no Mundo.
Ainda que acredite que a situação na Nigéria seja «transitória», o especialista alertou que a Nigéria é o «terceiro maior fornecedor português», depois da Líbia e do Brasil.

TSF
20.Set.2008 – 15h23

Deco regista 1365 queixas contra gasolineiras, desde Julho, devido aos preços praticados
O ministro da Economia garantiu estar "preparado para tomar toda e qualquer medida em defesa dos consumidores". Mas interferir directamente nos preços não é uma opção realista, dizem especialistas. Concorrência só pode fiscalizar e punir.
A declaração foi feita em entrevista à SIC, mas Manuel Pinho não concretizou que medida estaria a ponderar. Fixar os preços por via administrativa é uma faculdade do Governo, mediante alteração legislativa, mas essa possibilidade é encarada com reticência em várias frentes.
O presidente da República, questionado sobre a possibilidade de intervenção do Governo, repondeu que "a questão é complexa, principalmente porque se insere numa crise financeira internacional muito forte e também de grande complexidade, pelo que não se pode responder de forma apressada".
Nuno Ribeiro da Silva, presidente da Endesa, considera "irrealista" a possibilidade de fixação de preços, desde logo pelas regras comunitárias. "Não vejo qualquer exequibilidade nessa medida, e muito menos vantagem", afirmou. Embora não concorde com a redução do ISP, Ribeiro da Silva refere que esse é o "principal trunfo" do Governo. Mas abdicar de parte do segundo imposto indirecto mais importante, a seguir ao IVA, não se antevê fácil, numa altura em que a receita está em queda e o défice tem de baixar.
Caleia Rodrigues, especialista em petróleo ouvido pela Lusa, entende que "o ministro não pode tomar medidas discricionárias porque estamos numa economia aberta". Considera que apenas pode mexer nos impostos, duvidando que "tenha força para fixar preços máximos".
Resta ao Governo a Autoridade da Concorrência (AdC), mas esta entidade não tem competência para fixar preços. Tal seria até contrário à filosofia de mercado que tem de defender, recordou ao JN uma fonte do sector. A pressão recai assim nos poderes de fiscalização e punição da AdC, que só ocorrerá em caso de cartelização.
O secretário-geral da Deco, Jorge Morgado, considera que o supervisor deve manter o sector sob "observação permanente", já que "está exclusivamente virado para os accionistas e atropela os interesses dos consumidores". Desde Julho, deram entrada na associação 1365 queixas contra gasolineiras, tendo como motivo os preços fixados.

Jornal de Notícias
2008-09-19
JOÃO PAULO MADEIRA

Faltam «ferramentas» a Manuel Pinho

O ministro da Economia apenas poderá pressionar as empresas petrolíferas a baixar os preços dos combustíveis, restando-lhe poucas medidas de intervenção, à excepção da fixação administrativa e da mexida nos impostos, defenderam à agência «Lusa» vários especialistas do sector.
O analista do Espírito Santo Research (ESR), Pedro Morais, afirmou que Manuel Pinho «não tem muitas ferramentas para fazer algo sem ser contestado pelos operadores».
O analista considera difícil que o ministro «tenha uma medida prática que possa tomar», à excepção da baixa do ISP (Imposto sobre os Produtos Petrolíferos) e da fixação dos preços administrativamente.
Contudo, a descida dos impostos não é desejável para os cofres do Estado e fixar os preços administrativamente é «recuar quatro anos» na liberalização do mercado, defendeu.
Pedro Morais defende que uma das vias poderá ser o Estado utilizar os 7 por cento que ainda detém na Galp para tentar influenciar a gestão da petrolífera.
O ministro da Economia admitiu quarta-feira, em entrevista à «SIC Notícias», que poderá intervir no mercado dos combustíveis para defender os consumidores.
«Estou preparado para tomar toda e qualquer medida em defesa dos consumidores», afirmou Manuel Pinho, embora tenha rejeitado a fixação administrativa dos preços.
«Acredito que os preços vão baixar, mas se não baixarem vamos ver se há algum problema na raíz e vamos resolvê-lo», afirmou.

Mandar investigar é única hipótese
A investigação profunda do mercado, anunciada pela Autoridade da Concorrência, é uma das medidas defendidas pelo especialista em petróleo, Caleia Rodrigues.
«O ministro não pode tomar medidas discricionárias porque estamos numa economia aberta, mas pode investigar e fazer pressão», defendeu em declarações à «Lusa».
Para além destas medidas, Caleia Rodrigues defende que o Governo só pode mexer nos impostos, duvidando que «tenha força para fixar preços máximos», como fez o Governo Regional da Madeira, acabando com a liberalização dos combustíveis.
Uma intervenção no mercado liberalizado é também recusada pelo secretário-geral da Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas (Apetro), José Horta, que afirma que o primeiro-ministro garantiu «há dois anos que não interviria no preço dos combustíveis».
«Só poderá intervir, mudando o quadro legal de actividade, o que não me parece possível face aos acordos que Portugal tem no âmbito da União Europeia», afirmou.
«Não vislumbro medidas, a não ser uma medida restritiva à liberdade do mercado», disse.

