quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Livros de J. Caleia Rodrigues (aicep notícias N12, 1.Julho.2009

Encontra-se nas livrarias o último trabalho do nosso ex-colega Caleia Rodrigues, “Petróleo, Qual crise?”, o que constitui para nós motivo de satisfação e orgulho, porque nos vemos ao espelho ao alto nível técnico de quantos trabalham ou trabalharam nesta casa, autêntica forja de valores, que dia a dia dão o seu melhor ao serviço da nossa economia.
Com prefácio de um outro amigo da nossa Agência, Neto da Silva, o presente trabalho explica-nos com clareza e mestria tudo aquilo que todos deveríamos saber sobre este combustível fóssil que continua a condicionar toda a actividade económica mundial, e é elemento fulcral das tramas da geopolítica, a propósito da qual Caleia Rodrigues editou, em 2000, o volume “Geopolítica do Petróleo”. Deu também à estampa, em 2005, outro manual indispensável para bem fazermos o nosso trabalho, intitulado “Marketing Estratégico Internacional”.
Parabéns e obrigado, caro José Júlio.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

De acordo com as estatísticas da UNCTAD são anualmente transportados por via marítima 1,8 mil milhões de toneladas de petróleo bruto e 546 milhões de toneladas de produtos petrolíferos. O total de 2,3 mil milhões representa cerca de 35% de todo o comércio marítimo mundial. Se considerarmos o valor tonelada x milha o peso do petróleo e dos produtos petrolíferos ultrapassa os 40%. Noutra perspectiva, do total de petróleo bruto produzido anualmente (3,9 mil milhões de toneladas ) cerca de 60% é transportado por via marítima. Os restantes 40% são transportados predominantemente com recurso a oleodutos . Por último, refira-se que um número significativo de navios foi convertido para armazenamento de petróleo bruto em “offshore” e que as próprias plataformas de extracção são geridas por empresas da área do transporte marítimo. Do que atrás se referiu conclui-se que o sector de transportes marítimos tem na indústria petrolífera um dos seus principais clientes.
A posição estratégica das empresas petrolíferas no mercado de transportes marítimos tem sofrido alterações profundas ao longo dos últimos 30 anos. Ao longo daquele período ocorreram situações em que as empresas petrolíferas controlavam frotas de navios, através da sua propriedade ou através do afretamento a tempo por períodos longos (cinco a dez anos), e situações opostas em que 60% ou mais da capacidade utilizada pelas empresas era contratada no mercado “spot” (afretamento á viagem). Essas reorientações estratégicas decorreram de três tipos de factores: situações de excesso de oferta de navios, flutuações bruscas na procura de transporte de petróleo bruto ou de produtos petrolíferos e mudança na atitude face às questões do ambiente (poluição marítima).
Por exemplo, logo a seguir à ratificação do “Oil Polution Act de 1990” algumas das maiores empresas petrolíferas decidiram reduzir a sua propriedade directa de navios na tentativa de reduzir a sua exposição às responsabilidades que pudessem advir de futuros acidentes (caso Exxon Valdez, propriedade da petrolífera Exxon). Por outro lado, no caso Erika as autoridades francesas reagiram ordenando a prisão dos gestores da Total-Fina responsáveis pelo afretamento do navio o que veio tornar claro que a responsabilidade pode ser imputada não apenas as proprietário mas também ao afretador.
Com a aceleração do “phasing-out” dos navios de casco simples, determinada pela International Maritime Organization em 2001, e a aceitação generalizada de que navios com idade elevada representam maiores perigos para o ambiente, deu-se uma discriminação desses navios que passaram a gozar de taxas de frete mais baixas do que os restantes. Perante esta situação os armadores detectaram a oportunidade de obter fretes “premium” e colocaram em estaleiros encomendas para novas construções. Em consequência, passou-se por uma fase de fragmentação do lado da oferta com maior concorrência no mercado e as empresa petrolíferas a apostarem no mercado “spot”.
Nos últimos meses verificaram-se sinais evidentes de tentativas de controlar as taxas de frete de navios-tanque através da formação de “pools” de navios (frotas de diferentes armadores geridas de forma centralizada) e da concentração empresarial (fusões e aquisições) do lado dos armadores. A reacção das empresas petrolíferas tem sido a aposta num relacionamento com os armadores baseada em afretamentos a longo prazo por períodos de dez anos ou superiores. Alguns contratos de longo prazo são extremamente flexíveis permitindo à empresa petrolífera colocar o navio no mercado “spot” por períodos curtos com o benefício, isto é a diferença entre a taxa de frete de longo prazo e a taxa de frete “spot”, a ser dividido entre as duas partes (armador e empresa petrolífera). Outro aspecto importante é a possibilidade de fixação ou a indexação da taxa de frete de longo prazo o que constitui uma forma de “hedging” sem obrigar a soluções mais complexas como a intervenção no mercado de futuros.
Os contratos de longo prazo são uma boa solução para o armador (garantia de estabilidade nas receitas e de recuperação do investimento) e para a empresa petrolífera (redução da exposição à volatilidade das taxas de frete). Embora continuem a existir empresas petrolíferas a apostar no negócio de transporte marítimo como fazendo parte do seu “core”, como é o caso da Shell e da BP, a tendência actual dessas empresas é a concentração nos negócios de extracção e de refinação que implicam elevados volumes de investimento e envolvem riscos financeiros elevados.
Assim, para a generalidade das empresas petrolíferas a estratégia actual é obter uma combinação óptima entre afretamentos a tempo de longo prazo, afretamentos a tempo de curto prazo (seis meses a um ano) e contratação “spot”. A proporção de cada tipo de afretamento depende da política de compras de petróleo bruto, da existência ou não de origens dominantes e da capacidade negocial com os armadores.
No entanto, existem no negócio de transporte de petróleo bruto e produtos petrolíferos vários segmentos e em cada um é possível encontrar comportamentos distintos da procura e oferta.

