domingo, 25 de maio de 2008

Perceber o petróleo (Expresso, "Economia", 22.Abril.2006)

"Quando ouvimos falar em crise de petróleo deparamo-nos com um perigoso equívoco", isto porque, segundo Caleia Rodrigues, não estamos perante uma crise. Mas sim perante uma nova realidade - a escassez de uma matéria-prima - à qual nos temos que habituar. Uma crise, defende este autor, é por definição passageira. Ora não é disso que se trata.
Caleia Rodrigues fala-nos de uma situação irreversível que é uma "consequência natural da desenfreada intensificação e descontrolada massificação da utilização do petróleo". Como resultado: a procura é superior à oferta. "Enquanto a população mundial aumentou três vezes e meia desde 1890, a energia industrial consumida 'per capita', apesar de desigualmente repartida, aumentou mais de sete vezes durante mesmo período e a energia total consumida a nível mundial aumentou quase catorze vezes". Esta obra (Petróleo, Qual Crise?), que apresenta inúmeros dados económicos de fontes diferentes, é elucidativa sobre a evolução do mercado petrolífero ao longo dos últimos anos. E apresenta ainda o petróleo como uma fonte natural que corre (comparativamente) cada vez mais, para os países em vias de desenvolvimento em detrimento dos países desenvolvidos. São expostos, entre outros, os diferentes cenários que estão a ser estudados para fazer face a esta situação; e os interesses políticos que estão em cima da mesa.
Mafalda Aguiar

Perante a escassez de reservas comprovadas de petróleo bruto convencional e da capacidade de refinação disponível, é feito apelo a novo e substancial investimento no sector.
A não se realizarem investimentos de grande envergadura, envolvendo sectores a montante e a jusante, a produção mundial no ano 2020 será sensivelmente a mesma que se obtinha em 1980.
Porém, a população mundial atingirá quantidade aproximadamente dupla e muito mais industrializada, logo mais dependente do petróleo, do que em 1980. Portanto, a procura mundial por petróleo, ultrapassará largamente o seu ritmo de aumento de produção. Numa situação destas, os preços continuarão a subir incessantemente e as economias dependentes do petróleo para o seu desenvolvimento sustentado implodirão com os consequentes potenciais riscos de confrontações violentas.
Os efeitos consequentes de uma pequena quebra na produção produz efeitos devastadores. Lembremo-nos que, durante os choques petrolíferos da década de 70, a redução da produção atingiu apenas os 5 por cento, causando a quadruplicação dos preços do petróleo convencional. Afortunadamente, a catapultagem desses preços foi temporária e passageira. Por isso foram chamados “choques”.
Segundo as estimativas de muitos analistas, o inevitável decréscimo de produção poderá atingir uma taxa de 8 por cento anuais, Outros até predizem reduções da ordem dos 10 a 13 por cento. Grande parte dos petrofísicos expressam a opinião de que o ano 2007 será o último ano da bonança do petróleo barato, o que conduzirá a uma maior escassez de combustíveis e a um severo aumento de bloqueamentos a começar entre 2008 e 2012.
As chamadas “alternativas” ao petróleo podem ser consideradas, de facto, actualmente como “derivativas”. Sem abundante e seguro abastecimento de petróleo, não parece ser possível alcançar estas alternativas em grau suficiente que energize rapidamente o mundo moderno.
Recordemos que, após uma primeira informação de possibilidade de existência de nova bolsa petrolífera, só as análises sísmicas que permitem determinar a estrutura dos jazigos (rochas-reservatório), quer em quantidade extraível quer em qualidade (densidade, taxas de enxofre, etc.), atingem encargos de não poucos milhões de dólares. Note-se que, actualmente, já se estão a realizar extracções a mais de 3 mil metros de profundidade.
A globalização da economia e a internacionalização das empresas, também poderá ter contribuído para o agravamento do consumo global de combustíveis, dado que os produtos percorrem grandes distâncias desde os locais de produção até chegarem aos mercados consumidores. Daí o recurso à deslocalização dos centros de produção para inserção em locais mais próximos dos consumidores finais.
À guisa do realce da urgência da implementação de novos desenvolvimentos, devemos salientar que são precisos, pelo menos, 12 anos desde a tomada de decisão até à obtenção de taxas correntes de produção a partir do petróleo pesado ou dos xistos betuminosos. Não considerando tempos de revisão do projecto para adaptação às constantes alterações das exigências ambientais a cumprir. Na mesma ordem de ideias, são precisos 15 anos para a aprovação e construção de uma refinaria de processamento de petróleo pesado, mesmo tendo em conta um conhecimento tecnológico disponível e um perfeito respeito pelas normas ambientais. Apesar das esperanças postas no petróleo pesado e extra-pesado, deve ter-se em consideração que só apresentam soluções de satisfação a médio-prazo.
J. Caleia Rodrigues

Nota de abertura da Conferência

Em primeiro lugar devo saudar e louvar os promotores deste Forum por esta oportuna iniciativa.
O convite para vir moderar o painel denominado “Da crise do petróleo à oportunidade das energias alternativas” constituiu para mim um privilégio que vou tentar merecer.
Isto, porque, nestas matérias, sou um activo incitador e hoje vejo-me a desempenhar o papel de moderador.
No que se refere à indicada “Crise de petróleo” que constitui a primeira parte do título desta mesa redonda, sinto-me na obrigação, para ser coerente em relação ao que tenho dito e escrito, de apresentar a minha posição, partilhada por muitos outros analistas desta matéria: nem o sector nem o mercado petrolíferos atravessam uma crise.
Uma crise é algo de passageiro ou transitório.
A situação aparenta um fim de ciclo que se caracterizou por uma suficiente capacidade extractiva instalada no sector e um regular abastecimento ao mercado.
É por demais evidente a dependência económica configurada por numerosos países, na sua incessante busca de novas e mais seguras origens de bens energéticos, indispensáveis à manutenção do seu tecido social e económico.
O que os torna estratégicos é a sua influência na soberania e na segurança nacionais.
A energia assumiu uma posição dominante na extensa agenda política económica.
Apresenta-se, nas suas várias formas, como símbolo de desenvolvimento económico e, ainda mais, de riqueza e prosperidade.
O acesso e o controlo dos recursos energéticos constituem uma preocupação central dos governantes e de todos aqueles que se encontram envolvidos em processos de produção industrial.
A situação colocada em torno da disponibilidade e entrega de petróleo ao mercado está na ordem do dia.

Podemos enumerar a acumulação de constrangimentos exógenos a que o sector foi sujeito, de entre os quais se podem salientar:
· a duplicação da população mundial tendente para explosão demográfica, dado que passou dos 3 para os 6 mil milhões de habitantes em apenas 40 anos;
· o aumento desmesurado do consumo de combustíveis fósseis;
· as constantes e sucessivas pressões geopolíticas que têm colocado o sector petrolífero em permanente instabilidade.

Mas também encontramos muitos factores dentro do próprio sector, que provocaram grandes constrangimentos, tais como:
· O encerramento de inúmeros poços de extracção, não totalmente substituídos por outras novas explorações. Só nos Estados Unidos, dos cerca de 1.500 poços em actividade no início da década de 1980, só estão actualmente em actividade 560.
· O sector da refinação foi submetido a idêntico processo, nalguns casos devido à exigência de adaptação ás novas regras ambientais. Enquanto, no início da década de 1980 se dispunha de uma capacidade de refinação superior ao consumo em cerca de 25 por cento, situa-se, actualmente, em valores muito próximos dos do consumo. Ou seja, o sector da refinação dispõe apenas, actualmente, de uma margem mínima de capacidade para acomodar mais aumentos de produto a entregar ao mercado.
· o arrefecimento do investimento no sector petrolífero durante as décadas de 1980 e 1990, em toda a cadeia petrolífera, desde a sondagem e detecção de novas bolsas petrolíferas, abertura de novas extracções ou da construção de novas e mais adequadas refinarias.

Encontramo-nos hoje perante opções a tomar, que não podem continuar a ser adiadas, sob pena de nos vermos, a curto prazo, numa situação de carência generalizada, de consequências muito difíceis de ultrapassar:
· Se os preços do barril de petróleo forem colocados de tal modo baixos que os tornem acessíveis às economias débeis e dependentes da importação do petróleo para satisfazer as suas necessidades energéticas, desmotiva o investimento em novas descobertas e novas produções. Logo, o produto escasseará e provocará tomadas de posição que podem conduzir a conflitos de imprevisível dimensão.
· Se os preços forem colocados a um nível que incite o investimento, corre-se o risco do esmagamento global das economias dependentes, inclusivamente das ocidentais europeias e das norte-americanas.
Recordo que os países da União Europeia, dependentes da importação de petróleo, pagaram cerca de 240.000 milhões de dólares o ano passado e os Estados Unidos, nada menos do que cerca de 300.000 milhões. Qualquer subida substancial no valor do barril de petróleo provocará grande agitação nas suas economias.
Daí a necessidade imperiosa da racionalização dos consumos do petróleo, da eficiência energética e do crescente recurso à utilização das energias alternativas.
Para isso aqui estamos hoje, para ouvir o que têm para nos dizer alguns dos maiores players nesta estratégica e sensível matéria.

J. Caleia Rodrigues
Hotel Meridien, Lisboa

Os principais fornecedores de petróleo de Portugal apresentam um risco elevado, segundo o “The Handbook of Country Risk”, uma análise da COFACE que mede o índice de risco país a médio e longo prazos.
De acordo com o estudo, entre os 13 fornecedores avaliados, quatro demonstram “muito elevado risco”. São eles: Angola, o Iraque, a Guiné Equatorial e a Nigéria. Quanto aos quatro primeiros fornecedores de petróleo, o risco para a economia nacional baixa. A Argélia que exporta 20.641 mil barris por ano, apresenta “pouco baixo risco”. A Nigéria, ao vender 15.708 mil barris anualmente, tem “um muito alto risco” a médio e a longo prazos. A Arábia Saudita também apresenta um “pouco baixo risco”, comercializando todos os anos 9.023 mil barris. Já o Brasil, que é o nosso quarto país exportador de petróleo, apresenta um “muito alto risco”.
Quer isto dizer que, além da superdependência portuguesa, as transacções efectuadas com estes fornecedores são de alto risco. Um contexto que agrava as despesas do Estado, mas também deteriora o relacionamento entre empresas e consumidores, alertou Caleia Rodrigues.
Para o especialista em economia e política internacionais, que interveio na segunda conferência da COFACE sobre rico país, Portugal tem, urgentemente, que adoptar medidas estratégicas. O alerta não recai apenas no âmbito nacional, mas também no espaço da União Europeia. À excepção da Dinamarca e do Reino Unido, a Europa está numa situação de dependência no que toca a combustíveis, já que consome seis vezes mais do que produz. O académico defende uma ainda maior eficiência energética entre os responsáveis comunitários, considerando fundamental a continuidade do diálogo entre os Estados-membros.
Um facto preocupante para Caleia Rodrigues prende-se com a constante subida das importações de energia, mesmo com a também contínua escalada dos preços do petróleo.
No caso de Portugal, o conselho do especialista não revela qualquer novidade. Para enfrentar a dependência ao nível do petróleo, o nosso país tem que optar pelas chamadas energias alternativas. Só o petróleo representa 71% das nossas importações ao nível energético. Por isso, sustenta: “Tal como todos os países extremamente dependentes, Portugal deve investir nas energias alternativas”.
De acordo com a Direcção-Geral de Geologia e Energia, em 2004, o nosso país foi o quinto Estado da Europa a 15 “com maior incorporação de energias renováveis”.
Recorde-se que a factura energética nacional, no saldo de importações, agravou-se no ano passado em 45,1%, traduzindo-se em 5514 milhões de euros. Em comparação com 2004, a importação de energia subiu 2201 milhões de euros face ao ano anterior.

by Gabriela Raposo

sábado, 24 de maio de 2008

O aumento do consumo de energia e as ameaças à segurança ambiental estão intimamente ligados às pressões que as populações exercem nos recursos de suporte da vida do planeta.
Encontramo-nos perante uma consequência da desenfreada intensificação e da promoção massificada do consumo do petróleo, seguidas por um período em que o investimento não acompanhou a taxa de crescimento da procura, de tal modo que pode vir a comprometer o desenvolvimento sustentável.
Em face deste panorama, seremos obrigados a conjugar as várias fontes energéticas alternativas disponíveis, utilizá-las racionalmente e compaginar ambiente mais limpo com desenvolvimento económico.
No equilíbrio das várias opções a tomar, residirá a continuidade do bem-estar da civilização, tal como a conhecemos.

