sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Entrevista

Petróleo dos EUA pode passar por Portugal José Caleia Rodrigues considera que o reforço da produção de petróleo nos Estados Unidos poderá vir a beneficiar Portugal quando aquele país se tornar auto-suficiente na matéria-prima. A Agência Internacional de Energia veio alertar o mundo, em 2016, para os perigos do excesso da oferta de petróleo nos preços. Mas já em 2015 José Caleia Rodrigues tinha alertado para uma “bolha perigosa” que se estava a formar e que está, considera, agora a atingir o globo. Em entrevista ao Económico, o especialista em geopolítica do petróleo explica que o reforço da produção dos EUA veio alterar a geografia do mundo porque ocorreu uma “reorientação da política energética”, que, no entanto, poderá beneficiar Portugal. Esta alteração, explica Caleia Rodrigues, fez com que a matéria-prima “deixasse de ser escassa e passasse a ser abundante, perdendo valor e fazendo cair o preço”. Portugal poderá beneficiar desta situação quando a maior economia do mundo se tornar auto-suficiente em petróleo, “lá para o final da década”, e começar depois a exportar os excedentes. “Não faz sentido que os EUA exportem para a China. O que faz sentido é que exportem para a Europa”, realça, reiterando o papel estratégico de Portugal em todo este processo. O país, assegura, “está muito bem colocado com portos de águas profundas”. No entanto, há um problema: “os oleodutos terminam em França e não há ligação de Portugal até França”. Por cá há quem fale nos benefícios dos preços mais baixos do petróleo pelo facto de Portugal ser um país importador e não produtor. Mas nem tudo são boas notícias. As empresas expostas ao sector energético, como é o caso da Petrogral, Partex e Galp, podem sofrer de forma directa e indirecta com a crise dos preços. “Todas sofrem e têm de procurar novos clientes. Têm de ver onde é que aplicaram os recursos e onde vão buscar os retornos. As coisas no Brasil não estão fáceis. Também há aplicações em Angola e, por isso, vão ter que assumir alguns riscos e algumas dificuldades.” Como exemplo, este analista usa a Galp Energia que perdeu “um dos poderosos accionistas que em 2014 começou a instalar, juntamente com a empresa estatal norueguesa no mar da Noruega, uma plataforma que implicou um investimento de seis mil milhões de dólares”. O tema da exploração da matéria-prima em território nacional não é inédito. Actualmente, estão a decorrer as fases de investigação e, este ano, o Governo pretende abrir novos concursos. Um sinal de que é preciso pensar, mesmo com preços do petróleo considerados muito baixos, se “nos vale a pena explorar petróleo nas nossas costas”. E é aqui que surgem as maiores dúvidas. Se, por um lado, José Caleia Rodrigues acredita que “a segurança energética é para países com poder, as duas guerras mundiais demonstraram isso”; por outro lado, “Portugal não tem grandes problemas de segurança nacional”. “Consumimos relativamente pouco e só vale a pena extrair se for rentável, se valer a pena economicamente. Não sei o que é que se pode explorar em Portugal e, por isso, é preciso ter algum cuidado”, sublinha. Uma alternativa poderia ser o chamado ‘shale oil’ (gás de xisto) que existe em território nacional e que tem sido a principal arma dos EUA na chamada reorganização energética. A questão é que em Portugal as reservas “são relativamente pobres”. Sobre o tema dos combustíveis, o especialista em geopolítica do petróleo garante que, neste caso, as contas são outras. “Não há uma resposta simples”, considera, porque “não estamos a falar da matéria-prima. Estamos a falar de produtos refinados que têm uma pequena parte da matéria-prima, têm a refinação e depois têm os impostos”. “É em função disto que temos de analisar muito bem os preços”, conclui. Em Portugal, o preço dos combustíveis é em boa parte explicado pelo peso dos impostos que, para Rodrigues, “se não se pagassem na gasolina iríamos pagá-los noutro sítio”. “Se as contas do país estivessem equilibradas, poderíamos beneficiar mais com a queda dos preços. O país beneficia com a compra de matéria-prima mais barata e sobretudo diversificando as origens do petróleo”, defende. O levantamento das sanções económicas e a reentrada do Irão no mercado pode contribuir para esta diversificação das fontes, sublinha. Económico – 22.Jan.2016 Hugo Bragança Monteiro http://economico.sapo.pt/noticias/petroleo-dos-eua-pode-passar-por-portugal_240404.html