J. Caleia Rodrigues no livro “Petróleo - Qual Crise? ” afirma: “Quando ouvimos falar de crise de petróleo deparamo-nos com um perigoso equívoco. Não parece que esta escassa e finita matéria-prima, ou mesmo o sector petrolífero, estejam a passar por uma crise que, por definição, é transitória. Nada se pode comparar com boicotes, choques petrolíferos ou consequências de pontuais situações políticas vividas no passado“. O crescente interesse de várias sociedades financeiras na Alemanha, na Holanda e no Reino Unido no apoio a projectos de investimento em navios-tanque vem de encontro àquela afirmação e traz boas perspectivas para este importante segmento do sector de transportes marítimos.

Fernando Grilo
In Transportes em Revista 43; Setembro 2006

domingo, 12 de julho de 2009

Observadores acreditam que a energia é um perigo enorme para a retoma

Faz amanhã um ano que o petróleo atingiu 147 dólares por barril, o valor mais alto de sempre. Hoje, o valor da matéria -prima, da qual Portugal (e tantas outras economias) depende de forma esmagadora, está 58% mais barato. Haverá razões para sorrir de alívio? A evolução dos mercados mostra que não: desde o mínimo (35 dólares) de finais de Dezembro de 2008, o barril de petróleo Brent já subiu mais de 70%. Para os especialistas a resposta também é "não": defendem que nada de fundamental mudou na capacidade de oferta (produção); e que, quando vier a retoma, voltarão os mesmo problemas de excesso de procura e desperdício elevado que, no passado, ajudaram o ouro negro a vencer recordes.
É consensual entre os economistas que a actual crise está a ser tão violenta que irá mudar a face das economias: estas voltarão a crescer, sim, mas sem a pujança do passado. Mas será assim com o petróleo? Estarão definitivamente afastadas convulsões como o bloqueio dos camionistas portugueses que em Junho de 2008 deixaram secar bombas de gasolina por todo o país? O preço da comida, que precisa de percorrer terra e mar até chegar à mesa, ficará estável? E o plástico dos brinquedos e dos computadores, continuará a ser barato?
Parece que não. Luís Mira Amaral, professor do Instituto Superior Técnico e ex-ministro da Indústria, acredita que só haverá alguma paz nas cotações do petróleo no "curto a médio prazo" (ver entrevista na página seguinte).
O Fundo Monetário Internacional (FMI) mostrou recentemente que o custo do petróleo não vai esperar por grandes expansões económicas: o preço médio da matéria prima deverá disparar 23% em 2010, essencialmente à boleia da China e Índia, apesar da zona euro continuar em recessão (-0,3%) e dos Estados Unidos crescerem apenas 0,8%.
A tese que hoje corre é simples: o mundo industrializado, dos Estados Unidos à China, não muda de hábitos de um dia para o outro. Nem de uma década para a outra. Mesmo com mais esforço nas energias renováveis e com mais consumo eficientes e inteligente, a dependência é "estruturalmente enorme", defende Matthew Simmons, presidente da Simmons & Co. Internacional, um banco de investimento especializado no sector energético.
Aliás, Portugal é disso exemplo: segundo dados da BP para 2008, estruturalmente o perfil de consumo pouco mudou: 80% da energia consumida - petróleo e gás natural - é importada.
O consultor e escritor de livros sobre energia, que trabalha a partir de Houston, Texas, acredita que os preços hoje praticados no mercado do petróleo "estão a abrir caminho para algo muito perigoso daqui a alguns meses". O quê? "Um novo choque petrolífero", acredita. A tese é que os preços baixos (a média diária deste ano está em 52,5 dólares) não chegam para financiar novos investimentos, nem modernizar as estruturas de produção existentes, nem contratar pessoas. E depois há ainda o travão do acesso ao crédito: com a crise financeira, o dinheiro tornou-se definitivamente um bem mais raro e caro.
José Caleia Rodrigues, consultor de empresas petrolíferas, subscreve esta tese. "Há vários factores que explicam a necessidade de preços mais altos: o petróleo que existe está cada vez mais longe e difícil trazer para cima, a crise representa uma dificuldade acrescida ao financiamento de tecnologias mais sofisticadas e caras, há falta de pessoas qualificadas nestas áreas. Hoje é tudo mais difícil para chegar à mesma quantidade de petróleo. E o difícil é caro. Os preços actuais do petróleo desincentivam mais investimentos".
Na cimeira do G8, que hoje acaba, França e Reino Unido pugnaram por uma acção mais firme dos governos contra a especulação no petróleo. Querem limitar a volatilidade nas cotações, um propósito também partilhado pela administração Obama. A Rússia, um importante produtor de crude e gás, avisou que isso vai ser "impossível".