Índice
Promoção irresponsável do consumo de energia
A componente estratégica do petróleo
Disponibilidades e consumo
A exagerada dependência portuguesa
Variação dos preços: Causas e consequências
Combustíveis fósseis alternativos
Alternativos energéticos fora do âmbito dos combustíveis fósseis
Conclusões e prospectivas

sexta-feira, 23 de maio de 2008

A produção não vai acompanhar a procura. Ruptura é possível.
O cenário é mais negro do que se pensava e a principal entidade responsável pela monitorização do consumo energético mundial está a preparar uma revisão das suas previsões para o fornecimento de crude.
Ao que tudo indica a oferta do “ouro negro” dos maiores campos petrolíferos do mundo não é suficiente para fazer face ao actual ritmo de crescimento da procura. A leitura pode não parecer nova mas agora existem números para o comprovar. Pela primeira vez, a Agência Internacional de Energia (AIE) está estudar minuciosamente a capacidade de fornecimento de crude dos 400 maiores campos de petróleo do mundo. O estudo completo só será divulgado em Novembro. No entanto, segundo os dados a que o ‘Wall Street Journal’ teve acesso, já é possível concluir que a capacidade de fornecimento de petróleo destes campos poderá ser muito menor do que a inicialmente se pensava.
Durante muitos anos, a AIE pensou que a oferta de crude e de outros combustíveis líquidos iria acompanhar a procura crescente da matéria-prima, passando de um fornecimento dos actuais 87 milhões de barris por dia para os 116 milhões de barris diário, em 2030.
No entanto, o estudo vem demonstrar que, para muitas empresas, já será difícil conseguir ultrapassar uma produção de 100 milhões de barris por dia, nas próximas duas décadas, devido não só ao envelhecimento dos campos de petróleo como também da diminuição do investimento das empresas. Ou seja, a falta de petróleo poderá chegar mais cedo que o previsto, embora o relatório, na parte já divulgada, não aponte uma data. “O investimento necessário para o petróleo é muito superior ao que as pessoas pensam”, adiantou Fatih Birol, economista-chefe da IEA e responsável pelo estudo, em entrevista ao ‘Wall Street Journal’.
Para inverter ou pelo menos atenuar este cenário, José Caleia Rodrigues não tem dúvidas de que “tem de haver um abrandamento da procura”, adiantou ao Diário Económico o consultor e especialista em energia.
Segundo o especialista o aumento das “taxas de esgotamento” vai conduzir à falta de crude. A manter-se este cenário “dentro de três a quatros anos vai haver falta de petróleo no mercado. Serão sobretudo um conjunto de países, no qual se insere Portugal, que vão sofrer mais e não os grandes como, por exemplo, os EUA”, esclareceu Caleia Rodrigues.
No entanto, a recente escalada do preço do petróleo nos mercados internacionais não está relacionada com o binómio da oferta e procura de crude.
Segundo Nuno Ribeiro da Silva, presidente da Endesa Portugal e economista, o facto de o crude estar a cotar nos 135 dólares por barril está antes relacionado com a “desconfiança geral dos fundos de investimento e dos investidores no sistema financeiro, o que tem levado a que se refugiem nas reservas de valor, como por exemplo o petróleo”, adiantou em declarações ao Diário Económico.
Impacto imediato nas viagens e na alimentação

TAP aumenta preços - Sobe a taxa de combustível
A TAP já aumentou a sua taxa de combustível. Nos voos dentro da Europa, esta taxa passa de 29 para 32 euros; nos internacionais o aumento chega aos 10 euros. A American Airlines foi mais drástica e anunciou mesmo a redução da frequência dos voos em algumas rotas.
Bagagem custa 9,5 euros - Passageiros pagam cada mala
As companhias aéreas internacionais já avisaram que com os combustíveis mais caros os custos serão partilhados com os passageiros. A Air France-KLM ainda não avança valores mas a American Airlines já anunciou que vai cobrar 9,5 euros por cada mala embarcada.Peixe mais escasso - Armadores fazem greve
Sindicatos de pescadores e associações de armadores ameaçam deixar de ir ao mar enquanto o Estado não tomar medidas para suavizar os custos do aumento dos combustíveis. Tal poderá levar à escassez de peixe em Portugal. O Governo já rejeitou a atribuição de subsídios.
Carros europeus vão ter de gastar menos
O Parlamento Europeu já tem um plano em marcha para arranjar alternativas ao petróleo. Segundo os especialistas de Bruxelas os carros vendidos na União Europeia em 2020 terão de usar menos combustível do que os modelos actuais.
Guido Sacconi, o socialista italiano que está a trabalhar na legislação desta matéria, propôs limitar a média das emissões de carbono dos novos carros, em 2020, a 95 g/km, comparativamente aos 160 g/km de 2006, adianta o Financial Times.
No entanto, já existem alguns modelos no mercado que preenchem este requisito, estando mesmo abaixo dos 99 g/km de emissões de carbono do novo VW Golf Bluemotion, considerado o carro mais “limpo” à venda. Por exemplo, o VW Lupo, apenas emite 81g/km. Na União Europeia existem metas globais de emissões de CO2 que têm de ser cumpridas. O socialista Sacconi relembra, actualmente, os transportes rodoviários são responsáveis por 12% das emissões de CO2 na União Europeia e a tendência é para que este valor continue a aumentar. Isto deve-se, essencialmente, ao crescimento do número de carros em circulação no espaço europeu. ”.
Crude corrige depois de bater novos máximos
Extrema volatilidade. É a melhor forma de descrever a evolução dos preços do petróleo na sessão de ontem. O dia começou com novos máximos históricos, acima dos 135 dólares por barril, tanto para o crude vendido em Nova Iorque como para o Brent, que serve de referência às importações nacionais. Estas subidas deveram-se sobretudo ao valor das reservas norte-americanas, que voltaram a cair inesperadamente, e às declarações de responsáveis da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), que dizem nada poder fazer para contribuir para a redução dos preços. Por outro lado, a escalada do crude deveu-se também a motivos técnicos: investidores fizeram ‘short-selling’, apostando na queda dos preços e, mesmo com estes em alta, tiveram de ir ao mercado comprar contratos para poder vender, honrando os contratos. A pressão aliviou-se na segunda metade da sessão, com a tomada de mais-valias, levando os preços a descerem mais de 2 dólares em Nova Iorque e cinco dólares em Londres.

Diário Económico
Edição Impressa - Finanças
Relatório da Agência Internacional de Energia 2008-05-23 00:05
Bárbara Barroso
23.Maio.2008

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Já todos tomámos consciência de que a imparável escalada de preços do petróleo bruto nada tem a ver com crises.
Não é passageira nem localizada. É generalizada e motivada por tantos e tais parâmetros que não se consegue descortinar onde irá parar, que consequências arrastará e como nos iremos encontrar quando o mercado voltar a estabilizar. Com a procura sem abrandamento, o eventual esforço europeu ocidental de redução do consumo não conseguirá compensar os aumentos localizados na China e noutras economias em plena expansão. Já não falamos das implicações geopolíticas que só têm consequências pelo facto de não se dispor, actualmente, de suficiente reserva de capacidade extractiva, disponível nos produtores a actuar no terreno. A fraqueza do dólar é mais um elemento de ponderar. E quando o dólar elevar a paridade face ao Euro? Esta situação a juntar às anteriores causa preocupação. Tanto mais que os Orçamentos de muitos Estados de países dependentes da importação de petróleo bruto ainda se vão compondo com receitas de impostos aplicados ao produto. Porém, é bem sabido que, se a redução de tais impostos pode provocar carência de recursos ao Estado, com a panóplia de consequências sociais que podem, no limite, interferir com a sua segurança e soberania, a continuidade da sua manutenção pode estrangular o desenvolvimento económico. De uma coisa podemos estar certos: quanto mais tarde vier o remédio, mais difícil será curar a moléstia.
José Caleia Rodrigues, Consultor na área do petróleo

quinta-feira, 15 de maio de 2008

O preço dos combustíveis tem vindo a aumentar e a última subida aconteceu ontem, naquela que foi a 17ª subida desde o início do ano. Mas o reverso da medalha também já se faz sentir, com o consumo a mostrar sinais de abrandamento. Segundo dados da Direcção-Geral de Energia e Geologia (DGGE), o consumo de gasolina caiu 5,7% em Janeiro, encabeçada pela aditivada – normalmente mais cara – cujo consumo caiu 75,2%, deixando “praticamente de ser consumida nos últimos meses”. O consumo de gasolina sem chumbo 98 desceu 19,5% e o de gasolina sem chumbo 95 baixou 2,8%. O resultado? Menos receitas para o Estado. Segundo a Direcção-Geral do Orçamento, as receitas do Imposto Sobre Produtos Petrolíferos (ISP) caíram 10,5%, para os 663,9 milhões de euros nos primeiros 3 meses do ano.
Mas será que o Estado deve intervir nos preços dos combustíveis? E de que forma pode controlar estas subidas? Os especialistas consultados pelo Diário Económico são unânimes: o estado só pode intervir por via dos impostos, mas tem pouca margem de manobra para fazê-lo, tendo em conta as restrições orçamentais e o défice público -2,6% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2007.
O economista José Caleia Rodrigues explica que “o Estado não tem nada a ver com o preço do produto” e “não intervém nos custos da refinaria”. A única via que pode utilizar é a descida do imposto, “mas esta será uma decisão política”, afirma. Já o ex-Ministro da Indústria, Mira Amaral, é favorável ao regime de preços máximos, “que defende os consumidores e evita que se cometam abusos”.

Questionado pelo Diário Económico sobre a possibilidade de rever o ISP, o Ministro das Finanças disse não ter “qualquer comentário a fazer sobre a matéria”.

"O primeiro impacto foi sentido nas bombas de gasolina. Mas são as famílias que vão acabar por assumir os custos das empresas"

Um camião de transporte de mercadorias, com capacidade para 30 paletas, gasta hoje mais 100 euros em gasóleo do que no iício do ano, a percorrer os cerca de 600 quilómetros que separam o Porto de Madrid. Atestar o depósito de 650 litros de um destes camiões custa já 800 euros, mais 20 euros do que na 3ª feira à noite – véspera do aumento de três cêntimos por litro. Estas subidas de custos são assumidas pelas empresas subcontratadas, mas, no final, quem paga é o consumidor.

“Neste momento há uma redução de circulação enorme. Cerca de um terço dos carros estão parados”, diz Carlos Barbosa, presidente do ACP. António Mexia, presidente da EDP, disse ontem à margem de uma conferência, não acreditar que os preços voltem a descer, aconselhando os consumidores a reflectir os aumentos de custos nos hábitos de consumo. Carlos Barbosa acrescenta: “A gravidade dos aumentos é que ninguém explica porquê”.
José Caleia Rodrigues, especialista em questões petrolíferas, reconhece que a relação entre o preço da matéria-prima (petróleo) e o preço dos produtos finais (combustíveis) “é difícil de fazer”. E explica que há diferentes tipos de crude, com viscosidade, densidade, teor de enxofre e acidez diversas, que fazem variar o preço.
Do lado do preço final, as diferenças praticadas pelas gasolineiras em Portugal, são insignificantes. Resta saber porquê.”Os aumentos generalizados são uma prova de que não existe concorrência e a liberalização não foi bem feita”, adianta Jorge Morgado, secretário-geral da DECO. O Ministro da Economia., Manuel Pinho, pediu no final do mês passado à Autoridade da Concorrência que investigasse a situação, mas os resultados estão por apurar.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

O Brasil acredita que foi feita a maior descoberta de petróleo dos últimos 30 anos, que poderá tornar o país detentor do terceiro maior campo de petróleo do mundo. Para Caleia Rodrigues, esta descoberta poderá tornar o país numa grande potência mundial.

O governo brasileiro acredita que foi feita a maior descoberta de petróleo dos últimos 30 anos, que poderá tornar o país detentor do terceiro maior campo de petróleo do mundo.
O director da Agência Nacional de Petróleo, Haroldo Lima, garantiu, esta segunda-feira, que o poço descoberto na Bacia dos Santos pode conter reservas superiores a 33 mil milhões de barris, ou seja, «cinco vezes mais do que as reservas do campo de Tupi», o maior do Brasil, que é operado pelo consórcio da Galp.
Este anúncio está, no entanto, a causar polémica no Brasil, porque há quem considere as declarações de Haroldo Lima desastrosas e defenda que ele seja afastado do cargo por ter revelado informações de forma precipitada.
Caso os dados não se confirmem, Haroldo Lima será processado pelo consórcio e os accionistas poderão avançar com um processo contra o Estado brasileiro.
Apesar da informação ainda não ter sido confirmada pela Petrobras, o anúncio já fez disparar as acções da Galp e da Repsol.
Ouvido pela TSF, Caleia Rodrigues, especialista em Economia Política e autor do livro autor dos livro «Geopolítica do Petróleo» disse que, caso se venham a confirmar os resultados perliminares, esta descoberta seria motivo de uma grande satisfação.
Esta descoberta confirmaria que o Brasil «seria a terceira maior bolsa em exploração do mundo», sobretudo numa altura em que as grandes bolsas de petróleo, como a da Arábia Saudita, do Kuwait e do México apresentam «taxas de esgotamento» até aos 15 por cento, explicou Caleia Rodrigues.
«Esta bolsa brasileira é do melhor que pode acontecer ao sector petrolífero e ao mundo em geral, que tanto depende da energia», sublinhou.
Para Caleia Rodrigues, o Brasil vai ganhar com esta descoberta não só para se afirmar como uma grande potência mundial, mas também para ajudar os restantes países a fazer face à crise.
Também em declarações à TSF, Rui Alves Vieira, especialista em extracção de petróleo, apelou à cautela com estas notícias, alertando que, caso as informações se venham a confirmar, serão necessários muitos e variados estudos.
«Para provar a abrangência de uma descoberta com essa dimensões» são necessários anos e «um grande investimento», frisou.

