segunda-feira, 3 de março de 2008

Petróleo. Futuro negro?


O equilíbrio entre a oferta e a procura de petróleo há muito que foi comprometido. Os dias do petróleo barato pertencem ao passado. As jazidas disponíveis são, na maioria, de difícil acesso, ou seja, de cara extracção. Más notícias, tendo em conta que o petróleo é o principal combustível consumido e a procura ameaça não abrandar.

Ao contrário dos choques petrolíferos de 73 e de 79/80, o actual veio para ficar… Como vão as petrolíferas ibéricas reagir perante esta conjuntura?

O consumo mundial de energia irá aumentar em média, anualmente, cerca de 1,8% até 2020, de acordo com a Energy Information Administration (EIA). Actualmente o petróleo corresponde a uma fatia de 37% da energia primária consumida, acima do carvão e do gás natural. A subida do preço e a incerteza quanto à disponibilidade do petróleo colocam-no topo das preocupações políticas e económicas. Suspeitamos que nada será como dantes no que se refere ao ouro negro…
“A propósito do preço futuro do petróleo a única certeza que temos é a incerteza”, declara Agostinho Pereira de Miranda, da sociedade de advogados Miranda Correia Amendoeira & Associados, especialistas no sector petrolífero. Essa incerteza existe desde que o petróleo foi descoberto, há mais de 150 anos. “Nas últimas décadas o preço do crude tem sido o mais volátil dos preços das várias commodities”, salienta o advogado, acrescentando que actualmente “há factores estruturais que apontam claramente para uma curva de subida contínua no médio e longo prazo”.
Ainda que o preço do petróleo possa baixar ligeiramente, um recuo acentuado é pouco provável, aponta António Costa Silva, administrador da Partex, a petrolífera do grupo Gulbenkian: “É provável que com os indícios que se acumulam de uma possível recessão nos EUA e uma desaceleração no crescimento económico global, a procura de petróleo venha a sofrer uma redução e os preços caiam para o patamar dos 80, 85 dólares por barril, no primeiro semestre de 2008. A queda dos preços não será drástica, nem assistiremos a um recuo considerável porque os fundamentos económicos continuam a favorecer a existência de preços altos.” Como explica Costa Silva, “no curto prazo temos a situação dos ‘stocks’ de reservas estratégicas dos países ocidentais que estão a um nível muito baixo, o mais baixo dos últimos quatro anos” e “no médio e longo prazo há que considerar que a economia mundial é hoje muito diferente da dos anos 70”, ou seja, “uma recessão hoje tenderá a ser mais curta e a procura de petróleo voltará inevitavelmente a subir, induzida pelo desenvolvimento económico dos países emergentes”
Agostinho Miranda também não exclui o cenário de redução do preço do petróleo, face a uma recessão, mas frisa que “a capacidade excedentária dos países produtores é tão pequena que bastará um incidente político ou militar grave para o preço disparar para valores superiores a 100 dólares”

A frágil capacidade de resposta da oferta

José Caleia Rodrigues, autor do livro “Geopolítica do Petróleo”, considera que “a verdadeira ameaça não reside na subida dos preços, mas na segurança dos abastecimentos”. O especialista recorda que “a oferta praticamente estabilizou nos dois últimos anos”, já que “os grandes exportadores entregaram menos petróleo, mas foram compensados pelos pequenos”. As reservas declaradas de petróleo garantem a satisfação do consumo nos próximos 35 anos. Caleia Rodrigues ressalva que “ainda há muito petróleo por descobrir, mas aceder a ele será muito mais caro do que tem sido até agora”. Porquê? “Porque os dias do petróleo leve (em estado líquido na natureza, o correspondente a um terço do petróleo existente) estão prestes a chegar ao fim”. Alcançar as bolsas de petróleo pesado é mais difícil, exige uma tecnologia mais avançada, logo o processo é mais lento e mais dispendioso. Caleia Rodrigues assinala que “o investimento na extracção não acompanhou a intensificação do consumo massificado de petróleo”, o que explica a escalada dos preços. Por outro lado, as refinarias também não têm capacidade para acomodar mais petróleo, alerta: “O sector da refinação dispõe actualmente de uma margem mínima de capacidade para acomodar mais aumentos de produto a entregar no mercado. Estamos a atingir uma saturação.” Como “não há grande capacidade de aumentar a extracção e as novas extracções serão menos rentáveis, no curto prazo haverá dificuldades de abastecimento”, conclui Caleia Rodrigues.

