sábado, 1 de março de 2008

Petróleo: Qual Crise? (ISLA, Conferência, 29.Nov.2006)

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Em primeiro lugar devo saudar e louvar o ISLA, na pessoa do seu Director, Prof. Doutor Tawfiq Rkibi, por esta iniciativa.

O convite para vos vir aqui apresentar as potencialidades e os constrangimentos que o sector energético está a atravessar, nomeadamente o petróleo (essa matéria-prima estratégica que passou a ocupar as primeiras páginas dos jornais de todo o mundo), constituiu para mim um privilégio que vou tentar merecer.

É por demais evidente a dependência económica configurada por numerosos países, na sua incessante busca de novas e mais seguras origens de bens energéticos, indispensáveis à manutenção do seu tecido social e económico.

Encontramo-nos hoje, aqui, para analisar a envolvente de um produto comercializável que cairia na esfera do marketing internacional, logo sujeito às leis do mercado da oferta e da procura, se não se tivesse tornado num dos mais preponderantes produtos estratégicos.
O que os torna estratégicos é a sua influência na soberania e na segurança nacionais.
Contrariamente aos mais tradicionais aspectos de segurança dirigidos às ameaças que vêm do exterior, muitos dos correntes acontecimentos que tocam na segurança nacional, enfatizam o aumento das ligações entre o domínio doméstico e o internacional. Para tanto, basta ver como as expectativas económicas são cada vez mais realçadas pelas populações e como, frequentemente, não podendo ser encontradas nos próprios recursos do Estado, ao ser exigidas aos Governos e não encontrando suficiente satisfação, podem criar instabilidade interna e consequente aumento da insegurança.

Esta não é, seguramente, a ocasião mais adequada para desenvolver as questões políticas inerentes à soberania e à segurança do Estado, nem mesmo as implicações de ordem ambiental, quando nos referimos ao petróleo, como produto estratégico.

Portanto, vou circunscrever-me ao produto, ao mercado, aos mega-investimentos requeridos e aos seus efeitos colaterais.
É este o objectivo do nosso encontro de hoje.

Desde logo, não posso deixar de começar por sublinhar que quando ouvimos falar em crise de petróleo deparamo-nos com um perigoso equívoco.
Não parece que esta escassa e finita matéria-prima, ou mesmo o sector petrolífero, estejam a atravessar uma crise que, por definição, é transitória. Nada que se possa comparar com boicotes, choques petrolíferos ou consequências de situações políticas pontuais vividas no passado.
A situação aparenta um fim de ciclo que se caracterizou por uma suficiente capacidade extractiva instalada no sector e um regular abastecimento ao mercado.

Podemos enumerar a acumulação de constrangimentos exógenos a que o sector foi sujeito, de entre os quais se podem salientar:

· a duplicação da população mundial tendente para explosão demográfica, dado que passou dos 3 para os 6 mil milhões de habitantes em apenas 40 anos,
· o aumento desmesurado do consumo de combustíveis fósseis
e
· as constantes e sucessivas pressões geopolíticas que têm colocado o sector petrolífero em permanente instabilidade.


Mas também encontramos muitos factores dentro do próprio sector, que provocaram grandes constrangimentos, tais como:

· a escassez da oferta,
· O encerramento de inúmeros poços de extracção, não totalmente substituídos por outras novas explorações,
· O sector da refinação ter sido submetido a idêntico processo, nalguns casos devido à exigência de adaptação ás novas regras ambientais. Enquanto, no início da década de 1980 se dispunha de uma capacidade de refinação superior ao consumo em cerca de 25 por cento, situa-se, actualmente, em valores muito próximos dos do consumo.
Ou seja, o sector da refinação dispõe apenas, actualmente, de uma margem mínima de capacidade para acomodar mais aumentos de produto a entregar ao mercado, como teremos oportunidade de analisar mais adiante,
e
· O arrefecimento do investimento no sector petrolífero durante as décadas de 1980 e 1990, em toda a cadeia petrolífera, desde a sondagem e detecção de novas bolsas petrolíferas, abertura de novas extracções ou da construção de novas e mais adequadas refinarias.

A energia assumiu uma posição dominante na extensa agenda política económica, demasiado rapidamente para que permitissem ser encontradas vias de estabilização.
Apresenta-se, nas suas várias formas, como símbolo de desenvolvimento económico e, ainda mais, de riqueza e prosperidade.
Consequentemente, o acesso e o controlo dos recursos energéticos constituem uma preocupação central dos governantes e de todos aqueles que se encontram envolvidos em processos de produção industrial.
Contudo, a delapidação dos recursos globais tem sido excessivamente desigual e a distribuição dos recursos naturais vitais, não é equitativa nem razoável.
As disponibilidades são abundantes, mas apresentam-se desigualmente distribuídas entre países e povos, mesmo dentro das suas próprias fronteiras políticas, raramente coincidentes com fronteiras naturais.
Enquanto o aumento do conjunto populacional do mundo economicamente menos desenvolvido induz o aumento do consumo de recursos é nos países economicamente desenvolvidos que se verifica maior delapidação. Os actuais padrões de produção e de distribuição vigentes nos países ditos industrializados, muito provavelmente não poderão continuar a ser mantidos por muito mais tempo e a tendência para a imitação por parte dos restantes irá causar irreparáveis danos ecológicos.
As actuações na incessante procura de mais recursos energéticos pelos grandes consumidores, provocaram profundas alterações, que forçaram a economia industrial mundial a depender ainda mais das limitadas fontes de energia.

