domingo, 21 de setembro de 2008

A tensão entre o Governo e a Galp sobe porque o preço dos combustíveis tarda em descer, apesar da queda da cotação do petróleo.
O Governo está zangado com a Galp por demorar a baixar os preços da gasolina e do gasóleo quando a cotação de ontem do petróleo brent (94,96 dólares/barril) é 35% inferior ao máximo de 146,08 dólares/barril, do dia 7 de Julho. O preço dos combustíveis baixou menos de um terço desse valor no mesmo período. Por isso, o ministro da Economia vê “com satisfação que a Autoridade da Concorrência faça uma investigação mais aprofundada, que é um passo em frente em relação à investigação anterior”. Manuel Pinho diz mesmo estar “confiante que o preço da gasolina vai baixar”, porque “sempre que o preço do petróleo baixa, mais cedo ou mais tarde, o preço dos produtos refinados segue o mesmo caminho”. A tensão entre o Governo e a Galp remonta à altura do protesto dos camionistas, em Junho, quando a petrolífera, imediatamente a seguir à assinatura do acordo, subiu os preços dos combustíveis.
A situação também preocupa a oposição parlamentar. PSD e CDS já exigiram a presença, respectivamente, do presidente da Autoridade da Concorrência, Manuel Sebastião, e do ministro da Economia, Manuel Pinho, para explicarem aquela discrepância no Parlamento. Os outros partidos com assento na Assembleia da República também se mostraram desagradados com a situação durante o debate sobre a taxa Robin dos Bosques, que ontem teve lugar no Parlamento.José Horta, presidente da APETRO, a associação das empresas petrolíferas, diz que as dúvidas são compreensíveis para o público em geral, que se vê bombardeado pelo anúncio da descida continuada dos preços do petróleo nos mercados internacionais e não encontra correspondência nos preços que paga nos postos de abastecimento de combustíveis. Só que, refere, “é preciso explicar às pessoas que os preços dos combustíveis refinados seguem caminhos diferentes do preço do petróleo bruto”.
O presidente da APETRO dá como razão para uma travagem na descida dos preços da gasolina e do gasóleo à saída da refinaria o facto de as refinarias do Texas e do Sul dos Estados Unidos terem fechado por causa da aproximação do furacão Ike. Os EUA, afirma, “são uma verdadeira esponja no consumo de combustíveis refinados e vão buscá-lo onde for preciso”. E sublinha que “Portugal é um grande exportador de gasolina para os Estados Unidos”.Além disso, diz José Horta, os preços dos combustíveis praticados em Portugal são feitos com base nas cotações do mercado do Norte da Europa – o chamado mercado ARA (Amesterdão, Roterdão e Antuérpia) – e “o preço médio dos combustíveis à saída da refinaria na última semana deu duas indicações contraditórias, a gasolina estava a subir, relativamente à semana anterior, e o gasóleo estava descer”. A BP seguiu à risca este mecanismo de formação de preços e aumentou a gasolina, descendo o preço do gasóleo. A Galp decidiu não aumentar a gasolina, mas “essa é uma decisão de gestão que apenas cabe às empresas”.
José Horta sublinha que a APETRO vai divulgar, na próxima semana, um estudo comparado sobre os primeiros oito meses deste ano e igual período do ano passado onde, segundo refere, “vai ficar bem patente que mais de metade dos países da União Europeia aumentaram mais os combustíveis que Portugal”.
Uma situação que deve ser do conhecimento da Autoridade da Concorrência mas não será suficientemente convincente, já que a entidade presidida por Manuel Sebastião anunciou ontem, em comunicado, que vai proceder a uma investigação aprofundada sobre “a evolução da cotação do petróleo brent, de Londres, e as cotações Platt’s de Roterdão para produtos refinados, ambas referências para Portugal”.
O presidente da ANAREC, associação de revendedores de combustíveis, que há muito tempo ameaça apresentar queixa à Concorrência, diz que só não o fez agora porque “houve dois argumentos de peso. O próprio ministro da Economia pediu às petrolíferas para acompanharem a tendência de queda do petróleo e o comissário europeu da Energia, Andris Piebals, quer que a Concorrência esteja mais atenta aos preços dos combustíveis”. E conclui dizendo que acredita que, “nos próximos dias, os preços dos combustíveis vão descer”. Uma crença partilhada pelo ministro Manuel Pinho e pelo presidente da APETRO.
O presidente da Endesa em Portugal, Nuno Ribeiro da Silva, esclarece que “o estabelecimento dos preços da gasolina e do gasóleo não é uma ciência oculta”. “Os países exportadores de petróleo ganham menos do que os importadores, como Portugal, com os impostos”, acrescentou, numa clara alusão ao nível elevado de impostos que pesam no preço final dos combustíveis.
Ideia que é partilhada por José Caleia Rodrigues, especialista em questões energéticas, ao referir que “se querem baixar os preços dos combustíveis, podem começar por descer os impostos”. Contactado pelo Diário Económico, Manuel Ferreira de Oliveira, presidente da Galp, não quis pronunciar-se sobre as relações entre a empresa e o Governo.
De elefante branco a potência petroquímica
José Sócrates disse ontem que o actual clima de negócios em Portugal permite regressar ao sonho do final dos anos 60 de construir em Sines um dos maiores complexos petroquímicos do mundo. O primeiro-ministro falava no final da sessão que assinalou a ampliação do complexo petroquímico de Sines da Repsol. Com este projecto, a subsidiária portuguesa da petrolífera espanhola deverá, a partir de 2011, tornar-se num dos primeiros exportadores portugueses, estando prevista uma facturação anual de cerca de 1.200 milhões de euros. Esta expansão prevê a construção de mais duas fábricas de polietileno e de polipropileno. A Repsol Portuguesa encontra-se em fase de expansão, tanto a nível industrial, como de distribuição de combustíveis, através do reforço da sua rede de retalho, posicionando-se actualmente como a segunda maior petrolífera em Portugal.

Diário Económico
Manuel Pinho avisa 2008-09-18 00:05
Francisco Ferreira da Silva com Sofia Lobato Dias