Ou impostos baixam ou fixam-se preços
Um especialista em concorrência afirmou igualmente que o ministro poderá tomar apenas duas medidas: ou baixar os impostos ou voltar a fixar administrativamente os preços.
O Governo Regional dos Açores decidiu mexer no Imposto Sobre Produtos Petrolíferos (ISP) para combater as variações internacionais do preço do combustível.
Através de uma oscilação ascendente ou descendente de 10% no ISP o Governo Regional consegue neutralizar a oscilação nos preços.
O analista financeiro da IMF-Informação de Mercados Financeiros, Ricardo Marques, afirmou não se pronunciar sobre «medidas políticas», mas considera que as petrolíferas usam fórmulas de cálculo diferentes na subida e na descida dos preços dos produtos.
«Há claramente uma política comercial que não me parece que seja igual nas subidas e nas descidas, baseada na cotação dos produtos refinados em euros», afirmou.
Segundo este analista, há uma «correlação quase perfeita» entre o aumento dos preços refinados em euros e o aumento do preço dos combustíveis na bomba, que não se verifica quando os preços baixam.
Na sua opinião, e tendo em conta a dimensão da descida do preço do gasóleo nos mercados internacionais-de 840 euros por tonelada entre Maio e Julho para os actuais 600 euros-o preço devia estar na bomba 10% mais barato do que o que está.

Agência Financeira
18.Set.2008
2008/09/18 18:22 Lusa/RPV

O ministro da Economia apenas poderá pressionar as empresas petrolíferas a baixar os preços dos combustíveis, restando-lhe poucas medidas de intervenção, à excepção da fixação administrativa e da mexida nos impostos, defenderam à Lusa vários especialistas do sector.

O analista do Espírito Santo Research (ESR), Pedro Morais, afirmou à Lusa que Manuel Pinho "não tem muitas ferramentas para fazer algo sem ser contestado pelos operadores".
O analista considera difícil que o ministro "tenha uma medida prática que possa tomar", à excepção da baixa do ISP (Imposto sobre os Produtos Petrolíferos) e da fixação dos preços administrativamente.
Contudo, a descida dos impostos não é desejável para os cofres do Estado e fixar os preços administrativamente é "recuar quatro anos" na liberalização do mercado, defendeu.
Pedro Morais defende que uma das vias poderá ser o Estado utilizar os 7 por cento que ainda detém na Galp para tentar influenciar a gestão da petrolífera.
O ministro da Economia admitiu quarta-feira, em entrevista à SIC Noticias, que poderá intervir no mercado dos combustíveis para defender os consumidores.
"Estou preparado para tomar toda e qualquer medida em defesa dos consumidores", afirmou Manuel Pinho, embora tenha rejeitado a fixação administrativa dos preços.
"Acredito que os preços vão baixar, mas se não baixarem vamos ver se há algum problema na raiz e vamos resolvê-lo", afirmou.

A investigação profunda do mercado, anunciada pela Autoridade da Concorrência, é uma das medidas defendidas pelo especialista em petróleo, Caleia Rodrigues.
"O ministro não pode tomar medidas discricionárias porque estamos numa economia aberta, mas pode investigar e fazer pressão", defendeu em declarações à Lusa.
Para além destas medidas, Caleia Rodrigues defende que o Governo só pode mexer nos impostos, duvidando que "tenha força para fixar preços máximos", como fez o Governo Regional da Madeira, acabando com a liberalização dos combustíveis.
Uma intervenção no mercado liberalizado é também recusada pelo secretário-geral da Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas (APETRO), José Horta, que afirma que o primeiro-ministro garantiu "há dois anos que não interviria no preço dos combustíveis".
"Só poderá intervir, mudando o quadro legal de actividade, o que não me parece possível face aos acordos que Portugal tem no âmbito da União Europeia", afirmou à Lusa.
"Não vislumbro medidas, a não ser uma medida restritiva à liberdade do mercado", disse.
Um especialista em concorrência afirmou à Lusa que o ministro poderá tomar apenas duas medidas: ou baixar os impostos ou voltar a fixar administrativamente os preços.
O Governo Regional dos Açores decidiu mexer no ISP para combater as variações internacionais do preço do combustível.
Através de uma oscilação ascendente ou descendente de 10 por cento no ISP o Governo Regional consegue neutralizar a oscilação nos preços.
O analista financeiro da IMF-Informação de Mercados Financeiros, Ricardo Marques, afirmou à Lusa não se pronunciar sobre "medidas políticas", mas considera que as petrolíferas usam fórmulas de cálculo diferentes na subida e na descida dos preços dos produtos.
"Há claramente uma política comercial que não me parece que seja igual nas subidas e nas descidas, baseada na cotação dos produtos refinados em euros", afirmou.
Segundo este analista, há uma "correlação quase perfeita" entre o aumento dos preços refinados em euros e o aumento do preço dos combustíveis na bomba, que não se verifica quando os preços baixam.
Na sua opinião, e tendo em conta a dimensão da descida do preço do gasóleo nos mercados internacionais - de 840 euros por tonelada entre Maio e Julho para os actuais 600 euros - o preço devia estar na bomba 10 por cento mais barato do que o que está.
Lusa
2008-09-18 18:10:03
Economia
Lisboa, 18 Set (Lusa) -