Prefácio

O processo de globalização é, sem dúvida, a característica dominante da economia mundial na presente década.
Assistimos, nos últimos anos, ao aumento exponencial da integração e independência das economias nacionais e ao verdadeiro aparecimento de mercados globais em que a gestão das empresas, desde a localização das suas actividades industriais à comercialização dos seus produtos, tem de ter em conta essas novas realidades.
Mas se este fenómeno se tornou particularmente visível e estruturante nos anos noventa a verdade é que o seu desenvolvimento é não só antigo, desde os primórdios do comércio internacional, mas já se antevia claramente com a emergência, especialmente no pós-guerra, das designadas empresas multinacionais e transnacionais.
Nesta perspectiva, o mercado do petróleo, envolvendo desde a sua extracção à refinação e comercialização dos produtos dele derivados, é particularmente interessante pelo pioneirismo em termos de globalização, em boa parte associado às características intrínsecas da localização dos mercados fornecedores de matérias primas e dos de comercialização dos produtos finais. É neste mercado que desde cedo melhor se detectam as condições que tantas vezes estão na base do funcionamento transnacional das empresas, e, por isso, não é de estranhar que fosse neste âmbito que surgissem as mais importantes empresas multinacionais desde o início daquilo que hoje designamos por processo de globalização.
Mas, para além disto, também este mercado adquiriu uma importância internacional única na medida em que se tornou elemento critico da economia mundial, quer pelo valor intrínseco dos montantes transaccionados quer pela importância crítica, nas economias modernas, do factor energia e dos próprios produtos derivados do petróleo, omnipresentes na nossa vida quotidiana. Esta relevância intrínseca, associada à distribuição geográfica dos países produtores e consumidores, bem como as interdependências daí resultantes, conduziram a que o petróleo adquirisse o papel estratégico, não só económico mas também político, que desde há décadas lhe é reconhecido.
Neste livro, o autor apresenta, de forma original e detalhada, aspectos relevantes desta problemática e, socorrendo-se da sua vasta experiência internacional, apresenta-nos uma reflexão aprofundada sobre ela, concluindo com a apresentação de um caso particularmente interessante – o da África do Sul -, que conhece bem dada a sua experiência profissional. Em síntese, estamos perante uma contribuição relevante para a compreensão de um fenómeno tão marcante da economia mundial actual.
Prof. Doutor António de Sousa (Governador do Banco de Portugal) Dezembro de 1999


Índice

Indice analítico

Lista de Quadros e Gráficos

Introdução

Primeira Parte. Fundamentação estruturalista

1. Imperialismo económico e dependência
2. Ameaças de natureza económica

Segunda Parte. Evidência empírica

3. Porquê o petróleo?
4. Deslocação de poder: as “sete irmãs” e a OPEP

Terceira Parte. Acção e reacção

5. Petróleo: arma diplomática
6. Produção de combustível líquido a partir de carvão (caso estudado)

Conclusões
Posfácio
Bibliografia
Anexos:
Datas de referência
Glossário


INTRODUÇÃO

O futuro dos países menos desenvolvidos tem sido uma das mais preocupantes questões apresentadas na nossa era à economia política internacional, sendo entendido que a forma como esta matéria for resolvida, afectará, indubitàvelmente, o futuro do nosso planeta. O intenso desejo da maioria da raça humana em escapar à debilitante pobreza e a juntar-se ao mundo econòmicamente desenvolvido, é objecto determinante da política internacional.[1] Atinge-se a passagem do século e ainda subsiste grande controvérsia quanto às causas, próximas ou remotas, e ao encontro de possíveis soluções para este confrangedor problema.
O argumento apresentado pelos estruturalistas (como ficou sendo conhecida a teoria de Prebish-Singer) é o de que a economia mundial é composta por um núcleo ou centro de países altamente industrializados e por uma imensa periferia subdesenvolvida.[2] O progresso técnico que permitiu a melhoria da produtividade e o desenvolvimento económico, seria a força propulsora do sistema, mas o avanço técnico teria tido consequências diferentes para o centro industrializado da periferia não-industrializada, devido às características estruturais das economias menos desenvolvidas e à divisão internacional do trabalho,[3] herdada do passado.
Samir Amin,[4] um dos mais proeminentes teorizadores estruturalistas, afirma, decididamente, que “hoje, cerca de 75 por cento das exportações de matérias-primas dos países subdesenvolvidos, não provêm da “tradicional” baixa-produtividade, mas sim de “modernos” sectores e processos de alta-produtividade, como o mineiro ou o agrícola, sem esquecer o actualmente tão importante sector petrolífero. Neste sentido, a produção realizada pelos produtores de matérias-primas, precisa per se de ser diferente da produção das mercadorias dos produtores industriais”.[5] De assinalar, que os países industrializados, como a Grã-Bretanha ou os Estados Unidos, também produziram e exportaram importantes quantidades de matérias-primas, primeiramente o carvão e, mais recentemente, o algodão e o trigo, no decurso do seu desenvolvimento económico.
Durante a década dos anos 1960, as hipóteses liberais sobre as perspectivas de desenvolvimento para muitos dos Países Menos Desenvolvidos (PMDs) foram objecto de intensa crítica por parte de numerosos académicos, sobretudo latino-americanos. Estes críticos do modelo liberal de desenvolvimento, surgiram primeiro na CELA.[6] The Economic Survey of Latin America -–1949, editado pela CELA, marca a criação da perspectiva de economia política desta instituição. De entre as primeiras críticas, destaca-se a obra do argentino Raul Prebish,[7] economista, político e diplomata (1901-1986), ao induzir um significativo impulso à perspectiva da dependência[8] e à interpretação do dilema do desenvolvimento dos PMDs, como terei oportunidade de desenvolver no Capítulo 1. Por outro lado, Celso Furtado, o eminente brasileiro teorizador da dependência, alinha claramente a especificidade problemática do capitalismo periférico. A citada Survey, coordenada por Raul Prebish, desenvolveu a evidência de que a economia latinoamericana cresceu, ligada directamente ao sector exportador que lhe proporcionou as divisas estrangeiras necessárias à importação de produtos manufacturados. Esta ligação centro-periferia tendeu a perpectuar-se, se bem que a sua dinâmica fosse controlada por decisões tomadas no centro e se tivesse caracterizado pela deterioração dos termos de comércio. Neste contexto, só a industrialização nacional poderia ser capaz de quebrar o ciclo vicioso do sub-desenvolvimento.[9]
Raul Prebish, promotor da CNUCED[10] e seu primeiro Secretário Geral, concluíu, então, que o dilema do desenvolvimento na América Latina estava ìntimamente ligado a factores exógenos à região. Prebish foi especialmente crítico em relação à existência da divisão internacional do trabalho e ao sistema de comércio livre. Ele e outros que, entretanto, se vieram a ocupar deste tema (Andre G. Frank, Theotoneo dos Santos, Fernando Henrique Cardoso), argumentaram que o sistema de comércio internacional reforçou o papel desempenhado pelos Países Menos Desenvolvidos (PMDs) como fornecedores de produtos primários e matérias-primas, enquanto os países desenvolvidos continuavam a prosperar como fornecedores de produtos industriais.[11]
Este pessimismo em relação aos termos de comércio, ficou conhecido como tese de Prebish-Singer, após ter sido desenvolvida por estes dois economistas, que exploraram as suas implicações nos anos 1950.[12] Deduziram que houve e poderá continuar a haver, um decréscimo nos termos de comércio dos exportadores de mercadorias do sector primário, devido à associação das pequenas receitas com a compressibilidade dos preços da procura. Este decréscimo teria tido, como consequência, a transferência a longo prazo de receitas dos países pobres para os países ricos, que só poderia ser invertido com um esforço de protecção às indústrias nacionais, pelo processo que veio a ser conhecido por “substituição das importações”.
Também o alemão Andre Gunder Frank, outro dos clássicos teorizadores da dependência,[13] evidenciou, muito particularmente, os efeitos do imperialismo no Terceiro Mundo, rejeitando, simultâneamente, a noção Marxista de que as sociedades atravessam estádios ou modos de produção diferenciados, na evolução do seu desenvolvimento. Apoiou, contudo, a tese anti-imperialista, de que as ligações entre regiões em desenvolvimento e regiões desenvolvidas, resultaram em exploração das regiões periféricas pelos países metropolitanos centrais.[14] Os estruturalistas, sob a liderança de Raul Prebish, argumentaram que a reforma da economia internacional e a estratégia de desenvolvimento baseadas na substituição de importações, poderia ser uma das soluções para esta situação.[15]
Infelizmente para os países em desenvolvimento, de entre a quantidade de mercadorias que podem fornecer, a que podem controlar efectivamente, é demasiado pequena.[16]
Não será demais referir que um Estado se torna polìticamente dependente, quando as suas estruturas e instituições de poder são controladas do exterior e econòmicamente dependente quando as suas exportações e as suas importações são necessárias para a sua sobrevivência.
Situação flagrante de dependência económica é a manifestada por numerosos países, na sua incessante busca de novas e mais seguras origens para a importação de matérias-primas energéticas, indispensáveis à manutenção do seu tecido social e económico.
De uma forma geral e agravante, as relações de natureza funcional entre tecnologia e poder económico, por um lado, e poder político e militar, por outro, viram-se gravemente perturbadas – até se poderia ir mais longe, dizendo que foram, parcialmente, destruídas – pelo uso recente da utilização do petróleo como arma diplomática, já que a resolução da questão energética está intimamente relacionada com as transformações ocorridas na esfera da economia internacional.[17] As rápidas actuações na cada vez maior procura de recursos naturais energéticos por parte dos consumidores internacionais, provocaram uma alteração profunda em termos de dependência, conduzindo a economia industrial mundial a depender ainda mais das limitadas fontes de energia.
A energia, como veremos no Capítulo 3, assumiu, portanto, demasiado ràpidamente, uma posição dominante na extensa agenda política económica. Não parece difícil admitir que, nas suas várias formas, a energia apresenta-se como sinónimo de desenvolvimento económico e, ainda mais, de riqueza e prosperidade.[18] Consequentemente, o acesso e controlo dos recursos energéticos, constituem uma preocupação central dos governantes e de todos aqueles que se encontram envolvidos em processos de produção industrial.
Deparamo-nos, então, com uma fonte de energia que ultrapassa todas as outras em importância: o petróleo.
Em 1984, o petróleo era responsável, a nível mundial, por 39 por cento da energia primária total consumida. Este facto não colocaria, por si só, o petróleo na agenda internacional, se os consumidores de petróleo pudessem satisfazer as suas necessidades de energia a partir dos seus próprios recursos e, assim, com todas as probabilidades, o petróleo seria um assunto controverso de maior importância nas questões domésticas do que em termos internacionais. Porém, não é este o caso. O petróleo tornou-se um acontecimento na política mundial, em consequência de imperativos geológicos e geográficos, bem como modelo de desenvolvimento económico global, tendo criado uma situação, na qual, os produtores não são os seus maiores consumidores, muito pelo contrário. Podemos citar, a título de exemplo, que a Arábia Saudita produz 7 vezes mais do que consome. Em contrapartida, o Japão consome 5,5 vezes mais do que produz.
Recorde-se que, em 1973, um conjunto de países árabes produtores e exportadores de petróleo, em acção de apoio aos seus aliados envolvidos em conflito armado com Israel, impuseram um embargo ao fornecimento de petróleo aos Estados Unidos e aos seus aliados, nomeadamente à Holanda e a Portugal,[19] com o intuito de influenciar a política norteamericana em relação a Israel,[20] durante a Guerra do Yom Kippur. Este embargo ao petróleo (apesar de não ter sido o primeiro) seguido da fixação de quotas à produção e do consequente agravamento dos preços de comercialização, foi um considerável acontecimento, não só para os Estados da região do Golfo Pérsico, como também para o conjunto da economia mundial. Os países árabes produtores de petróleo deram-se conta de que o seu petróleo poderia ser usado como arma diplomática e política no conflito Israelo-Árabe, como terei oportunidade de desenvolver no Capítulo 5, ao mesmo tempo que os países consumidores de petróleo tomaram imediata consciência da sua excessiva dependência do petróleo do Médio Oriente.[21]
Logo após a crise de 1973 e durante a chamada década da OPEP, os países ocidentais industrializados ansiaram por reduzir a sua dependência dos fornecedores externos de petróleo bruto. Por referência, em Fevereiro de 1974, o Presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, propôs “restabelecer a capacidade [dos Estados Unidos] de auto-suficiência até 1980” e apelou para “um modelo de comércio mundial de petróleo, aceitável”, bem como novas medidas de conservação e o recurso a fontes de energia alternativas, que permitissem a redução da procura de petróleo.[22]
Só uma crise como a dos anos 70, liderada pela OPEP e da sua inteira e exclusiva responsabilidade, poderia obrigar os agentes internacionais a desviar a orientação das suas políticas energéticas do petróleo para outros recursos, eventualmente disponíveis.[23]
A opção do recurso a fontes alternativas de energia, contribuíu, de facto, para reduzir a dependência em relação ao petróleo da OPEP. O carvão, por exemplo, tornou-se, de novo, na maior fonte energética dos Estados Unidos. Do mesmo modo, o Japão aumentou as suas importações de carvão para dar resposta à crescente procura de energia eléctrica e de renovadas exigências do sector industrial. Também a China passou a actuar fortemente no carvão, como fonte primária de combustíveis fósseis. Por outro lado, a energia nuclear tornou-se alternativa; a França aumentou a sua geração de energia eléctrica à custa da energia nuclear, tendo mais do que decuplicado a produção, entre 1973 e 1986, com o objectivo de reduzir a sua dependência do petróleo importado, e, o Japão, com idêntico objectivo, tornou-se ràpidamente, no quarto maior produtor mundial de energia nuclear. O Governo alemão, por seu turno, encorajou a mudança de petróleo para gás natural.
As opções tomadas em relação ao gás natural e à energia de origem nuclear não apresentaram, de princípio, perspectivas muito animadoras. O primeiro devido às ligações de demasiada dependência entre o produtor e o consumidor, e a segunda pela dificuldade resultante dos elevados custos de instalação das infraestruturas técnicas, enriquecimento do urânio e à exigência de enorme investimento inicial associado à reduzida dimensão dos mercados nacionais dos países menos desenvolvidos, sem poder esquecer o drama ambiental. A alternativa apresentada pelo carvão, também não se mostrou capaz de resolver todas as dificuldades enfrentadas pelos países dependentes, atendendo a que não contemplava todas as utilizações até então prestadas pelo petróleo, nomeadamente a de combustível líquido.

