segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Revolução do petróleo de xisto nos Estados Unidos prejudicou Angola Os Estados Unidos passaram de importador a produtor de combustíveis fósseis, o que tem provocado o cancelamento e colocado em risco a viabilidade de projectos de exploração em países lusófonos. A revolução do petróleo e do gás de xisto nos Estados Unidos está a prejudicar a exploração do petróleo offshore (no mar) em Angola. Estas plataformas petrolíferas são dispendiosas e acarretam elevados custos, e num mundo com o barril de petróleo abaixo dos 70 dólares estes projectos estão sob pressão. Esta foi uma das conclusões da mesa redonda sobre petróleo e geopolítica que teve lugar durante o VI Congresso da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) nesta terça-feira, 3 de Maio, em Lisboa. "Hoje o petróleo angolano não e indispensável para os Estados Unidos", começou por apontar o especialista em geopolítica do petróleo, José Caleia Rodrigues. Durante muitos anos, o pais serviu como um "depósito de petróleo a funcionar durante 24 horas" e que rapidamente atravessava o Atlântico rumo aos Estados Unidos quando necessário, explicou. O crescimento na produção norte-americana e as consequentes mudanças nos mercados mundiais são sinais "muito preocupantes para angolanos, moçambicanos e brasileiros", disse Caleia Rodrigues, pois colocam em risco os projectos mais dispendiosos. O presidente da petrolífera Partex, por seu turno, também se debruçou sobre este país lusófono para concluir que "Angola cometeu um erro estratégico em apostar só no offshore". António Costa e Silva (na foto) começou por destacar que a revolução do petróleo e do gás de xisto mudou o custo marginal da produção que antes estava no offshore. "Hoje para respondermos à procura mundial não precisamos do offshore". Contudo, considera que estes projectos vão voltar a ser viáveis quando o preço do barril regressar aos 70-80 dólares. Deu o exemplo do projecto de Chissanga, cuja desenvolvimento foi adiado. Destacou que existe muito potencial no "onshore" (em terra) angolano, como nas bacias do Alto do Namibe, Cuando Cubango ou do Kwanza, mas que as autoridades deixaram passar oportunidades para explorá-los, ao não usarem métodos sísmicos avançados para analisar estas bacias. Defendeu assim que "Angola deve desenvolver uma estratégia", para ultrapassar a actual situação, isto num país em que 80% das receitas e mais de 90% das exportações dependem do petróleo. "Angola podia ter aproveitado o 'boom' do petróleo para diversificar a economia, o que não aconteceu, os esforços das autoridades foram poucos, e os diamantes representam apenas 2% do PIB", enumerou. Para terminar, destacou que Angola só tem reservas provadas de petróleo para 15 anos, o que é "muito pouco". André Cabrita-Mendes Negócios - 03 de maio de 2016 às 13:11