A barreira do petro-nacionalismo

A somar a tudo isto estão as condicionantes políticas, já que o sector petrolífero está cada vez mais politizado. Agostinho Miranda observa que “no seu conjunto as petrolíferas internacionais estão a perder capacidade líquida de produção todos os dias”. Em contrapartida, “as grandes petrolíferas estatais estão gradualmente a tornar-se as verdadeiras senhoras do mercado”. O advogado sublinha que “esta transferência de poder comporta riscos muito significativos porque as estatais obedecem em geral a lógicas de cariz político”. Este “petro-nacionalismo” dos países produtores está em plena ascensão e poderá ser mesmo o maior entrave do sector, já que “dentro de 15 anos os países desenvolvidos poderão dispor de apenas 20% das reservas mundiais de petróleo convencional”, realça Agostinho Miranda.
Hoje o petróleo é das nacionais e não das internacionais, o que poderá dificultar a vida a petrolíferas que têm actividade de extracção em países como a Venezuela, nota Caleia Rodrigues, lembrando o caso da Repsol e de todas as petrolíferas que estão a investir na faixa do Orinoco (Venezuela), tida como uma das principais zonas de petróleo pesado.
Perante esta conjuntura, saber se as petrolíferas terão capacidade para satisfazer a crescente procura é a questão. O último relatório da Agência Internacional de Energia (AIE) avançava que os países produtores ver-se-ão impossibilitados de satisfazer a procura dentro de três a cinco anos. António Costa Silva corrobora o parecer da AIE: “O período de ouro das ‘sete irmãs’ que comandavam o mercado petrolífero passou. As grandes companhias internacionais ocidentais (as chamadas IOC’s) têm hoje um acesso muito limitado (cerca de 7%) às reservas de
petróleo e todos os anos a sua produção diminui. A maioria das reservas mundiais de petróleo (cerca de 80%) estão hoje nas mãos das companhias nacionais dos países produtores (as chamadas NOC’s) e com o crescimento do nacionalismo dos recursos em diferentes países, desde a Venezuela e Equador à Argélia, Rússia e Irão, somado ao facto de alguns dos grandes produtores mundiais como a Arábia Saudita e o México nem sequer permitirem investimento estrangeiro na sua indústria petrolífera, o que temos é uma situação de grande incerteza porque alguns destes países podem usar o petróleo como arma geopolítica a exemplo do que já fizeram no passado. Por todas estas razões a resposta para satisfazer a procura mundial será cada vez mais difícil se essa procura subir exponencialmente.” Como a oferta ameaça ser inferior à procura, importa “discutirmos não só o problema da oferta, mas também do consumo e tomar medidas sérias e profundas para mudar o modelo energético existente que repousa na utilização massiva de combustíveis fósseis, diversificar e apostar na utilização de outras fontes como as energias renováveis, aumentar a eficiência energética, reduzir a dependência dos combustíveis fósseis, lutar contra o desperdício e mudar os hábitos e comportamentos”, advoga o administrador da Partex. Costa Silva frisa que esta mudança está nas mãos dos políticos: “A única possibilidade de assistirmos a uma redução e estabilização da procura dos combustíveis fósseis é através da implementação de medidas profundas de conservação da energia e redução das emissões de dióxido de carbono que ameaçam o clima do planeta. Mas isso exige coragem e clarividência aos políticos porque só através de um imposto sobre o carbono o mercado pode realmente funcionar de forma eficaz e absorver a mudança. Tudo o resto são paliativos que não resolvem o problema mas infelizmente vivemos numa época em que as lideranças políticas preferem muitas vezes a via mais fácil.”
Actuar ao nível da procura pode passar também pelo fim do apoio estatal ao consumo de combustíveis concedido por países como a China e a Índia, a Tailândia ou a Malásia grandes responsáveis pela aceleração da procura mundial nos últimos cinco anos.
Á semelhança do que se passa, por exemplo com os medicamentos, a lei da oferta e da procura já não se pode aplicar ao petróleo. António Costa Silva, recorda que “quando ocorreram os choques petrolíferos de 1973 e de 1979/80, a procura entrou em declínio logo que os preços subiram”, ao passo que “a procura continuou a subir nos últimos anos apesar dos preços elevados”. Conclui-se que “a economia mundial, que é hoje diferente da dos anos 70, consegue absorver variações de preço dentro de certos patamares”.