Slide 2: Evolução da população mundial
Energia primária total mundial

Se não, vejamos: quando a população mundial atingiu os 4 mil milhões de habitantes no início da década de 1970, o consumo mundial de energia era de 5.500 milhões de toneladas equivalentes de petróleo.
A população aumentou 50 por cento até ao final do século, mas o consumo da energia quase duplicou.
Mesmo assim, a resposta energética ainda não satisfez as expectativas de melhoria das condições de vida e do esperado desenvolvimento económico à escala global.

Porém, as previsões para o período 2005-2025 também não são mais animadoras.
De acordo com os dados estatísticos do U.S. Census Bureau, a população mundial atingiu os 6 mil milhões de habitantes no início do ano 2000. Esta mesma entidade publicou que tinha ultrapassado os 6.500 milhões em Agosto de 2006.

Em termos de energia primária total, para um aumento de 33 por cento da população mundial, prevista para os próximos 20 anos, exige-se um aumento de 55 por cento no abastecimento.

A explosão demográfica aliada à exigência da perpetuação dos altos níveis de vida conseguidos nos países ricos e à legitima pretensão de os atingir, reclamada pelos países pobres, introduziram inusitadas pressões no fornecimento estabilizado e continuado dos recursos naturais à escala mundial. Estas pressões provêm tanto da privação como das dimensões ecológicas do drama populacional, igualmente importantes na nossa concepção do mundo como população global.
O consumo dos recursos disponíveis e indispensáveis à manutenção do conjunto humano, continuou a aumentar, em muitas regiões, em ritmo superior ao aumento populacional.

O rápido aumento de população, não propriamente explosão demográfica, mas caminhando nesse sentido, exigiu que o petróleo respondesse à pressão e se tornasse na principal fonte mundial de energia comercializável.

Slide 3: Petróleo bruto convencional
Evolução do consumo mundial (anos 1969-2004)
Evolução das reservas comprovadas (anos 1969-2004)

O impacto na procura mundial de petróleo pode ainda ser maior se se mantiverem as expectativas do forte aumento do consumo esperado para a China e para a Índia a curto e médio prazo. Note-se que a importação chinesa de petróleo bruto convencional aumentou quase 18 por cento nos primeiros 6 meses deste ano (2006), relativamente ao período homólogo do ano passado (2005).
O petróleo tornou-se mercadoria-chave do comércio internacional e quando os consumidores pretenderam voltar a dispor de abastecimento seguro, não tiveram outra saída que não fosse a de criar condições sob as quais a “política petroleira” se pudesse desenvolver.
Na realidade, foi devido a esse processo que as políticas petroleiras foram colocadas no topo da agenda política mundial durante os anos 70 e 80. O que fizeram, reflecte a complexa interligação de tendências e acontecimentos em diferentes centros, envolvendo uma diversidade de agentes, tanto estatais, como não-estatais.

Ao mesmo tempo, o crescendo de nacionalismos no antigamente chamado Terceiro Mundo influenciou a atitude dos Estados produtores de petróleo que começaram a exigir maiores receitas e mais eficaz controlo dos seus recursos petrolíferos próprios.

Slide 4: Evolução do consumo mundial de petróleo
Quota por sector de utilização (Realizado e previsto)

Tendo em conta o aumento populacional e o desenvolvimento económico previstos, exige-se um aumento da entrega de petróleo bruto ao mercado, na ordem dos 30 milhões de barris diários ao atingir o limiar do ano 2025.
Nesta data, estaremos a consumir cerca de 120 milhões de barris cada dia que passa!
Deduzimos quem o irá consumir!
Mas donde irá ser extraído? Quem o irá extrair?
O substancial aumento da entrega do produto ao mercado envolve prospecção, extracção, transporte e distribuição, a exigir os correspondentes colossais investimentos indispensáveis à sua realização.
As reservas comprovadas têm vindo a aumentar, graças às novas descobertas realizadas ao longo do tempo e que têm sido sucessivamente declaradas, a uma taxa próxima da do aumento dos consumos.
Note-se que o sector dos transportes (rodoviários, aéreos e marítimos) consome, actualmente, cerca de 50 por cento da produção mundial, quando, 30 anos antes, só consumia 42 por cento.
Tem sido exercido um grande esforço para conseguir meios de transporte menos “glutões”, ao mesmo tempo que se têm desenvolvido as origens alternativas para geração de energia eléctrica, responsável por uma boa parte dos restantes 50 por cento.

No entanto, é importante sublinhar que o aumento da produção foi conseguido à custa do aumento da taxa de extracção em poços de alta rentabilização comercial, dado que a quantidade de poços em actividade tem vindo a ser drasticamente reduzida.
De realçar que, enquanto os Estados Unidos operavam em quase 1.500 existentes no ano 1980, passaram para apenas 560 em 2000. A partir desta data retomaram a actividade em mais alguns deles que tinham sido desactivados e iniciaram-se algumas novas explorações.
Surgiram, porém, novos actores na cena internacional: a China e a Índia, que comportam um terço da população mundial e estão dependentes do petróleo para dar continuidade aos seus programas de desenvolvimento.
Estes novos consumidores gigantes sobrepuseram-se às economias industrializadas que foram relegadas para lugar secundário na ordem das prioridades a satisfazer.