domingo, 21 de setembro de 2008

Um investimento superior a 15 biliões de euros. É o que é preciso para manter no mundo a exploração do petróleo, gás natural e carvão nos níveis necessários até 2030.
Vinte e dois milhões de milhões de dólares ou mais de 15 milhões de milhões de euros. É este o valor colossal do investimento que é necessário em todo o mundo para que continue a haver energia até 2030, de acordo com os dados da Agência Internacional da Energia.
Os investimentos são de tal forma colossais que os preços altos dos combustíveis fósseis são uma inevitabilidade”, explica José Caleia Rodrigues, consultor e especialista em questões energéticas.
Só a exploração e produção de petróleo deverá absorver um quarto do financiamento total necessário. À extracção de gás natural é atribuída uma fatia de 18% dos investimentos necessários, enquanto a exploração de carvão precisa de 2% do investimento. À produção de energia eléctrica cabe a fatia de leão: 51%, ou seja, cerca de 7,79 biliões de euros.
Perante este cenário, os especialistas são peremptórios: os preços altos da energia vieram para ficar.
Quando começou a escalada desenfreada do preço do barril de petróleo, os preços do gás natural e do carvão também foram, obviamente, inflacionados”, aponta Caleia Rodrigues.
Só em 2008, o preço do barril de Brent já chegou perto dos 147 dólares, ao passo que o consumo do carvão disparou 4,5% e do gás natural 3,1% no ano passado. No que toca aos preços do gás natural, a tendência também é de subida – no Reino Unido os preços já dispararam 50% desde o início do ano.
Os preços da electricidade, contudo, têm em Portugal tectos máximos definidos pelo Governo. Ou seja, as tarifas eléctricas nunca poderão ultrapassar os limites do que é considerado suportável para os portugueses – o que resulta num défice tarifário que, num período máximo de 15 anos, acabará por ter de ser pago pelos consumidores.
Com o preço do petróleo a pressionar perto dos 100 dólares, e apesar da tendência de descida dos últimos dois meses, é difícil ver o preço dos combustíveis voltar a descer nos próximos tempos. Na passada quarta-feira, contudo, o ministro da Economia voltou a apontar o dedo às petrolíferas e garantiu que “o preço da gasolina só não desce se o mercado não funcionar” e disse-se satisfeito com a hipótese de a Autoridade da Concorrência [AdC] fazer uma “investigação aprofundada”, que significa “um passo em frente em relação à anterior”. Uma ideia bem acolhida pela BP Portugal – que detém 20% do mercado de retalho de venda dos combustíveis em Portugal –, que garantiu estar “totalmente disponível para colaborar com a AdC se quiser alterar o modo como vigia o mercado” e comungar do desejo do Governo de ver os preços descerem. A Galp Energia e a Repsol recusaram comentar as últimas declarações do Governo.

