domingo, 21 de setembro de 2008

A descida do crude é explicada pela menor procura que acontece no Verão. Passado este efeito sazonal, as subidas voltarão porque se mantêm os problemas estruturais.
A queda recente dos preços do petróleo será temporária, pelo que a matéria-prima continuará a pressionar o crescimento dos países mais dependentes de energia importada, como Portugal. E os preços das mercadorias e dos transportes (e por essa via a dar argumentos para subidas das taxas de juro).
Apesar da forte descida – o barril de Brent caía ontem quase 25 dólares face ao máximo histórico de 143 dólares de 11 de Julho –, o preço médio do contrato, calculado desde o início do ano, valia 73,6 euros (113,2 dólares). Medido na moeda única, o crude está actualmente 40% mais caro face à média de 2007.
Os especialistas ouvidos dizem que os factores especulativos e algumas causas sazonais justificam o alívio “momentâneo” do petróleo. Passada esta fase – uma etapa em que os fundos (hedge funds) lucram com a venda de contratos altamente valorizados, marcada pela menor procura associada ao Verão e pelo abrandamento económico e da procura dos países ocidentais, etc. – os peritos consideram que os argumentos para o petróleo voltar a subir continuam intactos. A procura mundial cresce tendencialmente mais do que a oferta, o cartel do petróleo (OPEP) continua a ter muito controlo sobre as entregas ao mercado, é cada vez mais caro investir na exploração (há muito petróleo no mundo, mas é bastante mais difícil lá chegar), há entraves tecnológicos importantes à produção, o retorno dos projectos de investimento é cada vez mais demorado.
Eduardo Oliveira Fernandes, professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, salienta que “o jogo especulativo está a ser determinante para este sobe e desce”. “Mas sempre que o preço do petróleo dispara, vence patamares aos quais dificilmente regressará”. E isto porquê? “Porque o problema de fundo continua o mesmo: a procura cresce mais do que a oferta”.
José Caleia Rodrigues, consultor na área da energia, diz que “esta redução no preço era expectável. Subiu tanto que teria de cair um pouco. Mas é inevitável que volte a subir e a vencer novos máximos”. A procura costuma ser mais moderada no Verão, “mas os factores para que volte a disparar estão lá todos”, aponta. E dá exemplos: “investir na exploração é cada vez mais caro, o retorno de projectos como o Tupi no Brasil só acontecerá daqui a 10 ou 12 anos. No fundo há um problema latente e sério do lado da oferta a prazo que é saber com que dinheiro e fiabilidade se conseguirá extrair petróleo de sítios muito complicados, como as reservas nas águas ultra-profundas [Brasil] ou nas areias betuminosas [Canadá]”.
Richard Cooper e Simon Fox, consultores da Mercer para o sector da energia, também defendem que o ritmo das subidas de preços dos últimos anos “sugerem que os fundamentais não são os únicos gatilhos” do actual choque petrolífero, apontando o dedo à “procura especulativa”. “O consenso geral é que o petróleo permaneça acima de 100 dólares”, podendo mesmo disparar ocasionalmente. Há analistas a falarem em picos de 200 ou 300 dólares, sublinham.James L. Williams, presidente da WTRG Economics, é de todos os menos pessimista. “O preço pode baixar até menos de 100 dólares por barril e ir até 85 dólares na Primavera de 2009”, mas “isto dependerá do grau de contágio dos problemas dos EUA ao resto do Mundo e da não existência de um contágio dos problemas dos EUA ao resto do Mundo e da não existência de um conflito no Irão”.

Diário Económico
Luís Reis Ribeiro
Energia 2008-08-06 00:05