sexta-feira, 23 de maio de 2008

A produção não vai acompanhar a procura. Ruptura é possível.
O cenário é mais negro do que se pensava e a principal entidade responsável pela monitorização do consumo energético mundial está a preparar uma revisão das suas previsões para o fornecimento de crude.
Ao que tudo indica a oferta do “ouro negro” dos maiores campos petrolíferos do mundo não é suficiente para fazer face ao actual ritmo de crescimento da procura. A leitura pode não parecer nova mas agora existem números para o comprovar. Pela primeira vez, a Agência Internacional de Energia (AIE) está estudar minuciosamente a capacidade de fornecimento de crude dos 400 maiores campos de petróleo do mundo. O estudo completo só será divulgado em Novembro. No entanto, segundo os dados a que o ‘Wall Street Journal’ teve acesso, já é possível concluir que a capacidade de fornecimento de petróleo destes campos poderá ser muito menor do que a inicialmente se pensava.
Durante muitos anos, a AIE pensou que a oferta de crude e de outros combustíveis líquidos iria acompanhar a procura crescente da matéria-prima, passando de um fornecimento dos actuais 87 milhões de barris por dia para os 116 milhões de barris diário, em 2030.
No entanto, o estudo vem demonstrar que, para muitas empresas, já será difícil conseguir ultrapassar uma produção de 100 milhões de barris por dia, nas próximas duas décadas, devido não só ao envelhecimento dos campos de petróleo como também da diminuição do investimento das empresas. Ou seja, a falta de petróleo poderá chegar mais cedo que o previsto, embora o relatório, na parte já divulgada, não aponte uma data. “O investimento necessário para o petróleo é muito superior ao que as pessoas pensam”, adiantou Fatih Birol, economista-chefe da IEA e responsável pelo estudo, em entrevista ao ‘Wall Street Journal’.
Para inverter ou pelo menos atenuar este cenário, José Caleia Rodrigues não tem dúvidas de que “tem de haver um abrandamento da procura”, adiantou ao Diário Económico o consultor e especialista em energia.
Segundo o especialista o aumento das “taxas de esgotamento” vai conduzir à falta de crude. A manter-se este cenário “dentro de três a quatros anos vai haver falta de petróleo no mercado. Serão sobretudo um conjunto de países, no qual se insere Portugal, que vão sofrer mais e não os grandes como, por exemplo, os EUA”, esclareceu Caleia Rodrigues.
No entanto, a recente escalada do preço do petróleo nos mercados internacionais não está relacionada com o binómio da oferta e procura de crude.
Segundo Nuno Ribeiro da Silva, presidente da Endesa Portugal e economista, o facto de o crude estar a cotar nos 135 dólares por barril está antes relacionado com a “desconfiança geral dos fundos de investimento e dos investidores no sistema financeiro, o que tem levado a que se refugiem nas reservas de valor, como por exemplo o petróleo”, adiantou em declarações ao Diário Económico.
Impacto imediato nas viagens e na alimentação

TAP aumenta preços - Sobe a taxa de combustível
A TAP já aumentou a sua taxa de combustível. Nos voos dentro da Europa, esta taxa passa de 29 para 32 euros; nos internacionais o aumento chega aos 10 euros. A American Airlines foi mais drástica e anunciou mesmo a redução da frequência dos voos em algumas rotas.
Bagagem custa 9,5 euros - Passageiros pagam cada mala
As companhias aéreas internacionais já avisaram que com os combustíveis mais caros os custos serão partilhados com os passageiros. A Air France-KLM ainda não avança valores mas a American Airlines já anunciou que vai cobrar 9,5 euros por cada mala embarcada.Peixe mais escasso - Armadores fazem greve
Sindicatos de pescadores e associações de armadores ameaçam deixar de ir ao mar enquanto o Estado não tomar medidas para suavizar os custos do aumento dos combustíveis. Tal poderá levar à escassez de peixe em Portugal. O Governo já rejeitou a atribuição de subsídios.
Carros europeus vão ter de gastar menos
O Parlamento Europeu já tem um plano em marcha para arranjar alternativas ao petróleo. Segundo os especialistas de Bruxelas os carros vendidos na União Europeia em 2020 terão de usar menos combustível do que os modelos actuais.
Guido Sacconi, o socialista italiano que está a trabalhar na legislação desta matéria, propôs limitar a média das emissões de carbono dos novos carros, em 2020, a 95 g/km, comparativamente aos 160 g/km de 2006, adianta o Financial Times.
No entanto, já existem alguns modelos no mercado que preenchem este requisito, estando mesmo abaixo dos 99 g/km de emissões de carbono do novo VW Golf Bluemotion, considerado o carro mais “limpo” à venda. Por exemplo, o VW Lupo, apenas emite 81g/km. Na União Europeia existem metas globais de emissões de CO2 que têm de ser cumpridas. O socialista Sacconi relembra, actualmente, os transportes rodoviários são responsáveis por 12% das emissões de CO2 na União Europeia e a tendência é para que este valor continue a aumentar. Isto deve-se, essencialmente, ao crescimento do número de carros em circulação no espaço europeu. ”.
Crude corrige depois de bater novos máximos
Extrema volatilidade. É a melhor forma de descrever a evolução dos preços do petróleo na sessão de ontem. O dia começou com novos máximos históricos, acima dos 135 dólares por barril, tanto para o crude vendido em Nova Iorque como para o Brent, que serve de referência às importações nacionais. Estas subidas deveram-se sobretudo ao valor das reservas norte-americanas, que voltaram a cair inesperadamente, e às declarações de responsáveis da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), que dizem nada poder fazer para contribuir para a redução dos preços. Por outro lado, a escalada do crude deveu-se também a motivos técnicos: investidores fizeram ‘short-selling’, apostando na queda dos preços e, mesmo com estes em alta, tiveram de ir ao mercado comprar contratos para poder vender, honrando os contratos. A pressão aliviou-se na segunda metade da sessão, com a tomada de mais-valias, levando os preços a descerem mais de 2 dólares em Nova Iorque e cinco dólares em Londres.

Diário Económico
Edição Impressa - Finanças
Relatório da Agência Internacional de Energia 2008-05-23 00:05
Bárbara Barroso
23.Maio.2008