quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
José Caleia Rodrigues em entrevista (Jornal de Negócios on line, 10.Dezembro.2008)
Publicada por José Caleia Rodrigues à(s) 21:38"Se não houver investimento em novas capacidades, petróleo terá preços exorbitantes"
José Caleia Rodrigues é especialista em questões petrolíferas e já publicou vários livros sobre o tema. Em entrevista telefónica ao Negócios, salienta que as actuais cotações do petróleo congelaram o investimento em novas capacidades de produção, o que levará a uma escassez no mercado e à consequente subida dos preços para níveis exorbitantes.
José Caleia Rodrigues é especialista em questões petrolíferas e já publicou vários livros sobre este tema, que acompanha também no seu blog. Em entrevista telefónica ao Negócios, salienta que as actuais cotações do petróleo congelaram o investimento em novas capacidades de produção, o que levará a uma escassez no mercado e à consequente subida dos preços para níveis exorbitantes.
Por que está o petróleo tão barato?
Os preços do petróleo estão a descer pelas más razões: uma diminuição da procura, em consequência da redução da actividade económica. As boas razões seriam que a procura diminuísse por vontade dos consumidores ou pelo aumento da eficiência energética.
E que pode acontecer, com os actuais preços?
Este abanão no sector petrolífero é grave, já que paralisou todo o investimento. Há quatro anos que os grandes extractores mundiais vêm a reduzir a entrega de petróleo ao mercado. Isso é grave. Um dos grandes produtores clássicos, a Arábia Saudita, tem o maior poço de petróleo do mundo agora com taxas de esgotamento enormes. Há um programa de investimento para lançar 300 novos poços numa bacia mais pequena, mas está suspenso, à espera de oportunidade para ser relançado. A Arábia Saudita não tem hoje capacidade de aumentar nem de manter a sua produção.
Que nível de preços seria desejável? A OPEP fala em 70-80 dólares...
O nível entre os 60 e os 70 dólares é o mínimo para que um projecto de exploração seja rentável. Ou seja, será preciso que o crude volte a esses níveis para se relançar o investimento, congelado já há muito tempo. E, mesmo assim, nada garante que um gestor considere encorajador incentivar accionistas a investirem em projectos de exploração petrolífera se os preços estiverem entre os 60 e os 70 dólares, já que se trata de uma área muito arriscada. É que quem investe, sabe que demorará 10 a 12 anos até que uma nova exploração atinja a velocidade de cruzeiro e nunca se sabe a que preço vai poder vender, nem que quantidade exacta de bom produto é que vai obter.
E se não houver investimento no futuro próximo?
Aos preços actuais, o investimento parou. E é de salientar que a década de 90 já tinha congelado o investimento, pois foi um período que esteve a rentabilizar o investimento que tinha sido feito. Depois, esse investimento recuperou um pouco em 2000, mas voltou a cair. Por isso, há muito tempo que não há investimento. E se as coisas se mantiverem neste pé, irá haver uma forte escassez de petróleo no mercado e a que os preços atinjam níveis exorbitantes. O que levará a dois cenários: quem puder pagar, pagará a qualquer preço; quem não puder pagar, terá graves situações sociais e de segurança interna.
Isto é um drama. O produto vai escassear. Está previsto que entre 2010 e 2012 haja uma escassez do produto no mercado se não houver novas descobertas e investimento. A Agência Internacional da Energia diz que é preciso investir 150 mil milhões de dólares por ano em novas explorações.
Quando o “pipeline” russo para a China estiver a funcionar, no Outono de 2009, a coisa ainda vai ficar mais feia. Nessa altura, irá ser canalizado mais um milhão de barris por dia para a China. Alguém vai ter que pagar. Alguém vai ter menos petróleo. Se a China vai ter mais um milhão de barris, alguém terá que ter menos esse milhão e será alguém que não o possa pagar.
E quanto ao desenvolvimento de energias renováveis?
As energias alternativas não resolvem o problema, não põem o mundo a funcionar. Só o que puder ser movido a electricidade é que vai beneficiar delas.
Será nos transportes de longo curso que vai haver um maior consumo de combustíveis fósseis. Os barcos não vão andar todos a energia nuclear e os aviões não vão andar como a passarola de Bartolomeu de Gusmão. A energia eléctrica, por exemplo, é viável para os transportes de vaivém diário entre as cidades e as periferias. Mas não para os transportes de longo curso e estes são indispensáveis para manter a globalização. Vão ser precisos mais combustíveis fósseis, a menos que se acabem os transportes internacionais e as trocas comerciais.
Jornal de Negócios on line
10.Dezembro.2008
Carla Pedro
cpedro@mediafin.pt
Etiquetas: Entrevista