Jornal i
por Luís Reis Ribeiro, Publicado em 10 de Julho de 2009

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Artigo de opinião (autohoje, 3.Julho.2009)

O consumo mundial de petróleo tem aumentado a uma taxa próxima dos 2 por cento ao ano, até que as grandes bolsas petrolíferas, há longo tempo em exploração, começaram a atingir taxas de esgotamento tão importantes que poderão mesmo vir a pôr em risco o corrente abastecimento do mercado. Os efeitos causados pelo galopante esgotamento das bacias em exploração, poderão assumir dimensões potencialmente devastadoras.
Numa situação desta natureza, as consequências da diferença entre oferta possível e procura exigida serão, sem sombra de dúvida, muito maiores que o considerado admissível, à luz da segurança e da soberania nacionais.
Apesar de alguma retoma, o recente aumento de novas descobertas não tem correspondido ao aumento da procura, o que leva a considerar a hipótese da eventual existência de períodos de carência de abastecimento a curto prazo.
A acentuada e rápida descida dos preços verificada a partir do mês de Julho de 2008 não se ficou a dever às boas razões esperadas. Não foi motivada pelo aumento da produção ou da tão desejada eficiência energética. Deveu-se, outrossim, à redução da procura que acompanhou a redução da actividade económica nas principais regiões industrializadas. Logo, tudo leva a crer que, mal passada as causas que a motivaram, regresse, em força, a pressão sobre a oferta.
Há que ter em conta que a exploração de novas bolsas petrolíferas exige tecnologia e onerosos recursos específicos. Terão que ser exploradas mais longe, mais fundo e mais caro. De salientar que a futura geração de energia requererá níveis de investimento muito mais elevados do que os aplicados no passado, para compatibilização da satisfação da procura com as exigências ambientais, a descarbonização dos produtos energéticos e o acréscimo dos custos resultantes da implementação de reforçados sistemas da segurança das instalações de extracção e de transporte.
À quase estagnação de investimento registada na década de 1990 seguiu-se uma outra, aparentemente de ainda maior dimensão, a partir de 2006. O conjunto de anúncio de cancelamento de projectos e de “adiamentos por período indeterminado” tem aumentado de forma crescentemente preocupante. Porém, grande parte dos projectos que não arranquem no imediato, não estarão prontos para entrar em serviço em 2012-2013, prazo que tem sido considerado como limite para manutenção dos actuais níveis de produção mundial. Mas as dificuldades de captação do indispensável financiamento, a que se associa uma generalizada crise de confiança e de incerteza em relação à retoma económica global, não nos permitem atingir um grau de optimismo que nos tranquilize quanto à exigível garantia da continuidade de abastecimento.
J. Caleia Rodrigues
Analista e consultor dos mercados energéticos

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Crise leva portugueses a levantar o pé do acelerador e a consumir menos petróleo. Mesmo assim, a factura em euros disparou em 2008.

Devido à crise, à seca e ao choque petrolífero, Portugal registou a terceira maior queda mundial no consumo de energia durante o ano passado, mostra um estudo da British Petroleum (BP). Os maiores apertos aconteceram no Turquemenistão e em Hong Kong. O consumo nacional de energia (maior parte dele petróleo importado) pode ter caído mais de 5%, mas a factura em euros continuou a crescer (mais 15%, segundo contas do i), roubando assim poder de compra às famílias e competitividade às empresas.
De acordo com a Revista Estatística de Energia Mundial da petrolífera britânica BP, a factura de Portugal com petróleo valia mais de 6,9 mil milhões de euros no final do ano passado. Este valor representa um aumento de 15% face a 2007 e um peso de 4,2% no Produto Interno Bruto (PIB), o nível mais alto desde 1985. Mas nesse ano a economia cresceu quase 3%, ao passo que em 2008 estagnou, acusando já uma recessão no final do ano. Desde a entrada na União Europeia (CEE em 1986) até às vésperas da actual crise, o peso médio da factura com petróleo foi de 2,4% do PIB, quase metade da de 2008.
Para António Costa e Silva, presidente da Partex Oil and Gas, a holding da Fundação Calouste Gulbenkian para a área da energia, significa que “não é tanto o preço do petróleo que comanda o consumo dos portugueses, mas antes o rendimento disponível”. “Enquanto as pessoas tiverem dinheiro não vão estar verdadeiramente interessadas em reduzir a despesa que fazem com combustíveis, procurando alternativas mais eficientes. Um país como Portugal, que tem as fragilidades estruturais na criação de riqueza que são conhecidas, tinha de reduzir obrigatoriamente muito mais o consumo para evitar o impacto dos choques petrolíferos e da volatilidade deste mercado”, refere. “Se não o fez em 2008, quando o petróleo chegou quase aos 150 dólares o barril, imagino que o país terá muita dificuldade em fazê-lo quando vier a retoma e uma nova subida dos preços das matérias primas”, lamenta. Os políticos são igualmente responsáveis por esta inércia, argumenta o responsável da Gulbenkian: “poucas medidas de eficiência energética anunciadas pelo governo passaram à prática e as que foram para o terreno estão a ter pouco ou nenhum impacto”.
Os especialistas argumentam que os portugueses – famílias e empresas – têm de fazer mais para poupar energia. Partilhar carro, usar veículos mais eficientes, organizar as cidades por dentro e por fora, apostar no comboio e nos transportes públicos, organizar a sua logística, construir edifícios mais inteligentes.
Luís Mira Amaral, ex-ministro da Indústria e da Energia, também considera que é o dinheiro na carteira de cada português que mais determina o que se gasta em petróleo: “É óbvio que é crise que está a reduzir a procura por energia. Mas antes desta crise Portugal já estava em crise e isso reflecte-se na falta de investimentos em eficiência e na falta de visão e de educação das pessoas relativamente a estes assuntos. Se sobra dinheiro, gasta-se, não se mudam comportamentos enraizados, o que explica o agravamento da factura”.

Bomba-relógio

E por quanto mais tempo podem os portugueses contar com o petróleo nos preços actuais?