Diário Económico
Sofia Lobato Dias
Preços da energia 2008-09-19 00:05

A tensão entre o Governo e a Galp sobe porque o preço dos combustíveis tarda em descer, apesar da queda da cotação do petróleo.
O Governo está zangado com a Galp por demorar a baixar os preços da gasolina e do gasóleo quando a cotação de ontem do petróleo brent (94,96 dólares/barril) é 35% inferior ao máximo de 146,08 dólares/barril, do dia 7 de Julho. O preço dos combustíveis baixou menos de um terço desse valor no mesmo período. Por isso, o ministro da Economia vê “com satisfação que a Autoridade da Concorrência faça uma investigação mais aprofundada, que é um passo em frente em relação à investigação anterior”. Manuel Pinho diz mesmo estar “confiante que o preço da gasolina vai baixar”, porque “sempre que o preço do petróleo baixa, mais cedo ou mais tarde, o preço dos produtos refinados segue o mesmo caminho”. A tensão entre o Governo e a Galp remonta à altura do protesto dos camionistas, em Junho, quando a petrolífera, imediatamente a seguir à assinatura do acordo, subiu os preços dos combustíveis.
A situação também preocupa a oposição parlamentar. PSD e CDS já exigiram a presença, respectivamente, do presidente da Autoridade da Concorrência, Manuel Sebastião, e do ministro da Economia, Manuel Pinho, para explicarem aquela discrepância no Parlamento. Os outros partidos com assento na Assembleia da República também se mostraram desagradados com a situação durante o debate sobre a taxa Robin dos Bosques, que ontem teve lugar no Parlamento.José Horta, presidente da APETRO, a associação das empresas petrolíferas, diz que as dúvidas são compreensíveis para o público em geral, que se vê bombardeado pelo anúncio da descida continuada dos preços do petróleo nos mercados internacionais e não encontra correspondência nos preços que paga nos postos de abastecimento de combustíveis. Só que, refere, “é preciso explicar às pessoas que os preços dos combustíveis refinados seguem caminhos diferentes do preço do petróleo bruto”.
O presidente da APETRO dá como razão para uma travagem na descida dos preços da gasolina e do gasóleo à saída da refinaria o facto de as refinarias do Texas e do Sul dos Estados Unidos terem fechado por causa da aproximação do furacão Ike. Os EUA, afirma, “são uma verdadeira esponja no consumo de combustíveis refinados e vão buscá-lo onde for preciso”. E sublinha que “Portugal é um grande exportador de gasolina para os Estados Unidos”.Além disso, diz José Horta, os preços dos combustíveis praticados em Portugal são feitos com base nas cotações do mercado do Norte da Europa – o chamado mercado ARA (Amesterdão, Roterdão e Antuérpia) – e “o preço médio dos combustíveis à saída da refinaria na última semana deu duas indicações contraditórias, a gasolina estava a subir, relativamente à semana anterior, e o gasóleo estava descer”. A BP seguiu à risca este mecanismo de formação de preços e aumentou a gasolina, descendo o preço do gasóleo. A Galp decidiu não aumentar a gasolina, mas “essa é uma decisão de gestão que apenas cabe às empresas”.
José Horta sublinha que a APETRO vai divulgar, na próxima semana, um estudo comparado sobre os primeiros oito meses deste ano e igual período do ano passado onde, segundo refere, “vai ficar bem patente que mais de metade dos países da União Europeia aumentaram mais os combustíveis que Portugal”.
Uma situação que deve ser do conhecimento da Autoridade da Concorrência mas não será suficientemente convincente, já que a entidade presidida por Manuel Sebastião anunciou ontem, em comunicado, que vai proceder a uma investigação aprofundada sobre “a evolução da cotação do petróleo brent, de Londres, e as cotações Platt’s de Roterdão para produtos refinados, ambas referências para Portugal”.
O presidente da ANAREC, associação de revendedores de combustíveis, que há muito tempo ameaça apresentar queixa à Concorrência, diz que só não o fez agora porque “houve dois argumentos de peso. O próprio ministro da Economia pediu às petrolíferas para acompanharem a tendência de queda do petróleo e o comissário europeu da Energia, Andris Piebals, quer que a Concorrência esteja mais atenta aos preços dos combustíveis”. E conclui dizendo que acredita que, “nos próximos dias, os preços dos combustíveis vão descer”. Uma crença partilhada pelo ministro Manuel Pinho e pelo presidente da APETRO.
O presidente da Endesa em Portugal, Nuno Ribeiro da Silva, esclarece que “o estabelecimento dos preços da gasolina e do gasóleo não é uma ciência oculta”. “Os países exportadores de petróleo ganham menos do que os importadores, como Portugal, com os impostos”, acrescentou, numa clara alusão ao nível elevado de impostos que pesam no preço final dos combustíveis.
Ideia que é partilhada por José Caleia Rodrigues, especialista em questões energéticas, ao referir que “se querem baixar os preços dos combustíveis, podem começar por descer os impostos”. Contactado pelo Diário Económico, Manuel Ferreira de Oliveira, presidente da Galp, não quis pronunciar-se sobre as relações entre a empresa e o Governo.
De elefante branco a potência petroquímica
José Sócrates disse ontem que o actual clima de negócios em Portugal permite regressar ao sonho do final dos anos 60 de construir em Sines um dos maiores complexos petroquímicos do mundo. O primeiro-ministro falava no final da sessão que assinalou a ampliação do complexo petroquímico de Sines da Repsol. Com este projecto, a subsidiária portuguesa da petrolífera espanhola deverá, a partir de 2011, tornar-se num dos primeiros exportadores portugueses, estando prevista uma facturação anual de cerca de 1.200 milhões de euros. Esta expansão prevê a construção de mais duas fábricas de polietileno e de polipropileno. A Repsol Portuguesa encontra-se em fase de expansão, tanto a nível industrial, como de distribuição de combustíveis, através do reforço da sua rede de retalho, posicionando-se actualmente como a segunda maior petrolífera em Portugal.

