quinta-feira, 6 de março de 2008

Petróleo
Liderança russa em vários tabuleiros


A Rússia que já detém a liderança do mercado do gás natural, com os seus 578 biliões de metros cúbicos produzidos no passado ano de 2003 (dos quais exporta mais de 128 biliões de metros cúbicos), o que corresponde a cerca de 22 por cento do total mundial transaccionado, está em vias de conseguir idêntica posição no mercado do petróleo bruto.
Com uma produção média de 8,5 milhões de barris diários alcançada durante o ano de 2003, admite-se que possa vir a atingir, a muito curto prazo, valores cerca dos 10 milhões de barris diários, passando a dominar o mercado mundial. Este previsível desvio do eixo de poder, alterará substancialmente todo o espectro geopolítico que se tem vivido desde o primeiro choque petrolífero que se seguiu à Guera do Yom Kippur.
Após ter estabilizado a sua quota no mercado ocidental, ao igualar o volume das exportações sauditas, concentrou os seus objectivos nos ávidos mercados do Sudeste Asiático.
Estes mercados, nomeadamente o Japão e a China, segundo e terceiro maiores consumidores à escala mundial e fortemente dependentes dos fornecimentos do politicamente instável Médio Oriente, estão na mira dos maiores exportadores mundiais.
Ambos os países debatem-se com forte carência energética, mercê de recursos próprios incapazes de satisfazer as taxas de desenvolvimento económico pretendido, com um passado recente de busca de recursos energéticos que, inclusivamente, já os arrastaram para conflitos de grandes proporções.
Na tentativa de diversificação de fornecedores que lhes possam garantir estabilidade de abastecimento, encontram-se em aberta concorrência à instalação de oleodutos que lhes permitam acesso aos vastos campos petrolíferos da Sibéria Oriental, cujos depósitos estão avaliados em mais de 10 biliões de barris, dos quais se pode vir a extrair um mínimo de 1 milhão de barris diários. Saliente-se que, de acordo com as estimativas anunciadas pelas empresas petroleiras russas, as reservas ainda não provadas da Bacia Siberiana Ocidental ascendem a mais de 170 biliões de barris.
O Governo russo, pelo seu lado, tem manifestado a opinião de que o oleoduto de exportação do petróleo da Sibéria Oriental deve ser dirigido, inicialmente ao Daqing chinês, mantendo em consideração que a sua extensão até ao Porto do Extremo Oriente russo de Nakhodka dependerá, essencialmente, da prospecção e exploração das regiões siberianas e do Extremo Oriente.
Aparentemente, foi tomada a decisão da construção da “Linha Angarsk-Daqing”. A menos que surja mais algum acidente de percurso que possa vir a alterar a decisão, espera-se que os 2.400 km de oleoduto transnacional entre Angarsk (região russa de Irkutsk) a oeste do Lago Baykal e a Daking chinesa, possam vir a ter rápido e imediato início.
Se por um lado, a concretização dos contratos e Acordos estabelecidos e a estabelecer entre a Rússia e a China e o Japão e, eventualmente entre a Rússia e a Índia e o Paquistão, vai colocar a Rússia numa posição de forte e incontestável liderança do mercado abastecedor de petróleo, por outro, vai proporcionar a estes mercados consumidores/importadores todos os ingredientes necessários e suficientes para a continuidade sustentada do seu desenvolvimento económico. Muito especialmente à China, que continua a apresentar taxas de crescimento notáveis e ímpares à escala mundial. Situação a cair na esfera política, muito provavelmente capaz da introdução de grandes alterações ao nível da balança de poder.



Destaques:

A Rússia encontra-se em vias de assumir a liderança do mercado mundial do petróleo.

Este previsível desvio do eixo de poder, alterará substancialmente todo o espectro geopolítico que se tem vivido desde o primeiro choque petrolífero que se seguiu à Guera do Yom Kippur.

Situação a cair na esfera política, muito provavelmente capaz da introdução de grandes alterações ao nível da balança de poder.


J. Caleia Rodrigues
Revista Actualidade (CCILE)
Março/Abril.2004