Parceria com África, Magrebe e América Latina

O cenário não é optimista, pelo que a nível ibérico impõe-se o reforço das parcerias, defende Agostinho Miranda: “A energia tornou-se uma variável geo-estratégica de tal importância e Portugal e Espanha são neste campo protagonistas tão pequenos que, ao menos nos sectores do petróleo e do gás, já não há soluções meramente empresariais. As soluções têm de ser políticas. E aí ambos os países têm vantagens enormes, por força das suas relações privilegiadas com África, o Magrebe e a América Latina. A actuação política coordenada de Portugal e Espanha visando a segurança energética é algo que só tem acontecido esporadicamente. Mas, a recente iniciativa, encorajada por Bruxelas, de criação na Península Ibérica de uma base europeia de terminais de gás é um excelente sinal de que as coisas poderão estar finalmente a mudar.”
Não só para a Península Ibérica, mas para a maioria dos países europeus, que não são auto-suficientes em termos de petróleo, uma parceria com África, Magrebe e América Latina pode ser parte da solução. Caleia Rodrigues considera que é na Europa que a insuficiência de petróleo mais se fará sentir: “Os EUA, apesar de em 25 anos passarem de líderes mundiais da produção de petróleo para fortes importadores (dois terços do que consomem), estarão sempre salvaguardados pelo Canadá, que a médio prazo, dominará o mercado juntamente com a Venezuela. A China também terá sempre na Rússia um fornecedor.”
À Europa cabe apostar numa parceria com os países africanos, concorda Agostinho Miranda: “O continente africano tem a mais baixa taxa de consumo energético do planeta e, nessa medida, precisa de infra-estruturas que a Europa está em posição de construir. Mas os governos africanos precisam também de segurança no que toca à procura dos países importadores de petróleo e gás. A parceria energética com África pode criar condições para atacar também o gravíssimo problema do aquecimento global. Todavia, essa parceria só se construirá a partir de uma plataforma fundada no diálogo e na reciprocidade.”
Na mesma linha António Costa Silva vê a parceria energética com África como indispensável: “Infelizmente, depois da queda do muro de Berlim, a Europa passou só a olhar para Leste e isso em matéria de energia pode ser fatal. A Europa tem hoje uma dependência energética grande da Rússia que vai aumentar nas próximas décadas e, se nada for feito para alterar esta situação, o futuro pode ser penoso porque a Rússia pode usar a energia como uma arma geopolítica como fez recentemente no caso da Ucrânia e da Bielorrússia. A Rússia é e deve continuar a ser um parceiro estratégico da Europa, mas para haver um certo equilíbrio, a Europa deve apostar numa parceria energética com África, não só no Mediterrâneo (e é significativo que o processo de Barcelona está hoje completamente parado o que atesta a miopia europeia nesta matéria), mas também dinamizando as ligações com outros países africanos como a Nigéria, a Guiné Equatorial, o Chade, o Gabão ou Angola, para converter a Bacia Atlântica num eixo energético e geopolítico de primeiro plano.”
Perante esta conjuntura, em que pé estão as petrolíferas sedeadas na Península Ibérica Cepsa, Galp, Partex e Repsol e como vão responder aos desafios do sector? As espanholas Cepsa e Repsol, bem como a empresa do grupo Gulbenkian já investem na produção há muito anos, mas a Galp Energia é uma recém-chegada ao mundo da extracção.

