quarta-feira, 18 de junho de 2008

O choque petrolífero vai custar ao país sete mil milhões de euros – 4,5% do PIB – o valor mais alto desde a crise dos anos 80.
Este ano, o choque petrolífero em curso deverá custar à economia portuguesa mais de sete mil milhões de euros, cerca de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB), e isto considerando apenas a despesa directa com petróleo bruto. É o valor mais alto desde a crise dos anos 80.
Cálculos com base nos dados mais recentes da British Petroleum (BP) e nas previsões oficiais para a cotação do barril (115,5 dólares) e do euro (1,54 dólares) mostram que a factura energética deverá subir 30% em 2008, assumindo que o consumo recua – o que já está a acontecer. Caso o consumo se mantenha nos níveis de 2007 ou o euro perca valor, o quadro será mais adverso. Do lado da cotação do crude, os especialistas consideram estarem reunidas as condições para que os preços continuem em alta: a procura cada vez mais forte das economias emergentes e a incapacidade de produzir mais com a tecnologia disponível. A BP confirma-o: em 2007, o consumo superou a oferta e a diferença foi a maior de sempre.
Os analistas consideram que o enfraquecimento do consumo é o cenário mais plausível, tendo em conta as previsões de fraco crescimento do PIB (1,5%), perda de poder de compra e dificuldades na actividade das empresas. “O choque em curso é demasiado grande para que não haja efeitos negativos no consumo. Foi assim em 2006 [compras de crude caíram 9%], será assim este ano”, defende José Caleia Rodrigues, especialista em energia.
A factura de 7,6 mil milhões de euros a ser paga pelos portugueses pressupõe que o consumo de petróleo cai 7%, ligeiramente menos do que a quebra de 2006, já o choque petrolífero tinha três anos – começou no ano da invasão do Iraque. A conta energética de Portugal em 2008 deverá ser, assim, a mais alta desde a crise da primeira metade dos anos 80, quando a factura disparou até 8,5% do PIB no rescaldo dos dois primeiros choques (1973 e 1978) e de uma grave recessão da economia nacional (entre 1982 e 1983). Se o consumo de petróleo ficar nos valores de 2007 (110 milhões de barris anuais), o problema será mais grave, custando 5% do PIB.
A dependência, a ineficiência e as soluções
O euro tem sido decisivo para amortecer os danos do choque ao longo dos últimos anos: se Portugal comprasse petróleo directamente em dólares pagaria mais 48% pelos mesmos barris, em 2008.
Segundo a BP, Portugal era, em 2007, o sexto país do mundo mais dependente de petróleo e o terceiro mais exposto da Europa e Eurásia. O petróleo pesa 60% no consumo total de energia primária (onde se incluem também gás natural, carvão e barragens, mas não entram fontes renováveis como a solar e eólica). Os mais dependentes desta região são a Grécia e Irlanda, mostra a BP.
“Em Portugal, a estratégia de política económica continua a passar pela construção de estradas e de incentivo ao transporte rodoviário. Assim nunca podemos esperar que a situação melhore”, acusa João Cantiga Esteves, economista e professor do ISEG. Eduardo Oliveira Fernandes, professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, refere que o maior problema do país é a ineficiência pois “o maior recurso energético está na energia que se desperdiça, cerca de 60% do total”. O catedrático aponta ainda outros bloqueios sérios como a falta de regulação na construção de edifícios ou os sistemas de transportes obsoletos.
“São precisas medidas de efeito imediato sobre o sector dos transportes, a circulação e a ocupação automóvel, por exemplo, e outras de médio/longo prazo, como o ordenamento das cidades e dos subúrbios ou a regulamentação para uma maior eficiência dos edifícios”, exemplifica Nuno Ribeiro da Silva, economista especializado em energia. Acusa ainda “as empresas de transportes públicos de nem sequer tentarem ser eficientes”. “Se não é numa altura de crise como esta que vivemos que chamamos as pessoas para os transportes públicos, não estou a ver quando será”, observa.O petróleo não é todo igual

Petróleo convencional - Custa 9 euros por barril
É o petróleo clássico, mais leve e fácil de refinar. Produzi-lo custa apenas 9 dólares por barril. Tem dois problemas: está a acabar em alguns países (Arábia Saudita) e é amplamente controlado pela OPEP.

Areias betuminosas - Custa 23 dólares por barril
É a riqueza inexplorada do Canadá. Se a tecnologia fosse viável, o país seria o segundo maior produtor do mundo. Produzir um barril deste petróleo custa 23 dólares e é altamente poluente.

Petróleo pesado - Custa 18 dólares por barril
É pesado e está mais fundo. É o crude mais comum nos mares do Brasil e Venezuela. Daí os elevados investimentos que a Galp tem de fazer para chegar até ele. Custa mais do dobro a produzir do que o normal.
Recuperação de poços - Custa 16 dólares por barril
Para aproveitar os poços hoje existentes até à última gota é preciso investir e poluir bastante. Um barril deste petróleo custa quase o dobro face ao crude normal e polui 70% mais.

Diário Económico
Alternativas energéticas 2008-06-18 00:05
Luís Reis Ribeiro