terça-feira, 12 de setembro de 2017

A Indústria Petrolífera e o Negócio de Transporte Marítimo De acordo com as estatísticas da UNCTAD são anualmente transportados por via marítima 1,8 mil milhões de toneladas de petróleo bruto e 546 milhões de toneladas de produtos petrolíferos. O total de 2,3 mil milhões representa cerca de 35% de todo o comércio marítimo mundial. Se considerarmos o valor tonelada x milha o peso do petróleo e dos produtos petrolíferos ultrapassa os 40%. Noutra perspectiva, do total de petróleo bruto produzido anualmente (3,9 mil milhões de toneladas ) cerca de 60% é transportado por via marítima. Os restantes 40% são transportados predominantemente com recurso a oleodutos . Por último, refira-se que um número significativo de navios foi convertido para armazenamento de petróleo bruto em “offshore” e que as próprias plataformas de extracção são geridas por empresas da área do transporte marítimo. Do que atrás se referiu conclui-se que o sector de transportes marítimos tem na indústria petrolífera um dos seus principais clientes. A posição estratégica das empresas petrolíferas no mercado de transportes marítimos tem sofrido alterações profundas ao longo dos últimos 30 anos. Ao longo daquele período ocorreram situações em que as empresas petrolíferas controlavam frotas de navios, através da sua propriedade ou através do afretamento a tempo por períodos longos (cinco a dez anos), e situações opostas em que 60% ou mais da capacidade utilizada pelas empresas era contratada no mercado “spot” (afretamento á viagem). Essas reorientações estratégicas decorreram de três tipos de factores: situações de excesso de oferta de navios, flutuações bruscas na procura de transporte de petróleo bruto ou de produtos petrolíferos e mudança na atitude face às questões do ambiente (poluição marítima). Por exemplo, logo a seguir à ratificação do “Oil Polution Act de 1990” algumas das maiores empresas petrolíferas decidiram reduzir a sua propriedade directa de navios na tentativa de reduzir a sua exposição às responsabilidades que pudessem advir de futuros acidentes (caso Exxon Valdez, propriedade da petrolífera Exxon). Por outro lado, no caso Erika as autoridades francesas reagiram ordenando a prisão dos gestores da Total-Fina responsáveis pelo afretamento do navio o que veio tornar claro que a responsabilidade pode ser imputada não apenas as proprietário mas também ao afretador. Com a aceleração do “phasing-out” dos navios de casco simples, determinada pela International Maritime Organization em 2001, e a aceitação generalizada de que navios com idade elevada representam maiores perigos para o ambiente, deu-se uma discriminação desses navios que passaram a gozar de taxas de frete mais baixas do que os restantes. Perante esta situação os armadores detectaram a oportunidade de obter fretes “premium” e colocaram em estaleiros encomendas para novas construções. Em consequência, passou-se por uma fase de fragmentação do lado da oferta com maior concorrência no mercado e as empresa petrolíferas a apostarem no mercado “spot”. Nos últimos meses verificaram-se sinais evidentes de tentativas de controlar as taxas de frete de navios-tanque através da formação de “pools” de navios (frotas de diferentes armadores geridas de forma centralizada) e da concentração empresarial (fusões e aquisições) do lado dos armadores. A reacção das empresas petrolíferas tem sido a aposta num relacionamento com os armadores baseada em afretamentos a longo prazo por períodos de dez anos ou superiores. Alguns contratos de longo prazo são extremamente flexíveis permitindo à empresa petrolífera colocar o navio no mercado “spot” por períodos curtos com o benefício, isto é a diferença entre a taxa de frete de longo prazo e a taxa de frete “spot”, a ser dividido entre as duas partes (armador e empresa petrolífera). Outro aspecto importante é a possibilidade de fixação ou a indexação da taxa de frete de longo prazo o que constitui uma forma de “hedging” sem obrigar a soluções mais complexas como a intervenção no mercado de futuros. Os contratos de longo prazo são uma boa solução para o armador (garantia de estabilidade nas receitas e de recuperação do investimento) e para a empresa petrolífera (redução da exposição à volatilidade das taxas de frete). Embora continuem a existir empresas petrolíferas a apostar no negócio de transporte marítimo como fazendo parte do seu “core”, como é o caso da Shell e da BP, a tendência actual dessas empresas é a concentração nos negócios de extracção e de refinação que implicam elevados volumes de investimento e envolvem riscos financeiros elevados. Assim, para a generalidade das empresas petrolíferas a estratégia actual é obter uma combinação óptima entre afretamentos a tempo de longo prazo, afretamentos a tempo de curto prazo (seis meses a um ano) e contratação “spot”. A proporção de cada tipo de afretamento depende da política de compras de petróleo bruto, da existência ou não de origens dominantes e da capacidade negocial com os armadores. No entanto, existem no negócio de transporte de petróleo bruto e produtos petrolíferos vários segmentos e em cada um é possível encontrar comportamentos distintos da procura e oferta. J. Caleia Rodrigues no livro “Petróleo - Qual Crise? ” afirma: “Quando ouvimos falar de crise de petróleo deparamo-nos com um perigoso equívoco. Não parece que esta escassa e finita matéria-prima, ou mesmo o sector petrolífero, estejam a passar por uma crise que, por definição, é transitória. Nada se pode comparar com boicotes, choques petrolíferos ou consequências de pontuais situações políticas vividas no passado“. O crescente interesse de várias sociedades financeiras na Alemanha, na Holanda e no Reino Unido no apoio a projectos de investimento em navios-tanque vem de encontro àquela afirmação e traz boas perspectivas para este importante segmento do sector de transportes marítimos. Fernando Grilo In TR 43; Setembro 2006