Galp com reservas provadas em Angola e no Brasil

Portugal, Brasil e Angola são por enquanto, os principais focos de interesse da Galp, no que diz respeito à exploração e produção. Uma aposta com ecos positivos em Angola, onde a Galp participa em consórcios com outras petrolíferas, nomeadamente a congénere local Sonangol. A mais recente boa nova diz respeito ao Bloco 32, nas águas ultra-profundas do offshore de Angola, no poço Alho-1, onde se provou a existência de uma jazida de petróleo de boa qualidade, com um potencial de produção na ordem dos 5400 barris por dia. A esta descoberta, anunciada no final de 2007, somam-se mais 12 anunciadas entre 2003 e 2007. Além do Bloco 32, a Galp está também presente na exploração dos blocos 14, 14K/A-IMI e 33. Todos localizados no off-shore de Angola.
No Brasil, a parceria no consórcio que explora o bloco BM-S-11, em águas profundas da Bacia de Santos, já rendeu a descoberta recente de reservas de petróleo e gás natural, avaliadas entre cinco e oito mil milhões, no Poço de Tupi Sul. Neste consórcio, o grupo português detém uma participação de 10%. Recorde-se que na mesma bacia, a Galp participa na exploração de mais três blocos: BM-S-8 (14%), BM-S-21 (20%) e BM-S-24 (20%).
No que toca a Portugal, a Galp, em parceria com a Partex e com a Petrobras, assinou um acordo com o Governo português para a exploração e produção dos blocos Camarão, Amêijoa, Mexilhão e Ostra, que cobrem uma área de 12 mil quilómetros quadrados, localizados em águas profundas (2000 metros) ao largo de Peniche, na chamada bacia lusitana. Neste investimento, a Galp tem uma participação de 30%, a Partex de 20% e a Petrobrás de 50%. A Partex e a Galp, em parceria com a australiana Hardman Resources estão também envolvidas na exploração dos blocos portugueses Lavagante, Santola e Gamba, situados ao largo da costa alentejana, numa área de nove mil quilómetros quadrados, em águas cuja profundidade vai dos 200 aos três mil metros.


Partex planeia investir 100 milhões de dólares em E&P

Além de parceira da Galp nestes negócios em Portugal, a Partex Oil and Group Companies opera também no Casaquistão, no Brasil, na Argélia, em Angola e no Médio Oriente. A empresa deve a sua origem a Calouste Gulbenkian, o empresário de origem arménia que viveu os últimos anos da sua vida em Portugal e que dividia o seu tempo entre a arte e o petróleo. Em testamento, Gulbenkian decretou que se criasse uma fundação com o seu nome, sedeada em Lisboa. A filantropia e a gestão do património artístico é por ventura o lado mais conhecido da fundação, mas nas suas actividades está também a gestão da Partex, que detém a 100%.
A história da Partex confunde-se com a história da exploração de petróleo mundial, estando Gulbenkian ligado à génese da indústria petrolífera no Médio Oriente. A diversificação geográfica do investimento tornou-se imperiosa tendo em conta que já não se descobrem novas jazidas no Médio Oriente há anos. A Partex hoje procura alternativas a essa zona do globo. “A descoberta de novas jazidas faz parte da nossa actividade desde sempre não só para repor as reservas nos campos que estão em produção no Médio Oriente como noutras bacias e noutros países onde a companhia detém participações”, declara António Costa Silva. O administrador da Partex acrescenta ainda que “no plano de negócios, que tem um horizonte temporal de cinco anos, estão previstos investimentos de cerca de 100 milhões de dólares para actividades de exploração cujo objectivo é exactamente identificar e avaliar novas jazidas”.

