terça-feira, 3 de março de 2015
Desequilíbrios no mercado petrolífero vão baixar preços dos combustíveis, consideram especialistas
Publicada por José Caleia Rodrigues à(s) 11:17O preço dos combustíveis em Portugal deverá baixar de forma considerável nas próximas semanas, fruto das baixas cotações de petróleo nos mercados internacionais, nomeadamente da Arábia Saudita e Irão, que negoceiam os preços mais baixos dos últimos anos. Um comportamento dos mercados que se deve em muito à emergência dos Estados Unidos como uma potência competitiva e da estagnação económica da União Europeia e China, que levou à redução drástica da procura. Na Arábia Saudita e no Irão, negoceiam-se nesta altura o valor do crude no nível mais baixo dos últimos seis anos. Os tradicionais fornecedores de petróleo enfrentam a Rússia, a América Latina e os Estados Unidos como potências emergentes no setor petrolífero. José Caleia Rodrigues, especialista em economia e política internacional, realça o papel dos norte-americanos, que "passam a ser autosuficientes" em matéria de petróleo e poderão vir a assumir-se como grandes exportadores. Os "grandes dependentes", esses, vão continuar a ser os países da Europa Ocidental. O secretário-geral da Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas, António Comprido, acredita que o preço dos combustíveis em Portugal poderá baixar nas próximas semanas fruto dos desiquilíbrios entre a oferta e a procura do crude a nível mundial. Fonte: Antena 1 10.Outubro, 2014
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sexta-feira, 29 de outubro de 2010
China compra dívida e estreita relações com Portugal (Jornal de Notícias, 29.Out.2010)
Publicada por José Caleia Rodrigues à(s) 12:28A China está interessada em reforçar a aquisição de dívida soberana portuguesa. Para Portugal, é uma ajuda importante para aliviar a pressão dos mercados internacionais, para a China é uma forma de assegurar boas relações com um país da Europa.
Depois da ruptura nas negociações entre o Governo e o PSD para o Orçamento de Estado, os juros da dívida portuguesa a dez anos voltaram a passar a barreira dos 6%. O Estado já marcou uma nova emissão da dívida pública de curto prazo para a próxima quarta-feira, o mesmo dia em que se vota na generalidade a proposta de OE para 2011. O fim das negociações desta semana mereceu a atenção do jornal "Financial Times" que afirma que este impasse "empurrou o país para uma situação mais próxima de uma crise da dívida soberana".
As boas notícias vieram da China que, com a visita a Portugal, a 6 e 7 de Novembro, do presidente Hu Jintao, anunciou a intenção de comprar títulos de dívida portuguesa.
A vice-ministra chinesa dos Negócios Estrangeiros, Fu Ying, garantiu que o país está disponível para comprar títulos do tesouro português e "participar no esforço de recuperação económica e financeira" de Portugal.
Fu Ying adiantou que é um hábito chinês a compra de dívida pública a países onde vão em visita oficial, mas, segundo Fu Ying, "a situação económica e financeira em Portugal tem sido sempre o centro das nossas atenções".
Ao todo, a China detém 302,28 milhões de euros em títulos de dívidas de Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha (menos 60% do que detinha no final de 2009). E esta pode ser uma forma de a China reforçar a sua presença na Europa, escolhendo os países mais endividados e onde há mais oportunidades de negócio e a bons preços.
Porta para a Europa
Para o especialista em política e economia internacional, José Caleia Rodrigues, a China não está interessada em Portugal, mas sim, em usar o nosso país como porta de acesso a mercados europeus, e sobretudo para países com quem Portugal tem boas relações, como o Brasil e os Países Africanos de Língua Portuguesa (Palop). "A China pode ter um interesse geo-estratégico mais do que económico e Portugal é um bom parceiro de entrada em mercados emergentes", salientou José Caleia Rodrigues.
Já o professor da Universidade Nova de Lisboa Miguel Ferreira lembra que a China tem um superavit comercial e tem excedentes financeiros que aplica comprando dívida de vários países. "O interesse em Portugal pode ser a taxa de juro que é alta. O inconveniente é o risco de incumprimento do Estado", explica o professor de Economia, acrescentando que a China deve acreditar que, no caso de Portugal entrar em incumprimento como a Grécia, a União Europeia também avançará com um plano para ajudar a relançar a nossa economia.
Certo é que o embaixador de Portugal na China, José Tadeu Soares, adiantou ontem que a visita do presidente chinês vai ficar marcada pela assinatura de vários acordos e contratos de investimento.
"Vão ser assinados uma série de acordos de maior importância a nível oficial e de empresas. Esperam-se contratos de investimento de grande importância", referiu o embaixador citado pela agência Lusa.
Apesar de não referir exemplos de investimento concretos, José Tadeu Soares falou em contratos no sector do turismo e acordos de "facilitação das relações económicas".
Jornal de Notícias
29.Out. 2010
Ana Paula Lima
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segunda-feira, 15 de junho de 2009
Portugal regista terceira maior quebra mundial no consumo de energia (Jornal i, 12.Junho.2009)
Publicada por José Caleia Rodrigues à(s) 14:08Crise leva portugueses a levantar o pé do acelerador e a consumir menos petróleo. Mesmo assim, a factura em euros disparou em 2008.
Devido à crise, à seca e ao choque petrolífero, Portugal registou a terceira maior queda mundial no consumo de energia durante o ano passado, mostra um estudo da British Petroleum (BP). Os maiores apertos aconteceram no Turquemenistão e em Hong Kong. O consumo nacional de energia (maior parte dele petróleo importado) pode ter caído mais de 5%, mas a factura em euros continuou a crescer (mais 15%, segundo contas do i), roubando assim poder de compra às famílias e competitividade às empresas.
De acordo com a Revista Estatística de Energia Mundial da petrolífera britânica BP, a factura de Portugal com petróleo valia mais de 6,9 mil milhões de euros no final do ano passado. Este valor representa um aumento de 15% face a 2007 e um peso de 4,2% no Produto Interno Bruto (PIB), o nível mais alto desde 1985. Mas nesse ano a economia cresceu quase 3%, ao passo que em 2008 estagnou, acusando já uma recessão no final do ano. Desde a entrada na União Europeia (CEE em 1986) até às vésperas da actual crise, o peso médio da factura com petróleo foi de 2,4% do PIB, quase metade da de 2008.
Para António Costa e Silva, presidente da Partex Oil and Gas, a holding da Fundação Calouste Gulbenkian para a área da energia, significa que “não é tanto o preço do petróleo que comanda o consumo dos portugueses, mas antes o rendimento disponível”. “Enquanto as pessoas tiverem dinheiro não vão estar verdadeiramente interessadas em reduzir a despesa que fazem com combustíveis, procurando alternativas mais eficientes. Um país como Portugal, que tem as fragilidades estruturais na criação de riqueza que são conhecidas, tinha de reduzir obrigatoriamente muito mais o consumo para evitar o impacto dos choques petrolíferos e da volatilidade deste mercado”, refere. “Se não o fez em 2008, quando o petróleo chegou quase aos 150 dólares o barril, imagino que o país terá muita dificuldade em fazê-lo quando vier a retoma e uma nova subida dos preços das matérias primas”, lamenta. Os políticos são igualmente responsáveis por esta inércia, argumenta o responsável da Gulbenkian: “poucas medidas de eficiência energética anunciadas pelo governo passaram à prática e as que foram para o terreno estão a ter pouco ou nenhum impacto”.
Os especialistas argumentam que os portugueses – famílias e empresas – têm de fazer mais para poupar energia. Partilhar carro, usar veículos mais eficientes, organizar as cidades por dentro e por fora, apostar no comboio e nos transportes públicos, organizar a sua logística, construir edifícios mais inteligentes.
Luís Mira Amaral, ex-ministro da Indústria e da Energia, também considera que é o dinheiro na carteira de cada português que mais determina o que se gasta em petróleo: “É óbvio que é crise que está a reduzir a procura por energia. Mas antes desta crise Portugal já estava em crise e isso reflecte-se na falta de investimentos em eficiência e na falta de visão e de educação das pessoas relativamente a estes assuntos. Se sobra dinheiro, gasta-se, não se mudam comportamentos enraizados, o que explica o agravamento da factura”.
Bomba-relógio
E por quanto mais tempo podem os portugueses contar com o petróleo nos preços actuais?
“Quando a retoma chegar a sério, dentro de poucos meses, haverá procura suficiente que justificará preços cada vez mais altos do produto”, estima José Caleia Rodrigues, consultor em energia e autor de vários livros sobre petróleo. “Há vários factores que explicam a necessidade de preços mais altos: o petróleo que existe está cada vez mais longe e difícil trazer para cima, a crise representa uma dificuldade acrescida ao financiamento de tecnologias mais sofisticadas e caras, há falta de pessoas qualificadas nestas áreas. Hoje é tudo mais difícil para chegar à mesma quantidade de petróleo. E o difícil é caro.”
Esta tese é defendida pela própria BP. O presidente da companhia, Tony Howard, estima que o preço do crude terá de oscilar entre 60 a 90 dólares para sustentar o investimento que depois gerará oferta adicional para satisfazer a procura.
Em 2008, diz a BP, o comércio mundial de petróleo caiu quase 2%, a maior descida desde 1987 devido à forte retracção no consumo dos países mais ricos, onde Portugal está incluído.
Petróleo
• Representa quase dois terços da energia consumida em Portugal. Consumo caiu 5% em 2008
Gás
• Segunda maior fonte de energia (18% do total), teve uma subida de 9% para compensar a menor produção eléctrica das barragens
Hidroeléctrica
• Vale 7% do total. Como 2008 foi um ano seco, as barragens produziram menos 32% de electricidade
Carvão
• Terceira fonte mais importante (14%). Consumo caiu quase 5% devido a melhoramentos na central de Abrantes
Jornal i
12.Junho.2009
José Reis Ribeiro
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No mercado instável do petróleo, uma certeza: os preços vão subir (Jornal i, 13.Junho.2009)
Publicada por José Caleia Rodrigues à(s) 10:11A OPEP indicou ontem que o pior para os produtores de petróleo já terá passado.
Há menos de um ano, em Julho de 2008, o barril de petróleo tocava no máximo histórico de 147 dólares. Numa queda de cinco meses, até Dezembro, afundou para um mínimo de 32 dólares. Desde então o preço já duplicou e está agora em 72 dólares. O que podem os portugueses esperar nas bombas de gasolina este Verão? Uma certeza: podem contar desde já com uma subida dos preços dos combustíveis.
Desde o mínimo atingido em Janeiro deste ano, o preço da gasolina já subiu 22,5% (mais 23,7 cêntimos por litro, para 1,291 euros) e o gasóleo 8,5% (mais 0,079 cêntimos, para superar a barreira de um euro). Ontem, a Galp aumentou em meio cêntimo o preço da gasolina, apontando para a subida recente do preço da matéria-prima, o petróleo. Esta subida não deverá ser a última, uma vez que nos mercados internacionais o preço médio do gasóleo fechou a semana a subir 4%, com a gasolina a ganhar 2,2%.
A subida do preço do petróleo tem vindo a antecipar a esperada recuperação da economia mundial, afectada pela maior crise desde a segunda guerra mundial. Os observadores do mercado apontam que pode haver um excesso de optimismo nos mercados - a recuperação é ainda uma possibilidade frágil - o que deverá levar a uma correcção do preço na próxima semana.Contudo, a tendência geral do preço é de subida. Ontem, o cartel dos países produtores de petróleo, a OPEP, indicou que o pior (para quem vende) já terá passado, apesar de ter cortado ligeiramente a procura esperada em 2009 (uma contracção diária de 1,62 milhões de barris). O especialista José Caleia Rodrigues indicou ao i que assim que a retoma começar a dar sinais mais firmes, haverá condições para o preço subir. O presidente da BP, Tony Howard, fala de um intervalo entre 60 e 90 dólares.
Jornal I
Bruno Faria Lopes
Publicado em 13 de Junho de 2009
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quinta-feira, 4 de junho de 2009
Até quando vai a crise anular a alta dos preços do petróleo? (Jornal de Negócios, 10.Dez.2008)
Publicada por José Caleia Rodrigues à(s) 10:12A recessão eclipsou quatro anos de subida do petróleo. Ao mesmo tempo, o mundo vira-se para energias alternativas. Mas a dependência da matéria-prima está longe do fim. E o preço baixo pode ser efémero e ter efeitos perversos.
O plano de investimento em infra-estruturas avançado esta semana por Barack Obama para reanimar a economia americana fez disparar o preço do petróleo e o valor em bolsa das petrolíferas. Mas a agenda de mudança do Presidente eleito dos EUA é outra. A aposta vai para a diminuição da dependência daquela matéria-prima, substituindo-a pelas energias renováveis. Mas é improvável que este esforço pelo maior consumidor de crude do mundo seja capaz de impedir o regresso do preço a níveis recorde.