Slide 5: Petróleo bruto convencional - Maiores exportadores (2004)

Se surgiram novos grandes mercados consumidores dependentes, também surgiu a Rússia a disputar a liderança do mercado à Arábia Saudita, baseada nas suas imensas reservas recentemente activadas, localizadas no Árctico, na margem ocidental dos Urais, na Sibéria Oriental e na Ilha Sakhalin.
No entanto, os indicadores Risco País elaborados pela COFACE, colocam os dois países em situação algo diferente.
Enquanto a Arábia Saudita é classificada como país de “quite low risk”, a Federação Russa é classificada como país de “moderately high risk”.
Esta classificação não tem causado grandes dificuldades na captação de investimentos para o programa de desenvolvimento do sector petrolífero russo, tendo em consideração os recentes enormes investimentos realizados neste sector, pelos Estados Unidos, pelo Japão, pela China e até pela própria Arábia Saudita.

Admite-se, como dado adquirido, que ambos os governos são fortemente dependentes dos recursos gerados pelas suas exportações de hidrocarbonetos. De acordo com as publicações do Fundo Monetário Internacional, enquanto para a Arábia Saudita contribuem com 38 por cento para a formação do seu Produto Interno Bruto, valem apenas 17 por cento para Federação Russa.

Slide 6: Evolução das produções sauditas e russas

A Rússia que já detém a liderança incontestada do mercado mundial do gás natural com uma quota de 22 por cento, está em vias de conseguir idêntica posição no mercado do petróleo bruto, dado que pode vir a manter, a muito curto prazo, valores de produção próximas dos 10 milhões de barris diários, o que, na actualidade, corresponde a 12,5 por cento do total mundial produzido.


A produção petrolífera da Rússia tem superado ocasionalmente a da Arábia Saudita, nos últimos 25 anos. De acordo com os números divulgados pela OPEP e citados pela imprensa britânica, a Rússia produziu uma média de 9,2 milhões de barris por dia, durante o passado mês de Junho. Mais 46 mil do que a Arábia Saudita.
Apesar das reservas comprovadas do petróleo russo não serem tão abundantes como as sauditas e da sua extracção ser mais cara, são, porém, mais vastas do que geralmente se considera.

A Rússia, na sua nova qualidade de superpotência energética, admitiu resolver o deficit chinês, indispensável à sustentabilidade da sua actual taxa de desenvolvimento económico, com a construção do oleoduto que liga os campos petrolíferos da Sibéria Oriental aos chineses de Daking, numa extensão de 2.400 quilómetros, para o fornecimento médio diário de 1,6 milhões de barris.
Por outro lado, para satisfazer igualmente a pretensão japonesa, o presidente Russo Vladimir Putin anunciou, no início deste ano, que a construção da primeira fase do oleoduto Tayshet-Nakhodka seria iniciada no Verão deste mesmo ano.
A culminar os doze anos de maratona negocial do percurso dos oleodutos, todos os três países intervenientes saíram satisfeitos.
Desta forma, quer a China, quer o Japão, vêem os seus interesses assegurados pela Rússia e obtêm a garantia de receber os pretendidos e desejados abastecimentos a partir do petróleo siberiano.
A estratégia russa não esqueceu os interessas ocidentais, se bem que em menor escala com a instalação do citado oleoduto, que também permitirá exportar petróleo siberiano para a costa ocidental dos Estados Unidos.
Mas não se ficou por aqui, a capacidade de crescimento decidida pelo Governo russo.
O Presidente Vladimir Putin, reafirmou a sua decisão, no encontro realizado no Valdai Discussion Club, no início do passado mês de Setembro, de prosseguir com o programa de expansão do seu sector energético.

A continuação do aproveitamento dos recursos existentes na Ilha de Sakhalin (situada a paredes-meias com a fronteira norte do Japão), correspondente à declaração de reservas avaliadas em 45 mil milhões de barris de petróleo bruto convencional, irá por diante, reforçando o abastecimento dos mercados asiáticos em plena expansão económica.

Também é de relevante importância, o facto de se ter iniciado, em Agosto de 2003, a construção daquela que vai ser a maior petroquímica mundial de liquefacção de gás natural, localizada nessa mesma Ilha Sakhalin para processamento de parte dos 85 triliões de m³ de gás natural existentes na plataforma continental russa, para fornecimento de gás natural liquefeito ao Japão.
Para se avaliar a dimensão de tal projecto, basta atentar que o custo total da instalação da petroquímica e dos respectivos oleoduto e gasoduto que irão constituir a segunda fase do projecto Sakhalin, atingirá um valor próximo dos 10 mil milhões de dólares.
A actuação das forças do mercado dinamizaram uma transição operada no sector petrolífero russo que lhe permitiu não só desafiar a OPEP e a Arábia Saudita, como também captar a parte de leão da quota de crescimento da procura chinesa, indiana, japonesa e, eventualmente, até dos Estados Unidos, neste caso através de joint ventures.

Slide 7: Petróleo bruto convencional
Maiores consumidores (ano 2005)

Sublinhe-se que a situação actual do sector petrolífero dos Estados Unidos não é brilhante, dado que passou de leader do mercado, nos bons velhos tempos, a rapidamente dependente da importação de nada menos do que dois terços das suas necessidades actuais, correspondentes a cerca de 25 por cento do total mundial produzido.
O último estudo publicado pela Energy Information Administration revela a existência de petróleo bruto convencional no Arctic National Wildlife Refuge, actualmente fora dos limites de exploração de petróleo, em quantidades entre os 5,7 e os 16 mil milhões de barris em reservas jazentes naquela zona.
Contudo, a alternativa constituída pela exploração do Árctico choca frontalmente com os interesses ambientais da região, ainda não resolvidos.