Quadro 0.1

Tanto quanto se conhece, a Africa do Sul, foi o único caso mundial de sucesso, na opção da alternativa apresentada pelo carvão, sustentada, simultâneamente, pela disponibilidade nacional da matéria-prima e pela tecnologia adequada à sua conversão em combustível líquido.[24]
Confrontada com a ameaça de embargos ao fornecimento de petróleo por parte dos países produtores, a Africa do Sul reagiu, procurando alternativas que lhe assegurassem um mínimo de independência e a garantia de fornecimento continuado, utilizando matérias alternativas e tecnologias disponíveis no seu próprio país.
Assim, em Dezembro de 1974, apenas um ano após o embargo imposto pelos exportadores árabes, o Ministro Sul-Africano dos Assuntos Económicos, anunciou a decisão tomada pelo Gabinete, de aumentar a produção de combustível líquido a partir do carvão nacional.[25] A nova linha de produção iria converter mais do que dez vezes a quantidade de combustível líquido e derivados do que, até então, a existente linha de produção, e tornar-se-ia num dos maiores projectos industriais jamais realizados em África. Terei oportunidade de desenvolver este tema, no Capítulo 6, com as características de caso estudado.
A África do Sul, com moderada aspiração a grande potência mundial, dispondo de nível médio em áreas como a económica, a tecnológica, a educacional ou a social, porém, contando com um vasto território, pretendeu, desse modo, libertar-se do imperialismo económico, como tentado pelo cartel do petróleo em 1973, quando este quiz atingir objectivos políticos, actuando na descontinuidade de fornecimento de recursos energéticos estratégicos.[26]
Enquanto que o Médio Oriente produziu em 1986, cerca de 22 por cento do petróleo mundial, consumiu apenas 3,8 por cento. Pelo contrário, o Japão, com enorme escassez de recursos energéticos, produziu cerca de 0,05 por cento do petróleo mundial e consumiu nada menos que 7,1 por cento. Como resultado evidente destas contradições, o petróleo tornou-se mercadoria-chave do comércio internacional e, quando os consumidores pretenderam voltar a dispor de abastecimento seguro, não tiveram outro remédio senão criar condições sob as quais a “política petroleira” se pudesse desenvolver.
Na realidade, foi devido a esse processo que as políticas petroleiras foram colocadas no topo da agenda política mundial durante os anos 70 e 80. O que fizeram, reflecte a complexa interligação de tendências e acontecimentos em diferentes centros, envolvendo uma diversidade de agentes, tanto estatais, como não-estatais. Por outro lado, as grandes multinacionais petroleiras, que durante tanto tempo tinham exercido uma dominante influência na indústria petrolífera, foram confrontadas, durante os anos 50 e 60, com a redução de receitas, quando o preço do petróleo desceu. Ao mesmo tempo, o crescendo de nacionalismos no Terceiro Mundo[27] influenciou a atitude dos Estados produtores de petróleo que começaram a exigir maiores receitas e mais eficaz controle dos seus recursos petrolíferos. A principal manifestação deste desenvolvimento, foi o colossal papel desempenhado pela associação dos maiores produtores exportadores, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). Criada em 1960, com uma composição original de Estados-membros que incluía a Venezuela, o Kuwait, o Iraque e o Irão, a OPEP foi, no início, completamente ignorada pelas companhias petroleiras e falhou redondamente na sua acção de entidade compulsiva no âmbito da promoção dos interesses dos seus membros, tantas vezes divergentes. Porém, no início dos anos 70, o mapa do poder mundial do petróleo, começou a apresentar uma forma radicalmente diferente, devido, não só ao aumento da procura, mas também, à mudança de atitude política dos produtores, principal e claramente indicada pelas acções do regime de Ghaddafi que, entretanto, tinha tomado o poder na Líbia.[28] Os líbios começaram por ter um pequeno controlo no fornecimento e preço do seu próprio petróleo que, após a nacionalização do Canal do Suez (26.Julho.1956), se tinha tornado de grande importância para o Ocidente.[29] Contra este inconveniente, e na continuação das decisões tomadas no encontro de Caracas, em Dezembro de 1970, a OPEP demonstrou, pela primeira vez, uma invulgar capacidade de acção colectiva no exercício do completo controlo sobre os preços e fornecimentos do petróleo. Inicialmente, este reforçado papel da OPEP, não foi mal recebido, nem pelas companhias petroleiras, que viram que estas acções poderiam trazer efeitos favoráveis à remuneração do petróleo que transacionavam, nem pelo Governo dos Estados Unidos, para quem a perspectiva do aumento dos custos de energia a suportar pelos seus rivais (em termos económcos) da Europa Ocidental e do Japão, não seria, de todo, de desprezar.
Contudo, ràpidamente se tornou bem claro que a OPEP poderia começar a usar o seu reencontrado e renovado poder, actuando nos fornecimentos e nos preços, pondo em risco a segurança económica dos Estados industrialmente desenvolvidos[30]. Os dramáticos 400 por cento de aumento do preço do petróleo durante a Guerra Israelo-Arabe de 1973 [31] e o embargo às exportações, impostos pela OPEP ao conjunto de países considerados pró-Israel, evidenciaram os potenciais efeitos da provocada escassez, na mesma altura em que se começava a manifestar especial preocupação acerca da sobejamente conhecida escassez de recursos energéticos. A longo prazo, a capacidade da OPEP em manter o preço do petróleo (que voltou a subir em finais dos anos 70), seria reduzida pela diminuição da procura Ocidental e pelas tensões crescentes no seio da própria Organização – especialmente os criados pelo conflito entre o Irão e o Iraque. A degradação dos preços do petróleo, de cerca de USD29 por barril, para cerca de USD9 em 1986, só muito mais tarde conseguiu, e só parcialmente, ser invertida. Contudo, o impacte das políticas seguidas pela OPEP sobre as economias ocidentais, foi e continuou a manter-se profundo, constituindo uma ameaça que, como Odell afirmou,[32] contem três dimensões:
(1) O repto aos fornecimentos de petróleo ao Ocidente, ameaçou a sobrevivência das suas economias e, consequentemente, atingiu a legitimidade dos seus governos;
(2) o rápido aumento dos preços do petróleo, induziu níveis de inflação que, devido à ligação do petróleo à taxa de inflação[33] nos países do ocidente, se tornaram cada vez mais acentuados, e
(3) os imensos excedentes financeiros obtidos pela OPEP, em resultado das suas vendas de petróleo, ameaçaram agravar a recessão mundial e destroçar o sistema monetário.
Partindo destas afirmações, torna-se claro que a crise energética apresentou todos os ingredientes necessários e mais do que suficientes, para colocar este acontecimento no topo da agenda mundial. A raiz da sua urgência, situa-se no facto de que, pelas razões apontadas, a efectiva sobrevivência do sistema económico Ocidental, foi posto em causa. Para mais, e devido ao facto de que, em termos geoestratégicos, afectou sobremaneira os Estados industrialmente mais desenvolvidos, a crise energética tocou igualmente, directa ou indirectamente, a maioria dos Estados do sistema internacional, ampliando, consequentemente, a dimensão do problema. Finalmente, o impacte das políticas seguidas pela OPEP, teve idêntica dimensão e surgiu nìtidamente visível como ocorrência a nível nacional, devido à forma como afectou directamente o público motorizado e como esteve na génese de fortíssimas pressões políticas domésticas.
Vinte anos depois da deflagração da crise de 1973 na política internacional, o petróleo manteve-se como produto estratégico crítico no equilíbrio de poder ou equilíbrio político internacional global. [34] Porém, se orientarmos a nossa atenção em direcção ao Sec. XXI, a perspectiva muda radicalmente, desde os dias em que parecia que o poder do petróleo poderia fazer submergir a política mundial.
Na actualidade, as teses globalistas parece terem-se imposto e a economia apresenta-se com precedência sobre a política. Grãnde parte dos países exportadores fazem a corte a companhias petroleiras internacionais que, anteriormente, evitavam. A porta que foi estrondosamente fechada nos anos 70, está sendo reaberta. De facto, com a perspectiva da abertura das reservas de petróleo na Rússia e nalguns outros países que, até então, tinham sido políticamente inacessíveis, o petróleo é, verdadeiramente, um negócio global pela primeira vez, desde que as barricadas da Revolução Bolchevique foram derrubadas. Em retrospectiva, os choques dos anos 70, podem ser vistos como o ponto alto do nacionalismo do petróleo. Foi a era em que a economia mundial estava suspensa dos comentários dos Ministros do petróleo nos bastidores das reuniões da OPEP e quando os erros do colonialismo pareciam ter sido correctos. Foi o princípio da “nova ordem internacional”, um jogo de soma-zero[35] que aspirava a uma redistribuição seriada, riqueza reencaminhada do Norte para o Sul e redução da estatura internacional dos Estados Unidos e das outras grandes potências industriais. No Quadro 0.2, podemos analisar o Produto Nacional Bruto das 54 maiores economias mundiais, entrosado com o volume anual de facturação das 34 maiores empresas mundiais, inferindo, por rápida leitura, que o somatório do Produto Nacional Bruto das 3 maiores economias (Estados Unidos, Japão e Alemanha) é superior a mais de metade do do somatório total mundial (132 países listados pelo Banco Mundial).