“Quando a retoma chegar a sério, dentro de poucos meses, haverá procura suficiente que justificará preços cada vez mais altos do produto”, estima José Caleia Rodrigues, consultor em energia e autor de vários livros sobre petróleo. “Há vários factores que explicam a necessidade de preços mais altos: o petróleo que existe está cada vez mais longe e difícil trazer para cima, a crise representa uma dificuldade acrescida ao financiamento de tecnologias mais sofisticadas e caras, há falta de pessoas qualificadas nestas áreas. Hoje é tudo mais difícil para chegar à mesma quantidade de petróleo. E o difícil é caro.”
Esta tese é defendida pela própria BP. O presidente da companhia, Tony Howard, estima que o preço do crude terá de oscilar entre 60 a 90 dólares para sustentar o investimento que depois gerará oferta adicional para satisfazer a procura.
Em 2008, diz a BP, o comércio mundial de petróleo caiu quase 2%, a maior descida desde 1987 devido à forte retracção no consumo dos países mais ricos, onde Portugal está incluído.

Petróleo
• Representa quase dois terços da energia consumida em Portugal. Consumo caiu 5% em 2008
Gás
• Segunda maior fonte de energia (18% do total), teve uma subida de 9% para compensar a menor produção eléctrica das barragens
Hidroeléctrica
• Vale 7% do total. Como 2008 foi um ano seco, as barragens produziram menos 32% de electricidade
Carvão
• Terceira fonte mais importante (14%). Consumo caiu quase 5% devido a melhoramentos na central de Abrantes

Jornal i
12.Junho.2009
José Reis Ribeiro

A OPEP indicou ontem que o pior para os produtores de petróleo já terá passado.

Há menos de um ano, em Julho de 2008, o barril de petróleo tocava no máximo histórico de 147 dólares. Numa queda de cinco meses, até Dezembro, afundou para um mínimo de 32 dólares. Desde então o preço já duplicou e está agora em 72 dólares. O que podem os portugueses esperar nas bombas de gasolina este Verão? Uma certeza: podem contar desde já com uma subida dos preços dos combustíveis.
Desde o mínimo atingido em Janeiro deste ano, o preço da gasolina já subiu 22,5% (mais 23,7 cêntimos por litro, para 1,291 euros) e o gasóleo 8,5% (mais 0,079 cêntimos, para superar a barreira de um euro). Ontem, a Galp aumentou em meio cêntimo o preço da gasolina, apontando para a subida recente do preço da matéria-prima, o petróleo. Esta subida não deverá ser a última, uma vez que nos mercados internacionais o preço médio do gasóleo fechou a semana a subir 4%, com a gasolina a ganhar 2,2%.
A subida do preço do petróleo tem vindo a antecipar a esperada recuperação da economia mundial, afectada pela maior crise desde a segunda guerra mundial. Os observadores do mercado apontam que pode haver um excesso de optimismo nos mercados - a recuperação é ainda uma possibilidade frágil - o que deverá levar a uma correcção do preço na próxima semana.Contudo, a tendência geral do preço é de subida. Ontem, o cartel dos países produtores de petróleo, a OPEP, indicou que o pior (para quem vende) já terá passado, apesar de ter cortado ligeiramente a procura esperada em 2009 (uma contracção diária de 1,62 milhões de barris). O especialista José Caleia Rodrigues indicou ao i que assim que a retoma começar a dar sinais mais firmes, haverá condições para o preço subir. O presidente da BP, Tony Howard, fala de um intervalo entre 60 e 90 dólares.

Jornal I
Bruno Faria Lopes
Publicado em 13 de Junho de 2009

quinta-feira, 4 de junho de 2009

A recessão eclipsou quatro anos de subida do petróleo. Ao mesmo tempo, o mundo vira-se para energias alternativas. Mas a dependência da matéria-prima está longe do fim. E o preço baixo pode ser efémero e ter efeitos perversos.

O plano de investimento em infra-estruturas avançado esta semana por Barack Obama para reanimar a economia americana fez disparar o preço do petróleo e o valor em bolsa das petrolíferas. Mas a agenda de mudança do Presidente eleito dos EUA é outra. A aposta vai para a diminuição da dependência daquela matéria-prima, substituindo-a pelas energias renováveis. Mas é improvável que este esforço pelo maior consumidor de crude do mundo seja capaz de impedir o regresso do preço a níveis recorde.
Aos primeiros sinais de contaminação da crise financeira à economia mundial, a cotação do petróleo inverteu a tendência. Quando a palavra recessão passou a lugar comum no discurso de economistas e responsáveis políticos, a matéria-prima já perdera metade do seu valor. Hoje, mais de 100 dólares separam o preço actual do recorde registado em Julho, com os especuladores a desertarem e o mercado a ajustar à diminuição da procura.
"Os preços do petróleo estão a descer pelas más razões: uma diminuição da procura, em consequência da redução da actividade económica. As boas razões seriam que a procura diminuísse por vontade dos consumidores ou pelo aumento da eficiência energética", considera Caleia Rodrigues, especialista e autor de vários livros sobre o petróleo.
É esse o rumo que o mundo agora procura. Obama fez das energias renováveis uma das bandeiras da campanha à Casa Branca. Prometeu libertar a nação da dependência dos combustíveis fósseis através da promoção de fontes alternativas, gastar 15 mil milhões de dólares em tecnologias limpas e criar cinco milhões de "empregos verdes" na próxima década. O futuro Presidente quer também assegurar que no final do seu primeiro mandato, 10% da electricidade consumida nos EUA venha de fontes renováveis como a eólica, solar e geotérmica, e colocar em circulação até 2015 um milhão de carros eléctricos, de preferência fabricados nos Estados Unidos.
Para Caleia Rodrigues, é duvidoso que as energias renováveis sejam a solução. "As energias alternativas não resolvem o problema, não põem o mundo a funcionar". "A energia eléctrica, por exemplo, é viável para os transportes de vaivém diário entre as cidades e as periferias. Mas não para os transportes de longo curso e estes são indispensáveis para manter a globalização. Vão ser precisos mais combustíveis fósseis, a menos que se acabem os transportes internacionais e as trocas comerciais", advertiu.
A manter-se a dependência dos combustíveis fósseis, o preço actual do petróleo representa um risco elevado. "Esta situação é grave porque paralisa todo o investimento", afirma o especialista. Só com preços entre 60 e 70 dólares, os gestores podem considerar proporem aos accionistas a aposta em projectos de exploração petrolífera.
Se as coisas se mantiverem neste pé, "irá haver uma forte escassez de petróleo no mercado e os preços atingirão níveis exorbitantes", considera Caleia Rodrigues. O que levará a dois cenários: "quem puder pagar, pagará a qualquer preço; quem não puder pagar, terá graves situações sociais e de segurança interna", salienta.
Jornal de Negócios
10.Dez.2008
Carla Pedro
cpedro@negocios.pt
António Larguesa
alarguesa@negocios.pt

