sexta-feira, 7 de março de 2008

Israel não dispõe, na actualidade, de suficientes recursos próprios energéticos, sendo forçado a depender quase exclusivamente de importações que satisfaçam as suas necessidades energéticas dessa estratégica matéria.
Ao pretender aumentar a sua própria participação (especialmente nos combustíveis destinados a produção eléctrica, actualmente dominada por centrais termoeléctricas a carvão), foram considerados diferentes aspectos, donde se destaca a garantia de abastecimento, a manutenção de reservas estratégicas de salvaguarda contra bloqueios de recente memória, capacidade de negociação de preços mais vantajosos, razões de ordem económica de custos e de divisas, e protecção ambiental.
Só no sector constituído pelo gás natural, têm sido apresentadas previsões de evolução de consumo que apontam para a passagem dos 4 bm³ por ano a atingir em 2005, para os 7,6 bm³ em 2015, até chegar aos 11,6 bm³ em 2025.
Uma das possibilidades disponíveis encaradas pelo Governo israelita, consiste na importação de gás do egípcio delta do Nilo e regiões offshore, quer atravessando a península do Sinai, quer via pipeline subaquático percorrendo a costa israelita.
Outra forte possibilidade considerada, surgida nos últimos anos, é a da exploração dos seus próprios recursos, baseada nos depósitos de gás offshore recentemente descobertos.
No que se refere ao gás egípcio, foi criada a East Mediterranean Gas (EMG) com o intuito de explorar esta opção, tendo em consideração a proximidade do pipeline que a ENI (maior produtora de gás no Egipto) tem em construção, partindo dos campos offshore situados ao norte de Port Said, passando pelo Sinai e terminando em El-Arish, próximo da fronteira com a Faixa de Gaza, apenas a 20 km de Israel. Este pipeline pode permitir à Autoridade Palestina obter energia a cerca de metade do preço do que está pagando à Israel Electric Corporation (IEC), de quem é, actualmente, completamente dependente no que respeita aos aprovisionamentos de energia eléctrica.
Entretanto, o Egipto e Israel anunciaram um acordo, no início do corrente ano, pelo qual o Egipto se compromete a fornecer a Israel até ao ano 2012, gás no valor de USD 3 biliões, após a redução verificada durante os últimos meses, devida a razões políticas, especialmente devidas ao ressurgimento do conflito israelo-palestino.
Apesar do acordo firmado, mantêm-se profundas preocupações em Israel, na área da segurança nacional, radicadas na demasiada dependência da energia importada desta única origem, tanto mais, que o Egipto iniciou conversações tendentes à exportação directa de gás para a Jordânia, via Aqaba, sem intervenção israelita. Note-se que, apesar da Jordânia se apresentar como o maior potencial mercado regional para as exportações de gás egípcio, as razões económicas do projecto parecem de evidência questionável.
No que se refere à segunda possibilidade, a de tentar obter recursos próprios, Israel, que tinha iniciado, em 1953, a prospecção de recursos petrolíferos no seu território, conseguiu, em meados de 1999, a descoberta de 18 mb (milhões de barris) de crude e 70 bp³ (biliões de pés cúbicos) de gás, após um esforço constituído por 438 perfurações maioritariamente offshore.
As estimativas iniciais apontam para um total de reservas da ordem dos 3 a 5 tp³ (triliões de pés cúbicos). Apesar de relativamente modestas, se as considerarmos a nível mundial, mostram-se suficientes para satisfazer a procura israelita durante vários anos, libertado-a da obrigatoriedade de se socorrer de importações.

Às quatro reservas descobertas, localizadas a sudeste do sector offshore israelita, deve-se acrescentar a bolsa Or South, de grande dimensão, atravessada pela fronteira das águas territoriais israelitas com as palestinianas da Faixa de Gaza.

Além desta bolsa parcialmente localizada em águas atribuíveis à Autoridade Palestina, foi também aqui encontrada uma outra importante bolsa, a Gaza Marine, com reservas idênticas às encontradas nas águas israelitas. Nesta concessão, em que não participam empresas israelitas, a empresa concessionária associou-se exclusivamente a empresas palestinianas por contrato com duração prevista de 25 anos, considerando que o gás obtido poderá ser transportado por pipeline e entregue no porto israelita de Ashkelon. Esta concessão de extracção, considera a construção da rede de distribuição de gás em território atribuível à Autoridade Palestina. O contrato determina que grande parte do gás extraído, até um máximo de 1,7 bm³ anuais, seja entregue em Ashkelon à IEC, destinado às centrais eléctricas israelitas, tendo em consideração que se trata de centrais do tipo de combustão dual, podendo utilizar, quer carvão como até agora, ou gás natural, como se prevê no futuro.
Apesar de Israel não se poder apresentar como um grande produtor de hidrocarbonetos, a componente criada pelo conflito israelo-árabe pode afectar profundamente o fluxo de petróleo do Médio Oriente. Dada a sua específica localização geográfica, colocado entre a Península Arábica e o Mar Mediterrâneo, Israel apresenta uma alternativa potencial à rota ocidental do petróleo do Golfo Pérsico.
Até agora, estas exportações são realizadas por navios tanqueiros (através do Canal do Suez ou contornando o Cabo africano), por pipeline do Iraque para a Turquia ou pelo pipeline do Sumed (Suez mediterrânico).
A utilização do pipeline transarábico (Tapline), construído em 1940, é considerado o melhor meio de transporte do petróleo saudita para o Ocidente (via Jordânia para o Porto de Haifa, hoje israelita) e disponibiliza outra potencial alternativa económica. Aquando da sua construção, o Tapline fazia parte da Palestina, porém, após estabelecimento do Estado de Israel, o terminal foi mudado de Haifa para o Porto libanês de Sidon, com a consequente alteração do trajecto do pipeline, que passou a atravessar a Síria e o Líbano.
Pelo conflitos operados no Líbano e por razões económicas, as exportações via pipeline Tapline foram suspensas em 1975, passando a servir exclusivamente a Jordânia. Apesar das dificuldades, o Tapline mantêm-se uma rota atractiva para as exportações do Golfo Pérsico para a Europa e para os Estados Unidos, já que os estudos realizados concluem que as exportações de petróleo via Tapline para a Europa, utilizando o porto israelita de Haifa, poderiam custar menos 40 por cento do que sendo realizadas por navios tanqueiros via Canal do Suez.



Destaque:
A fundação do Estado Palestino obriga à definição de fronteira entre Israel e a Faixa de Gaza, com a consequente repartição das reservas offshore de gás natural.


J. Caleia Rodrigues
Diário Económico
Novembro.2001