Aos primeiros sinais de contaminação da crise financeira à economia mundial, a cotação do petróleo inverteu a tendência. Quando a palavra recessão passou a lugar comum no discurso de economistas e responsáveis políticos, a matéria-prima já perdera metade do seu valor. Hoje, mais de 100 dólares separam o preço actual do recorde registado em Julho, com os especuladores a desertarem e o mercado a ajustar à diminuição da procura.
"Os preços do petróleo estão a descer pelas más razões: uma diminuição da procura, em consequência da redução da actividade económica. As boas razões seriam que a procura diminuísse por vontade dos consumidores ou pelo aumento da eficiência energética", considera Caleia Rodrigues, especialista e autor de vários livros sobre o petróleo.
É esse o rumo que o mundo agora procura. Obama fez das energias renováveis uma das bandeiras da campanha à Casa Branca. Prometeu libertar a nação da dependência dos combustíveis fósseis através da promoção de fontes alternativas, gastar 15 mil milhões de dólares em tecnologias limpas e criar cinco milhões de "empregos verdes" na próxima década. O futuro Presidente quer também assegurar que no final do seu primeiro mandato, 10% da electricidade consumida nos EUA venha de fontes renováveis como a eólica, solar e geotérmica, e colocar em circulação até 2015 um milhão de carros eléctricos, de preferência fabricados nos Estados Unidos.
Para Caleia Rodrigues, é duvidoso que as energias renováveis sejam a solução. "As energias alternativas não resolvem o problema, não põem o mundo a funcionar". "A energia eléctrica, por exemplo, é viável para os transportes de vaivém diário entre as cidades e as periferias. Mas não para os transportes de longo curso e estes são indispensáveis para manter a globalização. Vão ser precisos mais combustíveis fósseis, a menos que se acabem os transportes internacionais e as trocas comerciais", advertiu.
A manter-se a dependência dos combustíveis fósseis, o preço actual do petróleo representa um risco elevado. "Esta situação é grave porque paralisa todo o investimento", afirma o especialista. Só com preços entre 60 e 70 dólares, os gestores podem considerar proporem aos accionistas a aposta em projectos de exploração petrolífera.
Se as coisas se mantiverem neste pé, "irá haver uma forte escassez de petróleo no mercado e os preços atingirão níveis exorbitantes", considera Caleia Rodrigues. O que levará a dois cenários: "quem puder pagar, pagará a qualquer preço; quem não puder pagar, terá graves situações sociais e de segurança interna", salienta.
Jornal de Negócios
10.Dez.2008
Carla Pedro
cpedro@negocios.pt
António Larguesa
alarguesa@negocios.pt
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quarta-feira, 20 de maio de 2009
"Petróleo vai andar a oscilar entre os 50 e os 80 dólares" (Jornal I, 20.Maio.2009, p. 13)
Publicada por José Caleia Rodrigues à(s) 14:12
José Caleia Rodrigues
Analista de petróleo
O preço do petróleo atingiu, pela primeira vez desde Novembro de 2008, os 60 dólares por barril nos EUA. Qual vai ser a tendência num futuro próximo?
"Pensando a curto prazo, num período de um ano, o preço irá oscilar entre os 50 e os 80 dólares por barril. Mas até serem retomadas novas explorações os valores devem andar bastante oscilantes."
O preço do barril de petróleo pode chegar novamente aos cem dólares?
"Se a situação não se estabilizar nos próximos anos, poderemos até chegar aos duzentos dólares."
Mas não a breve prazo, então...
"Não. Penso que os 60 dólares actuais se irão manter co mo valor mínimo durante algum tempo, mas o preço aumentará proximamente."
O que pode evitar que uma subida significativa venha a acontecer?
"Se não houver um investimento maciço em novas capacidades de exploração, o preço do petróleo poderá subir imenso nos próximos meses. As taxas de esgotamento são altissimas. É importante que as novas explorações sejam retomadas para que o preço do barril possa diminuir."
Jornal I
Secção P&R (Perguntas e Respostas), página 13
M.C.
20 de Maio de 2009
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domingo, 3 de maio de 2009
"Reservas da Galp dão para abastecer Portugal por 21 anos" (TSF, 2.Maio.2009)
Publicada por José Caleia Rodrigues à(s) 00:58A jornalista Marina Alves Francisco falou com o presidente da Galp, Manuel Ferreira de Oliveira, sobre a entrada em funcionamento do campo Tupi, na Bacia de Santos, uma das mais ricas reservas de petróleo do mundo
Caleia Rodrigues, especialista em petróleo, diz que é excessivo dizer que Portugal vai tornar-se auto-suficiente na área da energia com o negócio da Galp
O presidente executivo da Galp Energia afirmou, esta sexta-feira no Rio de Janeiro, que o início da exploração das gigantescas reservas de petróleo ao largo da Bacia de Santos correspondem a mais um passo para que Portugal consiga alcançar a auto-suficiência.
O presidente executivo da Galp, Manuel Ferreira de Oliveira, que se deslocou ao Brasil para participar na cerimónia de início de exploração do campo Tupi, onde a Galp detém uma participação de 10 por cento num consórcio liderado pela brasileira Petrobras, juntamente com o BG Groupe, afirmou que os recursos da empresa portuguesa «já são suficiente para atingir o objectivo estratégico de produção de 150 mil barris por dia».
Manuel Ferreira de Oliveira, sublinhou ainda que as actuais reservas de petróleo e gás da Galp, avaliadas em 2,1 mil milhões de barris, «significam que, se fosse possível utilizá-las todas simultaneamente» a empresa seria capaz de «abastecer todo o mercado nacional durante 21 anos».
O presidente reforçou a sua convicção de que a actual administração da Galp «está claramente a construir uma empresa de petróleos de média dimensão» após a sua aposta no Brasil.
Com o início da produção de petróleo no Tupi, a Galp vai investir 263 milhões de euros num poço que se estima que esteja a produzir em força no final de 2010, ao ritmo de 100 mil barris diários.
Entretanto, Caleia Rodrigues, especialista em petróleo, disse à TSF que é exagerado dizer que esta exploração da Galp no Brasil é meio caminho andado para que Portugal se torne auto-suficiente em petróleo.
«Não posso relacionar directamente uma coisa com a outra. Um facto é uma empresa petrolífera que dispõe de recursos importantes e outro é que o país possa gozar dessas vantagens», afirmou.
TSF
2.Maio.2009
10h22
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quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
Preço do crude continuará a descer, mas 2009 terminará com subidas, prevê especialista (TSF, Rádio Notícias - 31.Dez.2008 - 12:43)
Publicada por José Caleia Rodrigues à(s) 17:29José Caleia Rodrigues, especialista em geopolítica do petróleo, prevê novas subidas nos preços do crude no final de 2009.
Caleia Rodrigues faz uma análise do ano de 2008 nos mercados petrolíferos.
José Caleia Rodrigues, especialista em geopolítica do petróleo, disse, esta quarta-feira, à TSF acreditar que a tendência de redução do preço do petróleo continue nos próximos tempos, apesar de prever que 2009 termine com novas subidas nos valores do crude.
«Não se está a ver o fim desta crise, logo podemos esperar que ainda haja alguma redução» no preço do petróleo, disse José Caleia Rodrigues, numa altura em que o custo do crude nos mercados norte-americanos terminou o ano com um perda de 60 por cento em relação ao máximo de 147 dólares atingido em Julho.
No entanto, «a médio prazo vamos ter grandes dificuldades» no acesso ao crude, inclusive devido à «carência no mercado», já que o petróleo «não se gera, só se extrai», alertou o especialista, chamando a atenção para a falta de investimentos na procura de petróleo.
Neste sentido, Caleia Rodrigues prevê «dificuldades no mercado geradas pela oferta e procura» a médio prazo.
José Caleia Rodrigues considerou ainda que 2008 foi um ano único na história do mercado petrolífero, como os preços «sempre a subir» durante o primeiro semestre e praticamente «sempre a descer» nos últimos seis meses.
Na análise do especialista em geopolítica do petróleo, tudo se explica com o facto de o crude ter deixado de ser uma «simples matéria-prima», passando a ser um «produto financeiro» que não está imune às vontades dos grandes investidores.
«A redução do preço não se ficou a dever a boas razões, como o aumento da produção ou da eficiência energética, mas antes a causas financeiras e à redução da procura, decorrente da redução da actividade económica», acrescentou.
Entretanto, ao final da manhã desta quarta-feira, o barril de petróleo estava a ser transaccionado a 37,20 dólares no mercado norte-americano e a 38,44 dólares no mercado londrino, que serve de referência para Portugal.
TSF, Rádio Notícias
31.Dez.2008 - 12:43
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quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
José Caleia Rodrigues em entrevista (Jornal de Negócios on line, 10.Dezembro.2008)
Publicada por José Caleia Rodrigues à(s) 21:38"Se não houver investimento em novas capacidades, petróleo terá preços exorbitantes"
José Caleia Rodrigues é especialista em questões petrolíferas e já publicou vários livros sobre o tema. Em entrevista telefónica ao Negócios, salienta que as actuais cotações do petróleo congelaram o investimento em novas capacidades de produção, o que levará a uma escassez no mercado e à consequente subida dos preços para níveis exorbitantes.
José Caleia Rodrigues é especialista em questões petrolíferas e já publicou vários livros sobre este tema, que acompanha também no seu blog. Em entrevista telefónica ao Negócios, salienta que as actuais cotações do petróleo congelaram o investimento em novas capacidades de produção, o que levará a uma escassez no mercado e à consequente subida dos preços para níveis exorbitantes.
Por que está o petróleo tão barato?
Os preços do petróleo estão a descer pelas más razões: uma diminuição da procura, em consequência da redução da actividade económica. As boas razões seriam que a procura diminuísse por vontade dos consumidores ou pelo aumento da eficiência energética.
E que pode acontecer, com os actuais preços?
Este abanão no sector petrolífero é grave, já que paralisou todo o investimento. Há quatro anos que os grandes extractores mundiais vêm a reduzir a entrega de petróleo ao mercado. Isso é grave. Um dos grandes produtores clássicos, a Arábia Saudita, tem o maior poço de petróleo do mundo agora com taxas de esgotamento enormes. Há um programa de investimento para lançar 300 novos poços numa bacia mais pequena, mas está suspenso, à espera de oportunidade para ser relançado. A Arábia Saudita não tem hoje capacidade de aumentar nem de manter a sua produção.
Que nível de preços seria desejável? A OPEP fala em 70-80 dólares...
O nível entre os 60 e os 70 dólares é o mínimo para que um projecto de exploração seja rentável. Ou seja, será preciso que o crude volte a esses níveis para se relançar o investimento, congelado já há muito tempo. E, mesmo assim, nada garante que um gestor considere encorajador incentivar accionistas a investirem em projectos de exploração petrolífera se os preços estiverem entre os 60 e os 70 dólares, já que se trata de uma área muito arriscada. É que quem investe, sabe que demorará 10 a 12 anos até que uma nova exploração atinja a velocidade de cruzeiro e nunca se sabe a que preço vai poder vender, nem que quantidade exacta de bom produto é que vai obter.
E se não houver investimento no futuro próximo?
Aos preços actuais, o investimento parou. E é de salientar que a década de 90 já tinha congelado o investimento, pois foi um período que esteve a rentabilizar o investimento que tinha sido feito. Depois, esse investimento recuperou um pouco em 2000, mas voltou a cair. Por isso, há muito tempo que não há investimento. E se as coisas se mantiverem neste pé, irá haver uma forte escassez de petróleo no mercado e a que os preços atinjam níveis exorbitantes. O que levará a dois cenários: quem puder pagar, pagará a qualquer preço; quem não puder pagar, terá graves situações sociais e de segurança interna.
Isto é um drama. O produto vai escassear. Está previsto que entre 2010 e 2012 haja uma escassez do produto no mercado se não houver novas descobertas e investimento. A Agência Internacional da Energia diz que é preciso investir 150 mil milhões de dólares por ano em novas explorações.
Quando o “pipeline” russo para a China estiver a funcionar, no Outono de 2009, a coisa ainda vai ficar mais feia. Nessa altura, irá ser canalizado mais um milhão de barris por dia para a China. Alguém vai ter que pagar. Alguém vai ter menos petróleo. Se a China vai ter mais um milhão de barris, alguém terá que ter menos esse milhão e será alguém que não o possa pagar.
E quanto ao desenvolvimento de energias renováveis?
As energias alternativas não resolvem o problema, não põem o mundo a funcionar. Só o que puder ser movido a electricidade é que vai beneficiar delas.
Será nos transportes de longo curso que vai haver um maior consumo de combustíveis fósseis. Os barcos não vão andar todos a energia nuclear e os aviões não vão andar como a passarola de Bartolomeu de Gusmão. A energia eléctrica, por exemplo, é viável para os transportes de vaivém diário entre as cidades e as periferias. Mas não para os transportes de longo curso e estes são indispensáveis para manter a globalização. Vão ser precisos mais combustíveis fósseis, a menos que se acabem os transportes internacionais e as trocas comerciais.