domingo, 24 de maio de 2009

O barril está a caminho dos 100 dólares e pouco falta para bater o nível mais alto de sempre registado em 1980 - valor ajustado à inflação - antes do conflito Irão-Iraque. Mesmo com a ajuda do euro, que atenua o efeito em Portugal, o aumento dos preços não se vai limitar aos combustíveis - transportes, electricidade, indústria e até alimentação

Pode ser um choque para as famílias os preços a que chegaram os combustíveis, o transporte aéreo ou os cereais. Pode ainda ser um choque para as empresas os elevados custos da produção cimenteira, siderúrgica e até automóvel. E pode ser um choque para todos o preço da electricidade e do gás natural. Será certamente um choque quando a factura energética de Portugal subir ainda mais. Mas, para a generalidade dos peritos, os actuais recordes do barril não constituem um novo "choque petrolífero". Pelo menos nos moldes daquele que ficou celebrizado pelas extensas filas à porta dos postos de combustíveis, no início da década de 80, e que tinha na sua origem os efeitos da revolução iraniana.
"Esta subida dos preços não é necessariamente uma escalada. É uma inevitabilidade. O petróleo é um bem finito e está a acabar. Portanto, isto não é um choque. É uma situação normal, dado o actual contexto estrutural de exploração", explicou ao DN José Caleia Rodrigues, especialista em questões petrolíferas e autor do livro Petróleo? Qual Crise? (ed. Booknomics). E esse contexto é marcado, independentemente das questões conjunturais (ver caixa na pág. ao lado), por uma diminuição das reservas de petróleo para explorar, por uma procura global quase incontrolável (com a emergência das fortes economias asiáticas) e por problemas na exploração e refinação. "Consoante o investimento que se for fazendo na exploração, o petróleo pode durar mais 30 ou mais 40 anos. Mas vai acabar", adiantou o mesmo perito.
A projecção deste futuro no presente dá-se através do actual equilíbrio entre consumo e fornecimento, cujos níveis - ligeiramente acima dos 80 milhões de barris por dia - estão praticamente sobrepostos. O resultado é que qualquer perturbação no consumo (aumentos pontuais conforme as épocas do ano) ou no fornecimento (fenómenos climatéricos, tensões políticas ou sociais, problemas tecnológicos) leva os preços a acelerar a sua inevitável trajectória ascendente.
É por isso que o preço do barril negociado em Nova Iorque atingiu esta semana um novo recorde nos 89 dólares. O brent de Londres está um pouco abaixo nos 84 dólares. E esta é uma diferença substancial em relação ao "choque petrolífero" da década de 80: a transformação do petróleo num produto financeiro, susceptível de reagir a especulações e a razões pouco materiais.
Recorde-se que em Abril de 1980 o petróleo chegou aos 101,70 dólares, o "verdadeiro" recorde, se tivermos em conta os valores ajustados à inflação. A média desse ano foi de 90,46 dólares, superior aos cerca de 67 dólares de 2007. Portanto, ainda não chegámos aos níveis que definiram o "choque petrolífero". Mas as circunstâncias também são diferentes. "Na altura, havia capacidade excedentária de produção para compensar a saída forçada do Irão devido a questões políticas. Agora não há", adiantou Caleia Rodrigues. Por outro lado, o "choque" definiu-se por um disparo súbito dos preços. A actual subida tem sido gradual. E, na década de 80, o consumo ressentiu-se de imediato. Actualmente, o consumo tem vindo a adaptar-se lentamente (com a ajuda da "explosão" das energias alternativas).
No entanto, apesar das diferenças, a dependência mundial é grande e a subida dos preços já se sente no bolso dos consumidores (ver textos na página ao lado). Para James Williams, da consultora WRTG Economics, "os efeitos já se sentem, em termos económicos, nos EUA e podem conduzir a uma recessão. Na Europa, o efeito é menor por causa da valorização do euro (ver gráfico)".
Para Caleia Rodrigues, o efeito na economia é importante, mas as consequências geopolíticas podem ser mais graves. "A Rússia e a China estão cada vez mais poderosas por causa do petróleo. E os EUA estão mais fracos e dependentes. Isso vai, a prazo, alterar o mundo como o conhecemos."