Cepsa com um pé na América Latina

Diversificar os investimentos em termos geográficos é também um dos principais objectivos da Cepsa, segunda petrolífera espanhola, controlada maioritariamente pela francesa Total. A exploração e produção de petróleo da Cepsa decorre actualmente na Argélia, na Colômbia, no Egipto e em Espanha e é de aproximadamente 250.000 barris/dia. A companhia pretende manter estes investimentos, mas está igualmente empenhada em alargar geograficamente a sua área de acção, nomeadamente na América Latina, onde a o Peru lhe abriu a porta. No final do ano passado, o grupo assinou um acordo com a empresa canadiana Loon Peru para iniciar actividades de exploração e produção de hidrocarbonetos no Bloco 127, na bacia do Maranhão, no Peru, país onde pretendem expandir a actividade petrolífera.
Em 2006, a CEPSA comercializou 8,7 milhões de barris de crude líquidos e realizou investimentos no valor de 91 milhões de euros, aplicados fundamentalmente no desenvolvimento dos poços produtivos da Argélia. Até Setembro de 2007, a empresa investiu mais 74 milhões de euros também em actividades de exploração e produção. A estratégia do grupo para o período 2007-2011 contempla investimentos superiores a cinco mil milhões de euros em todas as áreas de negócio. Luís Sobral, administrador da Cepsa em Portugal, especifica quais os planos da empresa: “Estes investimentos destinam-se a manter no médio-longo prazo, o nível de reservas de crude, através do reforço da exploração dos poços em actividade, da exploração de novos poços e/ou aquisição de reservas com diversificação geográfica.
A actividade de exploração e produção pesa 33% do total dos negócios do grupo, sendo a segunda de maior peso para a Cepsa, depois da área de refinaria, que representa 54%.
Reconhecendo que “o contexto sociopolítico internacional e os novos marcos jurídicos de alguns países passaram a ter uma maior influência no desenvolvimento da actividade de exploração e produção”, Luís Sobral assinala que “os planos da Cepsa nos países onde opera são a longo prazo e a companhia trabalha muitos anos nesses países, mantendo boas relações com os sócios e interlocutores locais”.

Repsol investe no petróleo pesado

As condicionantes políticas poderão também ensombrar a actividade da maior petrolífera espanhola, a Repsol YPF. O grupo está a apostar fortemente na que se acredita ser a principal reserva de petróleo pesado e extra pesado do mundo, a faixa de Orinoco, localizada ao largo da Venezuela. Em retaliação ao célebre “por qué no te callas” do rei de España, Hugo Chávez, presidente da Venezuela, ameaçou que as intenções da Repsol podem sair goradas, assim como os demais investimentos de empresas espanholas em território venezuelano. Já as relações com o Governo argentino deverão sair beneficiadas assim que se concretizar a venda de 25% da sua filial argentina YPF ao grupo local Petersen, acordada no final de 2007 por 2 536 milhões de euros. Além de adquirir um sócio local, com este negócio a Repsol diminui a sua dependência da Argentina (que representava 30% dos resultados e o equivalente a 42% das suas reservas de petróleo provadas) e ainda angaria capital para ajudar a concretizar o plano estratégico 2008/2012 que deverá rondar os 32 mil milhões de euros de investimento.
A Repsol concentra uma boa parte das suas actividades de extracção em diversos países da América Latina. O Brasil valeu à Repsol, em Setembro, a descoberta de um novo poço. A jazida, na qual a Repsol tem uma participação de 25%, registou no ensaio de produção uma extracção de 2900 barris de crude e 57000 metros cúbicos de gás por dia. Na brasileira bacia de Santos, a Repsol lidera a actividade exploradora juntamente com a Petrobrás, participando em 19 blocos, nove dos quais como companhia operadora. O grupo espanhol está entre as 10 maiores petrolíferas privadas do mundo e opera em mais de 30 países. Até Setembro de 2007, a Repsol estava a produzir mais de um milhão de barris por dia de hidrocarbonetos. O investimento nos três primeiros trimestres de 2007 na área da exploração e da produção atingiu os 2.184 milhões de euros.
O sucesso futuro destas empresas dependerá sobretudo da capacidade para negociar com os novos senhores do petróleo. Da mesma forma que a capacidade política e económica para alterar o actual modelo energético à escala mundial, quer do lado da oferta, quer do lado da procura, é um pressuposto indispensável para evitar um futuro negro.