Diário Económico
Manuel Pinho avisa 2008-09-18 00:05
Francisco Ferreira da Silva com Sofia Lobato Dias

A descida do crude é explicada pela menor procura que acontece no Verão. Passado este efeito sazonal, as subidas voltarão porque se mantêm os problemas estruturais.
A queda recente dos preços do petróleo será temporária, pelo que a matéria-prima continuará a pressionar o crescimento dos países mais dependentes de energia importada, como Portugal. E os preços das mercadorias e dos transportes (e por essa via a dar argumentos para subidas das taxas de juro).
Apesar da forte descida – o barril de Brent caía ontem quase 25 dólares face ao máximo histórico de 143 dólares de 11 de Julho –, o preço médio do contrato, calculado desde o início do ano, valia 73,6 euros (113,2 dólares). Medido na moeda única, o crude está actualmente 40% mais caro face à média de 2007.
Os especialistas ouvidos dizem que os factores especulativos e algumas causas sazonais justificam o alívio “momentâneo” do petróleo. Passada esta fase – uma etapa em que os fundos (hedge funds) lucram com a venda de contratos altamente valorizados, marcada pela menor procura associada ao Verão e pelo abrandamento económico e da procura dos países ocidentais, etc. – os peritos consideram que os argumentos para o petróleo voltar a subir continuam intactos. A procura mundial cresce tendencialmente mais do que a oferta, o cartel do petróleo (OPEP) continua a ter muito controlo sobre as entregas ao mercado, é cada vez mais caro investir na exploração (há muito petróleo no mundo, mas é bastante mais difícil lá chegar), há entraves tecnológicos importantes à produção, o retorno dos projectos de investimento é cada vez mais demorado.
Eduardo Oliveira Fernandes, professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, salienta que “o jogo especulativo está a ser determinante para este sobe e desce”. “Mas sempre que o preço do petróleo dispara, vence patamares aos quais dificilmente regressará”. E isto porquê? “Porque o problema de fundo continua o mesmo: a procura cresce mais do que a oferta”.
José Caleia Rodrigues, consultor na área da energia, diz que “esta redução no preço era expectável. Subiu tanto que teria de cair um pouco. Mas é inevitável que volte a subir e a vencer novos máximos”. A procura costuma ser mais moderada no Verão, “mas os factores para que volte a disparar estão lá todos”, aponta. E dá exemplos: “investir na exploração é cada vez mais caro, o retorno de projectos como o Tupi no Brasil só acontecerá daqui a 10 ou 12 anos. No fundo há um problema latente e sério do lado da oferta a prazo que é saber com que dinheiro e fiabilidade se conseguirá extrair petróleo de sítios muito complicados, como as reservas nas águas ultra-profundas [Brasil] ou nas areias betuminosas [Canadá]”.
Richard Cooper e Simon Fox, consultores da Mercer para o sector da energia, também defendem que o ritmo das subidas de preços dos últimos anos “sugerem que os fundamentais não são os únicos gatilhos” do actual choque petrolífero, apontando o dedo à “procura especulativa”. “O consenso geral é que o petróleo permaneça acima de 100 dólares”, podendo mesmo disparar ocasionalmente. Há analistas a falarem em picos de 200 ou 300 dólares, sublinham.James L. Williams, presidente da WTRG Economics, é de todos os menos pessimista. “O preço pode baixar até menos de 100 dólares por barril e ir até 85 dólares na Primavera de 2009”, mas “isto dependerá do grau de contágio dos problemas dos EUA ao resto do Mundo e da não existência de um contágio dos problemas dos EUA ao resto do Mundo e da não existência de um conflito no Irão”.