Slide 8: Quantidade de poços em actividade e produção diária

Os Estados Unidos apesar de terem vindo a reduzir drasticamente a quantidade de poços em actividade, extraem uma média de 6,8 milhões de barris diários dos cerca de 560 poços activos, enquanto a Arábia Saudita extrai 11 milhões de apenas 53 poços e a Noruega quase 3 milhões de 19 poços. É por demais evidente que os custos de extracção por barril terão que atingir valores muito diferentes.

Slide 9: Petróleo bruto e gás natural
Estados Unidos e Federação Russa

Por outro lado, enquanto os Estados Unidos suportaram, em 2005, um custo diário médio de mais de 800 milhões de dólares pela importação de petróleo e de gás natural, a Federação Russa encaixou um valor diário médio de mais de 400 milhões de dólares em resultado das suas exportações.

Em balanço anual, os Estados Unidos pagaram mais de 300 mil milhões de dólares pelas suas importações e a Federação Russa recebeu quase 150 mil milhões de dólares das suas exportações. E a Arábia Saudita mais de 180 mil milhões. Esta situação tenderá a tornar-se insustentável a médio e longo prazo.
Estes desenvolvimentos conduzem a novos debates acerca do verdadeiro significado da segurança e que tipo de relações duráveis será agora possível entre consumidores e produtores, de modo a que possam, a longo prazo, vir a satisfazer os interesses de ambos. A Guerra do Golfo ilustra, igualmente, tanto o crítico posicionamento do petróleo no equilíbrio de poder global, como a importância da interdependência entre produtores e consumidores industrializados.

No que se refere à União Europeia sublinhe-se que, dispondo apenas de 6,5 por cento da população mundial, contribui com mais de 25 por cento para o PIB total mundial e assegura 35,5 por cento das exportações e 34 por cento das importações registadas à escala mundial.

Slide 10: União Europeia, Balanço Produção/Consumo

Contudo, é por demais conhecida a sua dependência no que se refere a combustíveis.
O consumo do conjunto dos países-membros da União Europeia ultrapassa largamente a produção, dado que consomem 6 vezes mais petróleo do que produzem, o dobro do gás natural e 1,8 vezes mais carvão.
Podem considerar-se excepções, a confortável situação da Dinamarca, excedentária tanto em petróleo bruto como em gás natural, suportada pelas reservas disponíveis no Árctico (via Gronelândia), o equilíbrio mantido pelo Reino Unido e a recém entrada Polónia com o seu carvão.

Tendo em consideração o continuado aumento do preço do petróleo e dos seus efeitos na economia e no público, os Parlamentares europeus voltaram a chamar a atenção, em Outubro de 2005, para a necessidade de diversificar as origens energéticas, promover a conservação da energia e as energias renováveis.
É pretensão da União Europeia uma menor dependência dos combustíveis fósseis e uma maior eficiência energética. Segundo recentes declarações dos parlamentares, é preciso estimular e dinamizar o diálogo entre todos os parceiros energéticos europeus numa perspectiva de promoção da segurança do abastecimento, transparência do mercado e futuro investimento.
É de considerar que a União Europeia também já viu melhorada a sua dependência do petróleo do Médio Oriente com a entrada em serviço da chamada “Ponte energética Este-Oeste” em Julho deste ano, constituída pelo oleoduto Baku-Tbilisi-Ceyhan, que transporta petróleo bruto desde o Mar Cáspio até ao Porto turco mediterrânico de Ceyhan, com capacidade de transporte de 1 milhão de barris/dia,
Este oleoduto constitui uma importante alternativa de suplemento de petróleo à Europa Ocidental, com uma mais elevada garantia de segurança.

Slide 11: Petróleo bruto convencional
Evolução da importação portuguesa (1996 - 2005)

Podemos ver, então, de forma não exaustiva, o que se passa em Portugal, se bem que seja sobejamente conhecido de todos.
Não sendo auto-suficiente nesta matéria, encontra-se no conjunto de países que depende da importação de matérias energéticas para satisfazer o mercado da procura.
Nesta fase, as importações portuguesas de produtos energéticos são maioritariamente constituídas pelo petróleo que atinge os 71 por cento do total.
As quantidades de petróleo bruto convencional importadas por Portugal têm-se mantido relativamente estáveis, apresentando ligeiras quebras registadas nos anos 1996, 2000 e 2002.
Porém, é de salientar que a estabilidade das quantidades de produto importado não corresponde aos custos dispendidos.
Muito longe disso.
O valor pago no ano passado (2005), a preços correntes, quase quadruplicou em relação ao de 1998, ao passar de pouco mais de mil milhões de euros, para quase 4 mil milhões. Quadruplicou, em apenas 7 anos, para idêntica quantidade de produto importado.
Já no decurso do corrente ano, os valores pagos no 1º semestre em relação ao período homólogo do ano passado, registaram um aumento de cerca de 50 por cento, para apenas um aumento de 10 por cento de produto importado. Sublinhe-se, no entanto que, apesar do forte aumento dos preços, mesmo assim, registou-se um aumento da importação.

Slide 12: Portugal: Principais fornecedores (ano 2005)

No referente às importações petrolíferas portuguesas, constata-se que são largamente originárias de 2 principais mercados que assumem cerca de 50 por cento do total: a Argélia e a Nigéria.
Os indicadores Risco País elaborados pela COFACE, colocam os dois países em situação muito diferente. Enquanto a Argélia é classificada como país de “quite low risk”, a Nigéria é classificada como país de “very high risk”.
Sublinhe-se que estas duas origens correspondem a fornecimentos de petróleo bruto da mais alta qualidade, equivalente ao Bonny Light oil, cujo baixo teor de enxofre o torna altamente desejado pelo baixo nível de corrosão provocado às infraestruturas das refinarias e pelo baixo impacto ambiental efluente da refinação dos seus produtos derivados.