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Reservas estratégicas de petróleo não estão em território nacional e isso cria insegurança As reservas estratégicas de petróleo são uma necessidade em qualquer país, revestindo-se de grande importância em situações de crise, como uma guerra, boicotes ou embargos por parte dos países exportadores, já que os "stocks" existentes garantem o abastecimento energético. Portugal detinha, no final do primeiro semestre de 2010, o equivalente a 88 dias de reservas de crude. Ou seja, se subitamente o nosso país deixasse de conseguir importar petróleo, durante 88 dias as nossas necessidades estariam asseguradas, de acordo com os dados mais recentes disponibilizados pela Agência Internacional de Energia (AIE). Estes 88 dias correspondem a cerca de três meses, que é a média estabelecida na Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e que é seguida pela Europa Ocidental. Até aqui, tudo normal. Mas há um problema... “O que se passa é que, fisicamente, as reservas não estão cá, não estão no nosso território. Nos Estados Unidos, por exemplo, essas reservas são manobradas pelo Presidente e estão lá fisicamente, perto do Golfo do México, em cavernas de sal a grandes profundidades. Os EUA têm 50 ou 60 depósitos desses, existe tudo fisicamente”, explicou ao Negócios o especialista em questões petrolíferas José Caleia Rodrigues. Por isso, adverte, não é a mesma coisa. “Acreditamos nos países amigos que as têm, mas não é a mesma coisa. Há alguma insegurança nisto, pois numa situação grave pode nem ser possível o transporte”. Carla Pedro - Negócios - 04 de fevereiro de 2011 às 00:01

Revolução do petróleo de xisto nos Estados Unidos prejudicou Angola Os Estados Unidos passaram de importador a produtor de combustíveis fósseis, o que tem provocado o cancelamento e colocado em risco a viabilidade de projectos de exploração em países lusófonos. A revolução do petróleo e do gás de xisto nos Estados Unidos está a prejudicar a exploração do petróleo offshore (no mar) em Angola. Estas plataformas petrolíferas são dispendiosas e acarretam elevados custos, e num mundo com o barril de petróleo abaixo dos 70 dólares estes projectos estão sob pressão. Esta foi uma das conclusões da mesa redonda sobre petróleo e geopolítica que teve lugar durante o VI Congresso da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) nesta terça-feira, 3 de Maio, em Lisboa. "Hoje o petróleo angolano não e indispensável para os Estados Unidos", começou por apontar o especialista em geopolítica do petróleo, José Caleia Rodrigues. Durante muitos anos, o pais serviu como um "depósito de petróleo a funcionar durante 24 horas" e que rapidamente atravessava o Atlântico rumo aos Estados Unidos quando necessário, explicou. O crescimento na produção norte-americana e as consequentes mudanças nos mercados mundiais são sinais "muito preocupantes para angolanos, moçambicanos e brasileiros", disse Caleia Rodrigues, pois colocam em risco os projectos mais dispendiosos. O presidente da petrolífera Partex, por seu turno, também se debruçou sobre este país lusófono para concluir que "Angola cometeu um erro estratégico em apostar só no offshore". António Costa e Silva (na foto) começou por destacar que a revolução do petróleo e do gás de xisto mudou o custo marginal da produção que antes estava no offshore. "Hoje para respondermos à procura mundial não precisamos do offshore". Contudo, considera que estes projectos vão voltar a ser viáveis quando o preço do barril regressar aos 70-80 dólares. Deu o exemplo do projecto de Chissanga, cuja desenvolvimento foi adiado. Destacou que existe muito potencial no "onshore" (em terra) angolano, como nas bacias do Alto do Namibe, Cuando Cubango ou do Kwanza, mas que as autoridades deixaram passar oportunidades para explorá-los, ao não usarem métodos sísmicos avançados para analisar estas bacias. Defendeu assim que "Angola deve desenvolver uma estratégia", para ultrapassar a actual situação, isto num país em que 80% das receitas e mais de 90% das exportações dependem do petróleo. "Angola podia ter aproveitado o 'boom' do petróleo para diversificar a economia, o que não aconteceu, os esforços das autoridades foram poucos, e os diamantes representam apenas 2% do PIB", enumerou. Para terminar, destacou que Angola só tem reservas provadas de petróleo para 15 anos, o que é "muito pouco". André Cabrita-Mendes Negócios - 03 de maio de 2016 às 13:11

