sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O potencial dos dois poços da Bacia de Santos pode duplicar as reservas recuperáveis do Brasil, que no ano passado eram de 12,6 mil milhões debarris. Número pouco significativo face
ao total mundial, mas importante numa realidade de campos envelhecidos.

As reservas acima do esperado para o poço brasileiro Iara trouxeram uma lufada de ar fresco ao mundo da exploração, a juntar-se às expectativas já nascidas em Novembro com as previsões para o Tupi, que fica no mesmo bloco (BMS-11) petrolífero do pré-sal brasileiro.
As potenciais reservas recuperáveis dos dois poços ascendem a 10 mil milhões de barris (média entre os 5 a 8milmilhões estimados para o Tupi e os 3 a 4 mil milhões projectados para o Iara). Uma vez que o consumo mundial de petróleo ronda os 31 mil milhões de barris por ano, os dois campos brasileiros representam um terço do crude do consumo anual em todo o mundo.
Estas descobertas tornam o Brasil um país muito interessante em termos mundiais, comentou ao NEGÓCIOS o especialista em questões petrolíferas, José Caleia Rodrigues, “Não só pela quantidade, mas pela sua qualidade. Mas a profundidade constitui um problema, já que exige grande esforço financeiro em nova tecnologia de extracção e meios humanos adequados, que não são fáceis de encontrar.” “Hoje essa é uma grande questão, visto que o petróleo superficial está em esgotamento”.
O especialista sublinhou que as novas descobertas no Canadá e na Venezuela são de areias betuminosas e o processamento é muito caro, já que exigem enormes quantidades de água e energia. Assim, as duas grandes possibilidades para o futuro são a de encontrar petróleo a grandes profundidades, cuja extracção é cara, ou areias betuminosas, cujo processamento é muito dispendioso. “Quando se encontra petróleo mais leve, como no caso do Iara, isso é bom. Mas continua a ser caro extraí-lo”, afirmou o responsável, que considera que para as empresas apostarem na exploração de novos campos, o petróleo não pode estar abaixo dos 100 dólares. “É um risco financeiro muito grande”, advertiu.

Receitas do pré-sal para o Estado brasileiro

Lula da Silva anunciou recentemente que vai ser criada uma empresa para gerir o pré-sal, cujas receitas reverterão para o Estado, o que não agradou os accionistas e as empresas internacionais – que se viram privados de fazer licitações para operarem esses campos.
Recorde-se que o Brasil recusou na semana passada integrar a OPEP. Recentemente, o presidente da Petrobras salientou que a OPEP exporta petróleo e não combustível, o que inviabiliza a entrada do Brasil.
As descobertas do Tupi e do Iara poderão duplicar as actuais reservas do Brasil, que, segundo o último relatório mundial da BP, estão nos 12,6milmilhões de barris.
Os dois novos poços podem, assim, colocar as reservas recuperáveis brasileiras em perto de 13 mil milhões de barris.

O que é a camada pré-sal?

É uma faixa que se estende ao longo de 800 quilómetros (km) entre os estados brasileiros de Espírito Santo e Santa Catarina, abaixo do leito do mar, englobando três bacias sedimentares (Espírito Santo, Campos e Santos).
O petróleo nesta área está a profundidades que superam os 7 mil metros, abaixo de uma extensa camada de sal, que, segundo os geólogos, conserva a qualidade do petróleo. As grandes últimas descobertas de petróleo no Brasil (Tupi e Iara) estão no pré-sal. As estimativas apontam para que esta camada ultra-profunda tenha reservas próximas dos 100 mil milhões de barris.

Desafios tecnológicos
Para chegar à camada pré-sal, a Petrobras diz que teve que superar muitos desafios tecnológicos. A empresa tem um centro de pesquisas onde estão a ser testados processos inéditos, como a abertura de cavernas no sal, para servirem de reservatórios para o gás, até que entre em operação o projecto-piloto, projectado para o ano de 2010.

Qualidade do petróleo
Além do potencial petrolífero, as descobertas no pré-sal diferenciam-se pela qualidade do óleo. A maior parte das reservas da Petrobras era de petróleo pesado.
As jazidas do pré-sal, com hidrocarbonetos leves, gás natural e condensado, estão a mudar o perfil das reservas da empresa líder de consórcio, assim como das parceiras, como a Galp.

Financiamento
Para transformar o pré-sal numa forte área produtiva serão necessários investimentos muito elevados. Só nos campos à volta do Tupi, fala-se de 145 mil milhões de euros. Mas a origem dos recursos ainda está dependente do modelo que será adoptado pelo governo de Lula da Silva: o actual modelo de concessões a privados ou uma empresa pública.

Jornal de Negócios
12.Setembro.2008
Carla Pedro cpedro@mediafin.pt