Jornal de Negócios on line
10.Dezembro.2008
Carla Pedro
cpedro@mediafin.pt
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sábado, 20 de setembro de 2008
Protestar? Outubro é melhor (Jornal de Noticias, 20.Setembro. 2008)
Publicada por José Caleia Rodrigues à(s) 19:07José Júlio Caleia Rodrigues é mestre em Economia Política. Editou os livros "Geopolítica do Petróleo - Anatomia dos conflitos" e, mais recentemente, "Petróleo - Qual Crise?"
A fatia dos consumos de petróleo para transportes vai continuar a aumentar - e o preço também, basta chegarmos à porta do Inverno. J. Caleia Rodrigues, mestre em Economia Política, explica os cenários da crise petrolífera no quotidiano do consumidor.
Depois de amanhã, a Deco vai comunicar formas de protesto contra o preço da gasolina. A subida dos preços é motivo para levar pessoas à rua?
É, claro. Isso pode acontecer. É causa que baste - e se as pessoas forem levadas a fazer isso, creio que o farão.
O preço do petróleo está a cair desde Julho, mas a gasolina não pára de aumentar. Esta é a altura mais indicada para protestar?
Eu esperaria até finais de Outubro, meados de Novembro. Aí, o petróleo fica sempre mais caro, é a altura das compras para o aquecimento. Protestar nessa altura, de um novo e previsível pico de preços, colheria mais argumentos, melhores. Um protesto que ocorra já não impedirá uma subida dos preços nessa altura.
A Autoridade da Concorrência está a fazer tudo para acompanhar o sector?
Não creio. É um sector muito complicado, muito pesado. A AdC não tem capacidade de intervenção, aqui não tem peso. Pode ser óptima noutros sectores, mas é uma entidade genérica. Aqui, pode produzir negociações e encontros, mas pouco mais.
O Estado, a mexer no mercado da gasolina, pode intervir em três cenários: reforçar a regulação sobre as petrolíferas; mexer nos impostos (IVA e ISP); ou regressar à fixação administrativa do preço. Vê mais hipóteses?
São, genericamente, essas três. Hoje, da minha perspectiva, o que o Estado pode fazer é mexer nos impostos. No resto não tem muita margem de manobra, porque envolve negociação com produtores. O mercado é livre e aberto, e um Governo, através do Estado, não pode penalizar produtores de sector nenhum. Nos impostos, e a questão é muito complexa, é que tem margem para mexer. Mas se o Estado arrecadar menos, terá também menos para aplicar nos seus cidadãos - se reduz imposto, reduz benefícios para os seus cidadãos. Depende do equilíbrio que queira ter, sendo que o Estado precisa de impostos para manter o estatuto e o estado social, e para sustentar a sua própria funcionalidade.
Que capacidade tem o Estado para negociar com as petrolíferas?
O seu poder negocial vem dos investimentos que fizer e permitir fazer em novas descobertas e extracções de petróleo. Veja o caso da Galp: deve remeter-se a ser intermediário refinador ou assumir o papel de um verdadeiro 'player' de extracção e distribuição? A Galp é um intermediário puro (compra, refina e vende), mas isso faz-nos ficar dependentes. Para ser um 'player' de mercado tem que capitalizar-se, internamente e externamente, e investir muito. E o retorno, pelas médias do mercado de extracção, só chega em 10, 12 anos.
A curto prazo vai haver escassez de petróleo. É preocupante para Portugal?
Há já taxas de esgotamento enormes, a curto prazo vai haver escassez a sério. Mas nós nunca passaremos por situações difíceis: primeiro porque, a nível global, somos um pequeno consumidor; e, depois, porque temos diversidade de fornecedores, temos abastecimento diplomaticamente garantido.
Onde devemos ter parceiros preferenciais: nos novos lençóis do Brasil ou na Venezuela, que tem a gasolina mais barata do Mundo?
Há muitos mercados ávidos de novos parceiros - isso nunca será problema. A qualidade da Venezuela é questionável, mas está ávida, como o Brasil está ávido, como está a Nigéria, a Rússia... O Brasil será sempre mais interessante, historicamente, culturalmente. O que é preciso é recursos e, depois, saber quem os paga.
José Manuel Gaspar
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terça-feira, 12 de agosto de 2008
"Petróleo é o grande motivo do braço-de-ferro entre Rússia e Geórgia», diz especialista em geopolítica do petróleo (TSF - 11.08.2008)
Publicada por José Caleia Rodrigues à(s) 14:49O especialista em geopolítica do petróleo, Caleia Rodrigues, considera o conflito no Cáucaso um conflito económico, e diz que o risco no corte de abastecimento de petróleo para a Europa é real.
Há agora o receio de que este conflito tenha como consequência para a Europa, a interrupção no abastecimento de petróleo.
O especialista em geopolítica do petróleo, Caleia Rodrigues, reconhece que, desta vez, o mercado tem razões para estar nervoso, até porque o risco de corte no abastecimento é mesmo real.
Caleia Rodrigues alerta que este é um «risco efectivo», sublinhando que este é mais do que um conflito geopolítico, é um conflito económico, ainda que escondido.
Caleia Rodrigues acrescenta que o petróleo é o grande motivo do braço-de-ferro entre a Rússia e a Geórgia.
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quarta-feira, 6 de agosto de 2008
Combustíveis voltam a baixar (Rádio Clube Português, 6.Agosto.2008)
Publicada por José Caleia Rodrigues à(s) 10:44A cotação do barril de Brent abriu hoje a 117,25 dólares no mercado de Londres. São menos 45 cêntimos do que no fecho de ontem, no mercado que serve de referência Portugal.Depois da Galp, hoje, a BP e a Repsol baixaram também os preços dos combustíveis. Na BP o gasóleo está 2 cêntimos mais barato e o preço da gasolina tem menos 1 cêntimo. Na Repsol o gasóleo baixou 2,5 cêntimos e a gasolina meio cêntimo.
Caleia Rodrigues, especialista em questões energéticas, defende que esta descida é sazonal e normal nesta altura do ano.
Rádio Clube Português
Economia - 06-08-2008
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Barril de petróleo atinge hoje o valor mais baixo dos últimos três meses (Rádio clube Português, 5.Agosto.2008)
Publicada por José Caleia Rodrigues à(s) 10:32O barril de petróleo chegou hoje ao valor mais baixo dos últimos três meses.
Caleia Rodrigues diz que a descida dos preços é sazonal.
O especialista em petróleo diz que normalmente os preços caem durante o Verão, porque há menos consumo para aquecimento e indústria e lembra que os problemas estruturais da indústria que não satisfazem a oferta, continuam por resolver.
O especialista lembra que apesar do abrandamento económico na Europa e nos Estados Unidos, as economias asiáticas continuam a crescer e a aumentar o consumo.
Caleia Rodrigues acredita que o preço pode chegar aos 150 dólares em Novembro.
Rádio Clube Português
Economia - 05-08-2008
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terça-feira, 8 de julho de 2008
Produtores de petróleo sem «margem» para aumentar produção, diz especialista (TSF, 8.Julho.2008, 11:09)
Publicada por José Caleia Rodrigues à(s) 14:00José Caleia Rodrigues diz que os produtores de petróleo não têm margem de manobra para aumentar a produção
José Caleia Rodrigues alertou que os produtores de petróleo não «têm margem de manobra» para aumentar a produção, como solicitado pelo G8. Para o especialista, os líderes dos oito países deveriam ter sugerido a diminuição do consumo.
José Caleia Rodrigues, consultor e analista na área do petróleo, alertou, esta terça-feira, que «aparentemente» os produtores de petróleo não «têm margem de manobra» para aumentar a produção de petróleo, como solicitado pelos países do G8.
Em declarações à TSF, o especialista alertou que «qualquer aumento de extracção de petróleo corresponde a investimentos astronómicos», sendo que se o caminho for esse «todos teremos de pagar».
«O petróleo das grandes bolsas que estão a ser extraídas há mais de 50 anos estão com taxas de esgotamento enormes, daí que qualquer aumento de extracção corresponde a investimentos astronómicos», reforçou.
O analista adiantou que apenas a Rússia tem aumentado «um pouco» a produção, porque «parece que tem uma técnica que ainda não é utilizada por outros na extracção de grande profundidade (deep waters)(deep depth)».
José Caleia Rodrigues defendeu que o apelo dos países do G8 deveria ser sido para um «menor consumo» dos recursos petrolíferos.
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domingo, 11 de maio de 2008
Crise? Qual crise?
José Caleia Rodrigues acaba de publicar o livro: «Petróleo: Qual Crise? – China e Rússia estão a esmagar o orgulho Ocidental» onde responde a algumas questões pertinentes sobre o futuro das nações que não têm recursos naturais de petróleo e que o têm de pagar.
Por: Pedro Costa Coelho
No momento em que o preço de petróleo sobe, semana após semana, e que a questão energética volta a estar na ordem do dia, quisemos saber algumas das ideias de um dos especialistas de geopolítica e energia sobre a suposta crise petrolífera e como teremos de enfrentar o futuro.
Quem vê pela primeira vez o seu livro depara-se com uma frase destacada e que diz «reveja a sua forma de vida». Como é que devemos rever a nossa forma de vida, estando tão dependentes do petróleo e aparentemente sem alternativas?
Essa frase é na sequência de uma anterior: «China e Rússia estão a esmagar o orgulho Ocidental». Mas, claro, é uma frase alerta. Nós somos «petro gastadores», esbanjadores.
Apesar do que vou dizer ser mais do domínio da sociologia, julgo que faz sentido dizer que se constitui esta vida social porque o petróleo tinha um valor reduzido e as pessoas habituaram-se a utilizar o petróleo de uma forma pouco realista.
Está a referir-se à nossa forma de vida, ao uso excessivo das viaturas particulares.
Sim, entre outras. Nós utilizamos o carro, nalguns casos as famílias utilizam até dois carros, porque nos habituámos a isso sem pensar muito. É que consumimos o petróleo da seguinte forma: 60% para transportes e 40% para energia. Temos, portanto, que pensar em alternativas que nos façam poupar a factura diária e fazer um esforço muito grande pois andámos muitos anos sem tomar decisões.
Curiosamente, ainda há pouco tempo, ouvi um dos especialistas nacionais sobre energia defender que as pessoas deveriam organizar-se em pequenas comunidades para que um só carro servisse para três ou quatro pessoas e assim se evitasse vermos carros apenas com um condutor. Parece-lhe viável, na forma em que a sociedade portuguesa urbana actual está organizada?
Pois, eu também já falei nesse assunto. No meu tempo, por exemplo, tudo girava à volta de comunidades pequenas. Eu andava numa escola ao pé de casa e nunca ninguém me levava à escola, como é evidente. Inclusive construíam-se indústrias e bairros confinadas a espaços delimitados para que a mobilidade fosse fácil e eficiente.
Depois entrou-se nesta fúria da construção e dos automóveis tendo com premissa o petróleo barato.
E isso é apenas à nossa escala, de Portugal. Quando se transporta o mesmo exemplo para o resto do mundo as coisas tomam uma proporção enorme.
Mas olhe que uma boa parte do mundo vai viver muito bem. E outra, muito mal.
Essa é a questão que levanta no seu livro. Qual é a sua opinião, então?
A partir de 1962 a Europa deveria ter pensado que ou passava a ter «juízo» ou desaparecia do mapa. É que a Europa andou em guerras constantes a destruir o que tinha e o que não tinha e depois, a partir de 1962, com aquela resolução da ONU sobre a soberania permanente dos recursos naturais ficou decidido que são os povos que têm os recursos os únicos donos desses recursos.
Mas isso, em teoria, não está incorrecto…
Mas a Europa deveria, nessa altura e quando deram as independências políticas a alguns países, ter percebido que se tinha acabado os recursos dos outros. E que se os quiserem têm de pagar. Esse foi o primeiro passo para esta situação.
Como é que se poderia ter equilibrado a questão política – as independências dos países – e a questão da localização geográfica dos recursos?
O que eu digo é que a partir dessa altura teríamos de viver o futuro com o que se tem e não com aquilo que os outros têm. Deveríamos ter organizado a vida nesse sentido.
Mas, por exemplo, os Estados Unidos apesar de terem recursos próprios também vivem dos tais recursos dos outros.
Os Estados Unidos, primeiro, são estados que se uniram. E que se uniram através da guerra. Não foi uma decisão de braço no ar. Mas os Estados Unidos têm um forte mercado interno de consumo e de recursos naturais. Porém, essas coisas esgotam-se e têm que ir aos recursos dos outros.
A pagar…
Mas mesmo pagando têm que defender a compra. Analisemos o presente: há situações que vão com certeza conduzir a grandes alterações políticas. Quando eu escrevo aí na capa que a China e a Rússia estão a esmagar o orgulho Ocidental quero dizer que nós tivemos um período nos últimos 20 anos do século XX em que havia os «nic’s», os novos países industrializados. Agora, temos os «bric’s», ou seja, Brasil, Rússia, Índia e China que são os países emergentes do século XXI.