domingo, 10 de setembro de 2017

Presidente da Partex: Papel tradicional da OPEP já "não funciona" Lusa03 Mai, 2016, 14:35 / atualizado em 03 Mai, 2016, 14:36 | Economia O presidente da Partex considerou hoje que o papel tradicional que a OPEP - Organização dos Países Exportadores de Petróleo tinha já "não funciona" e apontou o papel dos Estados Unidos nesta área. António Costa Silva falava numa mesa-redonda subordinada ao tema "Petróleo, geopolítica e consumidores", no VI Congresso da APED - Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição, que decorre até quarta-feira em Lisboa sob o mote "Crescer com o consumidor". "O papel tradicional que a OPEP tinha hoje em dia não funciona", afirmou o presidente da Partex, apontando que os Estados Unidos assumiram o papel de grande produtor mundial de gás e petróleo. "E é isto que está a mudar a geopolítica do petróleo", acrescentou António Costa e Silva, que sublinhou que os Estados Unidos, enquanto "superpotência da energia", estão a "reconfigurar o sistema". Por outro lado, o presidente da Partex alertou para a atual situação dos países do Médio Oriente, nomeadamente da Arábia Saudita, que era considerado "o grande banco do petróleo". "Estamos a assistir à desintegração do Médio Oriente", salientou António Costa Silva, perante a atual situação económica, política e social daquela região do globo. Para Miguel Monjardino, especialista em relações internacionais, "todo o modelo de produção petrolífera saudita vai mudar". Por sua vez, José Caleia Rodrigues, perito em geopolítica do petróleo, salientou que os Estados Unidos "vão passar a ser concorrentes da Arábia Saudita e da Federação russa". O petróleo, disse, "deixou de ser um produto escasso, perdeu valor, continua a ser um produto estratégico, mas deixou de ser uma arma política", considerou Caleia Rodrigues. No caso de Angola, considerou que o seu petróleo já "não é considerado indispensável", já que há alternativas. Para o presidente da Partex, Angola "cometeu um erro estratégico em apostar no `offshore` [exploração petrolífera no mar]", em vez de equilibrar com o `onshore` [em terra], e apontou que o país não soube capitalizar a agricultura e os diamantes têm um peso pequeno na economia. Segundo Manuel Santos Vítor, advogado da PLMJ, a Europa, ao contrário dos Estados Unidos, não está apostada na exploração de gás e petróleo de xisto devido aos obstáculos a este desenvolvimento (incluindo ambientalistas). Em contrapartida, tem apostado nas energias alternativas. De acordo com o presidente da Entidade Nacional para o Mercado dos Combustíveis, que na próxima semana divulga o `ranking` do setor, "as vendas de gasóleo" em Portugal "têm aumentado ligeiramente e as da gasolina têm estagnado". Segundo Paulo Carmona, o mercado dos combustíveis em Portugal "está a funcionar relativamente bem" e "existe uma efetiva concorrência no mercado do retalho".

terça-feira, 11 de abril de 2017

A forte procura ou preocupações acerca da protecção de materiais raros poderá continuar a motivar os países ao desenvolvimento ou à segurança das suas próprias fontes de fornecimento, ultrapassando os mercados internacionais. Contudo, alterações políticas imprevisíveis ou retroactivas de protecção dos recursos poderão provocar um considerável arrefecimento quer nos investidores quer nos consumidores. Sublinhe-se que a desigual distribuição de recursos incluindo alimentares, água, energia e materiais críticos irá fazer-se sentir cada vez mais. A desigual disponibilidade de água e de alimentos, especialmente em países que sofram de escassez também provoca instabilidade e violência. Podemos sublinhar que a concorrência por alguns recursos poderá intensificar e exacerbar as tensões políticas e de segurança. ... As estimativas das várias agências especializadas nestas matérias indicam que populações sujeitas a falta de água variam entre os 450 e os 1.300 milhões de pessoas. Sem acções que mitiguem esta carência poderemos chegar ao ano 2045 – ou até mesmo antes - com 3.900 milhões de pessoas a sofrer de carência de água potável, ou seja, cerca de 40% da população mundial. ... Foi divulgado que estão decorrendo conflitos em cerca de 3.000 bacias de rios transnacionais e inter-regionais, com os pontos mais quentes localizados no Médio Oriente, onde as dificuldades criadas pela escassez de água têm sido agravadas pelos conflitos, guerra, ambiente e instabilidade política. ... Se os Estados Unidos mantiverem a taxa de aumento de produção poder-se-ão tornar no maior produtor de petróleo à escala mundial ao atingir o ano 2020 e a um grande exportador ao chegar o ano 2030 introduzindo, deste modo, uma profunda alteração no sector industrial energético. ... A redução de procura de petróleo pelos Estados Unidos no Médio Oriente associada à viragem deste para os mercados asiáticos poderá pôr em causa o seu envolvimento na defesa do Golfo Pérsico e das rotas de exportação do Médio Oriente que se poderá alterar significativamente. Contudo, os Estados Unidos poderão entender que outros países, incluindo a China ou a União Europeia, devam desempenhar um papel mais importante na segurança de abastecimentos do Médio Oriente. In SaeR, Relatório Trimestral - Março.2017