CAIXAS:

As alternativas…

Substituir o petróleo será sempre complicado na maioria dos seus usos. Mesmo assim a ciência dá-nos razões para algum optimismo, acredita o advogado especialista em petróleo Agostinho Miranda: “O petróleo será sempre a mais importante fonte primária de energia para os transportes. Mesmo os carros movidos a electricidade ou hidrogénio necessitarão de energia fóssil para a produção de uma e outro. Todavia, é altamente provável que nas próximas décadas surjam vários tipos de combustíveis sintéticos. A minha maior esperança reside nas imensas possibilidades da biologia molecular, tanto no domínio da captura de CO2 como no da produção de combustível. Já não pertence ao domínio da ficção científica a possibilidade de colónias de bactérias geneticamente modificadas alimentarem-se de dióxido de carbono ou produzirem energia a partir da luz solar.”


Exploração de petróleo no Árctico?

Pensamos em branco quando pensamos no Árctico, mas o gelo guarda generosas jazidas de petróleo e de gás. Atingi-las levanta dificuldades de ordem ambiental, técnica e política, no entanto as empresas do sector energético parecem estar empenhadas em vencer esses obstáculos. O advogado Agostinho Miranda considera que apesar da “grande incerteza quanto à titularidade jurídica da respectiva plataforma continental, com, pelo menos seis países a disputarem os direitos de prospecção”, a exploração do Árctico “é seguramente viável”. Opinião partilhada pelo administrador da Partex António Costa Silva: “A exploração de petróleo no Árctico é perfeitamente viável o que atesta a capacidade tecnológica desta indústria. Hoje no Árctico há grandes projectos de exploração e produção que estão a ser concretizados como o da Statoil, no campo de Snovhit, e o da Gazprom com a TOTAL, no campo de Shotkman.” Ainda assim, Agostinho Miranda ressalva que ”a exploração de hidrocarbonetos em boa parte do Árctico exigirá soluções tecnológicas que ainda não foram testadas e que, na melhor das hipóteses, terão de esperar 10 anos para serem comercialmente utilizáveis”. Além do petróleo, o Árctico é igualmente apetecível pelo gás, já que se julga que esta zona possa conter 25% das reservas de gás do planeta.

A verdadeira dimensão das jazidas…
Será sempre uma interrogação a verdadeira dimensão das jazidas de petróleo e de gás. Como argumenta o especialista em assuntos de petróleo José Caleia Rodrigues “a declaração das jazidas, quer provenha de países produtores quer de companhias petrolíferas, não é credível, dado que os números oficiais das reservas estão longe de ser dados puramente científicos”. Em causa poderá estar a mensagem que a empresa passa aos investidores e demais parceiros, sugere o analista: “A declaração das jazidas será o reflexo de um património financeiro que pode ser valorizado ou depreciado conforme o seu interesse temporal. Grande parte dos analistas tem a convicção de que se os números reais fossem conhecidos, provocariam o pânico nos mercados financeiros. Em pura discussão académica, a situação poderia atingir foros de extrema gravidade, no caso de um anúncio tornado público de queda significativa das reservas mundiais de petróleo que conduziria a uma imediata alteração dos preços e à destruição dos mercados financeiros e da economia mundial. É importante sublinhar que o aumento da produção do petróleo bruto convencional foi conseguido à custa do aumento da taxa de extracção em poços de alta rentabilização comercial, dado que a quantidade de poços em actividade tem vindo a ser drasticamente reduzida.”

in “Revista Actualidade” da CCILE
Fevereiro 2008
por Susana Marques