Quadro 0.2

Muito destes acontecimentos são, agora, história. Os países exportadores de petróleo aprenderam que precisaram mais dos importadores, do que os importadores precisaram deles. Os produtores, tiveram petróleo para vender, mas os consumidores abasteceram os mercados. Eles também podem abastecer, porém com a necessária segurança. Estes desenvolvimentos conduzem a novos debates acerca do verdadeiro significado da segurança e que tipo de relações duráveis serão agora possíveis entre consumidores e produtores, de modo a que possam, a longo prazo, vir a satisfazer os interesses de ambos. A Guerra do Golfo [36] ilustra, igualmente, tanto o crítico posicionamento do petróleo no equilíbrio de poder global, como a importância da interdependência entre produtores e consumidores industriais.
Procede, porém, a considerável questão, de como conciliar o crescente uso da energia com os imperativos ambientais.
Com o colapso do comunismo, as questões postas pela segurança global que foram, a seu tempo, predominantes, esbateram-se de importância. Porém, as questões postas pela segurança regional, mantêm-se. O mundo está, desde logo, retrocedendo para a dependência do petróleo do Médio Oriente, onde a modernização e o revivalismo islâmico estão em conflicto. Aliás, o tradicional relacionamento do petróleo com as outras questões, também se mantem. Parece interligado com a transição da Rússia para economia de mercado e com o crescimento económico dos países asiáticos. Entretanto, os Estados Unidos voltaram ao trilho das grandes importações de petróleo bruto, o que quer, certamente, dizer que a sua política externa continuará atenta aos desenvolvimentos que ocorram nos países exportadores.
Nos próximos anos, a indústria petroleira global, requerirá muito mais altos níveis de investimento do que durante o passado recente, para conjugar a satisfação das suas necessidades em energia com as exigências ambientais. Os políticos que, nos anos 70, separaram os laços económicos entre produtores e consumidores, estão agora permitindo a sua reunião, se bem que em bases diferentes. Deste modo, a nova dimensão de segurança entre nações exportadoras e empresas petroleiras, surgirá da interligação do investimento, do comércio e da finança. Esta reconstrução mobilizará o investimento necessário ao desenvolvimento de fornecimentos para o próximo futuro. Como resultado, os produtores procurarão obter dos países consumidores: o capital, a tecnologia e a competência técnica, ao mesmo tempo que abastecerão os seus mercados.
No respeitante ao caso estudado, o Governo Sul-Africano decidiu apoiar fortemente o desenvolvimento da produção de combustíveis líquidos por conversão do carvão nacional. O mais notável elemento da nova tecnologia, levado a cabo pela empresa nacional sul-africana de combustíveis sintéticos, foi o lançamento do projecto de substituição dos antigos e, segundo eles, ultrapassados técnicamente, por nova geração de reactores que, continuando a assegurar o fornecimento dos combustíveis líquidos requeridos pelos consumidores sul-africanos, pudessem aumentar a alta temperatura exigida pelo processo, reduzindo custos de capital, custos operacionais e de manutenção, aumentando a productividade e economias de escala, desenvolvendo, ao mesmo tempo, a eficiência térmica. Estes reactores, convertem gás sintético derivado do carvão, em petróleo líquido e numa variedade de sub-produtos petroquímicos.

O Capítulo 1 trata do imperialismo económico e da dependência, considerando a gestão dos recursos naturais a nível mundial e o controlo político externo, o impacte negativo do GATT nos países menos desenvolvidos e as suas estratégias de desenvolvimento baseadas na auto-suficiência e na substituição de importações, como optado pela Africa do Sul, quando se sentiu ameaçada, tal como tantos outros países, pelos embargos de petróleo impostos pelo cartel de países produtores, por razões políticas e fundamento económico. No Capítulo 2, analisam-se as ameaças do foro económico, com raízes na escassêz mundial de recursos naturais e na soberania exercida sobre estes, bem como o que permitiu aos países produtores de petróleo a utilização desta importante e estratégica fonte de energia, como arma diplomática nos dependentes consumidores. A importância do petróleo, quer para a indústria, quer para a defesa, é tratada no Capítulo 3. Os países do hemisfério sul, produtores e exportadores de petróleo, actuaram em conjunto num cartel de produtores - a OPEP -, que se sobrepôs ao anterior, constituído no ocidente - as “sete-irmãs” -, como exposto no Capítulo 4, e formaram um muito bem sucedido novo sistema que controlou o fornecimento mundial de petróleo, tão poderoso, que lhes permitiu usá-lo como arma económica e diplomática, nomeadamente durante os embargos impostos em 1967 e, mais dramàticamente, em 1973-74 contra os Estados ocidentais que directamente ajudaram Israel contra os seus adversários árabes na Guerra Israelo-Árabe, prejudicando fortemente a sua economia e comprometendo a sua segurança, como foi o caso dos Estados Unidos, da Holanda e de Portugal, países directamente visados pelo embargo, como tratado com desenvolvimento no Capítulo 5.
Confrontados com a potencial ameaça de embargos ao fornecimento de petróleo, impostos pelos países productores, por razões políticas, os países consumidores dependentes, reagiram, concebendo diferentes alternativas que pudessem garantir um mínimo de independência e de continuidade de fornecimento. No Capítulo 6, apresento a opção sul-africana que, devido à sua própria escassêz em petróleo bruto, mas aproveitando as suas imensas reservas carboníferas, recursos humanos, capacidade técnica e recursos financeiros disponíveis no país, decidiu investir fortemente na produção de combustíveis líquidos por conversão do seu próprio carvão, com o objectivo de prevenir o país de crises desse teor e garantir, no futuro, a possibilidade de, mais fàcilmente, se poder defender de embargos e pressões políticas externas.
[1] Robert Gilpin. The Political Economy of International Relations. Ch. 7. p. 263.
[2] Sobre esta matéria, ver: Raul Prebish. Towards a Dynamic Development Policy for Latin America. New York, 1963 e H. W. Singer. “The distribution of gains between investing and borrowing countries” American Economic Review, No. 40. p. 473-485.
[3] Cf. Adam Smith (1723-1790). An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations. “Of the Division of Labour”. Vol. 1, Cap. 1.
[4] Antigo Professor na Universidade de Dakar e Director do Institute of African Economic Development and Planning.
[5] L’ accumulation à l’echelle mondialle. Paris, 1970. p. 44.
[6] Comissão Económica para a América Latina, habitual tradução de: ECLA, Economic Commission for Latin America, fundada em 1949.
[7] Towards a Dynamic Development Policy for Latin America. New York, 1963.
[8] A divisão tripartida em, realismo, pluralismo e globalismo, parece ser uma forma eficaz de abarcar os diferentes conceitos em que se basearam as hipóteses teóricas da área das relações internacionais, no que se refere a protagonistas e conceitos.
Para o “realismo”, os Estados seriam o principal e mais importante protagonista no palco da política internacional. As matérias relacionadas com a segurança nacional dominariam a hierarquia de agenda internacional.
Para o “pluralismo”, os protagonistas não-governamentais são, igualmente, importantes entidades. A hierarquia dos acontecimentos internacionais são, também, objecto de mudança e nem sempre são dominados por matérias de segurança militar.
Por último, o “globalismo”, onde se enquadram os dependentistas, argumenta que todos os protagonistas devem ser considerados dentro do contexto de uma estrutura global, em que os factores económicos são os mais importantes.
[9] Bertha K. Becker. Brazil: A New Regional Power in the World-Economy. Cambridge, 1992. p. 10.
[10] UNCTAD, United Nations Conference on Trade and Development, habitualmente traduzido por “Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento” (CNUCED) é um órgão permanente da Assembleia Geral das Nações Unidas, formado em 1964, cujo primeiro objectivo é o de promover o comércio internacional e o comércio em geral, com principal foco no comércio internacional e nos problemas de balança de pagamentos dos paises em desenvolvimento.
[11] Um grupo de 77 países em vias de desenvolvimento, membros da CNUCED, formaram, em 1967, na Conferência de Argel (Carta de Argel), uma coligação de interesses – o Grupo dos 77 – para expressar e mais tarde para proteger os seus interesses colectivos, no sistema económico mundial. Actualmente, este grupo contém mais de uma centena de países-membros.
[12] Michael Todaro. Economic Development. New York, 1997. p. 429.
[13] Variante contemporânea da perspectiva estruturalista.
[14] David N. Balaan. Introduction to International Political Economy. New Jersey, 1996. p. 73.
[15] Robert Gilpin. Op. cit. p. 295.
[16] W. Arthur Lewis. The evolution of the International Economic Order. Cap. 5: “Commodity Police”. Princeton, 1978. p. 27.
[17] Hans J. Morgenthau. Politics Among Nations: The Struggle for Power and Peace. New York, 1985. p. 133.
[18] Quando os teorizadores políticos ocidentais analisam os níveis de escassez de recursos e desenvolvimento económico de países e regiões, tendem a concentrar a sua atenção apenas na zona monoteísta mundial, o que deixa ficar sempre algum vazio nos seus escritos. Parece que, no entanto, devemos abrir um parêntesis e fazer uma ressalva, só para recordar que as populações da China e da Índia, perfazem 37 por cento do total mundial e ocupam, em conjunto, um território que corresponde a 9,5 por cento do total mundial. O índice de desenvolvimento humano (IDH) da China coloca-a no 111 lugar no total de 174 países listados pelo Banco Mundial (1992), enquanto que a Índia ocupa o 134 lugar da mesma lista. No que se refere a PNB per capita, o primeiro ocupa o 104 lugar em 132 países listados pela mesma entidade, e o segundo ocupa o 114 lugar.
[19] Kenneth Maxwell. The Making of Portuguese Democracy. Cambridge, 1995. p. 55:
“O embargo de petróleo afectou Portugal de forma especialmente grave, precisamente devido à utilização da Base das Lajes, nos Açores, para transporte de abastecimentos para Israel. Os países Arabes, mantiveram o boicote a Portugal, mesmo depois de terem levantado o embargo às outras nações ocidentais” Mais adiante, a p. 48: “O relacionamento entre os Estados Unidos e Portugal, tinha tido, sempre , especial raiz na Base dos Açores. O seu mais peculiar aspecto é que, a Base dos Açores, não só contribuiu para a longevidade do império africano português, mas também, a sua utilização pelos Estados Unidos, para reabastecer Israel, em 1973, durante a Guerra do Yom Kippur, tornou-se uma imediata e importante causa para o golpe [25.Abril.1974].”
[20] Alan Randall. Resource Economics. Cap. 16: “The Energy Crisis of the 1970s”. New York, 1987. p. 305.
[21] William L. Cleveland. A History of the Modern Middle East. Oxford, 1994. p. 396.
[22] Bruce Russett e Harvey Starr. World Politics: The Menu for Choice. New York, 1996. p.157.
[23] No Gráfico 3.1, pode notar-se o extraordinário crescimento do consumo de petróleo, verificado a partir dos anos 50, até ao primeiro choque dos preços, ocorrido em 1973 e, como a partir de 1980, se começou a verificar alguma correcção nos consumos, se bem que ainda de forma não definitiva. A evolução dos valores de comercialização, podem ser analizados no Gráfico 3.2.
[24] A África do Sul, com reservas de carvão confirmadas, superiores a 55 biliões de toneladas (correspondente a 11 por cento do total mundial), ocupa o quarto lugar do ranking dos produtores mundiais e o terceiro lugar entre os maiores exportadores. Tem sido, desde longa data, grande consumidor desta matéria-prima, mais exactamente o quinto, a nível mundial, como podemos notar no Quadro 0.1, com aumento continuado, sobretudo a seguir ao choque petrolífero de 1979 e às consequências da nacionalização do petróleo iraniano.
[25] Petra Wessels. Crescendo to Success: Sasol 1975-1987. Cape Town, 1990. p. 12.
[26] Parece oportuno recordar Niccolo Machiavelli (1469-1527), que escreveu: “Ou um governante tem suficiente poder e território para se defender a si próprio, quando for necessário, ou então, será sempre dependente da ajuda dos outros”. in The Prince. Cap. X. Cambridge, 1988. p.37.
[27] O Banco Mundial classificou de “Terceiro Mundo”, os 145 países em vias de desenvolvimento na Asia, Africa, no Médio Oriente e na América Latina, principalmente caracterizados por baixos níveis de vida, altas taxas de crescimento da população, baixo produto per capita e dependência generalizada, económica e tecnológica, das economias do “Primeiro Mundo”. Foi considerado “Primeiro Mundo”, o conjunto dos países de economia capitalista, econòmicamente avançados, da Europa Ocidental, América do Norte, Austrália, Nova Zelandia e Japão. Estes foram os primeiros países a apresentar crescimento económico sustentado a largo prazo.
[28] O Rei líbio Muhammad Idris, pró-ocidental, foi derrubado pelo Coronel Mu’ammar Ghaddafi, em Setembro de 1969. O alinhamento do novo Governo líbio, com os Estados radicais árabes, conduziu à formação da OPAEP.
[29] Ian Browlie. Principles of Public International Law. Oxford, 1990. p. 276.
[30] Poderiam, eventualmente, ser usadas políticas macroeconómicas para amortecer as consequências do choque provocado pelo aumento dos preços. Este, por se ter apresentado com tão grande dimensão, fez aumentar os custos de produção em todos os países importadores dependentes. O efeito na procura agregada foi menos clara, já que as nações importadoras de petróleo poderiam vir a sofrer uma deterioração na sua balança de pagamentos e uma depreciação nas divisas.
[31] 6 a 24 de Outubro de 1973. Quarta Guerra Israelo-Árabe, chamada do Yom Kippur, pelo ataque-surpresa desencadeado pelo Egipto e pela Síria, ter acontecido durante a celebração do dia da expiação (atonement), de grande significado para os judeus.
[32] Peter R. Odell. Oil and World Power: Background to the Oil Crisis. Aylesbury, 1974. p. 174.
[33] João César das Neves, esclarece que:"Na sua origem, o choque do petróleo, apesar dos seus efeitos nos níveis de preços de 1973, não pode ser considerado, em si, como inflação. No entanto, os governos dos países desenvolvidos, perante o choque do petróleo de 1973, actuaram aumentando as suas despesas, para apoiar as empresas e responder ao choque. Nessa altura, verificou-se um aumento da moeda em circulação, uma descida do seu valor, e um aumento do nível geral de preços. Só então apareceu a inflação. Assim, a década de 70 foi inflacionista, não por causa do choque do petróleo, mas por causa da resposta política ao choque do petróleo.. Choques nos preços não devem ser confundidos com a alteração geral e sustentada do nível geral dos preços, que é a inflação." in Princípios de Economia Política. Lisboa, 1997. p. 100.
[34] Kenneth N. Waltz, afirma que: “O equilíbrio de poder só pode existir porque alguns países, conscientemente, fazem dele o objectivo final das suas políticas, ou por reacções quase automáticas aos países que pretendem ter acendência sobre outros”. in Man, the State and War. Columbia, 1959. p. 208.
O equilíbrio de poder é um conceito-chave para os realistas, referente à condição de equilíbrio entre Estados.
[35] O “zero-sum game” ou “game theory” trata duma simulação à tomada de decisão ponderada por um interveniente-actor perante uma situação de competição. Cada interveniente-actor tenta maximizar os ganhos ou minimizar as perdas, sob hipóteses incertas e informações incompletas, o que exige que cada actor ordene as opções, estime as probabilidades e tente imaginar o que o outro actor está fazendo. No caso particular de só dois jogadores, o que um ganha, o outro perde. A teoria do jogo contribuíu para o desenvolvimento de modelos de dissuasão e de espirais de corrida ao armamento, porém, só serviu de base de trabalho em questões como as que se põem quanto ao tipo de colaboração que se poderia implementar entre Estados concorrentes no mundo anárquico de forma a que os objectivos pudessem ser atingidos.
[36] Iniciada em 16 de Janeiro de 1991, entre o Iraque e uma coligação militar liderada pelos Estados Unidos, durou quarenta e três dias. A coligação desencadeou a Guerra em resposta à invasão e anexação do Kuwait pelo Iraque, em 2 de Agosto de 1990.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Índice simplificado

