sexta-feira, 7 de março de 2008

Combustíveis estratégicos

A retirada israelita da Faixa de Gaza – A quem pertencerá o gás natural?

A Faixa de Gaza é constituída por apenas 352 km², dos quais 120 km² são irrigados a partir dos aquíferos próprios, o que permite o rápido desenvolvimento do seu sector agrícola, sobretudo no que se refere à produção de citrinos. Também dispõe de 40 km de costa mediterrânica, predisposta à pesca, desde e quando possa aceder à completa e total soberania das suas águas territoriais. Porém, não é na disponibilidade de recursos desta natureza que reside a interrogação: Quem e por que forma, acederá aos depósitos de gás natural offshore, existentes nessas águas territoriais? A Autoridade palestina ou o Estado de Israel?
Isto porque, o Estado de Israel não dispõe de suficientes recursos energéticos próprios, sendo forçado a depender quase exclusivamente de importações que satisfaçam as suas necessidades energéticas dessa estratégica matéria, indispensável à sua defesa, ao seu desenvolvimento económico sustentado e ao bem-estar da sua peculiar população.
Ao pretender aumentar a sua autonomia, especialmente no que se refere aos combustíveis destinados a produção eléctrica, actualmente dominada por centrais termoeléctricas a carvão, foram considerados diferentes aspectos, donde se destaca a garantia de abastecimento, a manutenção de reservas estratégicas de salvaguarda contra bloqueios de recente memória, capacidade de negociação de preços mais vantajosos, razões de ordem económica de custos e de divisas, e protecção ambiental.
Só no sector constituído pelo gás natural, têm sido apresentadas previsões de evolução de consumo que apontam para a passagem dos 4 bm³ por ano a atingir em 2005, para os 7,6 bm³ em 2015, até chegar aos 11,6 bm³ em 2025.
Uma das possibilidades disponíveis encaradas pelo Governo israelita, consiste na importação de gás do egípcio delta do Nilo e regiões offshore, quer atravessando a península do Sinai, quer via pipeline subaquático percorrendo a costa israelita.
Outra forte possibilidade considerada, surgida nos últimos anos, reside na hipótese de exploração dos seus próprios recursos, a partir dos depósitos de gás offshore recentemente descobertos.
No que se refere a esta segunda e mais desejada possibilidade, a de tentar utilizar recursos próprios, Israel, que tinha iniciado em 1953, a prospecção de recursos petrolíferos no seu território, conseguiu em meados de 1999 e após um esforço constituído por 438 perfurações maioritariamente offshore, a descoberta de 70 bp³ (biliões de pés cúbicos) de gás, além de uma pequena bolsa de 18 mb (milhões de barris) de crude.
As estimativas iniciais apontaram para um total de reservas da ordem dos 3 a 5 tp³ (triliões de pés cúbicos) degás natural.
Apesar de relativamente modestas, mostram-se suficientes para satisfazer a procura israelita durante vários anos, libertado-a da dependênciada da obrigação de recurso às importações e da inerente instabilidade do mercado.
Às quatro reservas descobertas, localizadas a sudeste do sector offshore israelita, deve-se acrescentar a bolsa Or South, de grande dimensão, atravessada pela fronteira das águas territoriais israelitas com as palestinianas da Faixa de Gaza.
Além desta bolsa parcialmente localizada em águas atribuíveis à Autoridade Palestina, foi também aqui encontrada uma outra importante bolsa, a Gaza Marine, com reservas idênticas às encontradas nas águas israelitas. Nesta concessão, em que não participam empresas israelitas, a empresa concessionária associou-se exclusivamente a empresas palestinianas por contrato com duração prevista de 25 anos, considerando que o gás obtido poderá ser transportado por pipeline e entregue no porto israelita de Ashkelon (13 km a Norte da Faixa de Gaza). Esta concessão de extracção, considera a construção da rede de distribuição de gás em território atribuível à Autoridade Palestina. O contrato determina que grande parte do gás extraído, até um máximo de 1,7 bm³ anuais, seja entregue em Ashkelon à IEC, destinado às centrais eléctricas israelitas, tendo em consideração que se trata de centrais do tipo de combustão dual, podendo utilizar, quer carvão como até agora, quer gás natural, como se prevê no futuro.
Por um lado, os grandes depósitos de gás natural estão localizados em águas territoriais da Faixa de Gaza. Por outro, os israelitas procuram, desesperadamente, libertar-se da excessiva dependência do reduzido leque de fornecedores de produtos petrolíferos que lhes limitam os movimentos políticos. Difícil atingir uma plataforma de entendimento que satisfaça ambas as partes em confronto.


Destaque:

Quem acederá aos depósitos de gás natural da Faixa de Gaza?.


J: Caleia Rodrigues
Diário Económico
Outubro.2004