Sendo que a Índia e a China serão as próximas potências económicas daqui muito pouco tempo…
Exacto. Os analistas dizem mesmo que a China será maior potência mundial dentro de 15 anos. Repare: a China tem uma população de mil e trezentos milhões de habitantes e nos últimos 20 anos cresceu 32%. A Índia que tem, actualmente, mil e cem milhões de habitantes cresceu 57% em vinte anos.
Ora, a China que tem um deficit de 3 milhões de barris de petróleo, o que estrangula um bocado a economia e apesar do crescimento económico de dois dígitos, quer continuar a crescer economicamente e precisa do petróleo.
E como entra a Rússia?
Como se sabe, a Rússia e a China eram adversários ou inimigos políticos até há pouco tempo. Com esta nova classe política e depois de uma enorme controvérsia na Rússia, decidiram que o melhor era darem-se bem e assim surgiu a construção de oleoduto para fornecer à China 2,5 milhões de barris com um ramal para o Japão. Ou seja, a China passa a ter todos os ingredientes para assegurar a competitividade do crescimento económico.
É um oleoduto «politicamente» estratégico…
É um oleoduto com 4 mil quilómetros, que custa 17 milhões de dólares e que faz pender a balança da influência para o outro lado do planeta.
E os Estados Unidos de fora dessa balança…
Ainda sobre os Estados Unidos: eles estão a importar 9,5 milhões de barris por dia. Com os custos a que está isso dá um valor de 665 milhões de dólares diários. Se acrescentarmos o custo de importação de gás, os Estados Unidos estão a importar hidrocarbonetos no valor de 700 milhões de dólares por dia.
E a Rússia a vender…
Pois é. A Rússia está a receber, por dia, 328 milhões de dólares.
Mas os Estados Unidos ainda têm outro problema, se assim se pode chamar. É que para assegurar a compra desses hidrocarbonetos no valor de 700 milhões de dólares tem que ter uma força militar enorme para proteger as origens. O que deverá custar outro tanto. Enquanto a Rússia não gasta um cêntimo, pelo contrário. O oleoduto que a vai ligar à China e ao Japão é pago por esses dois países e alguns privados.
É uma situação de desequilíbrio entre a Rússia e os Estados Unidos.
De desequilíbrio muito grande. Com a Rússia a permitir o desenvolvimento sustentado da China e, assim, com o eixo do poder a desviar-se para a China e Rússia.
Em relação a Portugal e uma vez que não temos recursos naturais de petróleo, temos que investir nas chamadas energias renováveis? Estamos, nesse sentido, numa situação privilegiada?
Nós estamos numa posição muito boa pois temos água, sol e vento, e tudo mais ou menos de uma forma equilibrada. Portanto, há que aproveitar e investir nessas energias renováveis e alternativas para que possamos baixar, por muito pouco que seja, a nossa factura com o petróleo.
E a energia nuclear? Não temos que equacionar essa hipótese?
Equacionar, talvez. Mas antes de mais temos que ter a preocupação de defender o ambiente. Vejamos: grande parte da chuva de Chernobyl foi para ao Árctico; grande parte das reciclagens nas nucleares europeias vai parar ao Árctico. A calote de gelo do Árctico, que há 30 anos tinha uma espessura média de 3,40 metros, tinha há poucos anos 1,40 metros. É demais. E perigoso.
E o petróleo que é explorado no Árctico?
Parece-me irreversível que os Estados Unidos e a Rússia continuem a retirar o petróleo do Árctico. Completamente irreversível.
Então o que podemos fazer, uma vez que a nuclear acarreta uma série de inconvenientes?
Devemos organizar a nossa vida de outra forma, de maneira a vivermos com o que temos. Esta dependência do petróleo tem que ser corrigida. Nós importamos 6 milhões de barris por ano. Com o barril a 70 dólares são 7 mil milhões de dólares. De cada vez que o petróleo sobe dez dólares não pagamos mais mil milhões de dólares. Até quando é que nós vamos poder pagar?
Caixa
Mega-investimentos requeridos
Perante a escassez de reservas comprovadas de petróleo bruto convencional e da capacidade de refinação disponível, é feito apelo a novo e substancial investimento no sector.
A não se realizarem investimentos de grande envergadura, envolvendo sectores a montante e a jusante, a produção mundial no ano 2020 será sensivelmente a mesma que se obtinha em 1980.
Porém, a população mundial atingirá quantidade aproximadamente dupla e muito mais industrializada, logo mais dependente do petróleo, do que em 1980. Portanto, a procura mundial por petróleo, ultrapassará largamente o seu ritmo de aumento de produção. Numa situação destas, os preços continuarão a subir incessantemente e as economias dependentes do petróleo para o seu desenvolvimento sustentado implodirão com os consequentes potenciais riscos de confrontações violentas.
Os efeitos consequentes de uma pequena quebra na produção produzem efeitos devastadores. Lembremo-nos que, durante os choques petrolíferos da década de 70, a redução da produção atingiu apenas os 5 por cento, causando a quadruplicação dos preços do petróleo convencional. Afortunadamente, a catapultagem desses preços foi temporária e passageira. Por isso foram chamados “choques”.
Segundo as estimativas de muitos analistas, o inevitável decréscimo de produção poderá atingir uma taxa de 8 por cento anuais, Outros até predizem reduções da ordem dos 10 a 13 por cento. Grande parte dos petrofísicos expressam a opinião de que o ano 2007 será o último ano da bonança do petróleo barato, o que conduzirá a uma maior escassez de combustíveis e a um severo aumento de bloqueamentos a começar entre 2008 e 2012.
As chamadas “alternativas” ao petróleo podem ser consideradas, de facto, actualmente como “derivativas”. Sem abundante e seguro abastecimento de petróleo, não parece ser possível alcançar estas alternativas em grau suficiente que energize rapidamente o mundo moderno.
Recordemos que, após uma primeira informação de possibilidade de existência de nova bolsa petrolífera, só as análises sísmicas que permitem determinar a estrutura dos jazigos (rochas-reservatório), quer em quantidade extraível quer em qualidade (densidade, taxas de enxofre, etc.), atingem encargos de não poucos milhões de dólares. Note-se que, actualmente, já se estão a realizar extracções a mais de 3 mil metros de profundidade.
A globalização da economia e a internacionalização das empresas, também poderá ter contribuído para o agravamento do consumo global de combustíveis, dado que os produtos percorrem grandes distâncias desde os locais de produção até chegarem aos mercados consumidores. Daí o recurso à deslocalização dos centros de produção para inserção em locais mais próximos dos consumidores finais.
À guisa do realce da urgência da implementação de novos desenvolvimentos, devemos salientar que são precisos, pelo menos, 12 anos desde a tomada de decisão até à obtenção de taxas correntes de produção a partir do petróleo pesado ou dos xistos betuminosos. Não considerando tempos de revisão do projecto para adaptação às constantes alterações das exigências ambientais a cumprir. Na mesma ordem de ideias, são precisos 15 anos para a aprovação e construção de uma refinaria de processamento de petróleo pesado, mesmo tendo em conta um conhecimento tecnológico disponível e um perfeito respeito pelas normas ambientais. Apesar das esperanças postas no petróleo pesado e extra-pesado, deve ter-se em consideração que só apresentam soluções de satisfação a médio-prazo.
Insuficiente capacidade de refinação
O sector da indústria de refinação encontra-se em fase de transição, após ter sido sujeito a um longo período de redução real da sua capacidade.
O consumo manteve a tendência altista, ajudando a suportar o aumento do nível de actividade económica. O consumo aumentou, mas a capacidade de refinação viu-se reduzida. Constata-se, actualmente, uma crescente necessidade de capacidade adicional de refinação. Esta foi, pura e simplesmente, ajustada aos novos níveis de procura do produto que se seguiram aos choques dos preços e conduziram aos consequentes ajustamentos políticos e económicos.
As condições da indústria de refinação foram muito favoráveis durante vários anos. Durante os dois anos que se seguiram ao conflito do Golfo Pérsico, os custos foram facilmente previsíveis, dado que os preços do crude se mantiveram relativamente estáveis. Logo, quando os preços voltaram a cair, os custos do abastecimento baixaram e aumentaram as margens. Porém, a procura continuou a aumentar dinamizada pela expansão económica, particularmente nos países em desenvolvimento.
A indústria refinadora encontra-se perante a evidente necessidade de satisfazer as novas exigências do mercado e de encontrar adequadas localizações para novas instalações.
Dado que a construção de capacidade adicional exige elevados custos financeiros, é crítico que os planos de expansão cumpram a capacidade requerida e o tempo em que decorram.
A localização de novas unidades também apresenta questões críticas, tendo em atenção que grande parte das localizações consideradas adequadas estão sujeitas a regulamentações ambientais muito severas que as tornam muito onerosas e exigem muito tempo para conseguir alcançar a desejada e requerida capacidade adicional. Os maiores desafios continuam a estar situados no sector a jusante da cadeia produtiva. A crescente preocupação posta nas questões ambientais conduziram a uma proliferação de novas regras e regulamentações que exercem uma muito elevada pressão nas operações a jusante. Porém, o cumprimento das novas regras requer grandes investimentos. Acresce a necessidade de resposta à igualmente crescente procura de um conjunto muito diversificado de produtos refinados. É perfeitamente compreensível que o desenvolvimento do sector a jusante se tenha tornado muito difícil de perspectivar.
Espera-se que se operem, entretanto, alterações e ajustamentos significativos no sector a jusante. O aumento da procura choca com a particularidade das preocupações ambientais. A localização da necessária adicional capacidade de refinação que satisfaça o incessante aumento da procura, constituirá a maior preocupação no próximo futuro.
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terça-feira, 4 de março de 2008
O medo fez subir os preços (Público "Discurso Directo", Entrevista, 8.Maio.2006)
Publicada por José Caleia Rodrigues à(s) 17:53
Em que medida a subida do preço do petróleo nos últimos dois anos não é mais um choque petrolífero, como aqueles verificados em 1973 ou 1979-80?
O petróleo já sobe desde 1998, há seis anos. De 1998 para 2000, o preço duplicou. De 2000 para 2004, subiu mais de 60 por cento. Do meu ponto de vista não estamos a atravessar uma crise como a de 1973, uma vez que, por definição, as crises são passageiras. Não podemos falar de uma crise porque não há uma rotura de abastecimento do mercado, este está a ser perfeitamente abastecido. No sector do petróleo existem, sim, constrangimentos fortíssimos, que podem e vão ser ultrapassados. O mercado é que tem factores exógenos que provocam todas estas variações. O petróleo, porque é um produto estratégico, está sujeito à pressão de vários factores, nomeadamente geopolíticos. Hoje, por exemplo, porque pode vir a acontecer um conflito entre dois países [Estados Unidos da América e Irão], o mercado entrou numa situação de pânico. Se só há constrangimentos no sector, se o petróleo continua a fluir, se o custo de transporte por oleoduto não está indexado à procura (é um custo fixo), se nada disso acontece os preços subiram por medo daquilo que possa vir a acontecer, não por razões ligadas ao sector.
Mas estes acontecimentos exteriores têm um grande impacto porque, do lado da oferta, o mercado percebe que o sector está muito pressionado...
Sim, o sector está muito apertado devido a vários constrangimentos, mas o petróleo bruto convencional ou petróleo leve [mais fácil de extrair e refinar] não está em extinção, embora as reservas estejam a diminuir substancialmente. Desde a Pensilvânia e Baku [locais das primeiras descobertas de petróleo, nos EUA e no Cazaquistão respectivamente], ou seja, nos últimos 125 anos, consumiu-se um trilião de barris. Nos próximos 35 anos vamos consumir outro trilião de barris, até à extinção. De reservas comprovadas temos petróleo convencional por mais 50 a 60 anos.
Quais são esses “constrangimentos” que pressionam o sector?
Como constrangimentos temos um longo período de muito baixo investimento, em novas descobertas, em extracção, em transporte e, sobretudo, em refinação. Só para inventariação de uma nova concessão, com ensaios sísmicos, já se gastam uns milhões de dólares. A extracção é feita muitas vezes em regiões sem segurança o que obriga as empresas petrolíferas a fazer a sua própria segurança. Depois, temos o pouco investimento em transporte. Um oleoduto tem custos por quilómetro equivalentes a uma auto-estrada, são biliões de dólares para transportar o petróleo por milhares de quilómetros. Por fim, há fortíssimos constrangimentos na refinação. Mesmo que queira aumentar a entrega de petróleo ao mercado, a capacidade de refinação instalada está hoje muito próxima da entrega total ao mercado, funcionando como um estrangulamento. Enquanto em 1982 estava a produzir à volta de 60 milhões de barris diários e tinha uma capacidade instalada no mundo para 80 milhões, hoje a produção chegou perto dos 80 milhões e a capacidade não aumentou. Temos, assim, constrangimentos do lado da oferta e, por outro lado, uma procura incessante.
O que é que explica esta ausência de investimento na capacidade de refinação?