Diário de Notícias
Pedro Ferreira Esteves; Ana Suspiro
19 Outubro 2007

quarta-feira, 20 de maio de 2009


José Caleia Rodrigues
Analista de petróleo

O preço do petróleo atingiu, pela primeira vez desde Novembro de 2008, os 60 dólares por barril nos EUA. Qual vai ser a tendência num futuro próximo?
"Pensando a curto prazo, num período de um ano, o preço irá oscilar entre os 50 e os 80 dólares por barril. Mas até serem retomadas novas explorações os valores devem andar bastante oscilantes."

O preço do barril de petróleo pode chegar novamente aos cem dólares?
"Se a situação não se estabilizar nos próximos anos, poderemos até chegar aos duzentos dólares."

Mas não a breve prazo, então...
"Não. Penso que os 60 dólares actuais se irão manter co mo valor mínimo durante algum tempo, mas o preço aumentará proximamente."

O que pode evitar que uma subida significativa venha a acontecer?
"Se não houver um investimento maciço em novas capacidades de exploração, o preço do petróleo poderá subir imenso nos próximos meses. As taxas de esgotamento são altissimas. É importante que as novas explorações sejam retomadas para que o preço do barril possa diminuir."

Jornal I
Secção P&R (Perguntas e Respostas), página 13
M.C.
20 de Maio de 2009

terça-feira, 5 de maio de 2009

OIL AS A DIPLOMATIC WEAPON (Master's degree dissertation)

OIL AS A DIPLOMATIC WEAPON: THE STRATEGIES AND POLITICS OF BREAKING DEPENDENCY ON ENERGY NEEDS BY MIDDLE LEVEL DEVELOPING COUNTRIES WITH TECHNOLOGICAL CAPACITY.

Dissertation submitted to the Faculty of Arts (International Relations Department), University of the Witwatersrand, Johannesburg, in fulfilment of the requirements for the degree of Master, on 6th day of November 1997.
José Júlio Caleia-Rodrigues
Student No. 9614130F

Was admitted to the Degree of Master at a congregation of the University held on 2 June 1998.

ABSTRACT
Faced with the potential threat of oil embargoes imposed by producer countries for political reasons, the consumer countries reacted by creating different alternatives which granted them some energy independence and security of supply by using alternative products and technologies available in their own countries.
Can a middle level developing country break out of the cycle of dependency in the area of energy?
This dissertation investigates the strategy developed and implemented by South Africa between 1973 and 1993, which invested heavily in the generation of fuel extracted from coal in order to rescue its country from crisis and support it through critical periods of history.

CONTENTS
INTRODUCTION
CHAPTER 1 : Economic Imperialism and Dependence
1.1 - Economic Imperialism
1.2 - The world resources management
1.3 - Public interest
1.4 - Political control exercised by major powers
1.5 - Dependence theory
1.6 - Development strategy based on self-reliance
1.7 - Term of trade and GATT
CHAPTER 2 : Economic Threats
2.1 - Conflict over the globe's scarce resources
2.2 - Sovereignty over natural resources
2.3 - Collective Security System
2.4 - OPEC and the Petro-Jihad
CHAPTER 3 : Why Oil?
3.1 - The increasing needs of energy sources
3.2 - South Africa searching for petroleum
3.3 - International searching for liquid fuels
3.4 - The struggle for oil by great powers
CHAPTER 4 : Balance-of-Power : From the "seven sisters” to OPEC
4.1 - The oligopoly of the "seven sisters" cartel
4.2 - Oil concessions governed by international or municipal law
4.3 - The rise of OPEC
4.4 - OPEC started using its oil weapon
CHAPTER 5 : Oil as a diplomatic weapon
5.1 - The new powerful factor
5.2 - The oil revenues for political ends
5.3 - The implementation and first use of the "oil weapon"
5.4 - Economic consequences of the oil embargoes
5.5 - Increasing dependence of the oil consumers
CHAPTER 6 : Reaction to the embargoes imposed by oil producers:
The South Africa's option: oil-from-coal (case study)
6.1 - Oil embargoes imposed on South Africa
6.2 - The South African coal availability
6.3 - Technological background to produce fuel-from-coal
6.4 - Financial resources
6.5 - Political Will
CONCLUSIONS
LIST OF REFERENCE FIGURES
REFERENCES
BIBLIOGRAPHY
REFERENCE FIGURES

domingo, 3 de maio de 2009

A jornalista Marina Alves Francisco falou com o presidente da Galp, Manuel Ferreira de Oliveira, sobre a entrada em funcionamento do campo Tupi, na Bacia de Santos, uma das mais ricas reservas de petróleo do mundo
Caleia Rodrigues, especialista em petróleo, diz que é excessivo dizer que Portugal vai tornar-se auto-suficiente na área da energia com o negócio da Galp

O presidente executivo da Galp Energia afirmou, esta sexta-feira no Rio de Janeiro, que o início da exploração das gigantescas reservas de petróleo ao largo da Bacia de Santos correspondem a mais um passo para que Portugal consiga alcançar a auto-suficiência.
O presidente executivo da Galp, Manuel Ferreira de Oliveira, que se deslocou ao Brasil para participar na cerimónia de início de exploração do campo Tupi, onde a Galp detém uma participação de 10 por cento num consórcio liderado pela brasileira Petrobras, juntamente com o BG Groupe, afirmou que os recursos da empresa portuguesa «já são suficiente para atingir o objectivo estratégico de produção de 150 mil barris por dia».
Manuel Ferreira de Oliveira, sublinhou ainda que as actuais reservas de petróleo e gás da Galp, avaliadas em 2,1 mil milhões de barris, «significam que, se fosse possível utilizá-las todas simultaneamente» a empresa seria capaz de «abastecer todo o mercado nacional durante 21 anos».
O presidente reforçou a sua convicção de que a actual administração da Galp «está claramente a construir uma empresa de petróleos de média dimensão» após a sua aposta no Brasil.
Com o início da produção de petróleo no Tupi, a Galp vai investir 263 milhões de euros num poço que se estima que esteja a produzir em força no final de 2010, ao ritmo de 100 mil barris diários.
Entretanto, Caleia Rodrigues, especialista em petróleo, disse à TSF que é exagerado dizer que esta exploração da Galp no Brasil é meio caminho andado para que Portugal se torne auto-suficiente em petróleo.
«Não posso relacionar directamente uma coisa com a outra. Um facto é uma empresa petrolífera que dispõe de recursos importantes e outro é que o país possa gozar dessas vantagens», afirmou.