Diário Económico
Luís Reis Ribeiro
Energia 2008-08-06 00:05

sábado, 20 de setembro de 2008

José Júlio Caleia Rodrigues é mestre em Economia Política. Editou os livros "Geopolítica do Petróleo - Anatomia dos conflitos" e, mais recentemente, "Petróleo - Qual Crise?"
A fatia dos consumos de petróleo para transportes vai continuar a aumentar - e o preço também, basta chegarmos à porta do Inverno. J. Caleia Rodrigues, mestre em Economia Política, explica os cenários da crise petrolífera no quotidiano do consumidor.
Depois de amanhã, a Deco vai comunicar formas de protesto contra o preço da gasolina. A subida dos preços é motivo para levar pessoas à rua?
É, claro. Isso pode acontecer. É causa que baste - e se as pessoas forem levadas a fazer isso, creio que o farão.

O preço do petróleo está a cair desde Julho, mas a gasolina não pára de aumentar. Esta é a altura mais indicada para protestar?
Eu esperaria até finais de Outubro, meados de Novembro. Aí, o petróleo fica sempre mais caro, é a altura das compras para o aquecimento. Protestar nessa altura, de um novo e previsível pico de preços, colheria mais argumentos, melhores. Um protesto que ocorra já não impedirá uma subida dos preços nessa altura.

A Autoridade da Concorrência está a fazer tudo para acompanhar o sector?
Não creio. É um sector muito complicado, muito pesado. A AdC não tem capacidade de intervenção, aqui não tem peso. Pode ser óptima noutros sectores, mas é uma entidade genérica. Aqui, pode produzir negociações e encontros, mas pouco mais.

O Estado, a mexer no mercado da gasolina, pode intervir em três cenários: reforçar a regulação sobre as petrolíferas; mexer nos impostos (IVA e ISP); ou regressar à fixação administrativa do preço. Vê mais hipóteses?
São, genericamente, essas três. Hoje, da minha perspectiva, o que o Estado pode fazer é mexer nos impostos. No resto não tem muita margem de manobra, porque envolve negociação com produtores. O mercado é livre e aberto, e um Governo, através do Estado, não pode penalizar produtores de sector nenhum. Nos impostos, e a questão é muito complexa, é que tem margem para mexer. Mas se o Estado arrecadar menos, terá também menos para aplicar nos seus cidadãos - se reduz imposto, reduz benefícios para os seus cidadãos. Depende do equilíbrio que queira ter, sendo que o Estado precisa de impostos para manter o estatuto e o estado social, e para sustentar a sua própria funcionalidade.

Que capacidade tem o Estado para negociar com as petrolíferas?
O seu poder negocial vem dos investimentos que fizer e permitir fazer em novas descobertas e extracções de petróleo. Veja o caso da Galp: deve remeter-se a ser intermediário refinador ou assumir o papel de um verdadeiro 'player' de extracção e distribuição? A Galp é um intermediário puro (compra, refina e vende), mas isso faz-nos ficar dependentes. Para ser um 'player' de mercado tem que capitalizar-se, internamente e externamente, e investir muito. E o retorno, pelas médias do mercado de extracção, só chega em 10, 12 anos.

A curto prazo vai haver escassez de petróleo. É preocupante para Portugal?
Há já taxas de esgotamento enormes, a curto prazo vai haver escassez a sério. Mas nós nunca passaremos por situações difíceis: primeiro porque, a nível global, somos um pequeno consumidor; e, depois, porque temos diversidade de fornecedores, temos abastecimento diplomaticamente garantido.

Onde devemos ter parceiros preferenciais: nos novos lençóis do Brasil ou na Venezuela, que tem a gasolina mais barata do Mundo?
Há muitos mercados ávidos de novos parceiros - isso nunca será problema. A qualidade da Venezuela é questionável, mas está ávida, como o Brasil está ávido, como está a Nigéria, a Rússia... O Brasil será sempre mais interessante, historicamente, culturalmente. O que é preciso é recursos e, depois, saber quem os paga.