Na refinação há dois tipos de causas, o ambiente e (?...). Mas, o factor principal é o ambiente. Hoje, para instalar uma refinaria no mundo as coisas são complexas. Em 1982, os Estados Unidos tinham cerca de 320 refinarias, hoje têm 150, têm menos produção. E as refinarias existentes estão no limite da sua capacidade, logo não podem suportar aumentos de produção.
Faz parte do grupo dos pessimistas que advogam a teoria do apocalipse com o esgotamento do petróleo, conhecida por “peak oil”?
Sou contra. Porque é um exercício matemático muito interessante e apenas isso. Pode prever-se um esgotamento em 50 anos do petróleo leve, que até poderá esgotar-se em 30 ou 35 anos, mas temos ainda o recurso ao petróleo pesado, que será inesgotável por umas centenas de anos. Por outro lado, em aplicações em que não sejam absolutamente exigíveis os combustíveis fósseis, nós podemos ter recurso a electricidade a partir de outras fontes energéticas. O “peak oil” é um exercício de pessimismo alarmista.
Enquanto cartel, a OPEP mantém o seu poder de mercado intacto, mesmo com a emergência de novos países produtores à margem da organização, como a Rússia?
A OPEP ainda produz 50 e tal milhões de barris diários e as reservas comprovadas darão para quase 70 anos. Mas, precisam de grandes investimentos para conseguir mais produção. A OPEP não tem hoje a força que tinha não só porque a Rússia entrou no mercado com muita força, mas porque, quando falamos de OPEP, estamos a falar de petróleo leve. Pelo lado do petróleo pesado é que as coisas irão mudar. As reservas russas em petróleo leve e a Venezuela e o Canadá no petróleo pesado serão os players do futuro e é com esses que tem que se contar. Na Venezuela já estão as principais petrolíferas mundiais.
Mas esse é o petróleo pesado, é mais caro de extrair e de refinar...
Quando digo que a Venezuela será um player do futuro é porque a faixa do rio Orinoco, que tem uma dimensão à volta de dois terços do nosso país, tem reservas imensas. A extracção é mais cara porque exige injecção de vapor de água, o que na situação da Venezuela é o melhor que lhe poderia ter acontecido. Primeiro porque tem no rio Orinoco água com fartura. Depois, porque tem a mega-barragem do Guri, com energia eléctrica que chega e sobra, de origem gratuita, para injectar o vapor e vender o seu petróleo. Está na melhor posição do mundo para, no futuro, para dominar o mercado. À medida que o tempo passa, o petróleo leve terá dificuldades e cada vez mais o pesado irá ser utilizado. Mas, não será nunca uma alternativa mais barata. A alternativa com um método de extracção mais caro não irá fazer baixar o preço, irá sim continuar a fazê-lo subir. É essa a tendência de longo prazo.
As inovações tecnológicas na indústria petrolífera, ao nível da extracção e produção de combustíveis, poderão suavizar o declínio das reservas petrolíferas hoje conhecidas?
O consumo de petróleo divide-se em 60 por cento para transportes e 40 por cento para produção de energia eléctrica e para a indústria. O que tem vindo a ser feito em termos de inovação é trabalhar nos 40 por cento, uma vez que a produção de energia eléctrica pode ser feita sem recurso ao petróleo. Mas, a extracção do petróleo leve é cada vez mais cara e traz problemas ambientais. O Árctico é hoje um grande depósito de petróleo, mas a extracção, que já está a ser feita, tem riscos ambientais e custos elevados. A questão é que não devemos tocar no Árctico. Só a circulação de veículos já é suficiente para causar danos ambientais, dizem os ambientalistas. A calote de gelo do Árctico era de 3,10 m de espessura média há trinta e poucos anos e está nos 1,9 m. É uma zona muito sensível.
Para produção de electricidade, a energia nuclear é uma hipótese...
Pode ser nuclear ou eólica. A nuclear tem os seus riscos, mas nós temos na Europa Ocidental 146 reactores. Só na Bélgica há sete, a França tem 59, o Reino Unido tem 31, a Alemanha tem 19 e a Espanha tem nove. É uma alternativa possível. A eólica é aquela pela qual os portugueses enveredaram e, quanto a mim, muito bem, para reduzir o peso do petróleo na produção de electricidade. Pelos números que me chegaram, nós duplicamos num ano a capacidade eólica instalada, estando hoje Portugal classificado em 11º no ranking mundial, com a Alemanha e a Espanha à cabeça. É por aí que podemos trabalhar para reduzir a dependência nos 40 por cento de petróleo consumidos “extra transportes”.
Portugal tem andado desatento em termos de política energética? Que razões encontra para a ausência de uma estratégia nacional nos últimos anos num sector tão importante como o da energia?
Andámos adormecidos a pensar noutras coisas. Quando nós temos um produto de que dispomos e supomos que não há problema com ele, distraímo-nos. Mas deveríamos ter estado atentos ao choque petrolífero de 1973. Pela leitura do que nos aconteceu nessa altura, com o embargo, as coisas poderiam ter sido tratadas de outra maneira, com mais atenção. Eu estive em missão na África do Sul e tive ocasião de constatar como este país resolveu a sua situação de dependência. Em 1973, ainda tinham o Irão como aliado, uma vez que o xá Reza Pahlevi era muito amigo dos sul-africanos e continuava a abastecê-los. Porém, mesmo antes de 73, a África do Sul já havia previsto que alguma perturbação poderia acontecer e optaram por uma alternativa. Como dispunham de quantidades de carvão enormes, adoptaram um sistema para sintetização do carvão e produção de combustíveis sintéticos, para agregar à gasolina. Em qualquer altura têm o país salvo com esse recurso e, na crise de 1979, foi isso mesmo que aconteceu. Eles seguiram por este rumo e outros decidiram de outra forma, pelo nuclear. Nós, por outro lado, não temos pensado muito nisso. E isto são problemas que se resolvem apenas a longo prazo, os resultados não são imediatos. Se fizer agora investimento no que quer que seja, só daqui a 15 anos é que vai ter o resultado. O que estamos a fazer nas eólicas é óptimo. A produção de energia eléctrica através da energia eólica em Portugal em 1995 era zero e, em 2004, já representava cinco por cento. Prefiro a eólica à solar é porque pela eólica nós podemos produzir grandes quantidades de electricidade, enquanto a solar nos permite abastecer casa a casa. A produção de energia hídrica é que baixou. Nós temos sol, temos vento, temos água e cada país deve recorrer ao que tem. Usar os recursos dos outros... podemos pagar, mas ficamos muito dependentes.
A China e a Índia são realmente os “maus da fita”, responsáveis pelo aumento cada vez maior da procura de petróleo?
A China e a Índia representam mais de metade da população mundial e são países com quem se deve ter um bom relacionamento. Não são os “maus da fita”, trata-se apenas de estratégias económicas e geopolíticas. Os EUA consomem cerca de um quarto do petróleo mundial e importam dois terços do que consomem. No meu ponto de vista, o fiel da balança de poder está a desviar-se para o eixo Sino-Russo. Enquanto os russos e os chineses se olhavam de lado, a China desenvolveu-se pelos seus próprios meios. Mas hoje, para continuar o seu desenvolvimento económico, a China tem um défice de cerca de três milhões de barris diários. A negociação para o abastecimento à China e ao Japão (com a Índia as coisas ainda não estão completamente resolvidas) levou 12 anos a ser concluída. Em Janeiro deste ano, o presidente Putin garantiu um oleoduto à China, com um desvio para o mar do Japão. Abastece a China e o Japão, cumprindo a quase totalidade das necessidades chinesas e uma parte mais pequena das japonesas. Graças à Rússia, a China tem hoje todas as condições necessárias para garantir o desenvolvimento económico continuado. Este novo eixo está a sobrepor-se, em interesse, aos países ditos industrializados, que estão a ser relegados para segundo plano.
O que explica uma das chamadas de capa do seu livro, segundo a qual “China e Rússia estão a esmagar o orgulho ocidental”...
A Rússia tem uma capacidade instalada que lhe permite aumentar a produção, ao contrário da Arábia Saudita que tem a capacidade de extracção esgotada (só com novos investimentos é que pode aumentar a produção). O grande desequilíbrio quando falava em Rússia e EUA é que os EUA importam mais de nove milhões de barris diários, enquanto a Rússia exporta quatro milhões, sem ter ainda começado a fornecer à China. Quando dizemos que os EUA importam diariamente nove milhões de barris, estamos a falar de 630 milhões de dólares diários. Em contrapartida a Rússia exporta 300 milhões de dólares diários. Além disso, a extracção suplementar de petróleo para a China e para o Japão, assim como os oleodutos, são financiados pelo Japão e pela China, com pouco investimento russo. Os americanos, por outro lado, para garantir o fornecimento ainda têm que pagar a segurança. Ou seja, os custos para os EUA e os benefícios para a Rússia e China têm todos os ingredientes para que a balança de poder se altere, não pela força mas pela economia.
Como vê a cada vez maior influência, em termos energéticos, da Rússia sobre a União Europeia (UE)?
A União Europeia não tem uma política comum. No mosaico de países que constituem a Europa Ocidental, cada um tem o seu problema para resolver. A Grã-Bretanha é auto-suficiente e exporta, assim como a Dinamarca, a Noruega (que é o terceiro produtor mundial). Estes três países estão muito bem. Quando a Rússia fizer alguma pressão serão eventualmente os alemães, que pretendiam um abastecimento russo directo, os mais prejudicados. Nas outras áreas, cada um vai fazendo o que pode. O problema não é global na Europa, cada um tem o seu problema. Uns têm petróleo, outros resolveram por outra via e outros não fizeram coisa nenhuma e esses estão com mais dificuldades.
Tendo em conta que a energia passou a ser uma questão de segurança nacional, e que os EUA já discutem a criação de uma “proto-NATO” para a energia, não é de estranhar o silêncio da União Europeia sobre este assunto?
As discussões no seio da UE são uma coisa muito complexa. Em 2004, a UE produziu 2,5 milhões e consumiu 14,5 milhões e meio – teve 12 milhões barris diários de défice. Em gás natural tiveram 255 biliões de metros cúbicos de gás. Mas, nestes números, tem a Dinamarca e o Reino Unido sem problemas. Cada um tem as suas vantagens e dificuldades específicas e vai ser difícil chegar a acordo por causa disso, é uma área muito sensível. Os EUA são estados unidos, criaram-se com várias guerras, entenderam-se e têm um governo central que fala por eles. A UE é um convénio, entenderam prescindir de alguma soberania e conseguir um mercado comum. Depois, os EUA podem ter muito mais urgência que os europeus para agir desta forma, porque importam cerca de 24 por cento da quota mundial de petróleo. Eles têm um problema efectivo, o problema deles é grave. Não só pelo que têm que pagar pelas importações, mas também porque são quem paga pela segurança do abastecimento.
Para caixa:
Qual será a factura a pagar por Portugal?
As coisas não se resolvem num ano. Tem sido feitos investimentos em concessões, quer na petrolífera nacional, quer na outra privada. Nós há quatro anos pagámos metade do que pagámos este ano, pela mesma quantidade. Em 2002, 2,2 milhões de euros e em 2005 quase quatro mil milhões de euros por ano. São vários TGV’s cada ano. E são os consumidores que vão pagar. Quem investe tem de ser remunerado e é por aí, pelo lado do consumidor, que será remunerado.
Numa das chamadas de capa do seu livro lê-se “Reveja o seu Modo de Vida”. Em que medida o aumento do preço do petróleo vai obrigar a essa revisão dos hábitos de consumo?
A educação, a indução de informação leva algum tempo. Quando os preços dos produtos atingem determinados níveis que nós não podemos pagar, nós engendramos uma forma de resolver a situação. A dificuldade desenvolve o génio. Quando falamos de energia e falamos numa alternativa, os transportes públicos podem ser com energia de origem eléctrica (metro e comboios). Agora, o que fazer, como orientar, são coisas de sociologia. Eu aí só posso pensar o que faria. A nossa estrutura de vida está com pessoas a viverem a 50 ou 60 quilómetros do local de trabalho. Vai ser difícil manter uma situação dessas. Vai ser penoso.
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Portugal poderá não conseguir suportar os custos do petróleo (Diário de Notícias, 17.Maio.2006)
Publicada por José Caleia Rodrigues à(s) 17:36"Portugal poderá não conseguir suportar os custos do petróleo"
Porque o que assistimos hoje, sem olhar para a questão geopolítica, é a uma tendência para o esgotamento das reservas petrolíferas existentes no mundo e a um disparar do consumo, sobretudo nas economias emergentes.
