domingo, 2 de março de 2008


Num ano em que as importações nacionais de petróleo registaram uma ligeira quebra - de 2% para um total de 24 056 milhões de barris -, verificaram-se alterações significativas na lista dos maiores fornecedores de crude a Portugal: a Argélia perdeu peso mas mantém-se na liderança, a Nigéria perdeu o segundo lugar para o Brasil e o Irão e Reino Unido mais que duplicaram os seus fornecimentos. Os preços e a qualidade do petróleo continuam a ser determinantes na escolha pela Galp - que tem o exclusivo destas decisões - dos seus parceiros comerciais. Mas os especialistas sublinham a crescente importância das relações entre os Estados.
O caso do Brasil é o mais paradigmático da nova conjuntura do mercado mundial de petróleo. A Galp estabeleceu uma série de acordos de exploração com a brasileira Petrobras, acompanhados por um estreitamento das relações entre os dois governos. "É evidente que há interesses comuns e alguma empatia entre Portugal e o Brasil, em paralelo com as parcerias de negócio entre a Galp e a Petrobras", sublinhou ao DN Nuno Ribeiro da Silva, presidente da Endesa Portugal e perito em assuntos petrolíferos. O peso do Brasil aumentou, no ano passado, de 10% para os 12% nos fornecimentos de petróleo a Portugal.
Para José Caleia Rodrigues, especialista na análise do mercado global de petróleo, "os Estados estão a negociar cada vez mais as compras de petróleo, porque as empresas nacionalizadas têm vindo a ganhar importância, como no caso da Rússia, Venezuela ou Arábia Saudita". No contexto português, o petróleo saudita continua a ser dos mais importados, mantendo uma relação que se prolonga há mais de uma década. A Rússia não tem ainda um peso significativo - a construção de gasodutos e a noticiada aproximação da Gazprom à Galp deverão alterar esta situação a médio prazo - e a Venezuela perdeu toda a importância que tinha no final da década de 70. As decisões com motivações políticas poderão, por outro lado, explicar o aumento das importações do Iraque a partir de 2003, na sequência da participação de Portugal na força aliada que liderou a ofensiva contra Saddam Hussein. Mas, em 2006, o Iraque perdeu algum peso, passando de 7,3% para 6% do total.
As questões de mercado continuam, no entanto, a ser determinantes. A duplicação dos fornecimentos do Irão - de 2,7% para 6% - explica-se, segundo Nuno Ribeiro da Silva, "pelas características técnicas do crude - mais pobre em enxofre, logo, mais fácil de refinar - mas também porque o facto de ser um país com algum risco pode ter provocado algum desconto no preço de venda". Uma ideia admitida por Ângelo Correia, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Árabe Portugal, para quem "é possível que o estabelecimento de um acordo especial tenha baixado o custo do petróleo iraniano". Os peritos sublinham que as questões geopolíticas - o Irão está no centro de um conflito com as Nações Unidas e os EUA devido à proliferação do nuclear e o Iraque está em plena guerra civil - não constituem um risco acrescido. Isto porque, se os actuais fornecedores saírem do mercado, surgirão outros. O que pode mudar é os preços praticados. Neste aspecto, Portugal continua a beneficiar de uma relação de proximidade com a Argélia, que produz um crude mais pesado, mas barato. *Com AS

Diário de Notícias
23.Março.2007
Pedro Ferreira Esteves