José Manuel Gaspar

O ministro da Economia apenas poderá pressionar as empresas petrolíferas a baixar os preços dos combustíveis, restando-lhe poucas medidas de intervenção, à excepção da fixação administrativa e da mexida nos impostos, defenderam à Lusa vários especialistas do sector.
O analista do Espírito Santo Research (ESR), Pedro Morais, afirmou à Lusa que Manuel Pinho "não tem muitas ferramentas para fazer algo sem ser contestado pelos operadores".
O analista considera difícil que o ministro "tenha uma medida prática que possa tomar", à excepção da baixa do ISP (Imposto sobre os Produtos Petrolíferos) e da fixação dos preços administrativamente.
Contudo, a descida dos impostos não é desejável para os cofres do Estado e fixar os preços administrativamente é "recuar quatro anos" na liberalização do mercado, defendeu.
Pedro Morais defende que uma das vias poderá ser o Estado utilizar os 7 por cento que ainda detém na Galp para tentar influenciar a gestão da petrolífera.
O ministro da Economia admitiu quarta-feira, em entrevista à SIC Noticias, que poderá intervir no mercado dos combustíveis para defender os consumidores.
"Estou preparado para tomar toda e qualquer medida em defesa dos consumidores", afirmou Manuel Pinho, embora tenha rejeitado a fixação administrativa dos preços.
"Acredito que os preços vão baixar, mas se não baixarem vamos ver se há algum problema na raiz e vamos resolvê-lo", afirmou.
A investigação profunda do mercado, anunciada pela Autoridade da Concorrência, é uma das medidas defendidas pelo especialista em petróleo, Caleia Rodrigues.
"O ministro não pode tomar medidas discricionárias porque estamos numa economia aberta, mas pode investigar e fazer pressão", defendeu em declarações à Lusa.
Para além destas medidas, Caleia Rodrigues defende que o Governo só pode mexer nos impostos, duvidando que "tenha força para fixar preços máximos", como fez o Governo Regional da Madeira, acabando com a liberalização dos combustíveis.
Uma intervenção no mercado liberalizado é também recusada pelo secretário-geral da Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas (APETRO), José Horta, que afirma que o primeiro-ministro garantiu "há dois anos que não interviria no preço dos combustíveis".
"Só poderá intervir, mudando o quadro legal de actividade, o que não me parece possível face aos acordos que Portugal tem no âmbito da União Europeia", afirmou à Lusa.
"Não vislumbro medidas, a não ser uma medida restritiva à liberdade do mercado", disse.
Um especialista em concorrência afirmou à Lusa que o ministro poderá tomar apenas duas medidas: ou baixar os impostos ou voltar a fixar administrativamente os preços.
O Governo Regional dos Açores decidiu mexer no ISP para combater as variações internacionais do preço do combustível.
Através de uma oscilação ascendente ou descendente de 10 por cento no ISP o Governo Regional consegue neutralizar a oscilação nos preços.
O analista financeiro da IMF-Informação de Mercados Financeiros, Ricardo Marques, afirmou à Lusa não se pronunciar sobre "medidas políticas", mas considera que as petrolíferas usam fórmulas de cálculo diferentes na subida e na descida dos preços dos produtos.
"Há claramente uma política comercial que não me parece que seja igual nas subidas e nas descidas, baseada na cotação dos produtos refinados em euros", afirmou.
Segundo este analista, há uma "correlação quase perfeita" entre o aumento dos preços refinados em euros e o aumento do preço dos combustíveis na bomba, que não se verifica quando os preços baixam.
Na sua opinião, e tendo em conta a dimensão da descida do preço do gasóleo nos mercados internacionais - de 840 euros por tonelada entre Maio e Julho para os actuais 600 euros - o preço devia estar na bomba 10 por cento mais barato do que o que está.
José Manuel Gaspar

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Os impostos valem metade do preço dos combustíveis.
A queda do preço do petróleo tem de ser reflectida no preço dos combustíveis. As palavras são do ministro da Economia, Manuel Pinho, no mesmo dia em que a BP subiu em um cêntimo o preço da gasolina e a Galp o manteve inalterado. Os números não batem certo? Só aparentemente, dizem os especialistas.
“A teoria da conspiração que diz que as petrolíferas estão fartas de meter milhões ao bolso não faz sentido nenhum”, frisa Nuno Ribeiro da Silva, presidente da Endesa Portugal. O preço do barril de crude, diz o especialista em questões energéticas, pesa apenas 20% na determinação do preço dos combustíveis. Por outro lado, às petrolíferas deverá restar apenas uma margem de cerca de 10% para a gestão da empresa e a logística. Por tudo isto, frisa Ribeiro da Silva, não faz sentido que o ministro da Economia peça às petrolíferas para baixarem os preços, “numa lógica de Robin dos Bosques e Xerife de Nottingham”.
O sistema de formação dos preços dos combustíveis é determinado pelo próprio Governo e é ao Estado que cabe a fatia de leão - os impostos pesam 59% no caso da gasolina e 47% nos gasóleos, entre IVA e ISP.
“Se o Governo quiser que os preços baixem pode optar por baixar os impostos”, aponta Caleia Rodrigues, consultor para questões energéticas. Por outro lado, frisa o mesmo especialista, “para que continue a haver petróleo até 2030 as petrolíferas têm de investir, até essa data, 150 mil milhões de dólares por ano [105 mil milhões de euros] e, para isso, têm de ter financiamento, numa altura em que o acesso ao crédito é cada vez mais difícil”.

Diário Económico
Preço dos combustíveis 2008-09-18 00:05
Sofia Lobato Dias

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O potencial dos dois poços da Bacia de Santos pode duplicar as reservas recuperáveis do Brasil, que no ano passado eram de 12,6 mil milhões debarris. Número pouco significativo face
ao total mundial, mas importante numa realidade de campos envelhecidos.