Portanto, não há nenhuma crise. É uma situação estrutural que vai continuar. Além disso, houve um largo período em que não se fizeram grandes investimentos na área petrolífera, quer na área da refinação, que não cresceu sobretudo por problemas ambientais, quer em novas descobertas petrolíferas e no transporte, ou seja, em novos oleodutos. É preciso ver que há países que não exportam porque não têm um pipeline. Agora, para acompanhar o consumo, a indústria petrolífera vai precisar de fazer investimentos fabulosos e os consumidores vão pagá-los. Os preços nunca mais irão sofrer descidas significativas. Irão subir gradualmente e sem limite. Até porque quem tem recursos petrolíferos vai jogar com eles. E há os que querem vender o mais rapidamente possível, como é o caso de África. E outros, como a Arábia Saudita, que não têm pressas. Não. Isso não quer dizer que deixemos de ter petróleo nos próximos séculos. Quer dizer é que iremos pagá-lo bem caro. A barreira dos 100 dólares por barril poderá ser atingida muito rapidamente [na quinta-feira, o petróleo ultrapassou 70 dólares o barril, um novo recorde, por causa do agravar das tensões como Irão]. E quer dizer também que a Rússia e a Arábia Saudita, actuais líderes do mercado do petróleo bruto, vão ver os seus lugares ocupados no futuro pela Venezuela e pelo Canadá, que têm o petróleo pesado.
Do petróleo disponível no mundo, 30% é petróleo convencional, ou seja, o que consumimos hoje; 15% é petróleo pesado e 55% extrapesado. E a fatia de 15% está localizada, sobretudo, na Venezuela e no Canadá. Só que a extracção deste petróleo é muito mais cara. Na África ainda há algum petróleo por explorar, nomeadamente em Angola, Nigéria e São Tomé e Príncipe. É uma zona muito importante em termos estratégico para os EUA, porque está a 24 horas de barco. Mas as reservas existentes em África durarão mais umas décadas, enquanto o petróleo pesado do Canadá e da Venezuela dá para mais 200 anos. Depois, ainda há o petróleo leve do Árctico, mas a sua eventual exploração acarreta vários problemas, desde os ambientais aos técnicos. Num futuro próximo, os grandes players serão a Arábia Saudita e a Rússia, e depois a Venezuela e o Canadá. Nós não temos grandes recursos energéticos e temos uma economia débil, por isso devemos ter cautelas redobradas. Por um lado, porque estamos mais vulneráveis a um bloqueio nos fornecimentos, não tendo alternativas e uma elevada dependência do petróleo, e, por outro, porque podemos vir a não ter dinheiro para suportar o preço a que se vai chegar. O que me parece que aconteceu em Portugal foi que não houve investimento em áreas alternativas, nem tão-pouco na participação em blocos para garantir não só fornecimentos ao País mas também para ter mais-valias que nos permitissem compensar com ganhos do próprio petróleo os custos que vamos ter de suportar com ele.
Não. A UE não tem uma política comum em relação ao petróleo.
Mais de metade da sua vida profissional foi feita como gestor em empresas industriais em Portugal, Angola e Venezuela. Nestes dois últimos países, teve os primeiros contactos com o mundo do petróleo e os seus problemas. Mas foi como diplomata em Israel e na África do Sul que percebeu como se pode viver menos dependente dele. A experiência e o conhecimento levou-o a escrever em 2000 A Geopolítica do Petróleo, o primeiro livro sobre o assunto. Amanhã lança o segundo, Petróleo: Qual Crise?. Porque em sua opinião não há uma crise do petróleo, há problemas estruturais que vão fazer com que os preços subam "gradualmente, sem limite".
[17-04-2006] [ Ana Tomás Ribeiro, Diário de Notícias (on-line) ]
Etiquetas: Entrevista
Crise? Qual crise?
José Caleia Rodrigues acaba de publicar o livro: «Petróleo: Qual Crise?» onde responde a algumas questões pertinentes sobre o futuro das nações que não têm recursos naturais de petróleo e que o têm de pagar.
Por: Pedro Costa Coelho
No momento em que o preço de petróleo sobe, semana após semana, e que a questão energética volta a estar na ordem do dia, quisemos saber algumas das ideias de um dos especialistas de geopolítica e energia sobre a suposta crise petrolífera e como teremos de enfrentar o futuro.
Quem vê pela primeira vez o seu livro depara-se com uma frase destacada em que diz «reveja a sua forma de vida». Como é que devemos rever a nossa forma de vida, estando tão dependentes do petróleo e aparentemente sem alternativas?
Essa frase vem na sequência de uma anterior: «China e Rússia estão a esmagar o orgulho Ocidental». Mas, claro, é uma frase de alerta. Nós somos «petro glutões», esbanjadores.
Apesar do que lhe vou dizer caber no domínio da sociologia, que não é o meu, julgo que faz sentido afirmar que se constituiu esta organização social porque o petróleo tinha um valor quase residual e as pessoas habituaram-se a consumir o petróleo de uma forma pouco racional.
Está a referir-se à nossa forma de vida, ao uso excessivo das viaturas particulares.
Sim, entre outras. Nós utilizamos o carro, nalguns casos as famílias utilizam até dois carros, porque nos habituámos a isso sem pensar muito. É que o consumo do petróleo reparte-se da seguinte forma: 60% para transportes e 40% para indústria e geração de energia eléctrica. Temos, portanto, que pensar em alternativas que nos façam poupar a factura diária e fazer um esforço muito grande pois andámos muitos anos sem tomar decisões atempadas e adequadas.
Curiosamente, ainda há pouco tempo, ouvi um dos especialistas nacionais sobre energia defender que as pessoas deveriam organizar-se em pequenas comunidades para que um só carro servisse para três ou quatro pessoas e assim se evitasse vermos carros apenas com um condutor. Parece-lhe viável, na forma em que a sociedade portuguesa urbana actual está organizada?
Pois, eu também já falei nesse assunto. Em tempos idos, por exemplo, tudo girava à volta de comunidades pequenas. Eu andava numa escola ao pé de casa e nunca ninguém me levava à escola, como é evidente. Inclusive instalavam-se locais de trabalho e bairros confinados a espaços delimitados para que a mobilidade fosse fácil e eficiente.
Depois entrou-se nesta fúria da construção deslocalizada e dos transportes de longa distância tendo com suporte o petróleo barato.
E isso é apenas à nossa escala, de Portugal. Quando se transporta o mesmo exemplo para o resto do mundo as coisas tomam uma proporção enorme.
Mas olhe que uma boa parte do mundo que dispõe de vultosos recursos petrolíferos vai viver muito bem. A outra, muito mal.
Essa é a questão que levanta no seu livro. Qual é a sua opinião, então?
A partir de 1962 a Europa deveria ter pensado que ou passava a ter «juízo» ou desaparecia do mapa. É que a Europa andou em guerras constantes a destruir o que tinha e o que não tinha e depois, a partir de 1962, com a Resolução da ONU sobre a “Soberania Permanente dos Recursos Naturais” ficou decidido o direito dos povos e das nações à soberania permanente sobre as suas riquezas naturais, incluindo o direito à nacionalização ou à expropriação, se constituísse interesse nacional e contribuísse para o bem-estar das suas populações.
Mas isso, em teoria, não está incorrecto…
Mas a Europa deveria, nessa altura e quando justamente concederam a independência política às nações ocupadas, ter entendido que se tinha acabado a tomada grátis dos recursos dos outros. E que se os quiserem têm de pagar. Esse foi o primeiro passo para esta situação.
Como é que se poderia ter equilibrado a questão política – as independências dos países – e a questão da localização geográfica dos recursos?
O que eu digo é que a partir dessa altura teríamos que assumir passar a viver com o que se tem e não com aquilo que os outros têm. Deveríamos ter organizado a vida nesse sentido.
Mas, por exemplo, os Estados Unidos apesar de terem recursos próprios também vivem dos tais recursos dos outros.
Os Estados Unidos, primeiro, são estados que se uniram. E que se uniram pela via da força. Não foi uma decisão de braço no ar. Mas os Estados Unidos dispunham de um forte mercado interno de bens de consumo e de recursos naturais. Porém, essas coisas esgotam-se e têm que ir à procura dos recursos dos outros.
A pagar…
Mas mesmo pagando-os têm que defender a compra. Analisemos o presente: há situações que vão com certeza conduzir a grandes alterações políticas. Quando eu escrevo aí na capa que «a China e a Rússia estão a esmagar o orgulho Ocidental» quero dizer que nós tivemos um período nos últimos 20 anos do século XX em que havia os «nic’s», os novos países industrializados. Agora, temos os «bric’s», ou seja, Brasil, Rússia, Índia e China que são os países emergentes do século XXI.
Sendo que a Índia e a China serão as próximas potências económicas daqui a muito pouco tempo…
Exacto. Os analistas dizem mesmo que a China será maior potência mundial dentro de 15 anos. Repare: a China tem uma população de mil e trezentos milhões de habitantes que nos últimos 20 anos cresceu 32%. A Índia tem, actualmente, mil e cem milhões de habitantes. Cresceu 57% em vinte anos.
Ora, a China que tem um deficit diário de 3 milhões de barris de petróleo, o que lhe está a estrangular a continuidade do crescimento económico, actualmente na ordem dos dois dígitos, quer continuar a crescer economicamente e precisa de superar esse constrangimento.
E como entra a Rússia?
Como se sabe, a Rússia e a China eram adversários ou inimigos políticos até há pouco tempo. Com esta nova classe política e depois de uma enorme e longa controvérsia no Parlamento russo, decidiram que o melhor era darem-se bem e assim surgiu a construção de um oleoduto para fornecer à China 2,5 milhões de barris diários com um ramal para uma ajuda suplementar ao Japão. Ou seja, a China passa a ter todos os ingredientes para assegurar o seu crescimento económico continuado.
É um oleoduto «politicamente» estratégico…
É um oleoduto com 4 mil quilómetros de extensão, cuja construção irá ser inaugurada no início deste Verão, que vai custar 17 biliões de dólares e que irá contribuir para fazer pender a balança da influência política e económica para o outro lado do planeta.
E os Estados Unidos de fora dessa balança…
Ainda sobre os Estados Unidos: eles estão a importar 9,5 milhões de barris por dia. Aos preços actuais atinge um valor de 665 milhões de dólares diários. Se acrescentarmos o custo da importação do gás natural, os Estados Unidos estão a importar hidrocarbonetos no valor de 700 milhões de dólares cada dia que passa.
E a Rússia a vender…
Pois é. A Rússia está a receber, por dia, 328 milhões de dólares pelas suas exportações de hidrocarbonetos.
Mas os Estados Unidos ainda têm outro problema, se assim se pode chamar. É que para assegurar a compra desses hidrocarbonetos no valor de 700 milhões de dólares, têm que manter uma poderosa força militar que proteja as origens das suas compras. O que deverá custar outro tanto. Enquanto a Rússia não gasta um cêntimo, pelo contrário. O oleoduto que a vai abastecer a China e o Japão é financiado por estes dois países e algumas multinacionais do sector.
É uma situação de desequilíbrio entre a Rússia e os Estados Unidos.
De desequilíbrio muito grande. Com a Rússia a permitir o desenvolvimento sustentado da China e, assim, com o eixo do poder a deslocar-se para a China e Rússia.
Em relação a Portugal e uma vez que não temos recursos naturais de petróleo, temos que investir nas chamadas energias renováveis? Estamos, nesse sentido, numa situação privilegiada?
Nós estamos numa posição muito boa pois temos água, sol e vento, e tudo mais ou menos de uma forma constante e equilibrada. Portanto, há que aproveitar e investir nessas energias renováveis e alternativas para que possamos reduzir a nossa factura do petróleo. Sobretudo na geração de energia eléctrica que pode ser obtida por recurso a outras origens energéticas.
E a energia nuclear? Não temos que equacionar essa hipótese?
Equacionar, talvez. Mas antes de mais temos que ter a preocupação de defender o ambiente global. Apesar de já existirem na Europa ocidental 146 unidades de energia nuclear, instaladas nos mais diversos países. Vejamos: grande parte dos materiais radioactivos têm sido acumulados no Árctico, nomeadamente os resultantes do desastre de Chernobyl, testes de bombas nucleares e consequências do reprocessamento das centrais nucleares europeias. A dimensão da espessura da calote de gelo do Árctico determinada pelos submarinos americanos em 1950 era de 3,1 metros. As observadas por satélite na década de 1990 indicam uma espessura média de apenas 1,8 metros. É demais. E perigoso.
E o petróleo que é explorado no Árctico?
Parece-me irreversível que os Estados Unidos e a Rússia continuem a extrair o petróleo do Árctico. Apesar das pressões ambientalistas.
Então o que podemos fazer, uma vez que a nuclear acarreta uma série de inconvenientes?
Devemos organizar a nossa vida de outra forma, de maneira a vivermos com o que temos. Esta dependência do petróleo tem que ser minimizada. Nós importamos cerca de 100 milhões de barris por ano. Com o barril a 70 dólares são 7 mil milhões de dólares anuais. De cada vez que o petróleo sobe dez dólares pagamos mais mil milhões de dólares. Até quando é que nós vamos conseguir poder pagar aumentos dessa ordem de grandeza?
Caixas
Que preço terá que atingir o barril de petróleo para que comecem a fluir os mega-investimentos requeridos pelo sector?
Perante a escassez de reservas comprovadas de petróleo bruto convencional e da capacidade de refinação disponível, é feito apelo a novo e substancial investimento no sector.
