domingo, 24 de janeiro de 2016

Entrevista

O domínio das tecnologias no sector produtivo petrolífero Por José Caleia Rodrigues, Geopolítico e Investigador. Dado que as novas disponibilidades tecnológicas poderão vir a ser aplicadas em muitas bolsas petrolíferas existentes em países ainda não exportadores ou de qualidade e localizações diferentes, abrirão, consequentemente, um campo de actividade e de novas oportunidades a empresas industriais, impensável algumas décadas atrás. Nesta nova ordem de oportunidades poderão colaborar directamente com as empresas estatais detentoras dos recursos ou com as empresas privadas concessionárias dos blocos petrolíferos. Ressalta, desta constatação, que a tecnologia constituirá a chave-mestra no desenvolvimento do sector petrolífero a médio e a longo prazos. Poderemos inferir que as novas explorações disponíveis para desenvolvimento encontram-se dependentes de tecnologias de difícil obtenção, em localizações de elevado risco político ou de difícil acesso. Como tivemos oportunidade de publicar a seu tempo: mais longe, mais fundo, mais caro. Contudo, a produção e a descoberta de campos petrolíferos que contêm imensas quantidades de novas qualidades apenas se encontrava à espera da capacidade de acesso aos novos conhecimentos tecnológicos que começavam a despontar. Quer se tratasse de recursos petrolíferos de origem biótica quer abiótica (não fóssil). Saliente-se que a sua descoberta terá aumentado cerca de 2,5 vezes desde o ano 1980 até ao 2010. Ressalve-se que esta crescente abundância de recursos à escala mundial, de improcedente dimensão, correrá o risco de promover de tal modo a produção que se torne muito superior ao consumo, arrastando consigo uma superprodução e uma eventual queda abrupta dos preços de mercado, não fora os elevados custos de exploração dos novos recursos. As previsões de consumo elaboradas pelas agências internacionais que se ocupam desta matéria indicam que ao atingir-se o final de mais um decénio poderão ter aumentado em cerca de 50 milhões de barris diários, um acréscimo equivalente a quase metade do consumo corrente que ronda os 93 milhões. Enquanto os opinion-makers, os decision-makers, os académicos e os mercados financeiros parece terem sido apanhados pela falácia do peak oil e pelo excessivo entusiasmo posto nas energias renováveis alternativas ao petróleo, os preços de mercado e os novos conhecimentos tecnológicos que permitirão extracções tão abundantes quanto se queiram, de novas origens “desconvencionalizadas” (como sejam o shale oil, o sand oil ou os ultrapesados), ou de jazidas localizadas a grandes profundidades (para além dos 7.000 metros), suportaram um desenvolvimento que poderá alterar, de forma radical, a abordagem que tem sido feita na área da energia e da geopolítica, colocando o domínio dos recursos petrolíferos e o seu inerente poder nas mãos dos detentores dos recursos tecnológicos e dos recursos financeiros que permitam pô-los em marcha. Logo, os Estados em que se encontrem localizados os recursos petrolíferos e que dispõem do poder de adjudicar concessões de explorações petrolíferas a seu livre arbítrio poderão vir a ficar reféns desse novo domínio e inerente poder que, no limite, até poderá discriminar quando e onde se irão realizar os empreendimentos. À nova tecnologia de detecção e de inventariação seguiu-se o desenvolvimento de outras aplicadas à exploração que revolucionou por completo a indústria petrolífera e ultrapassou, de forma definitiva, o receio de uma eventual crise de carência no mercado mundial. Torna-se claro que será nos novos desenvolvimentos tecnológicos que assentarão as grandes oportunidades de exploração, quer a montante quer a jusante da cadeia produtiva, pelo que se impõe o acesso aos recursos técnicos e aos equipamento de extracção e de sintetização, quando for caso disso, dos produtos obtidos das novas origens petrolíferas. O seu domínio colocará um novo factor de poder nas mãos dos seus detentores. Os Estados soberanos dos recursos terão que passar a aguardar pela capacidade técnica das empresas industriais que dominem a tecnologia requerida a quem poderão ser requisitados os seus serviços e a sua capacidade técnica.