Após estes dois grandes fornecedores seguem-se a Arábia Saudita e o Brasil, este último a atingir posição já muito significativa no ranking de fornecedores qualificados, apesar de classificado pela COFACE como país de “moderately high risk”.

Slide 13: Portugal
Quantidade de sondagens de pesquisa de hidrocarbonetos
(1900 a 2004)

Não tem sido descurada a procura de bolsas petrolíferas na plataforma continental portuguesa.

Verificou-se uma intensa busca logo após o fim da II Guerra Mundial, com acentuada queda quando surgiram origens a preços comerciais desincentivadores do investimento.
A retoma de sondagens coincide com os períodos correspondentes aos dois grandes choques petrolíferos ocorridos na década de 1970.

Slides 14 e 15:
Inventariação das bolsas petrolíferas – Navio-sonda
Ensaios sísmicos

É evidente que os resultados da inventariação das sondagens realizadas possa vir a constituir extracções de petróleo bruto na plataforma portuguesa, quer em offshore quer em onshore, quando os valores comerciais do barril de petróleo atinjam valores compensadores dos investimentos a realizar.
A mais recente tentativa, que representa um investimento de 5 milhões de euros, foi iniciada na bacia de Peniche por consórcio que integra a Galp, a Partex e a Petrobrás.

Slide 16: Portugal
Consumo de electricidade, por origens
(ano 2005)

É, porém, para a diversificação das origens na geração de energia eléctrica que tem sido dirigida maior atenção, num esforço de redução do consumo de petróleo.
De acordo com os dados publicados pela Rede Eléctrica Nacional, a energia eléctrica de origem em combustíveis fósseis ainda é responsável por 63 por cento do total gerado, com a energia de origem hidráulica a manter-se nos 9 por cento do total.

Acaba de ser anunciado que se prevê um aumento de consumo de energia eléctrica da ordem dos 50 por cento nos próximos 10 anos.

Slide 17: Rede Eléctrica Nacional
Aumento da potência instalada e investimento

Esse aumento irá ser garantido pela instalação de novas unidades produtoras: 4 centrais de ciclo combinado a gás natural e novos parques eólicos.
Consequentemente, foi considerada a ampliação da Rede Nacional de Transporte e das interligações com Espanha que permitirão um maior intercâmbio energético e uma mais segura estabilização das redes.
Têm sido desenvolvidos consideráveis esforços na produção de energia eléctrica de origem eólica. Esta, ainda só contribuiu com 5 por cento dos cerca de 35.000 GWh produzidos em 2005. Mesmo assim, foi suficiente para colocar Portugal em 11º no ranking mundial.

Slide 18: Energia eólica
Capacidade mundial instalada (MW)

A recente adjudicação da instalação de mais 3.000 MW de origem eólica, a instalar em 48 parques produtores, irá colocar Portugal nos top five à escala mundial e ultrapassar a produção de energia eléctrica de origem hidráulica.
De realçar, igualmente, a construção da Central fotovoltaica de Moura, a maior à escala mundial, onde serão instalados 350.000 painéis solares, correspondentes a uma capacidade instalada de 62 MW.

Porém, no conjunto de constrangimentos a ultrapassar à escala mundial, procede a considerável questão de como conciliar o inevitável e continuado aumento da utilização dos hidrocarbonetos, com os imperativos ecológicos e ambientais. Caso paradigmático é o conflito de interessas inerentes à manifesta vontade de extracção dos imensos recursos disponíveis no Árctico ou a construção premente e urgente de novas e mais adequadas refinarias.

Slide 19: Petróleo bruto convencional
Evolução das reservas, produção, refinação e consumo (1970-2003)

Como podemos constatar, a refinação foi o único componente que não acompanhou o desenvolvimento do sector.
O sector da indústria de refinação encontra-se a atravessar uma fase de transição, após ter sido sujeito a um longo período de redução da sua capacidade.
A capacidade de refinação foi ajustada aos novos níveis de procura do produto que se seguiu aos choques de preços que decorreram durante a década de 80 e conduziram aos consequentes ajustamentos políticos e económicos.

A indústria refinadora encontra-se perante a evidente necessidade de satisfazer as novas exigências do mercado e de encontrar adequadas localizações para novas instalações.

Dado que a construção de capacidade adicional exige elevados custos financeiros, é crítico que os planos de expansão cumpram a capacidade requerida e o tempo em que decorram.
A localização de novas unidades também apresenta questões críticas, tendo em atenção que grande parte das localizações consideradas adequadas estão sujeitas a regulamentações ambientais muito severas que as tornam muito onerosas e exigem muito tempo para conseguir a desejada e requerida capacidade adicional.

Slides 20 e 21:
Refinaria de petróleo bruto convencional
Refinaria de petróleo e terminal marítimo

Os maiores desafios continuam a estar situados no sector a jusante da cadeia produtiva. A crescente preocupação posta nas questões ambientais conduziram a uma proliferação de novas regras e regulamentações que exercem uma muito elevada pressão nas operações a jusante.
Porém, o cumprimento das novas regras requer grandes investimentos e agravamento dos custos operacionais.
Acresce a necessidade de resposta à igualmente crescente procura de um conjunto muito diversificado de produtos refinados.

É perfeitamente compreensível que o desenvolvimento do sector a jusante se tenha tornado muito difícil de perspectivar.