A não se realizarem investimentos de grande envergadura, envolvendo sectores a montante e a jusante, a produção mundial no ano 2020 será sensivelmente a mesma que se obtinha em 1980.
Porém, a população mundial atingirá quantidade aproximadamente dupla e muito mais industrializada, logo mais dependente do petróleo, do que em 1980. Portanto, a procura mundial por petróleo, ultrapassará largamente o seu ritmo de aumento de produção. Numa situação destas, os preços continuarão a subir incessantemente e as economias dependentes do petróleo para o seu desenvolvimento sustentado implodirão com os consequentes potenciais riscos de confrontações violentas.
Os efeitos consequentes de uma pequena quebra na produção produzem efeitos devastadores. Lembremo-nos que, durante os choques petrolíferos da década de 70, a redução da produção atingiu apenas os 5 por cento, causando a quadruplicação dos preços do petróleo convencional. Afortunadamente, a catapultagem desses preços foi temporária e passageira. Por isso foram chamados “choques”.
Segundo as estimativas de muitos analistas, o inevitável decréscimo de produção poderá atingir uma taxa de 8 por cento anuais, Outros até predizem reduções da ordem dos 10 a 13 por cento. Grande parte dos petrofísicos expressam a opinião de que o ano 2007 será o último ano da bonança do petróleo barato, o que conduzirá a uma maior escassez de combustíveis e a um severo aumento de bloqueamentos a começar entre 2008 e 2012.
As chamadas “alternativas” ao petróleo podem ser consideradas, de facto, actualmente como “derivativas”. Sem abundante e seguro abastecimento de petróleo, não parece ser possível alcançar estas alternativas em grau suficiente que energize rapidamente o mundo moderno.
Recordemos que, após uma primeira informação de possibilidade de existência de nova bolsa petrolífera, só as análises sísmicas que permitem determinar a estrutura dos jazigos (rochas-reservatório), quer em quantidade extraível quer em qualidade (densidade, taxas de enxofre, etc.), atingem encargos de não poucos milhões de dólares. Note-se que, actualmente, já se estão a realizar extracções a mais de 3 mil metros de profundidade.
A globalização da economia e a internacionalização das empresas, também poderá ter contribuído para o agravamento do consumo global de combustíveis, dado que os produtos percorrem grandes distâncias desde os locais de produção até chegarem aos mercados consumidores. Daí o recurso à deslocalização dos centros de produção para inserção em locais mais próximos dos consumidores finais.
À guisa do realce da urgência da implementação de novos desenvolvimentos, devemos salientar que são precisos, pelo menos, 12 anos desde a tomada de decisão até à obtenção de taxas correntes de produção a partir do petróleo pesado ou dos xistos betuminosos. Não considerando tempos de revisão do projecto para adaptação às constantes alterações das exigências ambientais a cumprir. Na mesma ordem de ideias, têm sido precisos 15 anos para a aprovação e construção de uma refinaria de processamento de petróleo pesado, mesmo tendo em conta um conhecimento tecnológico disponível e um perfeito respeito pelas normas ambientais. Apesar das esperanças postas no petróleo pesado e extra-pesado, deve ter-se em consideração que só apresentam soluções de satisfação a médio-prazo.
Insuficiente capacidade de refinação
O sector da indústria de refinação encontra-se em fase de transição, após ter sido sujeito a um longo período de redução real da sua capacidade.
O consumo manteve a tendência altista, ajudando a suportar o aumento do nível de actividade económica. O consumo aumentou, mas a capacidade de refinação viu-se reduzida. Constata-se, actualmente, uma crescente necessidade de capacidade adicional de refinação. Esta foi, pura e simplesmente, ajustada aos novos níveis de procura do produto que se seguiram aos choques dos preços e conduziram aos consequentes ajustamentos políticos e económicos.
As condições da indústria de refinação foram muito favoráveis durante vários anos. Durante os dois anos que se seguiram ao conflito do Golfo Pérsico, os custos foram facilmente previsíveis, dado que os preços do crude se mantiveram relativamente estáveis. Logo, quando os preços voltaram a cair, os custos do abastecimento baixaram e aumentaram as margens. Porém, a procura continuou a aumentar dinamizada pela expansão económica, particularmente nos países em desenvolvimento.
A indústria refinadora encontra-se perante a evidente necessidade de satisfazer as novas exigências do mercado e de encontrar adequadas localizações para novas instalações.
Dado que a construção de capacidade adicional exige elevados custos financeiros, é crítico que os planos de expansão cumpram a capacidade requerida e o tempo em que decorram.
A localização de novas unidades também apresenta questões críticas, tendo em atenção que grande parte das localizações consideradas adequadas estão sujeitas a regulamentações ambientais muito severas que as tornam muito onerosas e exigem muito tempo para conseguir alcançar a desejada e requerida capacidade adicional. Os maiores desafios continuam a estar situados no sector a jusante da cadeia produtiva. A crescente preocupação posta nas questões ambientais conduziram a uma proliferação de novas regras e regulamentações que exercem uma muito elevada pressão nas operações a jusante. Porém, o cumprimento das novas regras requer grandes investimentos. Acresce a necessidade de resposta à igualmente crescente procura de um conjunto muito diversificado de produtos refinados. É perfeitamente compreensível que o desenvolvimento do sector a jusante se tenha tornado muito difícil de perspectivar.
Espera-se que se operem, entretanto, alterações e ajustamentos significativos no sector a jusante. O aumento da procura choca com a particularidade das preocupações ambientais. A localização da necessária adicional capacidade de refinação que satisfaça o incessante aumento da procura, constituirá a maior preocupação no próximo futuro.
Saliente-se a preocupação dos Estados Unidos nesta matéria: o Presidente Bush anunciou em finais do passado mês de Abril a decisão de agilizar e facilitar o licenciamento de novas refinarias.
in Executive Digest
Junho.2006
Etiquetas: Crítica (Comunicação Social), Entrevista
domingo, 2 de março de 2008
"Portugal poderá não conseguir suportar os custos do petróleo"
Porque o que assistimos hoje, sem olhar para a questão geopolítica, é a uma tendência para o esgotamento das reservas petrolíferas existentes no mundo e a um disparar do consumo, sobretudo nas economias emergentes.
Portanto, não há nenhuma crise. É uma situação estrutural que vai continuar. Além disso, houve um largo período em que não se fizeram grandes investimentos na área petrolífera, quer na área da refinação, que não cresceu sobretudo por problemas ambientais, quer em novas descobertas petrolíferas e no transporte, ou seja, em novos oleodutos. É preciso ver que há países que não exportam porque não têm um pipeline. Agora, para acompanhar o consumo, a indústria petrolífera vai precisar de fazer investimentos fabulosos e os consumidores vão pagá-los. Os preços nunca mais irão sofrer descidas significativas. Irão subir gradualmente e sem limite. Até porque quem tem recursos petrolíferos vai jogar com eles. E há os que querem vender o mais rapidamente possível, como é o caso de África. E outros, como a Arábia Saudita, que não têm pressas. Não. Isso não quer dizer que deixemos de ter petróleo nos próximos séculos. Quer dizer é que iremos pagá-lo bem caro. A barreira dos 100 dólares por barril poderá ser atingida muito rapidamente [na quinta-feira, o petróleo ultrapassou 70 dólares o barril, um novo recorde, por causa do agravar das tensões como Irão]. E quer dizer também que a Rússia e a Arábia Saudita, actuais líderes do mercado do petróleo bruto, vão ver os seus lugares ocupados no futuro pela Venezuela e pelo Canadá, que têm o petróleo pesado.
Do petróleo disponível no mundo, 30% é petróleo convencional, ou seja, o que consumimos hoje; 15% é petróleo pesado e 55% extrapesado. E a fatia de 15% está localizada, sobretudo, na Venezuela e no Canadá. Só que a extracção deste petróleo é muito mais cara. Na África ainda há algum petróleo por explorar, nomeadamente em Angola, Nigéria e São Tomé e Príncipe. É uma zona muito importante em termos estratégico para os EUA, porque está a 24 horas de barco. Mas as reservas existentes em África durarão mais umas décadas, enquanto o petróleo pesado do Canadá e da Venezuela dá para mais 200 anos. Depois, ainda há o petróleo leve do Árctico, mas a sua eventual exploração acarreta vários problemas, desde os ambientais aos técnicos. Num futuro próximo, os grandes players serão a Arábia Saudita e a Rússia, e depois a Venezuela e o Canadá. Nós não temos grandes recursos energéticos e temos uma economia débil, por isso devemos ter cautelas redobradas. Por um lado, porque estamos mais vulneráveis a um bloqueio nos fornecimentos, não tendo alternativas e uma elevada dependência do petróleo, e, por outro, porque podemos vir a não ter dinheiro para suportar o preço a que se vai chegar. O que me parece que aconteceu em Portugal foi que não houve investimento em áreas alternativas, nem tão-pouco na participação em blocos para garantir não só fornecimentos ao País mas também para ter mais-valias que nos permitissem compensar com ganhos do próprio petróleo os custos que vamos ter de suportar com ele.
Não. A UE não tem uma política comum em relação ao petróleo.
Mais de metade da sua vida profissional foi feita como gestor em empresas industriais em Portugal, Angola e Venezuela. Nestes dois últimos países, teve os primeiros contactos com o mundo do petróleo e os seus problemas. Mas foi como diplomata em Israel e na África do Sul que percebeu como se pode viver menos dependente dele. A experiência e o conhecimento levou-o a escrever em 2000 A Geopolítica do Petróleo, o primeiro livro sobre o assunto. Amanhã lança o segundo, Petróleo: Qual Crise?. Porque em sua opinião não há uma crise do petróleo, há problemas estruturais que vão fazer com que os preços subam "gradualmente, sem limite".
[17-04-2006] [ Ana Tomás Ribeiro, Diário de Notícias (on-line) ]
Etiquetas: Entrevista
José Caleia Rodrigues: O medo está a controlar os preços do petróleo
Com o barril de petróleo a subir acima dos 70 dólares, ouve-se frequentemente a palavra "crise", para descrever o panorama energético actual.
Para José Caleia Rodrigues, autor de dois livros sobre as questões do petróleo - um facto assinalável no mercado editorial português -, a palavra "crise" é mal utilizada. O problema em torno do preço do petróleo e da dependência das economias industrializadas prende-se com questões estruturais, e não de carácter passageiro, facto que justifica o título do seu último livro "Petróleo, Qual Crise?", publicado no mês passado. Vários constrangimentos no sector petrolífero, aliados à incessante procura do "ouro negro", estão na origem da subida dos preços, uma tendência que se irá manter e que ameaça alterar o equilíbrio geopolítico mundial. Os investimentos necessários no sector e o maior custo de extracção e de refinação irão repercutir-se no bolso dos consumidores. Para Portugal, muito dependente desta fonte energética e altamente ineficiente no seu consumo, os custos são muito elevados e impõem uma grande mudança em duas vertentes: para o Governo, no desenvolvimento da aposta em outras fontes de energia (como tem vindo já a suceder na eólica); para os consumidores, na revisão dos seus hábitos e modo de vida.
Em que medida a subida do preço do petróleo nos últimos dois anos não é mais um choque petrolífero, como o que se verificaram em 1973 ou 1979-80?
O petróleo voltou a subir desmesuradamente desde 1998, há seis anos. De 1998 para 2000, o preço duplicou. De 2000 para 2004, subiu mais de 60 por cento. Do meu ponto de vista não estamos a atravessar uma crise como a de 1973, uma vez que, por definição, as crises são passageiras. Por outro lado, devemos separar o sector do petróleo do mercado do petróleo. Não podemos falar de uma crise porque não há uma rotura de abastecimento do mercado. No sector do petróleo existem, sim, constrangimentos fortíssimos, que podem ser ultrapassados. O mercado é que tem factores exógenos que provocam todas estas variações. O petróleo, porque é um produto estratégico, está sujeito à pressão de vários factores, nomeadamente geopolíticos. Hoje, por exemplo, porque pode vir a acontecer um conflito entre dois países [Estados Unidos da América e Irão], o mercado entrou numa situação de pânico. Se só há constrangimentos no sector, se o petróleo continua a fluir, se o custo de transporte por oleoduto não está indexado à procura (é um custo fixo), os preços subiram por medo daquilo que possa vir a acontecer, não por razões ligadas ao sector.
Mas estes acontecimentos exteriores têm um grande impacto porque, do lado da oferta, o mercado percebe que o sector está muito pressionado...
Sim, o sector está muito apertado devido a vários constrangimentos, mas o petróleo bruto convencional ou petróleo leve [mais fácil de extrair e refinar] não está em eminente e evidente extinção, embora as reservas estejam a diminuir substancialmente. De acordo com os petrofísicos, desde a Pensilvânia e Baku [locais das primeiras descobertas de petróleo, nos EUA e no Azerbeijão respectivamente], ou seja, nos últimos 125 anos, consumiu-se um trilião de barris. Nos próximos 35 anos vamos consumir outro trilião de barris, caminhando a passos largos até à sua extinção. De reservas comprovadas, temos petróleo convencional por mais 50 a 60 anos.
