quinta-feira, 6 de março de 2008



Após termos assistido ao lançamento da globalização da economia e até da cultura, parece ter chegado a vez da globalização da instabilidade.
Para tanto, muito tem contribuído o mercado do petróleo bruto.
Saliente-se que o volume médio transaccionado diariamente no mundo atingiu, em 2003, os 45,8 milhões de barris de petróleo bruto, o que corresponde, em valores actuais, a cerca de 1,8 biliões de dólares.
Vernon Smith, Professor Universitário de Economia e Direito na George Mason University, Prémio Nobel 2002, foi particularmente enfático na sua intervenção no Seminário “Iraqi oil revenues” realizado em 22.Jan.2004 no United States Institute of Peace, ao chamar “devil´s lifeblood” às receitas dos países produtores oriundas das suas explorações petrolíferas.
Porém, os consumidores dependentes desta estratégica matéria-prima, essencial ao desenvolvimento da economia e ao bem estar das populações, têm sido incapazes de lidar com a ameaça de descontinuidade prolongada do seu abastecimento, causada por uma qualquer guerra, revolução ou embargo, quando diferentes crises regionais ocorrem em simultâneo.
A desesperada procura de outros pólos abastecedores que prometessem maior garantia de continuidade de abastecimento, deparou-se com enormes constrangimentos em países política e economicamente instáveis, como Nigéria ou Venezuela.
Conseguiu-se reagir, mais ou menos satisfatoriamente, ao embargo que se seguiu à Guerra do Yom Kippur (1973) e consequente primeiro choque petrolífero, e ao segundo choque provocado pela ruptura da indústria iraniana de 1979. Porém, foi a partir de 1991, com a disrupção originada pela Guerra do Golfo, que o mercado mundial se alterou dramaticamente.
Recorde-se que, entre este período e a actual intervenção das forças multinacionais no Iraque, os Estados Unidos despendiam entre 30 e 60 mil milhões de dólares por ano (dependendo da situação), a título de defesa do Golfo, para protecção e garantia de importações do equivalente a apenas 30 mil milhões de dólares de petróleo bruto. Só o custo estimado da mobilização militar dos Estados Unidos para o Golfo, durante a confrontação com o Iraque, em Novembro de 1998, atingiu os USD1,25 mil milhões. Esta situação tornou-se no mais recente caso paradigmático de cooperação entre o poder político-militar e o económico.
Contudo, nem as Reservas Estratégicas, cuidadosamente instaladas após o primeiro choque, nem os esforços diplomáticos desenvolvidos desde então, foram capazes de proporcionar condições mínimas que permitissem lidar com situações colocadas simultaneamente em diferentes arenas e envolvendo diferentes actores, incluindo manobras especulativas, escassez de capacidade de refinação do petróleo bruto, aumento explosivo da procura chinesa ou a persistente insegurança no Médio Oriente.





Destaques:

Após termos assistido ao lançamento da globalização da economia e até da cultura, parece ter chegado a vez da globalização da instabilidade.


J. Caleia Rodrigues
Revista Actualidade (CCILE)
Janeiro.2005