Já no que respeita à capacidade extractiva, verificamos que o período em que decorreram os dois grandes choques petrolíferos (1973 e 1979/80) corresponde, naturalmente, ao período em que decresceu a declaração de novas reservas exploráveis. Retomadas em ritmo acelerado até 1988, ano em que passaram a estar novamente estabilizadas em relação à produção e correspondente consumo.

Slides 22 e 23:
Extracção onshore – Extracção offshore

Os aumentos de produção registados durante o período dos dois choques petrolíferos destinaram-se à captação de petróleo para reforço das reservas estratégicas dos países dependentes, cientes da imprevisibilidade da duração dos boicotes.
Também continuamos à espera da resolução das críticas situações decorrentes da partilha do Mar Cáspio e da encruzilhada vivida no Afeganistão, apenas possíveis de tratar na arena política internacional.
A questão dos oleodutos também é fundamental.

Slides 24 e 25:
Instalação de um oleoduto
Oleoduto e bomba de centrifugação

Numerosos países que dispõem de vastas reservas comprovadas estão impedidos de exportar as suas potenciais produções por não disporem das indispensáveis vias de escoamento, resolúvel pela simples construção de oleodutos, a que se agrega, nalguns casos, instalações portuárias adequadas.

Slide 26: Reservas mundiais de petróleo bruto

Temos vindo a tratar do petróleo bruto leve, dito convencional, que, de acordo com os dados publicados pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos, corresponde, apenas, a 30 por cento do petróleo total disponível no mundo.
Destacam-se os petróleos pesados e extra-pesados, ditos não convencionais, que correspondem aos restantes 70 por cento, ainda muito modestamente aproveitados, e os combustíveis líquidos obtidos a partir da sintetização do carvão natural.
Uns e outros muito abundantes em reservas já comprovadas.

Slide 27: Reservas mundiais de petróleo bruto não-convencional

O grande óbice à utilização maciça dos petróleos não-convencionais reside nos custos de extracção e de processamento.

Recorde-se que o petróleo convencional (leve) a caminho de um rápido esgotamento dispõe de uma característica fundamental inultrapassável: existente num jazigo petrolífero sob pressão, jorra de um furo que atinge a bolsa que o contém, sem necessidade de grandes operações complementares para extracção e processamento ou de tecnologia específica.

Apesar dos imensos recursos disponíveis, o petróleo pesado e os betumes só acrescentaram os seus 3 biliões de barris anuais produzidos aos mais de 26 biliões de barris de petróleo bruto produzido em 2005.

Comparados ao petróleo leve (convencional), estes recursos são mais onerosos em termos de produção e transporte. São, geralmente upgraded para lhes reduzir os componentes carboníferos ou para lhes adicionar hidrogénio, antes de os entregar às refinarias convencionais.
Os custos dos processos adicionais de produção, transporte e upgrading explicam as razões pelas quais o desenvolvimento e a produção dos petróleos pesados e betumes ainda se encontram limitadas. Porém, a sua abundância, distribuição geográfica estratégica, qualidade e custos, irão, certamente, desempenhar forte papel nos abastecimentos futuros de petróleo ao mercado.
É óbvio que os produtores de petróleo pesado procurem a melhor qualidade em termos de composição química e densidade. Cerca de 66 por cento do petróleo pesado produzido é mais leve do que 15° de gravidade API, apesar de cerca de 50 por cento do total estimado ser mais denso.

Slide 28:
Extracção de petróleo pesado
Tecnologia característica

A pressão do gás e da água que estão associados ao petróleo na bolsa, é geralmente suficiente para provocar a fluição do petróleo leve até ao poço de extracção, na produção convencional. Quando a pressão natural se esgota, o fluxo de petróleo pode ser aumentado por injecção de gás ou de água na bolsa, de forma a impulsionar o petróleo residual para o poço de extracção.

Historicamente, o petróleo pesado foi encontrado acidentalmente durante a prospecção de petróleo leve e foi extraído por métodos tradicionais quando se verificou que era economicamente executável. Porém, para manter as taxas de produção comercial dos poços de extracção, a produção de petróleos pesados e extra-pesados requer, na maioria dos casos, a introdução de medidas que reduzam a viscosidade do petróleo e que aumentem a energia na bolsa.

Quando se injecta vapor superaquecido na bolsa, reduz-se a viscosidade e aumenta-se a pressão pelo deslocamento e destilação parcial do petróleo.
O vapor de água pode ser injectado continuamente para obter um fluxo permanente ou de forma cíclica. Neste último caso, os poços de extracção são usados alternadamente, umas vezes para injecção e outras para produção.
O petróleo extra-pesado requer, normalmente, a adição de diluentes (condensado de gás, gás natural líquido ou petróleo leve) para permitir o transporte por oleoduto. Também pode ser upgraded quimicamente para lhe reduzir a densidade e remover contaminantes, antes de ser entregue para refinação. Nos recentes projectos da Faixa de petróleo pesado do Orinoco, por cada 3 ou 4 barris de petróleo extra-pesado produzidos, é requerido 1 barril de diluentes.
O betume natural é tão viscoso que se mantém imóvel na bolsa.
No caso de bolsas de areias petrolíferas existentes a menos de 75 metros, o betume é recuperado por mineração das areias, depois separado com água aquecida e, finalmente, processado localmente de forma a obter petróleo bruto sintético.
Em depósitos de areias petrolíferas mais profundos, quando o betume ainda é menos viscoso, exige-se injecção de vapor de água. O produto pode ser upgraded localmente ou misturado com diluente e transportado para instalações apropriadas.

O aumento das taxas de recuperação de depósitos de betumes e de petróleo extra-pesado representa o desafio mais importante para que estas reservas se materializem.