Não será nunca demais salientar que a vida na terra irá mudar substancialmente nos próximos 30 anos com evidentes impactos em toda a população que, muito provavelmente, irá atingir uma muito maior longevidade. As grandes alterações demográficas poderão gerar novas ameaças, se bem que igualmente novas e mais variadas oportunidades sobretudo em muitos países economicamente desenvolvidos e retracção em países ditos em vias de desenvolvimento. Não devemos esquecer o agravamento introduzido pela crescente quantidade de migrantes através de todo o globo a que cada vez estaremos mais ligados. Poderá prever-se a continuação da desigualdade entre géneros, pobreza e insegurança em grande parte do mundo. Poderá prever-se a continuação da desigualdade entre géneros, pobreza e insegurança em grande parte do mundo. Os Governos poderão ficar sujeitos a enormes pressões para enfrentar os novos desafios e, se as expectativas sociais não forem cumpridas, poderão surgir novos focos de violência, nomeadamente se atendermos a que nos próximos 30 anos 70% do aumento populacional deverá viver em áreas urbanizadas. ... Se os avanços nas tecnologias aplicadas ao sector energético forem insuficientes para assegurar as quantidades de electricidade requeridas para o desenvolvimento económico, os países poderão continuar a queimar hidrocarbonetos a taxas cada vez mais altas. Esta situação conduzirá inevitavelmente ao aumento dos níveis dos gases com efeitos de estufa, o que provocará longas ondas de calor em latitudes normalmente temperadas, além de frequentes falhas nas colheitas motivadas pela directa influência nos solos aráveis que, sujeitos ... Note-se que, em 1990, 154 milhões de pessoas viviam fora dos seus países de origem e actualmente já são 232 milhões. Apesar desses países tentarem limitar a saída dos seus cidadãos, os seus resultados são considerados residuais. ... Poderemos sublinhar que, em relação às questões relacionadas com defesa e segurança, as regiões com maiores populações jovens e governações débeis poderão sentir forte instabilidade que poderá conduzir a desintegração ou conflito. ... Ambientes degradados e ameaçados também poderão incitar a migração de comunidades afectadas criando eventuais potenciais desestabilizações. As forças armadas e de segurança, quer internamente quer no exterior, deverão ter que enfrentar tarefas mais frequentemente, assumindo um papel mais activo na assistência humanitária. Sem as indispensáveis medidas de mitigação, tais como captura e armazenamento do carbono, o continuado apoio no carvão e nos hidrocarbonetos na geração da maioria da procura de energia poderá exacerbar as alterações climáticas e os seus efeitos perniciosos. In SaeR, Relatório Trimestral - Dez.2016

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

No passado recente os ambientalistas anunciavam incessantemente que o mundo iria rapidamente ser privado de petróleo. Isso não irá acontecer. A escassez anunciada nas reservas comprovadas de petróleo disponível no planeta permitiu-lhe assumir um poder funcional que lhe garantiu atributos de produto estratégico, de arma diplomática, de factor de poder e de produto financeiro, Porém, o petróleo perdeu a característica de produto escasso. Logo, perdeu valor. … Com o desenvolvimento da produção registado na Federação Russa desde o ano 2000, e da dos Estados Unidos desde o ano 2009, a OPEP (…) já não dispõe do poder que lhe permita continuar a chamar a si o papel de comandante e manobradora do mercado. Os Estados Unidos ou a Federação Russa, por si sós, também não conseguirão vir a dispor desse poder a médio prazo, Logo, esse vazio poderia e deveria ser preenchido por entidade supranacional que impusesse a desejável ordem no mercado mundial. In SaeR- Relatório Trimestral - Junho 2016