1 Introdução

Primeira Parte
A ENVOLVENTE
2 As diferentes perspectivas de relações internacionais
3 Quadro de actuação nas relações económicas internacionais
4 Campo de actuação e actores
5 Áreas de competência e áreas de decisão
5.1 Análise da envolvente
5.2 Análise das oportunidades

Segunda Parte
A ESTRATÉGIA
6 Estratégias de marketing global
7 Programas de marketing

Terceira Parte
O DESENVOLVIMENTO
8 Canais internacionais de distribuição
9 Gestão do esforço do marketing internacional

Quarta Parte
O COMÉRCIO INTERNACIONAL
10 A importância das trocas comerciais
11 Teoria das Trocas
12 Política das Trocas
13 Procedimentos e mecânica das exportações


CAPÍTULO 1

Introdução

Deve-se começar por ressalvar que o marketing internacional não se enquadra na teoria do “Jogo de soma nula”, posto que o que um ganha pode não corresponder ao que o outro (concorrente) perde. Pode ser verdadeiro em percentagem da quota de mercado, mas não, de todo, em valores absolutos, tendo em consideração que o mercado cresce em consequência da alteração de múltiplos factores, de entre os quais podemos salientar:

o aumento da população,
o desenvolvimento económico,
um menor proteccionismo, ou
uma mais livre circulação da produção mundial pós-GATT.


Partindo do princípio de que “marketing” é o desempenho de actividades de negócio dirigidas ao fluxo de produtos e serviços desde o produtor ao consumidor e a forma de o orientar e de satisfazer as suas tendências, a “gestão de marketing” é a execução das operações de marketing decididas pela empresa.
Portanto, as suas responsabilidades consistem em planear, organizar e controlar os programas estabelecidos pela empresa produtora.
Em consequência, para que a tarefa possa ser cumprida, terá que ser atribuída à gestão do marketing a autoridade correspondente a um decision-maker, sobre matérias tão abrangentes como sejam:

a estratégia de produção,
a estratégia de comunicação,
a estratégia de distribuição, e
a estratégia de preços a praticar.


No que respeita à gestão do marketing internacional, são válidos os objectivos a atingir pelo marketing e responsabilidades descritas. O que a torna diferente é que a execução destas actividades é desenvolvida em vários países.
Consequentemente, podemos definir direcção de marketing internacional como o desempenho das actividades de marketing num ou mais países. Neste caso, passamos de decisões circunscritas a um só país para decisões alargadas a dois ou mais países, em simultaneidade.
O marketing internacional nem sempre requer um movimento físico de produtos através das fronteiras nacionais, mas ocorre para onde as decisões forem estabelecidas, envolvendo dois ou mais países.
Portanto, o marketing estratégico estará radicado em duas asserções fundamentais:

no poder de decisão, e
na autoridade ou domínio, que permita a implementação das decisões tomadas.

No que se refere ao “poder”, os sociólogos definem-no como a oportunidade existente num dado relacionamento social que permite impor a vontade a outrem, mesmo sob manifesta oposição, independentemente de qualquer fundamentação da oportunidade. Neste contexto, “domínio” será, então, a oportunidade de impor uma específica decisão, obedecida por um dado agrupamento de pessoas. Consequentemente, “disciplina” será a oportunidade de conseguir obediência, imediata e automática, da instrução emanada do comando.
Dado que a conquista de mercados perseguida pelas empresas, se enquadra na geopolítica das empresas, com a globalização da economia e a internacionalização das empresas, os três pilares do poder

militar,
económico e
conhecimento,

encontram-se cada vez mais entrosados.

A conquista do poder pelas armas está na maior parte dos casos, fundado sobre qualquer outra forma de poder, tal como o económico ou o conhecimento.
O poder económico, ao contrário do poder militar, não é primário, mas derivado. Dentro de um Estado, depende da lei; em negociações internacionais só em questões menores é que depende da lei, mas quando estão envolvidas grandes questões depende da guerra ou da ameaça de guerra. À parte o poder económico do trabalho, qualquer outra forma de poder económico, na sua análise final, consiste em ser capaz de decidir, através do uso de força se necessário, quem será autorizado a ocupar um dado espaço e a tirar ou a pôr lá, o que quer que seja. Veja-se a cooperação militar com os interesses económicos quando infunde protecção às instalações petrolíferas, quer se trate de jazigos em exploração, quer de refinarias em laboração.

Trípode de poder
Figura 1.1


Academia
NATO
WTO
Igreja ecuménica

O profundo entrosamento entre a trípode do poder (a que muitos académicos acrescentam, por vezes, o poder religioso) é, desde há muito, de reconhecida importância. O poder militar utiliza o conhecimento científico e apoia o poder económico. O poder económico utiliza o conhecimento em toda a sua extensão e conta com o apoio do poder militar.
O conhecimento apoia-se no poder económico para o seu próprio desenvolvimento. Já há mais de 2500 anos, Sun Tsu afirmava, na sua “Arte da Guerra” que “O que conhece o inimigo e se conhece a si próprio não correrá perigo em cem combates. O que não conhece o inimigo, mas que se conhece a si próprio, umas vezes sairá vitorioso, outras vezes encontrará a derrota. O que não conhece, nem o inimigo nem a si próprio, será, invariavelmente, derrotado em todos os combates.”.
São bem conhecidos os casos de Estados que adquiriram poder militar por causa da sua força económica. Na antiguidade as cidades marítimas gregas e Cartago são os exemplos mais notáveis; na Idade Média, as repúblicas italianas; e nos tempos modernos, primeiro a Holanda e depois a Inglaterra. Em todos estes exemplos, com a excepção parcial da Inglaterra depois da Revolução Industrial, o poder económico baseava-se no comércio, e não na posse de matérias-primas. A riqueza obtida através do comércio era utilizada, em grande parte, na contratação de mercenários e tornava-se assim um meio de obtenção de poder militar.
De salientar que nos descobrimentos portugueses foram utilizados todos os poderes (inclusive o religioso), bem como na recente Guerra do Golfo.
Na actualidade, inumeráveis discussões acerca do processo de globalização têm salientado os seus aspectos económicos, dado que a globalização da política mundial implica, entre muitas outras vertentes, a globalização da economia.
A política e a economia são inseparáveis no quadro das relações sociais. A política (que trata da distribuição e do exercício do poder) é indissociável da economia (na sua vertente de produção, de trocas e de consumo de matérias valorizadas). Simultânea e igualmente, a economia é indissociável da política, cooperando na determinação da localização do poder e de como este é exercido.
A economia, por si própria, não esclarece todo o sistema. Porém, não podemos conceber análises do mundo político (nem qualquer análise de globalização como acontecimento-chave da história mundial contemporânea) se não for contemplada a dimensão económica.
Note-se que se tornou possível a uma empresa localizada onde quer que seja, produzir um produto em qualquer parte do globo, utilizando recursos onde quer que se encontrem disponíveis, e distribuí-los em venda em qualquer mercado, por muito distante ou diferente que seja.
Desde logo, deve-se destacar as diferentes vias, largamente discutidas, no âmbito do comércio global, com o objectivo de dar curso à globalização do comércio, nomeadamente quanto a:
cruzamento de fronteiras,
abertura de fronteiras, e
transcendência de fronteiras.
Apesar das três concepções se poderem sobrepor entre si em certa extensão, comportam diferenças importantes quanto ao foco perspectivado. Muitos argumentos referentes à globalização económica radicam no cepticismo dos que adoptam a primeira perspectiva contra os entusiastas que optam pela segunda noção.
O cepticismo posto no significado da globalização económica contemporânea surge quando os analistas estudam o processo em termos de aumento de movimentos de cruzamento de fronteiras entre países, relativamente a pessoas, bens, capitais, investimentos, mensagens ou ideias. Nesta perspectiva, a globalização é vista como equivalente a internacionalização, não existindo diferença significativa entre empresas globais e internacionais, entre comércio global e internacional, entre capital global e internacional ou entre finança global e internacional.
Os cépticos enfatizam normalmente que as chamadas empresas globais continuam a gerir a maioria dos seus negócios no seu país de origem, mantêm um forte carácter e fidelidade nacionais, e continuam fortemente dependentes dos respectivos Estados para o sucesso das suas empresas.
Em contraste com os cépticos, os entusiastas da contemporânea globalização do comércio e da finança definem geralmente estes desenvolvimentos como parte de uma evolução a largo prazo, direccionada ao estabelecimento de uma sociedade global. Neste segundo conceito, a globalização enquadra-se não na extensão da internacionalização, mas sim na progressiva remoção dos controlos fronteiriços e estes no sentido do fim das relações internacionais. Num mundo de fronteiras abertas, as empresas globais substituem as empresas internacionais, o comércio global substitui o comércio internacional, o capital global substitui o capital internacional e a finança global substitui a finança internacional.
Nesta perspectiva, a globalização é função da liberalização, ou seja, do grau em que pessoas, artigos, instrumentos financeiros, capital social, mensagens e ideias, possam circular livremente na economia mundial, livres de restrições impostas pelos Estados.
Logo, a maioria dos debates que envolvem a globalização do comércio têm-se desenrolado entre os globalistas que supõem uma inexorável tendência em direcção à economia mundial aberta e os cépticos que entendem a presente situação como uma expansão limitada e reversível de transacções entre fronteiras cruzadas.
Porém, estas duas mais comuns posições não excluem outras interpretações possíveis. De facto, nenhuma destas perspectivas convencionais exige um conceito distinto de “globalização”. Ambos os conceitos ressuscitam argumentos que foram elaborados utilizando outro vocabulário, muito antes da palavra “globalização” se ter difundido na década de 1980.
Numa terceira perspectiva que advoga a transcendência de fronteiras, a globalização contempla o processo pelo qual as relações sociais adquirem qualidades independentes das distâncias e das fronteiras, em que a vida humana é crescentemente jogada no mundo como se se tratasse de um único local. Neste caso, numa economia em globalização, os modelos de produção, trocas e consumo tornam-se cada vez mais desligadas de uma geografia de distâncias e fronteiras. O aumento da supra-territorialidade reflecte-se inter alia no aumento das transacções comerciais entre países.
No Capítulo 6, ao tratarmos das estratégias de marketing global, temos oportunidade de desenvolver este tema, abordando vantagens e inconvenientes da terceira perspectiva, num quadro de transcendência das fronteiras.
Ao tomar a decisão de expandir a sua actividade, a empresa irá enfrentar novos desafios, pelo que deverá introduzir as indispensáveis adaptações no interior da sua organização a nível da estrutura e aguardar a sua estabilização e consolidação, antes de iniciar o processo de expansão, percorrendo as três fases requeridas pelo processo:


Processo de internacionalização
Figura 1.2


Reestruturação

Consolidação

Expansão









Na particular situação da globalização da economia e da internacionalização das empresas, o gestor é um guerreiro a operar na cena internacional, considerando que a sua “luta” será desenvolvida até que o seu objectivo prevaleça sobre a resistência da oposição. Dado que tal disputa não envolve violência física, o processo intitula-se de “luta pacífica”. Se utilizar meios formalmente pacíficos para obtenção de controlo das oportunidades e de vantagens também ambicionadas por outros, pode denominar-se “concorrência”. Esta tem vindo a ser chamada “concorrência controlada” quando os meios e os objectivos estão submetidos a uma só autoridade. A concorrência económica, ao encontrar-se sujeita às leis do mercado e às regulamentações internacionais, cai dentro desta última denominação.
Logo, em concorrência controlada, o sucesso vai basear-se essencialmente:

na atitude a introduzir no processo, dependente da motivação e dos objectivos a atingir, e
na abordagem do processo, apoiada no conhecimento adquirido em tempo apropriado.