Há que considerar que a extracção do petróleo não-convencional exige tecnologia e recursos específicos: água e energia abundantes que permitam a injecção de vapor de água nas jazidas, indispensáveis à extracção dos petróleos pesado e extra-pesado.
Têm vindo a ser desenvolvidos grandes esforços para o aproveitamento desta qualidade de petróleo bruto, dito não-convencional, nomeadamente no Canadá e na Venezuela.

Slide 29: Athabaska - Canadá
Instalação de extração e sintetização

No caso do Canadá, trata-se do aproveitamento de betume a céu aberto, disponível em grandes quantidades no Athabasca, cujas reservas estão estimadas em cerca de 1,8 triliões de barris, correspondendo a 81 por cento do total mundial conhecido.
Pode-se acrescentar 6,1 biliões de barris de betume possível de comercialização nos Estados Unidos, a maioria detectado na região de Utah.


Slide 30: Localização da Faixa do Orinoco – Venezuela

No caso da Venezuela, membro da OPEP, já um grande exportador de petróleo bruto convencional, trata-se de petróleo pesado e extra-pesado com o inconveniente de comportar mais enxofre e a contaminação de metais pesados que exigem uma muito mais complexa refinação.
Estas reservas venezuelanas de petróleo pesado, situadas na Faixa Petrolífera do Orinoco, estão estimadas em cerca de 1,6 triliões de barris, correspondendo a 90 por cento do total mundial.
Neste particular, os pesados e extra-pesados venezuelanos beneficiam da sua localização na região do Rio Orinoco, onde foi construída, nos finais da década de 70, a mega-barragem e a Central Hidroeléctrica do Guri.

No que se refere à sintetização do carvão os custos de processamento são elevadíssimos.
Os hidrocarbonetos líquidos têm vindo a ser sintetizados a partir do carvão, desde o ano de 1955.
O aumento dos preços do petróleo bruto, foi suficiente garantia para impulsionar o desenvolvimento da indústria dos combustíveis sintéticos.
O preço e a procura de combustíveis líquidos e gás natural comercializável, a par da determinação política de numerosos governos, relançou a economia dos combustíveis sintéticos para um caminho de não retorno. Enormes instalações de produção de combustível sintético, já operam, desde longa data, na África do Sul e no Canadá.

Slide 31: África do Sul - SASOL
Processamento gas-to-liquid

A obtenção de combustíveis líquidos a partir da síntese do carvão tem sido conseguida pela utilização do processo Fischer-Tropsch, para produção de gás a partir dessa matéria-prima e convertê-lo em combustível líquido.
A partir da sintetização do carvão, pode obter-se combustível líquido, gás e um extenso conjunto de derivados (cerca de 120), entre os quais se podem incluir ceras, fenol, amónia, explosivos e ácido sulfúrico.
Transformar carvão em petróleo, parece inimaginável para leigo, porém, o facto é que ambos são constituídos por carbono e hidrogénio. A dificuldade básica foi, originalmente, fazer combinar o hidrogénio com o carbono por reacção química. A investigação levada a cabo por Fischer e Tropsch provou, em 1925, que os hidrocarbonetos líquidos poderiam ser obtidos quando o gás derivado do carvão fosse submetido a adequado catalizador.
No percurso da investigação, foram desenvolvidos vários sistemas de gasificação do carvão, já que, virtualmente, o carvão não pode ser gasificado. Normalmente, as temperaturas muito altas provocam níveis de reacção muito rápidos, logo, maiores dispersões. Neste caso, o factor limitativo poderá ser as características da fusão das cinzas, posto que, a baixa temperatura de fusão das cinzas poderia limitar as temperaturas de operação.
Nesta tecnologia, o carvão é moído para dimensões entre os 6 e os 50 milímetros, pressionado e gasificado com vapor de água e oxigénio. Após rigorosa purificação, indispensável para evitar o envenenamento pelo enxofre do catalizador, o gás é enviado para o sistema de síntese.
Actualmente o processo de síntese combina, por catalisação, o monóxido de carbono e o hidrogénio, para produzir um conjunto de hidrocarbonetos e químicos orgânicos.
Para os hidrocarbonetos mais leves, como o gás líquido, gasolina e diesel, usam um catalizador móvel. Para os hidrocarbonetos médios e pesados, que vão da nafta até às ceras, usam catalizador estacionário. Ambos os processos empregam catalizadores a partir do ferro.

Todas estas alternativas, quer o processamento dos petróleos pesados e extra-pesados, quer a sintetização do carvão, exigem um grande esforço financeiro de retorno a longo prazo.

Além de que a indústria petrolífera requererá níveis de investimento muito mais elevados do que durante o passado recente, para compatibilizar a satisfação da procura com as exigências ambientais, descarbonização dos produtos energéticos e o acréscimo dos custos resultantes da implementação dos reforçados sistemas de segurança.

Seremos obrigados a conjugar as várias fontes energéticas alternativas disponíveis, utilizá-las racionalmente e compaginar ambiente mais limpo com desenvolvimento económico. No equilíbrio das várias opções a tomar, residirá o bem-estar da civilização, tal como a conhecemos.

Aos países extremamente dependentes que não possam suportar tão grandes encargos, não restará outra saída que não seja a de investir fortemente nas energias alternativas: hidráulica (se tiverem água), eólica (se tiverem vento), fotovoltaica (se tiverem sol) ou biomassa (se tiverem solo arável e água).
E fazer um esforço titânico para conseguir manter operacional o seu parque de transportes.
Para terminar, façamos uma rápida análise à evolução dos preços do petróleo bruto leve, dito convencional, ao longo dos últimos 35 anos.

