domingo, 25 de maio de 2008

Nota de abertura da Conferência

Em primeiro lugar devo saudar e louvar os promotores deste Forum por esta oportuna iniciativa.
O convite para vir moderar o painel denominado “Da crise do petróleo à oportunidade das energias alternativas” constituiu para mim um privilégio que vou tentar merecer.
Isto, porque, nestas matérias, sou um activo incitador e hoje vejo-me a desempenhar o papel de moderador.
No que se refere à indicada “Crise de petróleo” que constitui a primeira parte do título desta mesa redonda, sinto-me na obrigação, para ser coerente em relação ao que tenho dito e escrito, de apresentar a minha posição, partilhada por muitos outros analistas desta matéria: nem o sector nem o mercado petrolíferos atravessam uma crise.
Uma crise é algo de passageiro ou transitório.
A situação aparenta um fim de ciclo que se caracterizou por uma suficiente capacidade extractiva instalada no sector e um regular abastecimento ao mercado.
É por demais evidente a dependência económica configurada por numerosos países, na sua incessante busca de novas e mais seguras origens de bens energéticos, indispensáveis à manutenção do seu tecido social e económico.
O que os torna estratégicos é a sua influência na soberania e na segurança nacionais.
A energia assumiu uma posição dominante na extensa agenda política económica.
Apresenta-se, nas suas várias formas, como símbolo de desenvolvimento económico e, ainda mais, de riqueza e prosperidade.
O acesso e o controlo dos recursos energéticos constituem uma preocupação central dos governantes e de todos aqueles que se encontram envolvidos em processos de produção industrial.
A situação colocada em torno da disponibilidade e entrega de petróleo ao mercado está na ordem do dia.

Podemos enumerar a acumulação de constrangimentos exógenos a que o sector foi sujeito, de entre os quais se podem salientar:
· a duplicação da população mundial tendente para explosão demográfica, dado que passou dos 3 para os 6 mil milhões de habitantes em apenas 40 anos;
· o aumento desmesurado do consumo de combustíveis fósseis;
· as constantes e sucessivas pressões geopolíticas que têm colocado o sector petrolífero em permanente instabilidade.

Mas também encontramos muitos factores dentro do próprio sector, que provocaram grandes constrangimentos, tais como:
· O encerramento de inúmeros poços de extracção, não totalmente substituídos por outras novas explorações. Só nos Estados Unidos, dos cerca de 1.500 poços em actividade no início da década de 1980, só estão actualmente em actividade 560.
· O sector da refinação foi submetido a idêntico processo, nalguns casos devido à exigência de adaptação ás novas regras ambientais. Enquanto, no início da década de 1980 se dispunha de uma capacidade de refinação superior ao consumo em cerca de 25 por cento, situa-se, actualmente, em valores muito próximos dos do consumo. Ou seja, o sector da refinação dispõe apenas, actualmente, de uma margem mínima de capacidade para acomodar mais aumentos de produto a entregar ao mercado.
· o arrefecimento do investimento no sector petrolífero durante as décadas de 1980 e 1990, em toda a cadeia petrolífera, desde a sondagem e detecção de novas bolsas petrolíferas, abertura de novas extracções ou da construção de novas e mais adequadas refinarias.

Encontramo-nos hoje perante opções a tomar, que não podem continuar a ser adiadas, sob pena de nos vermos, a curto prazo, numa situação de carência generalizada, de consequências muito difíceis de ultrapassar:
· Se os preços do barril de petróleo forem colocados de tal modo baixos que os tornem acessíveis às economias débeis e dependentes da importação do petróleo para satisfazer as suas necessidades energéticas, desmotiva o investimento em novas descobertas e novas produções. Logo, o produto escasseará e provocará tomadas de posição que podem conduzir a conflitos de imprevisível dimensão.
· Se os preços forem colocados a um nível que incite o investimento, corre-se o risco do esmagamento global das economias dependentes, inclusivamente das ocidentais europeias e das norte-americanas.
Recordo que os países da União Europeia, dependentes da importação de petróleo, pagaram cerca de 240.000 milhões de dólares o ano passado e os Estados Unidos, nada menos do que cerca de 300.000 milhões. Qualquer subida substancial no valor do barril de petróleo provocará grande agitação nas suas economias.
Daí a necessidade imperiosa da racionalização dos consumos do petróleo, da eficiência energética e do crescente recurso à utilização das energias alternativas.
Para isso aqui estamos hoje, para ouvir o que têm para nos dizer alguns dos maiores players nesta estratégica e sensível matéria.

J. Caleia Rodrigues
Hotel Meridien, Lisboa