TSF
2.Maio.2009
10h22

quarta-feira, 29 de abril de 2009

O período que decorreu entre meados de 2007 e de 2008 foi fértil em acontecimentos muito marcantes no sector energético, sobretudo no que se refere ao petróleo, na sua qualidade de matéria-prima estratégica e de produto financeiro.
Desde as alterações introduzidas na composição da OPEP e na sua continuada redução da produção e entrega de produto ao mercado, até ao turbilhão por que passaram os preços do crude, a obrigar a uma profunda inflexão para outras fontes energéticas alternativas e ao entendimento que, investir massivamente em novas localizações de bacias petrolíferas, será inadiável.
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terça-feira, 28 de abril de 2009

Comecemos por evidenciar a dependência manifestada por numerosos países, na sua incessante busca de novas e mais seguras origens de bens energéticos, indispensáveis à manutenção do seu tecido socioeconómico.
As populações reclamam o direito à energia!
De forma mais equitativa e mais razoável.
Após tanto tempo e tanto esforço consumidos, ainda não dispõem de instrumentos jurídicos que lhes outorguem esse direito.
Constata-se, imediatamente, que, quer a Carta da Organização das Nações Unidas, quer a Declaração Universal dos Direitos Humanos são omissas quanto à reclamação desse direito.
Como esteve, igualmente omisso, em anteriores tentativas de fundamentação de direitos humanos.
Nas seguintes tentativas encontramos o projecto do Pacto dos Direitos Humanos, proposto pela Comissão, em Janeiro de 1955, em que já se afirmava que “O direito dos povos à auto-determinação também deve incluir permanente soberania sobre a sua riqueza e recursos naturais. Um povo não poderá, em nenhum caso, ser desprovido dos seus próprios meios de subsistência com base em direitos que possam ser reclamados por outros Estados.”
Porém, esta proposta foi alterada, passando a conter os termos que, aparentemente, permitiram atingir os objectivos pretendidos:
“Os povos podem, para os seus próprios fins, dispor livremente das suas riquezas e recursos naturais, sem prejuízo das obrigações que surjam da cooperação económica internacional baseada no princípio do mútuo benefício e no direito internacional. Um povo, não pode, em nenhum caso, ser desprovido dos seus próprios meios de subsistência”.
Note-se que a definição de meios de subsistência continuou a não incluir a energia como meio de subsistência básico. Mas parece de relevante importância ver como foi evoluindo o direito à soberania sobre os recursos naturais e em que sentido se foi orientando.
O princípio da soberania permanente sobre recursos naturais tem sido enunciado e reafirmado num conjunto de Resoluções da Assembleia Geral das Nações Unidas.

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Em face deste panorama e à luz do Direito Internacional Público, seremos obrigados a conjugar as diferentes fontes energéticas disponíveis, utilizá-las racionalmente e compaginar ambiente mais limpo com desenvolvimento económico.
No equilíbrio das várias opções a tomar, residirá o bem-estar da civilização, tal como a conhecemos.
© J. Caleia Rodrigues
http://coisasdopetroleo.blogspot.pt

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Introdução

Outubro de 1929. Em Wall Street, o maior mercado bolsista do Mundo, milhões de acções a preços de saldo não encontravam comprador. A bolsa de Nova Iorque caiu a pique, depois de vários meses de instabilidade que colocaram um ponto final na felicidade dos anos 20. Acções rasgadas nas ruas e empresários que se atiravam desesperados dos arranha-céus de Manhattan. O pânico instalou-se e contagiou o Mundo inteiro numa tremenda crise bancária. De 1929 a 1931 faliram perto de dois mil bancos! A recuperação só foi sentida por volta de 1940, mas o Dow Jones, até 1954, não voltou a alcançar os níveis anteriores à Grande Depressão de 1929.

Entre 1973 e 1975, foi o primeiro choque petrolífero. A OPEP recusou-se a vender petróleo aos países que apoiaram Israel durante a Guerra do Yom Kippur – EUA e aliados da Europa Ocidental – e os preços do crude dispararam. As economias entraram em crise e as empresas sofreram um doloroso racionamento de energia. O Sistema Monetário Internacional (SME) ficou um caos depois de Richard Nixon desligar o Dólar do padrão ouro. O elevado desemprego, o aumento da pobreza e a diminuição do consumo, fizeram regressar a sombra de 1929. Alguns disseram que as causas desta crise estavam na evolução do próprio sistema capitalista devido, entre outras coisas, aos avanços tecnológicos que provocavam grandes subidas no desemprego.

Passados cinco anos, em 1980, o petróleo voltou a afectar os países desenvolvidos. A guerra Irão-Iraque resultou num congelamento imediato das exportações de crude iraniano e na subida descontrolada dos preços. Neste caso, as medidas paliativas não se fizeram esperar e as grandes potências tiveram de recorrer, mais uma vez, a restrições ao consumo. A Arábia Saudita, o aliado dos EUA e das economias ocidentais, aumentou a produção e acalmou os mercados. Pouco depois, o reanimar das exportações do Irão voltou a fazer baixar os preços.