Slide 32: Petróleo bruto convencional
Evolução dos preços constantes referidos ao ano 2005 (1970-2005)

Constatamos, imediatamente, que os preços do barril dispararam em quatro ocasiões, devido não a causas imputáveis ao sector produtivo ou ao mercado, mas sim à ocorrência de factos políticos ou, até mesmo ao temor da sua ocorrência a curto prazo.
A primeira aconteceu com o embargo de fornecimentos da OPEP, imposta aos países que apoiaram a política dos Estados Unidos para o Médio Oriente, em 1973, o chamado 1º choque petrolífero.
A segunda deveu-se à ocorrência da revolução iraniana de 1979, que culminou com a deposição do Shah Reza Pahlavi e consequente bloqueio à extracção de petróleo dos seus poços em actividade normal. De seguida deflagrou a Guerra entre o Irão e o Iraque.
Foi o 2º choque petrolífero de consequências muito mais gravosas do que o primeiro.
Contou-se, porém, nessa conjuntura, com a preciosa ajuda da Noruega que passou de uma produção diária de cerca de 500.000 barris para os 3,5 milhões, o que a passou a colocar no importante lugar de terceiro maior exportador mundial de petróleo bruto convencional, posição que ainda ocupa, logo a seguir à Arábia Saudita e à Rússia.

A partir destes factos fortemente influenciadores dos preços, entrou-se num período de relativa estabilização, até que se atingiu um novo mínimo em 1986.
A terceira ocasião chegou com a invasão do Kuwait pelas tropas iraquianas, em 1990, para voltar a estabilizar pouco depois.

Por último, a grande convulsão provocada pelo abrandamento económico mundial, consequente do ataque terrorista do 11 de Setembro nos Estados Unidos.

A partir desta última ocorrência de cariz político, exógena ao sector produtivo petrolífero, os preços retomaram a sua tendência altista, a que não são alheios os baixos investimentos realizados durante as décadas de 1980 e 1990, nomeadamente à escala da prospecção e da abertura de novas extracções em bolsas petrolíferas comprovadas.

O investimento só foi fortemente relançado a partir do início da década de 2000, um pouco por toda a parte, salientando-se o de orientação do sector petrolífero russo, como já tivemos oportunidade de enunciar.
A Arábia Saudita também acaba de anunciar a decisão da Saudi Aramco em avançar com o megaprojecto destinado ao aumento da sua capacidade produtiva, através do desenvolvimento do campo petrolífero dos Khurais, que inclui a abertura de 300 poços em 23 novas localizações já identificadas. O valor a investir atinge os 3 mil milhões de dólares, para obtenção de mais 1,2 milhões de barris diários de petróleo bruto leve de alta qualidade, a partir do ano 2009.
As empresas portuguesas acompanharam o relançamento mundial de investimento no sector petrolífero, nomeadamente com a obtenção de um conjunto de concessões para exploração no Brasil, tanto em onshore, onde já garantem a sua participação em 33 blocos petrolíferos, como em offshore em águas profundas, onde estarão presentes em 5 blocos.
Também de salientar a continuidade do forte investimento português em Angola, no Bloco 14 (com reservas provadas de 36 milhões de barris) e o início dos ensaios sísmicos no onshore de Cabinda Central.

Slide 33: Petróleo bruto convencional
Evolução da produção mundial e preços correntes (1960-2005)

A análise da evolução da produção e abastecimento do petróleo bruto convencional ao mercado, pouco reflecte a variação dos preços.
Exceptuando os períodos em que ocorreram os dois choques petrolíferos, o consumo aumentou a taxas relativamente constantes, independentemente da variação dos preços correntes.
A nova dimensão de segurança entre nações exportadoras e nações importadoras dependentes desta matéria-prima estratégica, resultará da interligação entre o investimento, a finança e o comércio.
Os produtores procurarão obter dos países consumidores: o capital, a tecnologia e a competência técnica, ao mesmo tempo que abastecerão os seus mercados.
Esta reorientação incitará a um redobrado esforço dirigido à investigação e à detecção de oportunidades, quer de investimento quer em participação no desenvolvimento das estruturas do sector.
Encontramo-nos hoje perante opções a tomar, que não podem continuar a ser adiadas, sob pena de nos vermos, a curto prazo, numa situação de carência generalizada, de consequências muito difíceis de ultrapassar:
· Se os preços do barril de petróleo forem colocados de tal modo baixos que os tornem acessíveis às economias débeis e dependentes da importação do petróleo para satisfazer as suas necessidades energéticas, desmotiva o investimento em novas descobertas e novas produções. Logo, o produto escasseará e provocará tomadas de posição que podem conduzir a conflitos de imprevisível dimensão.
· Se os preços forem colocados a um nível que incite o investimento, corre-se o risco do esmagamento global das economias dependentes, inclusivamente das ocidentais europeias e das norte-americanas.
Recordo, para terminar, que os países da União Europeia, dependentes da importação de petróleo, pagaram, o ano passado, cerca de 240.000 milhões de dólares e os Estados Unidos, nada menos do que cerca de 300.000 milhões. Qualquer subida substancial no valor do barril de petróleo provocará grande agitação nas suas economias.
Daí a necessidade imperiosa da racionalização dos consumos do petróleo, da eficiência energética e do crescente recurso à utilização das energias alternativas, quer sejam de origem renovável, quer da controversa origem nuclear.

Slide 34



ISLA Lisboa
29 de Novembro de 2006
“Petróleo: Qual Crise”