quinta-feira, 9 de julho de 2009

Artigo de opinião (autohoje, 3.Julho.2009)

O consumo mundial de petróleo tem aumentado a uma taxa próxima dos 2 por cento ao ano, até que as grandes bolsas petrolíferas, há longo tempo em exploração, começaram a atingir taxas de esgotamento tão importantes que poderão mesmo vir a pôr em risco o corrente abastecimento do mercado. Os efeitos causados pelo galopante esgotamento das bacias em exploração, poderão assumir dimensões potencialmente devastadoras.
Numa situação desta natureza, as consequências da diferença entre oferta possível e procura exigida serão, sem sombra de dúvida, muito maiores que o considerado admissível, à luz da segurança e da soberania nacionais.
Apesar de alguma retoma, o recente aumento de novas descobertas não tem correspondido ao aumento da procura, o que leva a considerar a hipótese da eventual existência de períodos de carência de abastecimento a curto prazo.
A acentuada e rápida descida dos preços verificada a partir do mês de Julho de 2008 não se ficou a dever às boas razões esperadas. Não foi motivada pelo aumento da produção ou da tão desejada eficiência energética. Deveu-se, outrossim, à redução da procura que acompanhou a redução da actividade económica nas principais regiões industrializadas. Logo, tudo leva a crer que, mal passada as causas que a motivaram, regresse, em força, a pressão sobre a oferta.
Há que ter em conta que a exploração de novas bolsas petrolíferas exige tecnologia e onerosos recursos específicos. Terão que ser exploradas mais longe, mais fundo e mais caro. De salientar que a futura geração de energia requererá níveis de investimento muito mais elevados do que os aplicados no passado, para compatibilização da satisfação da procura com as exigências ambientais, a descarbonização dos produtos energéticos e o acréscimo dos custos resultantes da implementação de reforçados sistemas da segurança das instalações de extracção e de transporte.
À quase estagnação de investimento registada na década de 1990 seguiu-se uma outra, aparentemente de ainda maior dimensão, a partir de 2006. O conjunto de anúncio de cancelamento de projectos e de “adiamentos por período indeterminado” tem aumentado de forma crescentemente preocupante. Porém, grande parte dos projectos que não arranquem no imediato, não estarão prontos para entrar em serviço em 2012-2013, prazo que tem sido considerado como limite para manutenção dos actuais níveis de produção mundial. Mas as dificuldades de captação do indispensável financiamento, a que se associa uma generalizada crise de confiança e de incerteza em relação à retoma económica global, não nos permitem atingir um grau de optimismo que nos tranquilize quanto à exigível garantia da continuidade de abastecimento.
J. Caleia Rodrigues
Analista e consultor dos mercados energéticos