Quais são esses "constrangimentos" que pressionam o sector?
Como constrangimentos temos um longo período de muito baixo investimento, em inventariação de novas descobertas, em extracção, em transporte e, sobretudo, em refinação. Só para inventariação de uma nova concessão, com ensaios sísmicos, já se gastam uns milhões de dólares. A extracção é feita muitas vezes em regiões sem segurança o que obriga as empresas petrolíferas a fazerem a sua própria segurança. Depois, temos o pouco investimento em transporte. Um oleoduto tem custos por quilómetro equivalentes a uma auto-estrada, são biliões de dólares para transportar o petróleo através de milhares de quilómetros. Por fim, há fortíssimos constrangimentos na refinação. Mesmo que queira aumentar a entrega de petróleo ao mercado, a capacidade de refinação instalada está hoje muito próxima da entrega total ao mercado, funcionando como um estrangulamento. Enquanto em 1982 estava a refinar à volta de 60 milhões de barris diários e tinha uma capacidade instalada no mundo para 80 milhões, hoje a produção chegou perto dos 80 milhões e a capacidade não aumentou. Temos, assim, constrangimentos do lado da oferta e, por outro lado, uma procura incessante.
Faz parte do grupo dos pessimistas que advogam a teoria do apocalipse com o esgotamento do petróleo, conhecida por "peak oil"?
Sou contra. Porque é um exercício matemático muito interessante e apenas isso. Pode prever-se um esgotamento em 50 anos do petróleo leve, inventariado em reservas prováveis, que até poderá esgotar-se em 30 ou 35 anos, mas temos ainda o recurso ao petróleo pesado, que será inesgotável por umas centenas de anos. Por outro lado, em aplicações em que não sejam absolutamente exigíveis os combustíveis fósseis, nós podemos ter recurso à electricidade a partir de outras fontes energéticas. O "peak oil" é um exercício de pessimismo alarmista.
Enquanto cartel, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) mantém o seu poder de mercado intacto, mesmo com a emergência de novos países produtores à margem da organização, como a Rússia?
A OPEP ainda produz cerca de 33 milhões de barris diários e as reservas comprovadas darão para quase 70 anos, ao ritmo de produção actual. Mas precisam de grandes investimentos para conseguir aumentar a produção. A OPEP não tem hoje a força que tinha não só porque a Rússia entrou no mercado com muita força, mas porque, quando falamos de OPEP, estamos a falar de petróleo leve. Pelo lado do petróleo pesado é que as coisas irão mudar. As reservas russas em petróleo leve e, por outro lado, a Venezuela e o Canadá no petróleo pesado, serão os players do futuro e é com esses que tem que se contar. Na Venezuela já estão a operar as principais petrolíferas mundiais.
Mas esse é o petróleo pesado, é mais caro de extrair e de refinar...
Quando digo que a Venezuela será um player do futuro é porque a faixa do rio Orinoco, que tem uma dimensão à volta de dois terços do nosso país, tem reservas imensas. A extracção é mais cara porque exige injecção de vapor de água, o que na situação da Venezuela é o melhor que lhe poderia ter acontecido. Primeiro porque tem no rio Orinoco água com fartura. Depois, porque tem a mega-barragem do Guri, com energia eléctrica que chega e sobra, de origem gratuita, para injectar o vapor e extrair o seu petróleo. Está na melhor posição do mundo para, no futuro, dominar o mercado. À medida que o tempo passa, o petróleo leve irá escasseando e cada vez mais o pesado terá de ser utilizado. Mas não será nunca uma alternativa mais barata. A alternativa com um método de extracção mais caro não irá fazer baixar o preço, irá sim continuar a fazê-lo subir. É essa a tendência de longo prazo.
As inovações tecnológicas na indústria petrolífera, ao nível da extracção e produção de combustíveis, poderão suavizar o declínio das reservas petrolíferas hoje conhecidas? O consumo de petróleo divide-se em 60 por cento para transportes e 40 por cento para produção de energia eléctrica e para a indústria. O que tem vindo a ser feito em termos de inovação é trabalhar nos 40 por cento, uma vez que a produção de energia eléctrica pode ser feita sem recurso ao petróleo. Mas a extracção do petróleo leve é cada vez mais cara e traz problemas ambientais. O Árctico é hoje um grande depósito de petróleo, mas a extracção, que já está a ser feita, tem riscos ambientais e custos elevados.
Para produção de electricidade, a energia nuclear é uma hipótese...
Pode ser nuclear ou eólica. A nuclear tem os seus riscos, mas nós temos na Europa Ocidental 146 reactores. Só na Bélgica há sete, a França tem 59, o Reino Unido tem 31, a Alemanha tem 19 e a Espanha tem nove. É uma alternativa possível. A eólica é aquela pela qual os portugueses enveredaram e, quanto a mim, muito bem, para reduzir o peso do petróleo na produção de electricidade. Pelos números que me chegaram, nós duplicamos num ano a capacidade eólica instalada, estando hoje Portugal classificado em 11º no ranking mundial, com a Alemanha e a Espanha à cabeça. É por aí que podemos trabalhar para reduzir a dependência nos 40 por cento de petróleo consumidos "extra transportes".
Portugal tem andado desatento em termos de política energética? Que razões encontra para a ausência de uma estratégia nacional nos últimos anos num sector tão importante como o da energia? Andámos adormecidos a pensar noutras coisas. Quando nós temos um produto de que dispomos e supomos que não há problema com ele, distraímo-nos. Mas deveríamos ter estado atentos ao choque petrolífero de 1973. Pela leitura do que nos aconteceu nessa altura, com o embargo, as coisas poderiam ter sido tratadas de outra maneira, com mais atenção. Eu estive em missão na África do Sul e tive ocasião de constatar como este país resolveu a sua situação de dependência. Em 1973, ainda tinham o Irão como aliado, uma vez que o xá Reza Pahlevi era um amigo dos sul-africanos e continuou a abastecê-los. Porém, mesmo antes de 73, a África do Sul já havia previsto que alguma perturbação poderia acontecer e optaram por uma alternativa. Como dispunham de quantidades de carvão enormes, adoptaram um sistema para sintetização do carvão e produção de combustíveis sintéticos, para agregar à gasolina. Em qualquer altura têm o país salvo com esse recurso e, na crise de 1979, foi isso mesmo que aconteceu. Eles seguiram por este rumo e outros decidiram de outra forma, pelo nuclear. Nós, por outro lado, não temos pensado muito nisso, temos andado um pouco adormecidos. E isto são problemas que se resolvem apenas a longo prazo, os resultados não são imediatos. Se fizer agora investimento no que quer que seja, só daqui a vários anos é que vai ter o resultado. O que estamos a fazer nas eólicas é óptimo. A produção de energia eléctrica através da energia eólica em Portugal em 1995 era zero e, em 2004, já representava cinco por cento. A produção de energia hídrica é que baixou substancialmente. Nós temos sol, temos vento, temos água e cada país deve recorrer ao que tem. Usar os recursos dos outros... podemos pagar, mas ficamos muito dependentes.
A China e a Índia são realmente os "maus da fita", responsáveis pelo aumento cada vez maior da procura de petróleo?
A China e a Índia representam um terço da população mundial e são países com quem se deve ter um bom relacionamento. Não são os "maus da fita", trata-se apenas de estratégias económicas e geopolíticas. Os EUA consomem cerca de um quarto do petróleo mundial e importam dois terços do que consomem. No meu ponto de vista, o fiel da balança do poder está a desviar-se para o eixo Sino-Russo. Enquanto os russos e os chineses se olhavam de lado, a China desenvolveu-se pelos seus próprios meios. Mas hoje, para continuar o seu desenvolvimento económico, a China tem um défice de cerca de três milhões de barris diários. A negociação para o abastecimento à China e ao Japão (com a Índia as coisas ainda não estão completamente resolvidas) levou 12 anos a ser concluída. Em Janeiro deste ano, o presidente Putin garantiu um oleoduto à China, com um desvio para o mar do Japão. Abastece a China e o Japão, cumprindo a quase totalidade das necessidades chinesas e uma parte mais pequena das japonesas. Graças à Rússia, a China tem hoje todas as condições necessárias para garantir o desenvolvimento económico continuado. Este novo eixo está a sobrepor-se, em interesse, aos países ditos industrializados, que estão a ser relegados para segundo plano.
O que explica uma das chamadas de capa do seu livro, segundo a qual "China e Rússia estão a esmagar o orgulho ocidental"...
A Rússia tem uma capacidade instalada que lhe permite aumentar a produção, ao contrário da Arábia Saudita que tem a capacidade de extracção esgotada (só com novos investimentos é que pode aumentar a produção). O grande desequilíbrio quando falava em Rússia e EUA é que os EUA importam mais de nove milhões de barris diários, enquanto a Rússia exporta quatro milhões, sem ter ainda começado a fornecer à China e ao Japão através do oleoduto em actual construção, que se prevê concluído daqui a dois anos. Quando dizemos que os EUA importam diariamente nove milhões de barris, estamos a falar de 630 milhões de dólares diários. A Rússia recebe contrapartidas de 300 milhões de dólares diários. Além disso, a extracção suplementar de petróleo para a China e para o Japão, assim como os oleodutos, são financiados pelo Japão e pela China, com pouco investimento russo. Os americanos, por outro lado, para garantir o fornecimento ainda têm que pagar a segurança. Ou seja, os custos para os EUA e os benefícios para a Rússia e China têm todos os ingredientes para que a balança do poder se altere, não pela força mas pela economia.
Esse novo oleoduto irá ter influência no mercado?
A Rússia passa a fornecer a China e o Japão, com três milhões de barris diários, deixando de ter margem para compensar quebras de mercado. Nessa altura, é previsível mais um forte abanão nos preços.Como vê a cada vez maior influência, em termos energéticos, da Rússia sobre a União Europeia (UE)?
A UE não tem uma política energética comum. No mosaico de países que constituem a Europa Ocidental, cada um tem o seu problema para resolver. A Grã-Bretanha é auto-suficiente e exporta, assim como a Dinamarca e a Noruega (que é o terceiro exportador mundial). Estes três países estão muito bem. Quando a Rússia fizer alguma pressão serão eventualmente os alemães, que pretendiam um abastecimento russo directo, os mais prejudicados. Nas outras áreas, cada um vai fazendo o que pode. O problema não é global na Europa, cada um tem o seu problema. Uns têm petróleo, outros resolveram por outra via e outros não fizeram coisa nenhuma e esses estão com mais dificuldades.
Tendo em conta que a energia passou a ser uma questão de segurança nacional, e que os EUA já discutem a criação de uma "proto-NATO" para a energia, não é de estranhar o silêncio da União Europeia sobre este assunto?
As discussões no seio da UE são uma coisa muito complexa. Em 2004, a UE produziu 2,5 milhões de barris diários e consumiu 14,5 milhões e meio - teve 12 milhões barris diários de défice. Em gás natural tiveram 255 biliões de metros cúbicos de gás. Mas, nestes números, incluem-se a Dinamarca e a Grã-Bretanha, que não têm problemas. Cada um tem as suas vantagens e dificuldades específicas e vai ser difícil chegar a acordo por causa disso, é uma área muito sensível. Os EUA são estados unidos, criaram-se com várias guerras, entenderam-se e têm um governo central que fala por eles. A UE é um convénio, entenderam prescindir de alguma soberania e conseguir um mercado comum. Depois, os EUA podem ter muito mais urgência que os europeus para agir desta forma, porque têm um problema grave. Não só pelo que têm que pagar pelas importações, mas também porque são quem paga pela segurança do abastecimento.
"Reveja a sua forma de vida"
Em quatro anos, a factura portuguesa da importação de petróleo quase duplicou.
Numa altura em que o barril de petróleo abaixo dos 50 dólares parece ser uma memória de tempos já idos, a dependência de Portugal face a esta fonte de energia significa uma factura grande para pagar. Em 2005, "pela mesma quantidade que importávamos há quatro anos, pagámos cerca do dobro", aponta Caleia Rodrigues. Dos 2,2 mil milhões de euros desembolsados em 2002, Portugal passou para quase quatro mil milhões de euros em 2005. "São vários TGV em cada ano", comenta Caleia Rodrigues. Esta subida dos preços irá obrigar os portugueses - os mais ineficientes na utilização da energia na União Europeia a quinze - a "rever a sua forma de vida". Além do investimento em energias alternativas, Caleia Rodrigues destaca a necessidade de optar por caminhos mais racionais no consumo, num equilíbrio entre conforto e eficiência energética. "Uma alternativa são os transportes públicos, que podem ser alimentados com energia eléctrica", sugere. Contudo, as dificuldades serão grandes. "A educação, leva algum tempo", lembra. "Na nossa estrutura de vida há pessoas a viverem a 50 ou a 60 quilómetros do local de trabalho, vai ser difícil manter uma situação dessas".
[08-05-2006] [ Bruno Faria Lopes, Revista "Dia D", Público (on-line) ]
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