Em 1997 os chamados “Tigres Asiáticos” sofreram a pior crise da sua história. A excessiva ambição de muitos investidores, que pensavam ter encontrado naquela zona do planeta uma verdadeira mina de ouro e a especulação contribuíram para uma enorme desvalorização das moedas. O pio momento chegou quando explodiu a bolha japonesa. O valor dos activos caiu a pique, deixando desorientados os mercados financeiros internacionais. Foi com a intervenção do FMI que os mercados asiáticos acabaram por recuperar o ritmo de crescimento anterior à crise.

No início de 2000, o rápido desenvolvimento da Internet e das suas novas empresas, provocou um aumento disparatado do investimento nesta área, o que resultou numa insustentável valorização das acções “tecnológicas” criando uma gigantesca bolha especulativa. Os anunciados lucros – milagrosos! - nunca chegaram e os investidores começaram a debandar das empresas em que tinham acreditado. A bolha estoirou!

Agora, estamos outra vez em apuros! A actual crise económica e financeira – a Grande Depressão de 2008 – começou também nos EUA e contagiou todo o planeta.
Neste livro, em que colaboram algumas das mais importantes figuras portuguesas da vida universitária, económica, empresarial e social, tentamos fazer uma primeira leitura do Mundo instável e perturbador que nos rodeia.
O cenário económico e financeiro internacional e o impacto em Portugal, dominam as atenções dos 43 participantes.

Vamos tentar explicar como tudo começou, a prtir do vírus financeiro que destroçou os EUA, contagiou o Mundo inteiro e alastrou à economia real. São ainda feitas abordagens a áreas estratégicas como a Energia, o Petróleo, o Imobiliário, os Produtos Alimentares e, ainda, a liderança de pessoas e organizações em tempo de crise. E vamos ainda ao Brasil perceber como uma economia emergente está a acomodar a “besta”.

Horácio Piriquito
Lisboa, Fevereiro de 2009


Índice

Introdução: Horácio Piriquito
António Miguel Gonçalves: De quem é a culpa
Diogo Vaz Guedes: A crise: lições e oportunidades
Francisco Murteira nabo: A crise e a transição para a sociedade do conhecimento
João Ferreira do Amaral: Questões simples sobre uma situação difícil
Vítor Bento: Uma crise económica ou mais que isso?
J. M. Brandão de Brito: Capitalismo. As crises e a crise
António Mendonça: A natureza da crise económica actual
António Neto da Silva: Crise? Não! Movimento Telúrico, sim
Paulo Soares de Pinho: A Regulação e as Crises Financeiras
Manuel Alves Monteiro: Uma economia mais saudável exige uma corporate governance mais consciente
Paulo Mendes Pinto: Capitalismo sem capital
José Penedos: Crises de 1929 a 2008
Luís Guimarães: Do subprime à recessão
Rui Leão Martinho: A crise, as medidas e a retoma
João Ermida: Valores precisam-se
Fernando Faria de Oliveira: Agir com determinação
António Nogueira Leite: As crises em que vivemos
Daniel Bessa: 2007/?: Uma crise diferente do “Programado”
João Duque: A “Minha” Crise
Fernando Santo: As origens da crise da economia virtual
Luís Todo Bom: Uma agenda positiva para Portugal
Luís Mira Amaral: A crise financeira e o caso português
José Carlos Tavares Moreira: “Money for nothing” – será suficiente para estimular as economias?
Vitor Gonçalves: Contrariar a crise
António Câmara: A Saída da Crise
António Gomes Mota: Revalorizar a Economia Real
Nuno Fernandes Thomaz: As duas crises
Luís Valadares Tavares: Portugal, 1997-2007: A década do atraso em relação à EU
Rui Semedo: E depois da crise, o quê?
José Tribolet: O Papel da Engenharia no Desenho, Operação e Controlo Dinâmico do Sistema Financeiro Mundial
Joaquim Borges Gouveia: Inovar para crescer – um imperativo para as empresas e universidades
José Manuel Moreira: Uma crise de respostas ou de verdadeiras perguntas?
Isabel Jonet: Regressar à essência
Fernando de La Vieter Nobre: Impacto social da crise económica e financeira
Manuel Carvalho da Silva: A Crise: analisar as causas, formular e exigir reformas e rupturas
João Proença: Vencer a Crise. Construir o Futuro com Emprego e Solidariedade
Luís Braga da Cruz: Uma leitura pelo lado da energia e dos processos de liberalização dos mercados
José Caleia Rodrigues: Petróleo: Mais longe, Mais fundo e Mais caro
Arlindo Cunha: Mercados Agroalimentares, novos horizontes para a agricultura
Pedro Seabra: Dinheiro, Inquilinos e Prédios
Luís Palha: Simplicidade, estabilidade e previsibilidade
António Pita de Abreu: O Brasil na Crise Financeira Global
Jorge Araújo: Liderança em contexto de crise

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

No segundo painel da manhã da Expo Energia, José Caleia Rodrigues, especialista em questões petrolíferas, referiu que a crise energética «é fonte de instabilidade interna e de insegurança», acrescentando que «os Estados têm a obrigação de garantir o direito de acesso à energia antes que a carência gere conflitos armados».

Para isso, disse Caleia Rodrigues, é necessário alterar os actuais padrões de produção e consumo energético nos países desenvolvidos, que «não poderão continuar por muito mais tempo». O especialista vincou que «a imitação destes padrões por parte dos países em desenvolvimento irá causar irreparáveis danos».

Ambiente online
Paula Malheiro
2008-11-25