Nesta perspectiva, atribuiu-se uma especial importância à envolvente política e económica internacionais e aos constrangimentos de ordem social e cultural, estruturando o presente estudo em quatro partes sequenciais e complementares de modo a abarcar os diferentes aspectos inerentes à opção de internacionalização a desenvolver num ambiente de economia globalizada.
Assim, a Primeira Parte trata da envolvente, incluindo as diferentes perspectivas de relações internacionais que marcam uma maior ou menor abertura dos mercados disponíveis, bem como o campo de actuação e os seus respectivos actores no mosaico económico e comercial internacional. Enfatiza-se o papel desempenhado pelas organizações multilaterais e o apoio prestado pelas entidades e agências governamentais e pelas organizações internacionais, ao analisar a envolvente e as possíveis oportunidades, no âmbito das respectivas áreas de competência e de decisão.
A Segunda Parte dirige-se fundamentalmente à estratégia e à decisão a tomar quanto aos programas de marketing a desenvolver. Salienta-se que não há uma segunda oportunidade de abordagem ao mercado. Para tanto, exige-se a definição da estratégia e a sua cuidada preparação, tendo em especial atenção as diferenças culturais, a selecção do parceiro comercial adequado, a adaptação dos produtos à realidade do mercado e do consumidor alvo, sem descurar o rigor posto no cumprimento dos contratos, nos prazos de entrega, na qualidade do produto, no preço competitivo, no design apropriado, nas necessidades do consumidor e na imagem da empresa.
A Terceira Parte lida com os aspectos técnicos do desenvolvimento do projecto decidido implementar na via da internacionalização da empresa. Esta fase trata da reestruturação e da consolidação da organização que irá realizar o projecto de expansão da empresa, de acordo com os factores influenciadores detectados e os canais de distribuição do produto a internacionalizar e a cuidadosa selecção dos membros mais adequados ao acesso ao mercado.
A Quarta Parte trata do comércio internacional, no seu indiscutível papel de uma das mais importantes componentes do marketing internacional. As questões relativas a esta disciplina têm representado, desde sempre, uma área especial e controversa da ciência económica que se tem vindo a autonomizar em consequência do aparecimento de novas variáveis que conduziram à delimitação de áreas dentro dessa característica ciência. Logo, sublinha-se a importância das trocas comerciais no seu papel de elo de ligação entre nações e de promoção do crescimento económico. Esta fase do estudo termina com a análise do processo de planeamento das exportações e dos seus respectivos procedimentos e mecânica operacional.

A Venezuela já é o oitavo maior produtor e o sexto maior exportador de petróleo do mundo.
Mas a tendência de futuro é para subir, ainda mais, no ranking dos países que controlam o "ouro negro", quer pela via do aumento da sua produção, quer pela queda de outros grandes produtores, como a Noruega ou os EUA.
Este ano a sua meta é produzir 3,5 milhões de barris de crude. A médio prazo, ou mais concretamente, até 2021, espera duplicar para 6,8 milhões de barris/dia, número já anunciado por responsáveis da Petroleos de Venezuela.
Além do petróleo leve que, segundo especialistas, poderá estar esgotado daqui por algumas décadas, a Venezuela tem petróleo pesado, aquele que é considerado o crude do futuro.
"Se hoje a Rússia e a Arábia Saudita comandam - e vão comandar por muitos mais anos as exportações petrolíferas -, num futuro a longo prazo a Venezuela e o Canadá serão os grandes players" defende Caleia Rodrigues, um especialista em assuntos petrolíferos. - A.TR.

domingo, 11 de maio de 2008

Vou ter que começar por apresentar (mesmo que de forma muito sucinta) uma panorâmica global do sector energético e petrolífero, para, de seguida, abordar os pontos quentes relativos à insuficiência das reservas declaradas e do imparável aumento do consumo, reais motivadores da exigência dos colossais investimentos que irão permitir continuar a manter os níveis de satisfação do abastecimento do mercado.


Admitamos, como dado adquirido, que o petróleo é um produto muito complexo.
Comporta todos os ingredientes para se apresentar como:

uma matéria-prima estratégica
uma poderosa arma diplomática
mas também e cada vez mais importante
um produto financeiro

Ao assumir uma participação de quase 40 por cento no consumo mundial de energia primária é, indubitavelmente, uma matéria-prima estratégica, intimamente ligada ao desenvolvimento económico dos Estados e ao bem-estar das sociedades.
Mais de trinta anos depois do impacto produzido pela deflagração da crise de 1973 na política internacional, o petróleo mantém-se como produto estratégico crítico, na esfera do equilíbrio do poder e do equilíbrio político internacional global.
Claro que também constitui uma importante arma diplomática. Quando os produtos estratégicos têm que ser obtidos fora do Estado, as ameaças à segurança dos abastecimentos podem ser classificadas como factores que envolvem a segurança nacional.
Não temos qualquer espécie de dúvida que se trata, igualmente, de um produto financeiro. São diariamente transaccionados mais de 40 milhões de barris de petróleo.
O que quer dizer que mudam de mão, diariamente, mais de 4 mil milhões de dólares.


Quando o seu valor unitário sofre um aumento de 1 dólar, significa para os Estados Unidos um agravamento de mais de 12 milhões de dólares na sua balança de transacções diárias e para a Federação Russa um encaixe de cerca de 7 milhões.
Cada dia que passa.
No domínio político e estratégico, a arma económica parece confirmar a sua eficiência e impacto, caracterizadores da maioria dos conflitos actuais de nível regional, principalmente no seio de países economicamente menos desenvolvidos, mas que disponham de recursos de altíssimo valor económico e estratégico para os industrializados.


O aumento de população, não propriamente explosão demográfica mas caminhando nesse sentido, e uma irresponsável promoção do consumo de energia, exigiram que o petróleo respondesse rapidamente a essas pressões e assumisse o difícil papel de principal origem de energia comercializável.
O impacto na procura mundial de petróleo pode ainda ser mais dramático se, ao que tudo indica, se mantiver o forte aumento do consumo na China e na Índia. Basta reparar que a China se tornou num importador líquido, em 1993, data em que o consumo ultrapassou, pela primeira vez, a produção própria e a sua auto-suficiência.


A China ocupa, actualmente, o 2º lugar no ranking dos maiores importadores mundiais, com nada menos do que 7 milhões de barris diários.
Só ultrapassada, nessa qualidade de grande importador, pelos Estados Unidos.
E a Índia tem acompanhado esse desmesurado aumento das importações.
Sinal muito positivo apresentam a Alemanha e o Japão, que têm mantido, praticamente estabilizadas, as suas importações.

Tendo em conta o aumento populacional e o desenvolvimento económico previstos pelas Agências internacionais, o mercado exigirá um aumento da entrega de petróleo bruto, na ordem de mais 50 milhões de barris diários ao atingir o limiar do ano 2030.

Deduzimos quem o irá consumir!
Mas donde irá ser extraído? Quem o irá extrair?

O exigível substancial aumento da entrega do produto ao mercado envolve mais prospecção e incremento da produção em novas descobertas, meios de transporte e redes de distribuição, a exigir os correspondentes investimentos requeridos para a sua adequada realização.


Note-se que o sector dos transportes (rodoviários, aéreos e marítimos) consome, actualmente, cerca de 52 por cento da produção mundial. Há 30 anos só consumia 45 por cento.
Tem sido exercido um grande esforço para conseguir meios de transporte menos “glutões”, ao mesmo tempo que se têm desenvolvido as origens alternativas para geração de energia eléctrica, responsável por uma boa parte da restante produção.

No entanto, é importante sublinhar que o aumento da produção que tem respondido ao aumento da procura, foi conseguido à custa do aumento da extracção em poços de alta rentabilização comercial, dado que a quantidade de poços em actividade foi drasticamente reduzida.

Surgiram, porém, novos actores na cena internacional, dependentes do petróleo para dar continuidade aos seus programas de desenvolvimento, que se sobrepuseram às economias industrializadas, imediatamente relegadas para lugar secundário na ordem das prioridades a satisfazer.



Se surgiram novos grandes importadores, também surgiu a Rússia a voltar a disputar a liderança do mercado à Arábia Saudita, baseada nos seus imensos campos petrolíferos recentemente activados, localizados no Árctico, na margem ocidental dos Urais, na Sibéria Oriental e na Ilha Sacalina.

No entanto, os indicadores Risco País elaborados pelas agências especializadas, colocam os dois países em situação muito diferente.
Enquanto a Arábia Saudita é classificada como país de “quite low risk”, a Federação Russa é classificada como país de “moderately high risk”.
Esta classificação não tem causado grandes dificuldades na captação de investimentos para o programa de desenvolvimento do sector petrolífero russo, tendo em consideração os recentes enormes investimentos aí realizados, pelos Estados Unidos, pelo Japão, pela China e até pela própria Arábia Saudita.


A Rússia, na sua renovada qualidade de superpotência energética, admitiu resolver o deficit chinês, indispensável à sustentabilidade da sua actual taxa de desenvolvimento económico, com a construção do oleoduto que liga os campos petrolíferos da Sibéria Oriental aos chineses de Daking, numa extensão de 2.400 quilómetros, para o fornecimento médio diário de 1,6 milhões de barris.
Por outro lado, para satisfazer igualmente a pretensão japonesa, o ex-Presidente Russo Vladimir Putin garantiu, no início do ano passado, que a construção da primeira fase do oleoduto Tayshet-Nakhodka iria ser iniciada no decurso desse Verão.
A culminar os doze anos de maratona negocial do percurso dos oleodutos, todos os três países intervenientes saíram satisfeitos.
Desta forma, quer a China, quer o Japão, vêem os seus interesses assegurados pela Rússia e obtêm a garantia de receber os pretendidos e desejados abastecimentos a partir do petróleo siberiano.

A estratégia russa não esqueceu os interessas ocidentais, se bem que em menor escala com a instalação do citado oleoduto, que também permitirá exportar petróleo siberiano para a costa ocidental dos Estados Unidos.
O Governo russo anunciou que pretende continuar a desenvolver fortemente o seu sector de hidrocarbonetos, dado que constitui cerca de 55 por cento das suas exportações e o acréscimo dos impostos cobrados, graças à alta dos preços pós-2004, garantem suporte ao forte incremento das suas despesas sociais e de Defesa.
Dado que a capacidade das suas principais vias de escoamento das exportações se encontra praticamente esgotada, o esforço de investimento está dirigido aos transportes, quer terrestres quer marítimos.
Impõe-se a construção de novos oleodutos, a começar pelo que encaminhará o petróleo siberiano para o Porto de Murmansk, de exportação para os Estados Unidos, a um custo estimado de cerca de 6 mil milhões de dólares.
De idêntica importância o que abastecerá a China e o Japão, a um custo de 32.000 milhões de dólares.
De realçar a decisão da construção de uma frota de quebra-gelos para transitar na região do Árctico, cuja entrada em serviço está prevista para 2020, com custos a ultrapassar os 3 mil milhões de dólares.


Na outra ponta do vector, em casa do maior consumidor mundial, os Estados Unidos, verifica-se que a situação não é brilhante, dado que passaram de leader do mercado, a rapidamente dependentes da importação de nada menos do que dois terços das suas necessidades correntes.
Basta ver que tinham em actividade quase 1.500 poços no ano 1980 e apenas 560 no ano 2000. A partir desta data foi retomada a actividade nalguns deles e iniciadas algumas poucas novas explorações.


O último estudo publicado pela EIA revela a existência de petróleo bruto convencional no Arctic National Wildlife Refuge, actualmente fora dos limites de exploração, em quantidades entre os 5,7 e os 16 mil milhões de barris em depósitos jazentes naquela zona.
Porém, esta alternativa constituída pela exploração do Árctico, choca frontalmente com os interesses ambientais da região, ainda não resolvidos.


Entretanto, a alta dos preços do petróleo convencional já deu mostras de consequências consideradas muito positivas para os estados Unidos.
Pelo menos teve o mérito de ter impulsionado investimento em projectos anteriormente considerados sem interesse.
Cabe neste âmbito o lançamento do Jack Field Project, para extracção numa considerável nova bolsa petrolífera localizada em águas profundas do Golfo do México, com investimento próximo dos 100 milhões de dólares.
A bolsa que aparenta conter cerca de 15.000 milhões de barris, encontra-se a uma profundidade de 8.450 metros.
A detecção das quantidades só foi possível, graças à utilização de imagens sísmicas 3D, de avançadas fórmulas matemáticas e de novas tecnologias de interpretação das imagens, que tornaram possível conhecer o potencial desta bolsa e de outras novas descobertas de petróleo e de gás em grandes profundidades oceânicas.