As reservas acima do esperado para o poço brasileiro Iara trouxeram uma lufada de ar fresco ao mundo da exploração, a juntar-se às expectativas já nascidas em Novembro com as previsões para o Tupi, que fica no mesmo bloco (BMS-11) petrolífero do pré-sal brasileiro.
As potenciais reservas recuperáveis dos dois poços ascendem a 10 mil milhões de barris (média entre os 5 a 8milmilhões estimados para o Tupi e os 3 a 4 mil milhões projectados para o Iara). Uma vez que o consumo mundial de petróleo ronda os 31 mil milhões de barris por ano, os dois campos brasileiros representam um terço do crude do consumo anual em todo o mundo.
Estas descobertas tornam o Brasil um país muito interessante em termos mundiais, comentou ao NEGÓCIOS o especialista em questões petrolíferas, José Caleia Rodrigues, “Não só pela quantidade, mas pela sua qualidade. Mas a profundidade constitui um problema, já que exige grande esforço financeiro em nova tecnologia de extracção e meios humanos adequados, que não são fáceis de encontrar.” “Hoje essa é uma grande questão, visto que o petróleo superficial está em esgotamento”.
O especialista sublinhou que as novas descobertas no Canadá e na Venezuela são de areias betuminosas e o processamento é muito caro, já que exigem enormes quantidades de água e energia. Assim, as duas grandes possibilidades para o futuro são a de encontrar petróleo a grandes profundidades, cuja extracção é cara, ou areias betuminosas, cujo processamento é muito dispendioso. “Quando se encontra petróleo mais leve, como no caso do Iara, isso é bom. Mas continua a ser caro extraí-lo”, afirmou o responsável, que considera que para as empresas apostarem na exploração de novos campos, o petróleo não pode estar abaixo dos 100 dólares. “É um risco financeiro muito grande”, advertiu.

Receitas do pré-sal para o Estado brasileiro

Lula da Silva anunciou recentemente que vai ser criada uma empresa para gerir o pré-sal, cujas receitas reverterão para o Estado, o que não agradou os accionistas e as empresas internacionais – que se viram privados de fazer licitações para operarem esses campos.
Recorde-se que o Brasil recusou na semana passada integrar a OPEP. Recentemente, o presidente da Petrobras salientou que a OPEP exporta petróleo e não combustível, o que inviabiliza a entrada do Brasil.
As descobertas do Tupi e do Iara poderão duplicar as actuais reservas do Brasil, que, segundo o último relatório mundial da BP, estão nos 12,6milmilhões de barris.
Os dois novos poços podem, assim, colocar as reservas recuperáveis brasileiras em perto de 13 mil milhões de barris.

O que é a camada pré-sal?

É uma faixa que se estende ao longo de 800 quilómetros (km) entre os estados brasileiros de Espírito Santo e Santa Catarina, abaixo do leito do mar, englobando três bacias sedimentares (Espírito Santo, Campos e Santos).
O petróleo nesta área está a profundidades que superam os 7 mil metros, abaixo de uma extensa camada de sal, que, segundo os geólogos, conserva a qualidade do petróleo. As grandes últimas descobertas de petróleo no Brasil (Tupi e Iara) estão no pré-sal. As estimativas apontam para que esta camada ultra-profunda tenha reservas próximas dos 100 mil milhões de barris.

Desafios tecnológicos
Para chegar à camada pré-sal, a Petrobras diz que teve que superar muitos desafios tecnológicos. A empresa tem um centro de pesquisas onde estão a ser testados processos inéditos, como a abertura de cavernas no sal, para servirem de reservatórios para o gás, até que entre em operação o projecto-piloto, projectado para o ano de 2010.

Qualidade do petróleo
Além do potencial petrolífero, as descobertas no pré-sal diferenciam-se pela qualidade do óleo. A maior parte das reservas da Petrobras era de petróleo pesado.
As jazidas do pré-sal, com hidrocarbonetos leves, gás natural e condensado, estão a mudar o perfil das reservas da empresa líder de consórcio, assim como das parceiras, como a Galp.

Financiamento
Para transformar o pré-sal numa forte área produtiva serão necessários investimentos muito elevados. Só nos campos à volta do Tupi, fala-se de 145 mil milhões de euros. Mas a origem dos recursos ainda está dependente do modelo que será adoptado pelo governo de Lula da Silva: o actual modelo de concessões a privados ou uma empresa pública.

Jornal de Negócios
12.Setembro.2008
Carla Pedro cpedro@mediafin.pt