A extracção será realizada com recurso a plataformas flutuantes de última geração, que poderão suportar os rigores das tempestades que frequentemente ocorrem na região e que permitirão perfurar mais profundo que as suas predecessoras.

No tocante à União Europeia, é por demais conhecida a sua dependência no que se refere a combustíveis.
Será de realçar que já viu minorada a sua dependência do Médio Oriente com a entrada em serviço da chamada “Ponte energética Este-Oeste” em Julho do ano passado, constituída pelo oleoduto Baku-Tbilisi-Ceyhan, que transporta petróleo bruto desde o Mar Cáspio até ao Porto turco mediterrânico de Ceyhan, com capacidade de transporte de 1 milhão de barris/dia,
Este oleoduto constitui uma importante alternativa de fornecimento à Europa Ocidental, com uma mais elevada garantia de segurança.
Também estão a ser envidados grandes esforços dirigidos a um maior aumento da segurança de abastecimento com o lançamento das acções do Projecto INOGATE para o período 2007-2013.


Este Programa que pretende actuar como catalizador de atracção de investidores privados e de instituições financeiras internacionais, foca um particular interesse na minimização da ameaça constituída pelos acidentes ocorridos no tráfego marítimo em águas circundantes da União Europeia e no fechado Mar Negro.

Porém, no conjunto de constrangimentos a ultrapassar à escala mundial, procede a considerável questão de como conciliar o inevitável e continuado aumento do consumo, com os imperativos ecológicos e ambientais.

Caso paradigmático é o conflito de interesses presentes na manifesta vontade de extracção dos imensos recursos disponíveis no Árctico ou a construção premente e urgente de novas e mais adequadas refinarias.
Se a capacidade de refinação se encontrar extremamente apertada em relação à procura, pode-se atingir uma disrupção da disponibilidade de refinação, com a agravante de que o futuro natural aumento da procura pode provocar uma situação de engarrafamento em que os mais valiosos petróleos são refinados primeiro e os menos valiosos serão marginalizados, conduzindo a uma ainda maior diferenciação.


Além de que numerosos países que dispõem de amplos campos petrolíferos comprovados, estão impedidos de exportar as suas potenciais produções por não disporem de adequadas vias de escoamento:
oleodutos e instalações portuárias.
Recorde-se que o custo médio da construção de um oleoduto é equivalente ao de uma auto-estrada. Cerca de 5 milhões de euros por quilómetro.
Mas vejamos com o que podemos contar do lado da oferta em resposta aos previsíveis aumentos do consumo.


As previsões da IEA apontam para um aumento do consumo idêntico ao registado nos últimos 50 anos: Cerca de 2 por cento ao ano.
Se não for aplicado um forte “travão” a este consumo desenfreado e aplicadas medidas drásticas e eficazes, estaremos a consumir, no ano 2025, cada dia que passa, quase 120 milhões de barris!


Porém, as descobertas e a sua correspondente declaração, após terem registado substanciais aumentos, quase estagnaram a partir do ano 2002.
Foi a partir desta data que se verificou um fortíssimo aumento dos preços de mercado. De facto o valor do barril, de transacção em Bolsa, passou dos 26 dólares nessa data, para os actuais mais de 120. Mais do que quadruplicaram.


Partindo dos dados disponíveis, as reservas declaradas, consideradas comprovadas, apenas dariam para mais 30 anos de consumo.
E as restantes, consideradas prováveis, apenas dariam para mais 50 anos. E a que preço!
A partir desta data não seria possível extrair nem mais um barril.
Se se conseguisse tecnologia que permitisse a sua última extracção.
As novas descobertas que garantam o fluxo exigível de sustentação do mercado, envolvem prospecção, extracção, transporte e refinação, a exigir os correspondentes colossais investimentos indispensáveis à sua realização.
Para a alternativa constituída pelo petróleo bruto não-convencional acresce o seu oneroso processamento para obtenção de petróleo sintético.


Tem-se conhecimento da vontade, ou de decisões já tomadas, da implementação de grandes projectos em todos os grandes produtores, virados para o aumento da extracção de maiores quantidades ou pelo menos, para a manutenção das actuais, como declarado na última reunião da OPEP realizada no passado mês de Março.
Nem sempre fácil de conseguir, já que as grandes bolsas em exploração apresentam sinais de forte declínio e esgotamento.


Aliás, a taxa de declínio que se está a registar nos maiores campos petrolíferos, em actividade há muitos anos, é muito preocupante, dado que não se vislumbram novas grandes explorações, pelo menos de dimensões idênticas às que existiram no passado.


A decisão da Saudi Aramco em avançar com o megaprojecto destinado ao aumento da sua capacidade produtiva reflecte a preocupação saudita e a sua vontade de recuperação do tempo perdido. Pretende o rápido desenvolvimento do seu campo petrolífero Khurais, através da abertura de 300 poços em 23 novas instalações já identificadas.
O valor a investir neste projecto atinge os 3 mil milhões de dólares, para conseguir passar a actual extracção de 300.000 barris diários que se estão a extrair nesse campo, para um patamar de 1,2 milhões, a partir do próximo ano.
Este campo não se compara, em dimensão com o grande Ghawar, mas tem sido afirmado conter petróleo de muito boa qualidade.
O projecto inclui a construção de 4 instalações de tratamento e injecção de água do mar, com uma capacidade de produção de 4 milhões diários de barris de água a injectar na bolsa petrolífera.


As principais razões apontadas, justificativas do forte declínio iraquiano registado nos últimos anos, seria o fecho de campos devido a insuficiência de água para injecção e a sua inadequada gestão.
Tem sido recentemente muito acentuado que os depósitos iraquianos, especialmente os localizados no sul do país, são de grande dimensão, elevada qualidade e em estado relativamente imaturo nos seus ciclos de extracção.
O facto é que os depósitos comprovados iraquianos atingem, oficialmente, os 112 mil milhões de barris. Admite-se que possam atingir os 300, enquanto os declarados pela Arábia Saudita ficam-se pelos 265.
Se confiarmos nessas afirmações teríamos que aceitar que as reservas petrolíferas iraquianas seriam superiores às sauditas, consideradas correspondentes a um quarto do total mundial.
Só o lançamento de novos programas de desenvolvimento poderia catapultar a produção iraquiana actual de 2 milhões de barris diários para uns possíveis 3,5 milhões.
Para tanto serão indispensáveis vultosos investimentos e a participação de peritos altamente especializados:
40.000 milhões de dólares iniciais para desenvolvimento de campos petrolíferos já referenciados e ainda não operacionais, seguido de mais 10.000 milhões de dólares para o programa de exploração.

Enquanto a Arábia Saudita e a Federação Russa dominam e continuarão e dominar o mercado do petróleo convencional (o petróleo leve), a alternativa de continuidade de satisfação da procura constituída pelos petróleos pesados, extra-pesados e betumes, ainda muito modestamente aproveitados, é assumida, na sua quase totalidade, pela Venezuela e pelo Canadá.

Estas 4 superpotências energéticas – Arábia Saudita, Federação Russa, Venezuela e Canadá - poderão vir a constituir o núcleo dominante do mercado dos combustíveis hidrocarbonetos à escala mundial:
as duas primeiras nos petróleos leves (o petróleo convencional) e as outras duas nos petróleos ditos não-convencionais).



A sua crescente importância reside no facto de equivaler a cerca de 70 por cento do petróleo bruto ainda existente no mundo.
De acordo com as estimativas avançadas pela International Energy Agency, admite-se que existam no mundo 8 a 9 milhões de milhões de barris de petróleos não-convencionais, dos quais 900 mil milhões poderão ser comercialmente explorados com recurso à tecnologia actualmente existente.
Apesar das suas imensas disponibilidades, só acrescentaram 3 mil milhões de barris anuais, aos mais de 26 mil milhões de petróleo bruto leve, actualmente produzidos. Pouco mais de 10 por cento.
O grande óbice à utilização maciça dos petróleos brutos não-convencionais, reside nos elevados custos de extracção e do processamento que os convertam em petróleo sintético.
Há que ter em conta que a extracção do petróleo não-convencional exige tecnologia e onerosos acrescidos recursos específicos: água e energia abundantes que garantam a injecção de vapor de água nas jazidas. São, geralmente upgraded para lhes reduzir os componentes carboníferos ou para lhes adicionar hidrogénio, antes de os entregar às refinarias convencionais.
Os custos adicionais de processamento e upgrading explicam as razões pelas quais o desenvolvimento dos petróleos pesados ainda se encontrar tão limitado.
Contudo, o aumento das taxas de recuperação de depósitos destas qualidades de petróleo, representa o desafio mais importante que se nos apresenta a curto e médio prazos.


No caso do Canadá, recentemente auto-assumido oil country, trata-se do aproveitamento de areias betuminosas a céu aberto, disponível em grandes quantidades no Athabasca, cujos valores estão estimados em cerca de 2,4 milhões de milhões de barris, dos quais só 175 mil milhões poderão ser processados com a tecnologia actualmente disponível.
A Energy Alberta Corporation acaba de lançar a construção de uma central nuclear de reactores gémeos, projectada para entrar em serviço em 2016, para abastecimento da energia eléctrica necessária ao processo de extracção e processamento.
A produção canadiana actual de petróleo sintético a partir desta qualidade, atinge 1 milhão de barris/dia, prevendo-se que possa vir a atingir os 3 milhões em 2020, com hipótese de chegar aos 5 milhões em 2030.
A quantidade de energia requerida para a produção de 1 barril de petróleo bruto sintético corresponde a 1/3 da energia contida num barril de betume, o que torna as operações de areias betuminosas numa enorme fonte emissora de gases com efeito de estufa.
O projecto depende significativamente da abundância de água disponível.
A produção de um barril de betume ou de petróleo sintético também requer, além da enorme quantidade de energia, cerca de 10 barris de água para as operações de mineração superficial e de 3 barris para geração de vapor in situ. Apesar da maioria da água utilizada ser reciclada, são requeridos mais cerca de 20 por cento de reposição, o que envolve preocupação acerca da sua conservação e sustentabilidade.
O que significa que virão a ser utilizados, diariamente, mais de 10 milhões de m³ de água, dos quais 2 milhões de m³ serão diariamente consumidos. Ao fim de um ano de normal laboração, terão sido consumidos mais de 700 milhões de m³ de água limpa. Para obtenção de 5 milhões de barris diários de petróleo sintético.
O investimento anunciado, para aplicação neste projecto integrado, ultrapassa os 50.000 milhões de dólares.


Na Venezuela (membro da OPEP e já um grande exportador de petróleo bruto convencional), trata-se das areias betuminosas situadas na Faixa Petrolífera do Orinoco, estimadas em mais de 2,2 milhões de milhões de barris.
Neste particular, os recursos venezuelanos beneficiam da localização na região do Rio Orinoco, onde foi construída, nos finais da década de 70, a mega-barragem e a Central Hidroeléctrica do Guri, com uma potência eléctrica instalada de 10.000 Megawatt (MW) que garante abundante energia para a sua extracção e o processamento.


Encontramo-nos, então, perante opções a tomar, que não podem continuar a ser adiadas, sob pena de nos vermos, a curto prazo, numa situação de carência generalizada, de consequências muito difíceis de ultrapassar, a exigir investimentos maciços em novos projectos de desenvolvimento em toda a cadeia produtiva.


Nesta linha de orientação, a Agência Internacional da Energia apresentou no seu Energy Outlook, em 2006, a estimativa de 20 milhões de milhões de dólares, como montante a investir no sector energético durante os seguintes 25 anos, dos quais um mínimo de 4 milhões de milhões a aplicar no sector petrolífero.
O seu Director Executivo acaba de corrigir este valor em alta, ao anunciar na abertura do 11º Fórum Internacional da Energia, realizado em Roma, no passado dia 21 de Abril, a necessidade de investimento de 22 milhões de milhões de dólares, dos quais 5,4 a aplicar no sector petrolífero.
Mais de 150.000 milhões de dólares de investimento por ano.
Em apenas 2 anos o valor de investimento exigido para o sector petrolífero aumentou nada menos que 35 por cento.
Não posso terminar sem reforçar que a futura geração de energia requererá níveis de investimento muito mais elevados do que os aplicados no passado, para compatibilização da satisfação da procura com as exigências ambientais, a descarbonização dos produtos energéticos e o acréscimo dos custos resultantes da implementação de reforçados sistemas da segurança das instalações de extracção e de transporte.
A nova dimensão de relações de segurança entre nações exportadoras e nações importadoras dependentes, resultará da interligação entre o investimento, a finança e o comércio.
Esta reorientação dinamizará um redobrado esforço focado na investigação e na detecção de oportunidades, quer de investimento quer de participação no desenvolvimento das estruturas do sector.

Muito obrigado pela atenção dispensada.

J. Caleia Rodrigues
Conferência proferida em:

O PREÇO DO PETRÓLEO:
Risk Management & Hedging for End Users

Mega-investimentos exigidos pelo sector petrolífero

Lisboa, 8 de Maio de 2008
Hotel Altis Park

Institute for International Research